CRÔNICAS

Eleições em Manaus: Por que o cabo fugiu do pau?

Em: 01 de Outubro de 1996 Visualizações: 7514
Eleições em Manaus: Por que o cabo fugiu do pau?

.Podem reparar: toda vez que se exige alguma atividade intelectual do Cabo Pereira e de seu vice, Omar Aziz, eles fogem do pau. Um dia, o Roberto Amazonas, do ICOTI, viu sair fumacinha da cabeça dos dois, numa partida de dominó, quando tentavam pensar. Contar os buraquinhos das pedras, até que eles contam direitinho. Mas não são capazes, por exemplo, de arquitetar um passe geral, porque isso já requer um pensamento mais elaborado.

Ginástica? É com eles mesmos. No horário eleitoral gratuito, os dois aparecem andando, quase correndo, pela periferia de Manaus, devidamente maquilados pela Oana. Acocham caboquinhas, beijam senhoras, colocam crianças no colo, dão tapinhas nas costas de eleitores. Enfim, realizam exercícios físicos, sem qualquer problema. Política, para eles, é isso: o chamado corpo-a-corpo.

E no debate, não vai nada não? Não! Quando se trata do mente-a-mente, na hora de expor ideias, de confrontar programas, eles fogem do pau. Domingo à noite, o eleitor amazonense perdeu a sua última oportunidade de conhecer os planos do Cabo Pereira para a cidade de Manaus, sem a intermediação do marketing político, no debate público com os demais candidatos organizado pelo SBT. Aliás, o Cabo e seu vice estiveram ausentes de todos os debates durante a atual campanha. Por que eles têm tanto medo de discutir a cidade?

A justificativa que eles apresentaram é uma oração à Santa Etelvina. Em entrevista ao jornal A Crítica, o recruta Omar Aziz explicou que o Cabo Pereira não comparecia ao debate organizado pelo Forum Permanente Pela Ética nas Eleições porque “as entidades que participam do Forum não têm legitimidade para questionar a conduta ética dos candidatos”. Esculhambou nominalmente duas delas: o CDDH - Conselho de Defesa dos Direitos Humanos e a Universidade do Amazonas.

Pergunta, leitor (a), pergunta:

- Por que a Universidade do Amazonas (UA) e o CDDH não têm legitimidade?

Perguntou?  Agora, ouve só a “brilhante” resposta dada por Omar José Abdel Aziz:

- O CDDH não tem legitimidade porque seu representante é o padre Humberto Guidotti, que defende marginais, ladrões, galeras e estupradores. E a UA não tem moral porque está representada no Forum pelo professor Ricardo Bessa, cujo irmão, Ribamar Bessa, passou 12 anos recebendo salário de doutor, com um diploma falso que ele disse ter obtido na França. Por isso, não participamos desse debate.

Até para caluniar é preciso ter talento, daí porque  é impossível levar a sério o Omar José Abdel Aziz. Vamos aceitar, no entanto, como puro exercício mental, que o Guidotti de fato defende ladrões, incluindo os ressarcidos, que deram na época um rombo de 222 milhões de cruzeiros nos cofres públicos. Supunhetamos que esse escriba aqui, matando de inveja o Ronaldo Tiradentes, tenha efetivamente comprado um diploma na Sorbonne. O que é que a cueca tem a ver com as calças? Em que é que essas duas coisas impedem o Cabo Pereira de ir discutir com os demais candidatos o que ele pretende fazer com a cidade de Manaus? Eu hein!

Era melhor inventar outra desculpa, mais plausível, como por exemplo, dizer que estava com diarréia. úlcera  ou frieira braba.

No dia em que eu não quiser escrever, posso construir um raciocínio equivalente. O Omar Aziz, como vereador, se apropriou de Cr$1.942.000,00 de ressarcimentos médicos. Depois, prevaricou, engavetando o processo e impedindo a quebra do sigilo bancário dos ressarcidos. Concluo, então - é elementar, meu caro Cabo - que o local de trabalho do irmão do Omar Aziz é uma porcaria e que por causa disso, não escrevo mais a coluna “Taqui Pra Ti”. Faz sentido? Eu hein!

Do ponto de vista lógico, não é um raciocínio válido, nem uma proposição verdadeira, porque confunde a parte com o todo, não se ajustando às normas do bem-pensar. Como é que uma dupla que deseja governar Manaus ataca com tanta truculência e de uma forma tão primária e grotesca uma instituição respeitável como a Universidade do Amazonas, onde - aliás - os dois estudaram gratuitamente? Aqui pra nós, politicamente, é uma tremenda burrice. Quem é que, pertencendo à UA, vota agora nessa dupla?

A UA tem milhares de professores, funcionários e alunos, que são eleitores e que foram ofendidos. Supondo que um ex-professor tenha efetivamente apresentado um diploma falso, qual é a base lógica que se tem para condenar a instituição como um todo? Nenhuma. Mesmo assim, condenando, em que isso impede o debate?

O chamado “grupo político”do Amazonino - no Código Penal tem outro nome - não possui quadros políticos. Revela a sua pobreza intelectual e sua indigência moral, quando escolhe dois candidatos do calibre do Cabo Pereira e do Recruta Aziz, capazes de elaborar um raciocínio tortuoso para ofender a honra de alguém como o padre Humberto Guidotti.

O padre Guidotti é um dos melhores quadros que a Santa Madre Igreja já colocou em terras amazônicas. Deve ser tratado por nós com mingauzinho de aveia ou papinha de maizena, dada na boca, pelos relevantes serviços por ele prestados à população amazonense, defendendo os pobres e humildes das investidas fascistas do Klinger. Merece respeito. Antes de pronunciar o nome do Guidotti, Omar José Abdel Aziz tinha de fazer o sinal da cruz e lavar a boca com creolina.

Guidotti defende os direitos humanos contidos na lei. Existem leis determinando como os ladrões devem ser punidos. Existem leis, também, prevendo punição para torturadores. Quando alguém rouba, deve ser punido. Quando alguém, pago pelo contribuinte, tortura e mata um ladrão indefeso, está fora da lei. Se um vereador ressarcido for torturado, Guidotti certamente o defenderá contra a tortura, mas não contra a punição prevista em lei pelo seu crime.

Suponho que cessadas as causas impeditivas, cessam os seus efeitos. Ou seja, se o padre Guidotti condenar os ladrões, e esse escriba aqui provar que seu diploma é mais quente que o do Alferes Tiradentes, então o Cabo Pereira e o Recruta Omar Abdel não terão mais motivos para fugir dos debates. Deviam ter avisado antes, que providenciaríamos.

E o debate do SBT, foi também organizado pela UA e pelo CDDH? A carta do Cabo, lida pela jornalista Salete, inventou aqui outras desculpas esfarrapadas: o Cabo seria espancado por todo mundo.

Francamente, leitor (a), todos nós sabemos porque a dupla foge dos debates. O Omar comeu a metade do coquinho de um caroço de tucumã. Deu a outra metade ao Cabo. Despreparados, eles não têm o que dizer.  Aí, cada frase que elaboram é um atentado à lógica. Se eles participam na televisão com esse raciocínio de revés-trés, serão almoçados pelo Boto, jantados pelo Serafim e ainda, comidos de sobremesa pela Irinéia, depois de consultar suas bases.  Na verdade, o Cabo Pereira e o Omar Aziz pertencem a essa cambada de políticos que estão se lixando para as instituições democráticas. Por isso estão cagando de medo do debate.

Sabão em pó não fala, desodorante não discute, xampu não pensa. A propaganda apresenta esses produtos. Como é que alguém pretende ser prefeito de Manaus, se não é capaz de defender suas idéias num debate público e dizer o que pretende fazer com a cidade de Manaus?

O debate entre candidatos é um exercício democrático, que permite cada um falar do seu programa de governo, submetendo-o à crítica dos demais. Dessa forma, o eleitor deixa de ser um mero consumidor passivo para tornar-se um cidadão consciente e esclarecido. Aí sim, informado, ele tem condições de escolher livremente.

P.S. - Agradecimentos ao Jack pelas caricaturas

Comente esta crônica



Serviço integrado ao Gravatar.com para exibir sua foto (avatar).

Nenhum Comentário