CRÔNICAS

Fazei em memória delas: mulheres contra a ditadura

Em: 28 de Março de 2010 Visualizações: 80758
Fazei em memória delas: mulheres contra a ditadura

 

São mulheres de diferentes cidades do Brasil. Algumas amamentavam. Outras, grávidas, pariram na prisão ou, com a violência sofrida, abortaram. Não mereciam o inferno pelo qual passaram, ainda que fossem bandidas e pistoleiras. Não eram. Eram estudantes, professoras, jornalistas, médicas, assistentes sociais, bancárias, donas de casa. Quase todas militantes, inconformadas com a ditadura militar que em 1964 derrubou o presidente eleito. Foram presas, torturadas, violentadas. Muitas morreram ou desapareceram lutando para que hoje nós vivêssemos numa democracia.
As histórias de 45 dessas mulheres mortas ou desaparecidas estão contadas no livro “Luta, Substantivo Feminino”, lançado quinta-feira passada na PUC de São Paulo, na presença de mais de 500 pessoas. O livro contém ainda o testemunho de 27 sobreviventes e muitas fotos. Se um poste ouvir os depoimentos dilacerantes delas, o poste vai chorar diante da covardia dos seus algozes. Dá vergonha viver num mundo que não foi capaz de impedir crimes hediondos contra mulheres indefesas, cometidos por agentes do Estado pagos com o dinheiro do contribuinte.
Rose Nogueira - jornalista, presa em 1969, em São Paulo, onde vive hoje. “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Segurei os seios, o leite escorreu. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele (delegado Fleury) ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’”.
Izabel Fávero – professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: “Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”.
Hecilda Fontelles Veiga - estudante de Ciências Sociais, presa em 1971, em Brasília. Hoje, vive em Belém, onde é professora da Universidade Federal do Pará.  “Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. (...) me colocaram na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à ‘tortura cientifica’. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição de Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia”.
Yara Spadini - assistente social presa em 1971, em São Paulo. Hoje, vive na mesma cidade, onde é professora aposentada da PUC. “Era muita gente em volta de mim. Um deles me deu pontapés e disse: ‘Você, com essa cara de filha de Maria, é uma filha da puta’. E me dava chutes. Depois, me levaram para a sala de tortura. Aí, começaram a me dar choques direto da tomada no tornozelo. Eram choques seguidos no mesmo lugar”.
Inês Etienne Romeu – bancária, presa em São Paulo, em 1971. Hoje, vive em Belo Horizonte.  “Fui conduzida para uma casa em Petrópolis. O dr. Roberto, um dos mais brutais torturadores, arrastou-me pelo chão, segurando-me pelos cabelos. Depois, tentou me estrangular e só me largou quando perdi os sentidos. Esbofetearam-me e deram-me pancadas na cabeça. Fui espancada várias vezes e levava choques elétricos na cabeça, nos pés, nas mãos e nos seios. O ‘Márcio’ invadia minha cela para ‘examinar’ meu ânus e verificar se o ‘Camarão’ havia praticado sodomia comigo. Esse mesmo ‘Márcio’ obrigou-me a segurar seu pênis, enquanto se contorcia obscenamente. Durante esse período fui estuprada duas vezes pelo‘Camarão’ e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros”.
Ignez Maria Raminger - estudante de Medicina Veterinária presa em 1970, em Porto Alegre, onde trabalha atualmente como técnica da Secretaria de Saúde. “Fui levada para o Dops, onde me submeteram a torturas como cadeira do dragão e pau de arara. Davam choques em várias partes do corpo, inclusive nos genitais. De violência sexual, só não houve cópula, mas metiam os dedos na minha vagina, enfiavam cassetete no ânus. Isso, além das obscenidades que falavam. Havia muita humilhação. E eu fui muito torturada, juntamente com o Gustavo [Buarque Schiller], porque descobriram que era meu companheiro”.
Dilea Frate - estudante de Jornalismo presa em 1975, em São Paulo. Hoje, vive no Rio de Janeiro, onde é jornalista e escritora. “Dois homens entraram em casa e me sequestraram, juntamente com meu marido, o jornalista Paulo Markun. No DOI-Codi de São Paulo, levei choques nas mãos, nos pés e nas orelhas, alguns tapas e socos. Num determinado momento, eles extrapolaram e, rindo, puseram fogo nos meus cabelos, que passavam da cintura”.
Cecília Coimbra - estudante de Psicologia presa em 1970, no Rio. Hoje, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e professora de Psicologia da Universidade Federal Fluminense: “Os guardas que me levavam, frequentemente encapuzada, percebiam minha fragilidade e constantemente praticavam vários abusos sexuais contra mim. Os choques elétricos no meu corpo nu e molhado eram cada vez mais intensos. Me senti desintegrar: a bexiga e os esfíncteres sem nenhum controle. ‘Isso não pode estar acontecendo: é um pesadelo... Eu não estou aqui...’, pensei. Vi meus três irmãos no DOI-Codi/RJ. Sem nenhuma militância política, foram sequestrados em suas casas, presos e torturados”.
Maria Amélia de Almeida Teles - professora de educação artística presa em 1972, em São Paulo. Hoje é diretora da União de Mulheres de São Paulo. “Fomos levados diretamente para a Oban. Eu vi que quem comandava a operação do alto da escada era o coronel Ustra. Subi dois degraus e disse: ‘Isso que vocês estão fazendo é um absurdo’. Ele disse: ‘Foda-se, sua terrorista’, e bateu no meu rosto. Eu rolei no pátio. Aí, fui agarrada e arrastada para dentro. Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido. Fiquei nessa cadeira, nua, e os caras se esfregavam em mim, se masturbavam em cima de mim. Mas com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques”.
São muitos os depoimentos, que nos deixam envergonhados, indignados, estarrecidos, duvidando da natureza humana, especialmente porque sabemos que não foi uma aberração, um desvio de conduta de alguns indivíduos criminosos, mas uma política de Estado, que estimulou a tortura, a ponto de garantir a não punição a seus autores, com a concordância e a conivência de muita gente boa “em nome da conciliação nacional”. 
No lançamento do livro na PUC, a enfermeira Áurea Moretti, torturada em 1969, pediu a palavra para dizer que a anistia foi inócua, porque ela cumpriu pena de mais de quatro anos de cadeia, mas seus torturadores nem sequer foram processados pelos crimes que cometeram: “Uma vez eu vi um deles na rua, estava de óculos escuros e olhava o mundo por cima. Eu estava com minha filha e tremi”. 
Os fantasmas que ainda assombram nossa história recente precisam ser exorcizados, como uma garantia de que nunca mais possam ser ressuscitados – escreve a ministra Nilcea Freire, ex-reitora da UERJ, na apresentação do livro, que para ela significa o “reconhecimento do papel feminino fundamental nas lutas de resistência à ditadura”.
Este é o terceiro livro da série ‘Direito à Memória e à Verdade’, editado pela Secretaria de Direitos Humanos (SEDH) em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O primeiro tratou de 40 afrodescendentes que morreram na luta contra o regime militar. O segundo contou a “História dos meninos e meninas marcados pela ditadura”. Eles podem ser baixados no site da SEDH. 
O golpe militar de 1964 que envelhece, mas não morre, completa 46 anos nos próximos dias. Essa é uma ocasião oportuna para lançar o livro em todas as capitais brasileiras. No Amazonas, as duas reitoras – Marilene Correa da UEA e Márcia Perales da UFAM - podiam muito bem organizar o evento em Manaus e convidar a sua colega Nilcea Freire para abri-lo. Afinal, preservar a memória é um dos deveres da universidade. As novas gerações precisam saber o que aconteceu.
A lembrança de crimes tão monstruosos contra a maternidade, contra a mulher, contra a dignidade feminina, contra a vida, é dolorosa também para quem escreve e para quem lê. É como o sacrifício da missa para quem nele crê. A gente tem de lembrar diariamente para não ser condenado a repeti-lo: fazei isso em memória delas.
 

DEPOIMENTO DE MIRIAM LEITÃO

“Eu morava numa favela de Vitória, o Morro da Fonte Grande. Num domingo, 3 de dezembro de 1972, eu e meu companheiro na época, Marcelo Netto, estudante de Medicina, acordamos cedo para ir à praia do Canto, próxima ao centro da capital. Acordei para ir à praia e acabei presa na Prainha. É o bairro que abriga o Forte de Piratininga, essa construção bonita do século 17. Ali está instalado o quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, do outro lado da baía.
Eu tinha dado quatro plantões seguidos na redação da rádio Espírito Santo e já tinha quase um ano de profissão. Eu vestia uma camisa branca larga, de homem, sobre o biquini vermelho. Caminhando pela Rua Sete em direção à praia, alguém gritou de repente:
– Ei, Marcelo?
Nos viramos e vimos dois homens correndo em nossa direção com armas. Eu reconheci um rosto que vira em frente à Polícia Federal. Meu ônibus sempre passava em frente à sede da PF e eu tentava guardar os rostos.
– É a Polícia Federal – avisei ao Marcelo
Em instantes estávamos cercados. Apareceram mais homens, mais um carro. Voltei a perguntar:
– O que está acontecendo?
Eles nos algemaram e empurraram o Marcelo para o camburão. Era uma camionete Veraneio, sem identificação. Eu tive uma reação curiosa: antes que me empurrassem sentei no chão da calçada e comecei a gritar, a berrar como louca, queria chamar a atenção das pessoas na rua. Mas ainda era cedo, manhã de domingo, havia pouca gente circulando. Achava que quanto mais gente visse aquela cena, mais chances eu teria de sair viva. Como eu berrava, me puxaram pelos cabelos, me agarraram para me colocar no carro. Eu, ainda com aquela coisa de Justiça na cabeça, reclamei:
– Moço, cadê a ordem de prisão?
O homem botou a metralhadora no meu peito e respondeu com outra pergunta:
– Esta serve?
As algemas eram diferentes, eram de plástico, e estavam muito apertadas, doíam no pulso. Viajamos sem capuz, eu e Marcelo, em direção a Vila Velha, onde fica o quartel do Exército. Eu ainda achava que não era nada comigo, que o alvo era o Marcelo. Ele estava no quarto ano de Medicina e tinha acabado de liderar a única greve de estudantes do país daquele ano, que trancou por dois dias as aulas na universidade de Vitória e paralisou os trabalhos no Hospital de Clínicas. Achei que estava presa só porque estava indo à praia com o Marcelo.
A Veraneio entrou no pátio do quartel, o batalhão de infantaria. Nos levaram por um corredor e nos separaram. Marcelo foi viver seu inferno, que durou 13 meses, e eu o meu. Sobre mim jogaram cães pastores babando de raiva. Eles ficavam ainda mais enfurecidos quando os soldados gritavam: “Terrorista, terrorista!”. Pareciam treinados para ficar mais bravos quando eram incitados pela palavra maldita. De repente, os soldados que me cercavam começaram a cantar aquela música do Ataulfo Alves: “Amélia não tinha a menor vaidade/ Amélia é que era mulher de verdade”. Só então percebi que minha prisão não era um engano. “Amélia” era o codinome que o meu chefe de ala no PCdoB tinha escolhido pra mim: “Você, a partir de agora, vai se chamar Amélia”. Quis reagir na hora, afinal não tenho nada de Amélia, mas não quis discordar logo na primeira reunião com o dirigente.
O comandante do batalhão era o coronel Sequeira [tenente-coronel Geraldo Cândido Sequeira, que exerceu o comando do 38º BI entre 10 de março de 1971 a 13 de março de 1973], que fingia que mandava, mas não via nada do que acontecia por lá. O homem que de fato mandava naquele lugar, naquele tempo, era o capitão Guilherme, o único nome que se conhecia dele. Ele era o chefe do S-2, o setor de inteligência do batalhão. Todos os interrogatórios e torturas estavam sob a coordenação dele. Ele pessoalmente nada fazia, mas a ele tudo era comunicado. Nesse primeiro dia me deu um bofetão só porque eu o encarei.
– Nunca mais me olhe assim! – avisou.
Fui levada para uma grande sala vazia, sem móveis, com as janelas cobertas por um plástico preto. Com a luz acesa na sala, vi um pequeno palco elevado, onde me colocaram de pé e me mandaram não recostar na parede. Chegaram três homens à paisana, um com muito cabelo, preto e liso, um outro ruivo e um descendente de japonês. Mandaram eu tirar a roupa. Uma peça a cada cinco minutos. Tirei o chinelo. O de cabelo preto me bateu:
– A roupa! Tire toda a roupa.
Fui tirando, constrangida, cada peça. Quando estava nua, eles mandaram entrar uns 10 soldados na sala. Eu tentava esconder minha nudez com as mãos. O homem de cabelo preto falou:
– Posso dizer a todos eles para irem pra cima de você, menina. E aqui não tem volta. Quando começamos, vamos até o fim.
Os soldados ficaram me olhando e os três homens à paisana gritavam, ameaçando me atacar, um clima de estupro iminente. O tempo nessas horas é relativo, não sei quanto tempo durou essa primeira ameaça. Viriam outras.
Eles saíram e o homem de cabelo preto, que alguém chamou de Dr. Pablo, voltou trazendo uma cobra grande, assustadora, que ele botou no chão da sala, e antes que eu a visse direito apagaram a luz, saíram e me deixaram ali, sozinha com a cobra. Eu não conseguia ver nada, estava tudo escuro, mas sabia que a cobra estava lá. A única coisa que lembrei naquele momento de pavor é que cobra é atraída pelo movimento. Então, fiquei estática, silenciosa, mal respirando, tremendo. Era dezembro, um verão quente em Vitória, mas eu tremia toda. Não era de frio. Era um tremor que vem de dentro. Ainda agora, quando falo nisso, o tremor volta. Tinha medo da cobra que não via, mas que era minha única companhia naquela sala sinistra. A escuridão, o longo tempo de espera, ficar de pé sem recostar em nada, tudo aumentava o sofrimento. Meu corpo doía.
Não sei quanto tempo durou esta agonia. Foram horas. Eu não tinha noção de dia ou noite na sala escurecida pelo plástico preto. E eu ali, sozinha, nua. Só eu e a cobra. Eu e o medo. O medo era ainda maior porque não via nada, mas sabia que a cobra estava ali, por perto. Não sabia se estava se movendo, se estava parada. Eu não ouvia nada, não via nada. Não era possível nem chorar, poderia atrair a cobra. Passei o resto da vida lembrando dessa sala de um quartel do Exército brasileiro. Lembro que quando aqueles três homens voltaram, davam gargalhadas, riam da situação. Eu pensava que era só sadismo. Não sabia que na tortura brasileira havia uma cobra, uma jiboia usada para aterrorizar e que além de tudo tinha o apelido de Míriam. Nem sei se era a mesma. Se era, talvez fosse esse o motivo de tanto riso. Míriam e Míriam, juntas na mesma sala. Essa era a graça, imagino.
Dr. Pablo voltou, depois, com os outros dois, e me encheu de perguntas. As de sempre: o que eu fazia, quem conhecia. Me davam tapas, chutes, puxavam pelo cabelo, bateram com minha cabeça na parede. Eu sangrava na nuca, o sangue molhou meu cabelo. Ninguém tratou de minha ferida , não me deram nenhum alimento naquele dia, exceto um copo de suco de laranja que, com a forte bofetada do capitão Guilherme, eu deixei cair no chão. Não recebi um único telefonema, não vi nenhum advogado, ninguém sabia o que tinha acontecido comigo, eu não sabia se as pessoas tinham ideia do meu desaparecimento. Só três dias após minha prisão é que meu pai recebeu, em Caratinga, um telefonema anônimo de uma mulher dizendo que eu tinha sido presa. Ele procurou muito e só conseguiu me localizar no fim daquele dezembro. Havia outros presos no quartel, mas só ao final de três semanas fui colocada na cela com a outras presas: Angela, Badora, Beth, Magdalena, estudantes, como eu.
Fiquei 48 horas sem comer. Eu entrei no quartel com 50 kg de peso, saí três meses depois pesando 39 kg. Eu cheguei lá com um mês de gravidez, e tinha enormes chances de perder meu bebê. Foi o que médico me disse, quando saí de lá, com quatro meses de gestação. Eu estava deprimida, mal alimentada, tensa, assustada, anêmica, com carência aguda de vitamina D por falta de sol. Nada que uma mulher deve ser para proteger seu bebê na barriga. Se meu filho sobrevivesse, teria sequelas, me disse o médico.
– A má notícia eu já sei, doutor, vou procurar logo um médico que me diga o que fazer para aumentar as chances do meu filho.
Mas isso foi ao sair. Lá dentro achei que não havia chance alguma para nós. Eu era levada de uma sala para outra, numa área administrativa do quartel, onde passava por outras sessões de perguntas, sempre as mesmas, tudo aos gritos, para manter o clima de terror, de intimidação. Na noite seguinte, atravessei a madrugada com uma sessão de interrogatório pesado, o Dr. Pablo e os outros dois berrando, me ameaçando de estupro, dizendo que iam me matar. Um dia achei que iria morrer. Entraram no meio da noite na cela do forte para onde eu fui levada após esses dois dias. Falaram que seria o último passeio e me levaram para um lugar escuro, no pátio do quartel, para simular um fuzilamento. Vi minha sombra refletida na parede branca do forte, a sombra de um corpo mirrado, uma menina de apenas 19 anos. Vi minha sombra projetada cercada de cães e fuzis, e pensei: “Eu sou muito nova para morrer. Quero viver”.
Um dia, um outro militar, que não era nenhum daqueles três, botou um revólver na minha cabeça e falou: “Eu posso te matar”. E forçou aquele cano frio na minha testa. Me deu um sentimento enorme de solidão, de abandono. Eu me senti absolutamente só no mundo. Pela falta de notícias, imaginava que o Marcelo estava morto. Entendi que iria morrer também e que ninguém saberia da minha morte, pensei. Mas não quis demonstrar medo. Lembro que o homem do revólver tinha olhos azuis. Olhei nos seus olhos e respondi: “Sim, você pode pode me matar”. E repeti, falando ainda mais alto, com ar de desafio: “Sim, você pode!”
Um dos interrogatórios foi feito na sala do capitão Guilherme, o S-2 que mandava em todos ali. Era noite, ele não estava, e me interrogaram na sala dele. Lembro dela porque havia na parede um quadro com a imagem do Duque de Caxias. Estava ainda com o biquíni e a camisa, era a única roupa que eu tinha, que me protegia. Nessa noite, na sala, de novo fui desnudada e os homens passaram o tempo todo me alisando, me apalpando, me bolinando, brincando comigo. Um deles me obrigou a deitar com ele no sofá. Não chegaram a consumar nada, mas estavam no limite do estupro, divertindo-se com tudo aquilo.
Eu estava com um mês de gravidez, e disse isso a eles. Não adiantou. Ignoraram a revelação e minha condição de grávida não aliviou minha condição lá dentro. Minha cabeça doía, com a pancada na parede, e o sangue coagulado na nuca incomodava. Eu não podia me lavar, não tinha nem roupa para trocar. Quando pensava em descansar e dormir um pouco, à noite, o lugar onde estava de repente era invadido, aos gritos, com um bando de pastores alemães latindo na minha cara. Não mordiam, mas pareciam que iam me estraçalhar, se escapassem da coleira. E, para enfurecer ainda mais os cães, os soldados gritavam a palavra que enlouquecia a cachorrada: “Terrorista, terrorista!…”
As primeiras três semanas que passei lá foram terríveis. Só melhorou quando o Dr. Pablo e seus dois companheiros foram embora. Entendi então que eles não pertenciam ao quartel de Vila Velha. Tinham vindo do Rio, é o que chegaram a conversar entre eles, em papos casuais: “E aí, quando voltarmos ao Rio, o que a gente vai fazer lá…” Isso fazia sentido, porque o quartel de Vila Velha integra o Comando do I Exército, hoje Comando do Leste, que tem o QG no Rio de Janeiro.
Quando o trio voltou para o Rio, a situação ficou menos ruim. Eles já não tinham mais nada para perguntar. Me tiraram da cela da fortaleza e me levaram para a cela coletiva. Foi melhor. Na cela do forte não havia janelas, a porta era inteiriça e minhas companhias eram apenas as baratas. Fiz uma foto minha, agora em 2011, ao lado da porta.
Até que chegou o dia de assinar a confissão, para dar início ao IPM, o inquérito policial-militar que acontecia lá mesmo, dentro do quartel. Me levaram para a sala do capitão Guilherme, o S-2, e levei um susto. Lá estava o Marcelo, que eu pensava estar morto. Os militares saíram da sala e nos deixaram sozinhos. Quando eu fui falar alguma coisa, o Marcelo me fez um sinal para ficar calada. Ele levantou, foi até a parede e levantou o quadro do Duque de Caxias. Estava cheio de fios e microfones lá atrás. Era tudo grampo.
Depois disso, o Marcelo foi levado para o Regimento Sampaio, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, e lá ficou nove meses numa solitária. Sem banho de sol, sem nada para ler, sem ninguém para conversar. Foi colocado lá para enlouquecer. Nove longos e solitários meses… Nós, todos os presos, e os que já estavam soltos nos encontramos mais ou menos em junho na 2ª Auditoria da Aeronáutica, para o que eles chamam de sumário de culpa, o único momento em que o réu fala. Eu com uma barriga de sete meses de gravidez. O processo, que envolvia 28 pessoas, a maioria garotos da nossa idade, nos acusava de tentativa de organizar o PCdoB no estado, de aliciamento de estudantes, de panfletagem e pichações. Ao fim, eu e a maioria fomos absolvidos. O Marcelo foi condenado a um ano de cadeia. Nunca pedi indenização, nem Marcelo. Gostaria de ouvir um pedido de desculpas, porque isso me daria confiança de que meus netos não viverão o que eu vivi. É preciso reconhecer o erro para não repeti-lo. As Forças Armadas nunca reconheceram o que fizeram.
Nunca mais vi o capitão Guilherme, o S-2 que comandou tudo aquilo. Uma vez ele apareceu no Superior Tribunal Militar como assessor de um ministro. Marcelo foi expulso do curso de Medicina, após a prisão, e virou jornalista. Fomos para Brasília em 1977. Por ironia do destino, Marcelo só conseguiu vaga de repórter para cobrir os tribunais. E lá no STM, um dia, ele reviu o capitão Guilherme. Depois disso, não soubemos mais dele. Nem sei se o S-2 ainda está vivo.
O que eu sei é que mantive a promessa que me fiz, naquela noite em que vi minha sombra projetada na parede, antes do fuzilamento simulado. Eu sabia que era muito nova para morrer. Sei que outros presos viveram coisas piores e nem acho minha história importante. Mas foi o meu inferno. Tive sorte comparado a tantos outros.
Sobrevivi e meu filho Vladimir nasceu em agosto forte e saudável, sem qualquer sequela. Ele me deu duas netas, Manuela (3 anos) e Isabel (1). Do meu filho caçula, Matheus, ganhei outros dois netos, Mariana e Daniel (4). Eles são o meu maior patrimônio.
Minha vingança foi sobreviver e vencer. Por meus filhos e netos, ainda aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas. Não cultivo nenhum ódio. Não sinto nada disso. Mas, esse gesto me daria segurança no futuro democrático do país. (MIRIAM LEITÃO)

DEPOIMENTO DE GILSE COSENZA

Fomos colocadas na solitária, onde ficamos por três meses, sendo tiradas apenas para sermos interrogadas sob tortura. Era choque elétrico, pau de arara, espancamento, telefone, tortura sexual. Eles usavam e abusavam. Só nos interrogavam totalmente nuas, juntando a dor da tortura física à humilhação da tortura sexual. Eles aproveitavam para manusear o corpo da gente, apagar ponta de cigarro nos seios. No meu caso, quando perceberam que nem a tortura física nem a tortura sexual me faziam falar, me entregaram para uns policiais que me levaram, à noite, de olhos vendados, para um posto policial afastado, no meio de uma estrada.
Lá, eu fui torturada das sete da noite até o amanhecer, sem parar. Pau de arara até não conseguir respirar, choque elétrico, espancamento, manuseio sexual. Eles tinham um cassetete cheio de pontinhos que usavam para espancar os pés e as nádegas enquanto a gente estava naquela posição, de cabeça para baixo. Quando eu já estava muito arrebentada, um torturador me tirou do pau de arara. Eu não me aguentava em pé e caí no chão. Nesse momento, nessa situação, eu fui estuprada. Eu estava um trapo. Não parava em pé, e fui estuprada assim pelo sargento Leo, da Polícia Militar. De madrugada, eu percebi que o sol estava nascendo e pensei: se eu aguentar até o sol nascer, vão começar a passar carros e vai ser a minha salvação. E realmente aconteceu isso.
Voltei para a solitária muito machucada. A carcereira viu que eu estava muito mal e chamou a médica da penitenciária. Eu nunca mais vou esquecer que, na hora que a médica me viu jogada lá, ela disse:
- ‘Poxa, menina, não podia ter inventado isso outro dia, não? Hoje é domingo e eu estava de saída com meus filhos para o sítio’.
Depois disso, eles passavam noites inteiras me descrevendo o que iam fazer com a minha menina de quatro meses. ‘Você é muito marruda, mas vamos ver se vai continuar assim quando ela chegar Estamos cansados de trabalhar com adulto, já estudamos todas as reações, mas nunca trabalhamos com uma criança de quatro meses. Vamos colocá-la numa banheirinha de gelo e você vai fi car algemada marcando num relógio quanto tempo ela leva para virar um picolé. Mas não pense que vamos matá-la assim fácil, não. Vocês vão contribuir para o progresso da ciência: vamos estudar as reações, ver qual vai ser a reação dela no pau de arara, com quatro meses. E quanto ao choque elétrico, vamos experimentar colocando os eletrodos no ouvido: será que os miolos dela vão derreter ou vão torrar? Não vamos matá-la, vamos quebrar todos os ossinhos, acabar com o cérebro dela, transformá-la num monstrinho. Não vamos matar você também não. Vamos entregar o monstrinho para você para saber que foi você a culpada por ela ter se transformado nisso’.
Depois disso, me jogavam na solitária. Eu quase enlouqueci. Um dia, eles me levaram para uma sala, me algemaram numa cadeira e, na mesa que estava na minha frente, tinha uma banheirinha de plástico de dar banho em criança, cheia de pedras de gelo. Havia o cavalete de pau de arara, a máquina do choque, e tinha uma mamadeira com leite em cima da mesa e um relógio na frente. Eles disseram: ‘Pegamos sua menina,ela já vai chegar e vamos ver se você é comunista marruda mesmo’. Me deixaram lá, olhando para os instrumentos de tortura, e, de vez em quando, passava um torturador falando: ‘Ela já está chegando’. E repetia algumas das coisas que iam fazer com ela. O tempo foi passando e eles repetindo que a menina estava chegando. Isso durou horas e horas. Depois de um tempo, eu percebi que tinham passado muitas horas e que era blefe.
GILSE COSENZA, ex-militante da Ação Popular (AP), era recém formada em Serviço Social quando foi presa em 17 de junho de 1969, em Belo Horizonte (MG). Hoje, vive na mesma cidade, onde é assistente social aposentada.

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50 Comentário(s)

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elias comentou:
12/02/2018
e ainda tem gente pdindo a volta da ditadura..pdindo intervençao militar..eu digo..deus perdoa porqu les nao sbem o que dizem..
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l claudio comentou:
29/07/2010
isso é o brasil que nao virmos nem sentirmos isso é o brasil firme e livre de terremoto vulcão e maremot , esse é o brasil brasileiro , onde eu e vc vive , esse é o brasil que sangrou muitos que apenas so queriam o brasil dos brasileiros.
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Margot Mello comentou:
19/07/2010
A dor a fome .O medo o vazio. A alma a carne. O inferno o escuro. A agressão a corvardia. O choque o abandono. A impunidade a memória .No escuro, oh patria amada, teus filhos não terão uma memória clara. Em poesia o que sinto. Parabéns pela crônica
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Kelly (1) Blog do Sarafa comentou:
16/07/2010
Sou filha adotiva, com registro “oficial” de nascimento no 15/01/1971, em Curitiba/PR, Hospital Cajuru. Minha família sonega informações sobre minha origem biológica até os dias de hoje. De acordo com informações que colhi ao longo dos anos, existe a possibilidade de eu ser filha de alguma presa / desaparecida política da década de 70. Por registros do hospital, pode ser que minha data correta de nascimento tenha sido 13/01/1971, sendo que minha mãe biológica teria fugido no dia seguinte.
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Kelly (2) – Blog do Sarafa comentou:
16/07/2010
O nome da minha mãe biológica que consta lá é “Haroti Modesto” provavelmente um nome falso, codinome ou nome inventado pelo próprio hospital para constar no registro, pois não existe qualquer registro em bancos de dados que acessei até hoje, da existência desta pessoa. Se alguém que tenha conhecimento sobre as mulheres que foram presas nessa época (1970 até janeiro 1971) e que estavam grávidas, gostaria de receber informações para continuar minha busca.
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Ana Lucia Motta (2) comentou:
17/04/2010
A candidata a presidente do Brasil, Dilma Rousseff (uma das vítimas da Ditadura), afirma categoricament que estes tempos de exceção no Brasil devem ser encarados como tempos para não se guardar mágoa. O que mais me intriga é ver tantos que sofreram na carne e na história os tempos da ditadura, hoje estarem usufruindo benesses justamente em função do que sofreram no passado –como muitos políticos– ao invés de lutarem em prol de que essa história do Brasil de fato NUNCA MAIS OCORRA, conforme fora
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Ana Lucia Motta comentou:
17/04/2010
Lendo esta crônica, e tamém os comentários, penso no seguinte: vejo o seu embate em prol de resgatar a memória da repressão dos anos de chumbo, para que vivamos uma aurora de verdade e de justiça. Louvores a isso. Mas, sendo franca, com preocupação vejo um confronto entre um intectualismo utópico, bem sonhador, versus um pragmatismo político por parte de gente que sofrera , inclusive, na carne a opressão que tanto insistes em pôr a nu, mas que, hoje, na política, especialmente, em posse do poder
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Estanislau Robalo comentou:
16/04/2010
Queira saber como conseguir o livro: luta, substantivo feminino, pois já tentei de todas as formas para adquirir, mas não consegui e, como tenho muitos livros sobre o período da ditadura militar, gostaria de conseguir esse para minha biblioteca. Robalo
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Silvana Lúcia Rodrigues comentou:
14/04/2010
Gostaria de saber onde posso encontrar o livro Luta Substantivo Feminino para utilizá-lo em minha tese de doutorado sobre pena de morte. Desde já agradeço a sua ajuda.
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neiva comentou:
12/04/2010
ainda ben que existen pessoas que nao nos deixam esquecer destas atrocidades gostaria muiiito de compra o livro luta substantivo feminino como faço sou do rio grande do sul
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Frank CTB/AM comentou:
09/04/2010
Belissima crônica de Ribamar Bessa sobre as violências sofridas pelas mulheres no regime militar. Vale a pena.Frank - CTB-Am (Central de Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil/AM)
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André Ricardo Costa comentou:
06/04/2010
É curioso também que poucos invocam a memória dos torturados pela ditadura de Getúlio Vargas...
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André Ricardo Costa comentou:
06/04/2010
Ribamar, Dessa vez não tive estômago suficiente para ler detalhes de torturas. Mas se vc critica a Lei de Anistia vc deveria também invocar a memória dos que foram roubados, assaltados,sequestrados e assassinatos pelos que,com armas,se opuseram à ditadura. Se é pra prender o torturador dessa senhora, prenda também a senhora Dilma Roussef , por ter ROUBADO o "cofre do adhemar" Ou melhor: Que se prenda todos os integrantes do "Tribunal Revolucionário" da Vanguarda Popular Revolucionária, qu
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Erika comentou:
04/04/2010
Que HORRORRRRRRRRRRRRRRR! Nunca foram punidos esses trogrodlitas? E as vítimas receberam algum tipo de indenização para - quem sabe - "amenizar" o sofrimentos e as injustiças? .NÃO QUE QUALQUER IMPORTÂNCIA MONETÁRIA VAI MUDAR ALGUMA COISA...TERRÍVEL E DEPRIMENTE DEMAIS.
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Maira Foucher comentou:
02/04/2010
Acabei de ler...e uahhhh...nao sabia se eu ia conseguir ler até o final...mas consegui...horrivel...En fait je ne sais pas trop quoi en dire, c'est tellement incompréhensible que ces individus vivent si impunément aujourd'hui!
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Marilza de Melo Foucher comentou:
02/04/2010
Meu mano companheiro, Luta, substantivo feminino é um belo resgate historico para nao esquecer o papel que tiveram as mulheres brasileiras na conquista da democracia. Alguns nao querem reconhecer, mas nós temos o direito à memoria e à verdade. Parabens por essa belissima crônica que me fez chorar de emoçao e revolta. Junto-me ao teu apelo à reitora Marilene Correia que esteve conosco nessa luta. Que ela lance o livro e faça um grande evento. Temos dever de passar para a nova geraçao o que repre
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Marilza de Melo Foucher comentou:
02/04/2010
Babá querido mano companheiro, Luta, substantivo feminino é um belo resgate historico para nao esquecer o papel que sempre tiveram as mulheres brasileiras nas conquistas dos direitos principalmente na luta pela democracia brasileira. Alguns nao querem reconhecer, mas nós temos o direito à memoria e à verdade. Parabens meu mano companheiro por essa belissima crônica que me fez chorar de emoçao e revolta. Junto-me ao teu apelo à Marilene Correia companheira que esteve conosco nessa luta contra a d
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Tereza comentou:
02/04/2010
Fiquei sem chão... isso acontece todas as vezes que leio a respeito do terror vivido por tantas pessoas, especialmente mulheres... Isso cada vez mais me faz pensar no passado e mais uma vez, agradecer a todas e todos que passaram tudo que passaram para que hoje, tenhamos o direito de nos expressar, sem medo desse fantasma terrível que assombrou e destruiu a vida de tantas mulheres, mas que resistiram, e hoje são figuras vivas de um tempo que nunca deveria ter existido.
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Javier comentou:
02/04/2010
Oi Bessa, Pensar que isso aconteçeu há tão pouco tempo e parece que foi há muitos seculos. Obrigado por nos fazer lembrar. Abs Javier
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Lúcia Ferreira comentou:
02/04/2010
Caro Bessa, Li a sua resenha. Obrigada por nos fazer lembrar. Gostaria de dizer que vc tb está presente no 2o módulo do curso da linha Memória e Linguagem este semestre - Língua, Identidade e Memória - com o texto Nheengatu: a outra língua brasileira.Grande abraço,Lucia
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Jô Gondar comentou:
02/04/2010
Beijos, Bessa. Você sempre atento, sempre na luta.Jô
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Rosa (blog Assaz Atroz) comentou:
02/04/2010
Estou viciada em ASSAZ ATROZ e adorando o vício. Hoje em dose tripla.. uau! O José Ribamar me devolveu a memória do que jamais deve ser esquecido.A Dilea Frate eu conversei tem uns cinco anos. Mas por onde andava minha cabeça? Vou comprar o livro.O seu conto sensacional e Urda é sempre uma aula.
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Leila Beatriz Ribeiro comentou:
02/04/2010
Bessa: Muito bom não deixar a gente esquecer
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Leonard Costa (1) comentou:
02/04/2010
Já escrevi sobre esse assunto! Nasci em 1979 e não vivi essa época. Tenho ódio visceral de qq violência sobretudo da tortura. Estou fazendo doutorado, trabalho com a construção dos sentidos nas charges jornalísticas (seguindo bakhtin),mas espero depois do doutorado ter chance de realizar projeto sobre memória aqui no amazonas. Muitos estados já fizeram esse dever de casa...no caso de São Paulo,
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Leonard Costa (2) comentou:
02/04/2010
O GTNM fez o que muita gente nunca teve coragem: o nome dos torturadores e dos médicos que ajudavam torturadores. Pq isso não se faz no Amazonas? Já está na hora, você não acha? Te dou parabéns por não deixar esse assunto morrer, por ajudar a memória de um tempo \'interditado\' do nosso discurso. E que os torturadores sejam punidos, senão penalmente pelo menos com a memória de quem apanhou e não esquece.
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Evelyn Orrico comentou:
02/04/2010
Querido Bessa O seu talento e sensibilidade conseguem fazer um belo texto sobre algo tão terrível; uma história que não pode ser esquecida.
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Paulol Suniga comentou:
02/04/2010
Carissímas heroinas,Segue o apoio solidário as vossas lutas, as medidas contra seus algozes foram de fato inócuas..Mas o vosso legado será para sempre lembrado e celebrado.A democracia sensibilizada agradece. Aos sanguinários (Rei”ch”naldo Azevedo e Diogo Mainard) bebam desse sangue ele tem gosto de democracia
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Marisa Pulga (blog Amazonia) comentou:
02/04/2010
Gostaria de adquirir um exemplar do livro “LUTA, SUBSTANTIVO FEMININO”. Peço gentileza de me informar como proceder. Agradecida. Marisa
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Adriana (blog da Amazonia) comentou:
02/04/2010
Isso é uma vergonha, li e me emocionei muito mais que pais é este deveriam ter matado a todos esses canalhas tanto os superiores quanto os que obedeceiam. E ai não eram condenados pois tinha de obedecer ordens faca me o favor.eram piores que bichos esses canalhas que o capeta cuide deles e pode ter certeza que vai cuidar
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Eulelis de Oliveira comentou:
02/04/2010
Materia super interessante e necessária. Parabéns e obrigado.Esta é a realidade que o povo brasileiro precisa conhecer da nossa história. Tudo isso aconteceu ontem.
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Alceu comentou:
02/04/2010
O pior é que existe quem defenda a volta dessas atrocidades. no Brasil o que é imoral sempre encontra um jeito de ser legalizado
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Ana Cláudia comentou:
02/04/2010
Não lí este livro, mas cursei faculdade depois da abertura política e tive acesso a história do golpe de 1964 e suas consequencias. Precisamos manter a história viva pra que ela não se repita. Esta história é de arrepiar qualquer mulher que tenha alguma vontade a se opor...Obrigada por escrever. Espero que os que são bons nisso, nunca percam a coragem!!! Comentário por Ana Claudia
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Serena (blog amazonia) comentou:
02/04/2010
Sou contra a tortura de qualquer espécie e nem estou justificando o que o torturadores fizeram, MAS, essas mulheres chamada pelo reporter de “heroinas” nada mais eram que terroristas - estavam portando armas - sequestrando pessoas - assaltando banco - e conspirando contra o sistema de governo - LUTAVAM PARA IMPLANTAR O COMUNISMO NOS MOLDES DE CUBA NO BRASIL.Elas não eram “mulheres comuns e não levavam uma vida comum”.Quem já ouviu falar da LEI DEAÇÃO E REAÇÃO.
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Alê Barreto (blog amazonia) comentou:
02/04/2010
Quando queremos entender aonde chegamos, precisamos olhar para o lugar de onde viemos. A violência atual foi cultivada nestes macabros rituais de dominação afirmados por ideologias fascistas. Parabéns a todas as mulheres que tem coragem de em vida olharem para as atrocidades que passaram e lutarem contra estas tiranias. Parabéns ao José Bessa Freire pelo texto.
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Kais Ismail comentou:
02/04/2010
O 10 PARA A CULTURA contará com o seu apoio? http://quemtemmedodolula.wordpress.com/2010/03/28/lula-a-cegueira-dos-tabloides-e-o-congresso-de-ibiuna/#comments
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Miguel Angel comentou:
02/04/2010
CARO BESSA. belo artigo sobre uma questão tão terrível. vale como denúncia e tomada de consciência. parabéns. abcs. mikguel angel
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ED RUGLES DE MELO BARBOSA comentou:
02/04/2010
PARABÉNS, POR NÃO NOS DEIXAR ESQUECER PÁGINAS TÃO TRISTES DA NOSSA HISTÓRIA.
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Marcos Tom comentou:
02/04/2010
Tenho 52 anos, sou consultor empresarial, moro em SP. Me pergunto: onde andam os vermes que torturaram as pessoas? A tal anistia foi na verdade para eles, pois quem foi torturado não cometeu nenhum crime para ser anistiado. Na época,vivia com meus pais, pessoas do povo, no meio do mato, na Paraíba. Em 2004 fui a Lavras(MG) num sítio à beira do rio Grande, lá havia um sujeito, policial na cidade. Lembro-me que ele comentou que esteve no Araguaia e falou do José Genoíno fiquei com a impressão que
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Elson de Melo comentou:
02/04/2010
Infelizmente o governo não assume uma postura mais clara quanto aos crimes praticados contra a vida e a humanidade, pelo regime Militar. Então, sejamos nós que respeitamos a vida, que lutamos por liberdade, que temos sede de justiça. A GRITAR!
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Joana D´Arc Fernandes comentou:
02/04/2010
1. Querido Bessa, acabei de ler a sua crônica. É linda, como não poderia ser diferente vinda de você. Grande parceiro nesta luta. Acrescento que, infelizmente, nem deveríamos pensar em \\\"Direito à memória\\\" uma vez que direitos tais como o direito à vida, à livre expressão, de ir e vir e muitos outros deveriam ser uma realidade tão clara e transparente como o direito de beber água, de respirar, de ler, de amar... São necessidades tácitas, inquestionáveis. No entanto, deixo aqui a minha indi
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Joana D´Arc Fernandes Ferraz (2) comentou:
02/04/2010
2. em relação ao contundente fechamento dos arquivos da ditadura. Ainda não podemos pesquisar suficientemente todas essas atrocidades. Ainda não podemos lavar a roupa suja. Ainda não podemos nem sequer ter o direito de esquecer, porque muitos, muitas gerações ainda não sabem o que aconteceu. Somente poderemos escolher esquecer aquilo que algum dia for devidamente elaborado, discutido e digerido. Não podemos falar de \\\"direito à memória\\\" se ainda não temos a memória direito.
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Joana D´Arc Fernandes Ferraz (3) comentou:
02/04/2010
3. Precisamos que o governo realmente seja transparente e coerente com a nossa memória e que, no lugar de tentar conciliar, efetive ações em que a memória, para além do discurso do \\\"direito\\\", seja viva. Somente assim poderemos ver o nosso passado e entender a fundo nossos erros, equívocos e iniqüidades. A minha geração e as gerações que vieram depois de mim precisam saber deste passado e elaborá-lo. Não é sem razão que nos últimos anos ]
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Joana D´Arc Fernandes Ferraz (4) comentou:
02/04/2010
4. nos últimos anos muitas biografias e bibliografias sobre este período estejam surgindo. Essas mulheres hoje estão chegando nos seus 70 anos de vida e não vão morrer sem deixar muitos depoimentos. Elas precisam falar. Como cigarras, seus cantos, suas falas nos troncos das inúmeras árvores espalhadas pelas florestas, matas e campos brasileiros estão sendo ouvidas... Acredito que chegará um tempo em que faremos um grande coro, um coro de todas as cigarras
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Joana D´Arc Fernandes Ferraz (5) comentou:
02/04/2010
e incomodaremos aqueles que teimam em nos esquecer. Mas, neste momento, diferente das cigarras, não cantaremos para morrer, cantaremos para louvar e festejar um novo momento em nosso país. Um momento sem cinismo, onde não se falarão mais no \\\"direito à memória\\\" e nem sobre direito a nada. O discurso do Direito já carrega em si o discurso da perda. Se exige o que se perdeu. Cantaremos somente a vida e a possibilidade de verdadeiramente sonhar. Um grande beijo, Joana
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Joana D´Arc Fernandes Ferraz (4) comentou:
02/04/2010
Não é sem razão que nos últimos anos muitas biografias e bibliografias sobre este período estejam surgindo. Essas mulheres hoje estão chegando nos seus 70 anos de vida e não vão morrer sem deixar muitos depoimentos. Elas precisam falar. Como cigarras, seus cantos, suas falas nos troncos das inúmeras árvores espalhadas pelas florestas, matas e campos brasileiros estão sendo ouvidas... Acredito que chegará um tempo em que faremos um grande coro, um coro de todas as cigarras e incomodaremos aqueles
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comentou:
02/04/2010
Não podemos falar de \\\"direito à memória\\\" se ainda não temos a memória direito. Precisamos que o governo realmente seja transparente e coerente com a nossa memória e que, no lugar de tentar conciliar, efetive ações em que a memória, para além do discurso do \\\"direito\\\", seja viva. Somente assim poderemos ver o nosso passado e entender a fundo nossos erros, equívocos e iniqüidades. A minha geração e as gerações que vieram depois de mim precisam saber deste passado e elaborá-lo. Não é sem
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Joana D´Arc Fernandes Ferraz comentou:
02/04/2010
deixo aqui a minha indignação em relação ao contundente fechamento dos arquivos da ditadura. Ainda não podemos pesquisar suficientemente todas essas atrocidades. Ainda não podemos lavar a roupa suja. Ainda não podemos nem sequer ter o direito de esquecer, porque muitos, muitas gerações ainda não sabem o que aconteceu. Somente poderemos escolher esquecer aquilo que algum dia for devidamente elaborado, discutido e digerido. Não podemos falar de \\\"direito à memória\\\" se ainda não temos a memóri
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Paulo Bezerra comentou:
02/04/2010
E aí tem gente como Sen. Arthur Virgílio e outros q se põem contra o PNDH3-Programa Nacional dos Direitos Humanos, sob a alegação de q mexer no passado e colocar em risco a democracia. Ele pensa deste modo pq quando essas atrocidades aconteciam ele estava no \"bem-bom\" do Itamaraty e não teve nenhuma amiga ou parente torturada.
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Joana D`Arc Fernandes Ferraz comentou:
02/04/2010
Querido Bessa, acabei de ler a sua crônica. É linda, como não poderia ser diferente vinda de você. Grande parceiro nesta luta. Acrescento que, infelizmente, nem deveríamos pensar em \"Direito à memória\" uma vez que direitos tais como o direito à vida, à livre expressão, de ir e vir e muitos outros deveriam ser uma realidade tão clara e transparente como o direito de beber água, de respirar, de ler, de amar... São necessidades tácitas, inquestionáveis. No entanto, deixo aqui a minha indignação e
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Tereza comentou:
01/04/2010
Fiquei sem chão... isso acontece todas as vezes que leio a respeito do terror vivido por tantas pessoas, especialmente mulheres... Isso cada vez mais me faz pensar no passado e mais uma vez, agradecer a todas e todos que passaram tudo que passaram para que hoje, tenhamos o direito de nos expressar, sem medo desse fantasma terrível que assombrou e destruiu a vida de tantas mulheres, mas que resistiram, e hoje são figuras vivas de um tempo que nunca deveria ter existido.
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