CRÔNICAS

De nomes feios e palavrões

Em: 01 de Agosto de 1990 Visualizações: 2374
De nomes feios e palavrões

Quem? Aristófanes? Do Amazonas? Grego em Manaus só pode ser filho de cearense.

Bingo. O humorista Stanislaw Ponte Preta acertou na mosca, quando fez este comentário espirituoso em sua coluna no “Última Hora”, na década de sessenta, registrando o livro de crônicas do mestre Aristófanes.

Aristófanes de Castro, o nosso cronista dominical, é efetivamente filho de cearense. Podia se chamar Ubirajara, Jurandir, Peri, Eronildo, Everton ou qualquer outro nome de arigó. É Aristófanes. Viva o Ceará e viva a Grécia. Viva também a nega Nathércia.

Os nomes podem ter influência na formação da personalidade?

Aristófanes, poeta cômico de Atenas, séculos antes de Cristo, caiu de cacete em cima da ignorância, da mediocridade, do alpinismo social. Combateu os demagogos Cleón e Hipérbolo e foi implacável na sátira política e social. Hoje, no Amazonas, proliferam os demagogos com outros nomes, mas continuam pegando pau de Aristófanes e mordidas do seu cachorro fiel Pofokanikanu.

Os Aristófanes estão cada vez mais raros: intelectual e moralmente. Os pais nem sempre são cearenses e, por isso, ás vezes batizam filhos com nomes feios e impróprios desconhecidos dos gregos, traumatizando-os e desenhando uma tatuagem na pele de suas vidas. Alguns nomes são tão inadequados como o vinho de buriti, se usado na missa na hora da consagração. Outros são verdadeiros palavrões que expõem o cidadão à galhofa.

Como evita-los?  Este locutor que vos fala, numa contribuição singular à cultura manauara, apresenta aqui um conjunto de receitas, visando banir da honrada família amazonense, para sempre, o nome feio. Bastar seguir as cinco regras e tirar lições dos exemplos.

Quase-Oscar

Primeira regra: cuidado com a fusão de nomes e sobrenomes ao batizar seu filho.

O sr. Geraldo Alho, morador da rua Gustavo Sampaio, no bairro de Aparecida, era vidrado no arquiteto Niemeyer. Por isso decidiu: “Se nascer homem, o meu filho será artista e terá o nome de Oscar.

Na hora do batixado do garotão, dona Elisa, a madrinha astuta, cochichou no ouvido do sr. Geraldo que, correndinho, trocou Niemeyer por Vargas, então presidente da República. O menino, é certo, viou artista e dos bons, mas ficou – graças a Deus – com o nome de Getúlio Alho e – infelizmente com o apelido que a canalha do bairro lhe deu: “Quase-Oscar Alho”, o que irritava a Tequinha, sua namorada.

Quem ia entrando na mesma fria? H. Dias, advogado escolado, com escritório em Manaus. Este sim, podia ter um filho com nome de Oscar com a correia encurtada seria ministro da Justiça. Mas vejam só os caprichos do destino: H. Dias, fissurado em jazz, se amarra no nome de Adolfo. Queria porque queria um filho Adolfo.

- Babá, meu irmão, se for homem, boto Adolfo para homenagear o grande saxofonista de Urucurituba – ele justificava ao longo dos nove meses de gravidez, enquanto embalado na rede curtia o ritmo sincopado da Ragbada – uma mistura de ragtime com lambada.

Nasceu um menino. No Cartório, o Tude Moutinho, de caneta em punho, quando ia registrar a criança perguntou do pai:

- É Adolfo, Dias?

Na hora agá, Dias caiu das nuvens e gritou: - Caio, Sacrificou desta forma o Louis Armstrong urucuritubense> O Tude então registrou: Caio Dias, livrando-o de um nome tão incômodo como Jacinto Leito Aquino Rego ou Jacinto Pereira Filho, tirando o Pereira, como é que fica?

O H. Dias, que, com razão, já esconde o Hildeberto fazendo o maior agá com um ponto, queria um filho no mesmo esquema A. Dias. É claro que meu amigo H. Dias vai apregoar, com clarinete, trompete e trombone, que eu estou brincando, Mas taí o Tude que confirma tudinho e não me deixa mentir, não é verdade, Tudinho? Ou deixa?

Reincidente

A atriz Suzi Rego, da novela “Top Model”, só não casou com seu namorado, o ator Paulo César Grande, o brega e chique, por razões óbvias. Já um primo do H. Dias – o Higino Dias Aguiar – casado com dona Elaine Passos, de Abaetetuba, explorou comercialmente os sobrenomes. Ele registrou com o nome de João Renault o seu filho mais velho, hoje motorista de táxi em Macapá, com ponto no aeroporto. Ficou: João RENAULT PASSOS DIAS AGUIAR. Táxi.

E aqui podemos anunciar a segunda regra: Fuja dos nomes de heróis e personalidades históricas.

Por que? Ora, para evitar aborrecimentos, se seu filho não tiver o “physique du rôle” , casos do Átila, Cleópatra e Hitler.

Átila é bárbaro? Conheci um Átila, bailarino, que onde pisava com a pontinha dos pés crescia muita grama, de tão leve que era. A Cleópatra Azize, de Manacapuri, virou freira do Preciosíssimo Sangue e trocou de nome: irmã Assunta. E o Hitler Pinto era uma flor de pessoa, incapaz de matar uma mosca. Cabelinho no peito e dentinho de ouro colocado pelo dentista Alexandre Montoril, em Coari, o Hitler do Solimões desmoralizou o nazismo, o fascismo e de quebra, o comunismo, porque os coarienses achavam que, no frigir dos ovos, tudo era a mesma pinoia. Por isso até hoje o PC do B não conseguiu criar uma única célula em Coari.

Mas não esqueça de verificar - terceira regra – como soa o nome do seu filho em uma língua estrangeira, porque mudando de país, o infeliz pode passar o mesmo vexame do Tomasso Buscetta, aquele mafioso italiano com boca de arapapá. Ou do embaixador peruano, reincidente, chamado Raúl Porras y Porras.

Em contrapartida, o ministro do latifúndio, o Cabrera  (Que caboquinho pernóstico – a dona Elisa exclama quando o vê na televisão) não pode viajar ao Peru, porque lá o Tomasso será ele. E se o Cabrera, em vez de búfalos, criasse cabras?

Ora Tibis

A quarta regra estabelece: Não faá promessas para o outro pagar, nem mesmo para Santa Etelvina.

A doutora Paola, competente dentista em Niterói, com a ficha para preencher, pergunta do paciente:

- Nome?

- José R. Bessa Freire.

Ela é mórbida e quer detalhes:

- O que é esse Erre Ponto? Richard? Ronald?

- Doutora, por favor, tem crianças aqui na sala de espera do consultório.

Ela retira os menores de idade e diz:

- Agora, pode falar.

Olhando para um lado e para o outro, com voz baixinha, sussurrando, saiu o palavrão:

- R. é  de Ribamar.

A dentista ficou morrendo de peninha. Para tal dor, não há anestesia.

Ribamar, o nome que assina essas mal traçadas, é uma promessa feita pela velha Marelisa, lá em São Luís do Maranhão Ela já tinha quatro netas mulheres. Queria um homenzinho. Rezou:

- “Meu São José de Ribamar, se nascer macho, o nome dele vai ser o seu, ora tibis”.

Não deu outra. O neto nasceu macho – mas nem tanto – e está pagando a promessa da avó até hoje, tentando esconder o nome de porteiro de motel.

Tudo bem, juro que deu para segurar até a morte do Tancredo Neves. Mas aí assumiu o Ribamar Sarney e com ele a desgraça. Aí né, a gente né, desgostoso né, começou a esconder o nome, envergonhado. Como exibir um nome que nem sequer o corrupto do Sarney quis usar?

Budapestino

A regra número cinco é de ouro, como o dentinho do Hitler: Deixe de lado essa mania provinciana de colocar em gente nome de acidente geográfico. Deixe de ser leso! Seu filho vai ser motivo de galhofa. O patriotismo tem limites. Seu filho é gente e não uma ponta de terra que avança pelo mar adentro.

O neto de um dos fundadores de Boa Vista (RR) se chama Amazonas Brasil. Assim mesmo: com registro e tudo. Não sabemos se a prima se chama Manaus Amazonas Brasil ou Caracaraí Boa Vista Brasil.

Tom Jobim oculta, humilhado, o “Brasileiro” que tem no nome, enquanto o pobre Antônio Madeira de Tefé – o Toinho – sofreu mais do que charuto em boca de bêbado para arrumar emprego, por causa do nome afogado em dois rios.

Mas não precisa ir muito longe. Aqui mesmo, pertinho de nós, tem um político chamado Amazonino. Imagine só se ele tivesse nascido em Budapeste ou em Urucurituba: Budapestino Mendes, Urucuritubino Mendes. Os cearenses gregos tinham razão, porque se fosse Hiperbólo ou Cleón Mendes poderia demagogicamente distribuir moto-serras sem nenhum problema.

O que nós, infelizes órfãos de pais cearenses podemos fazer para combater os nossos nomes feios? Só existe uma saída: aplicar a regra seis, que será anunciada na próxima semana. Sen-sa-cio-nal! Não perca. Você pode estar enquadrado na mesma situação. Até lá.

Correspondência para a coluna: Ribamar Bessa, Rua Graça Aranha, 174, Grupo 509 – Departamento de Tráfico – CEP 20.030 – Rio de Janeiro- RJ

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