CRÔNICAS

Quem com Sibá fere, com Sibá será ferido

Em: 17 de Junho de 2007 Visualizações: 7717
Quem com Sibá fere, com Sibá será ferido

Excelentíssimo Senhor Senador da República,

Sebastião Machado Oliveira, mais conhecido como Sibá Machado,

Mui digno presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar

 

Saudações

 

Escrevo essa carta, mas não repare os senões, para dizer o que sinto sobre sua atuação como presidente do Conselho de Ética, na investigação solicitada pelo P-SOL para apurar denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB – Partido do Me Dei Bem – vixe!). Ele usou um lobista da empreiteira Mendes Júnior em sucessivos pagamentos de ordem pessoal e, depois, apresentou notas frias de venda de gado para comprovar seus rendimentos. Por isso é acusado de quebrar o decoro parlamentar.

Confesso, senador Sibá, minha simpatia gratuita pela figura pública de Vossa Excelência, que é senador pelo Acre, o que nos aproxima, já que sou amazonense. Pertence ao PT, um partido do qual sou fundador e do qual fui presidente estadual. É nordestino, como todos os nossos avós. Viveu no Acre, o que lhe deu essa cara arretada de caboquinho, como a minha. Dá orgulho de ver no Senado um ex-agricultor, humilde, de paletó e gravata, parecendo até um pirarucu de casaca. No bom sentido, é claro.

No entanto, caro senador Sibá, essa simpatia está se transformando em revolta, porque Vossa Excelência, em vez de conduzir a apuração dos desvios de conduta do seu colega Renan Calheiros, tentou absolvê-lo, apoiando o pedido de arquivamento do relator, Epitácio Cafeteira, sem fazer qualquer diligência, sem procurar provas, sem ouvir os envolvidos na trama, num rito de absolvição sumária. Vossa Excelência está virando um cafeteira, um calheiros, um acm qualquer.

Que o senador Epitácio Cafeteira, escolhido por Vossa Excelência como relator, tenha fingido acreditar na história para boi dormir da venda de gado, pedindo o arquivamento do processo, não é novidade. Afinal, ele é um lídimo representante da malandragem sarneyzista, aproveitador e pusilânime. Ninguém acredita nele, nem no que sai de sua boca, que parece estar sempre cheia de farofa. Não podemos cobrar dele aquilo que ele não tem e nem pode dar: isenção e postura ética.

Mas esse não é o caso de Vossa Excelência, senador Sibá, cuja biografia até então era a de um homem limpo e correto. Minha obrigação, na qualidade de amazonense, petista e caboquinho, é fazer essa cobrança. Por que nessa altura do campeonato manchar seu currículo, recusando-se a buscar a verdade para moralizar a vida pública? Com tal comportamento, Vossa Excelência feriu de morte a ética e a consciência dos brasileiros. Cuide-se, porque quem com sibá machado fere, com sibá machado será ferido.

Por falar em ferimento e machado, advirto que o eleitor não é sândalo. Explico. Na casa do tio Dantas, na época da minha infância, no século passado, havia uma tabuletinha pendurada na parede da sala, com um pequeno tronco colado nela, sobre o qual aparecia uma machadinha, que o sangrava. Em baixo, a seguinte frase: “Sê como o sândalo, que perfuma o machado que o fere”. Acontece que o eleitor não é sândalo para perdoar o sibá machado que o fere. O eleitor prefere outra frase: “árvore que não dá fruto, machado nela”. Quem avisa amigo é.

Clóvis Rossi escreveu ontem na Folha de São Paulo que Renan Calheiros pode até ser inocente, o que é difícil de acreditar, mas “quem definitivamente não merece mais crédito são seus colegas Sibá Machado, presidente do Conselho de Ética do Senado e Epitácio Cafeteira, relator do caso”. E isto porque “os dois se demitiram do dever elementar de funcionário público, que é o de cumprir o papel para o qual foram designados”. Rossi acha que se o Brasil fosse um país sério, “Machado e Cafeteira no mínimo demitir-se-iam de seus cargos”. Ele tem razão, apesar da mesóclise.

Acompanhei pela TV Senado a farsa montada pelo Conselho de Ética, presidido por Vossa Excelência. Vi o senador amazonense Jefferson Peres (PDT) manter a postura de coerência e de coragem que sempre teve ao longo de seu mandato. Na declaração do voto em separado, ele disse: “Não é natural que o presidente do Senado escolha, entre tantos amigos, um lobista de uma empreiteira como intermediário”. Peres acha, com razão, que o arquivamento do processo significaria o “sepultamento do Senado”.

Ouvi atentamente o discurso de outro senador amazonense, Arthur Virgilio (PSDB), sempre brilhante e rápido no raciocínio, exigindo que fosse feita perícia técnica na documentação apresentada por Renan Calheiros, argumentando que o processo não podia ser arquivado sem que houvesse um mínimo de investigação. De repente, Arthur Virgilio e Jefferson Peres estavam com a postura correta que o povo acreano e brasileiro gostaria que Vossa Excelência defendesse.

Até aquele suspeito gordinho careca, roliço como um porquinho, Demóstenes Torres (ex-PFL – vixe, atual DEM, vixe-vixe), fez um discurso contra a absolvição sumária de Renan, com argumentos sólidos. De repente, morri de vergonha. O ex-PFL e atual DEM fazia o discurso ético, de cobrança, de luta contra a impunidade, que o PT deveria fazer. E o PT com um discurso e um comportamento que era tradicionalmente do PFL: escondendo a corrupção, justificando a malandragem, advogando a impunidade.

Quando o P-SOL protocolou a representação junto ao Conselho de Ética pedindo investigação sobre a conduta de Renan Calheiros, os deputados daquele partido Chico Alencar (RJ), José Nery (PA), Ivan Valente (SP) e Luciana Genro (RS) queriam entregar ofício a Vossa Excelência, pedindo celeridade nas diligências. Pegaram um chá de cadeira e não foram recebidos. Vossa Excelência prefere confabular com Jader Barbalho, Cafeteira, Wellington Salgado – o cabeludão, do que conversar com o PSOL. 

Vossa Excelência, Sibá Machado, foi um lutador social, preocupado com a transformação do Brasil, com as lutas do seu povo. Nessa época, era um dos nossos. Hoje, seu comportamento subserviente aos poderosos, suas alianças espúrias, sua covardia para agir corretamente e as tramóias que arma me fazem lembrar um provérbio turco recuperado pelo meu amigo, o historiador Marco Morel: “Quando o machado entrou na floresta para destruí-la, as árvores disseram: - quem diria que o cabo dele já foi um dos nossos!”.    

P.S. – No momento em que o leitor está lendo a coluna, estou num avião rumo à Alemanha. Fui convidado por uma universidade de lá para falar sobre o Rio Babel e a história das línguas na Amazônia. Vou aproveitar para procurar lá algum vestígio dos avós do presidente da Assembléia Legislativa, Belarmino Lins, vulgo Belão ou Big Beautiful. Ele jura que não tem nada a ver com os índios, que tem sangue alemão. Vamos ver se é mesmo verdade.

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