CRÔNICAS

Um bilhete de Djalma Batista

Em: 23 de Fevereiro de 1996 Visualizações: 5874
Um bilhete de Djalma Batista

.O livro “O complexo da Amazônia”, de Djalma Batista (1976 – Editora Conquista) tornou-se uma espécie de “bíblia”para todos aqueles estudiosos interessados em entender a Amazônia. Nele, o autor sistematizou conhecimentos produzidos em diversas áreas do saber e, generosamente, nos ofereceu para reflexão o que havia de mais avançado na época.

Um ano depois, na Universidade do Amazonas, começamos a discutir o livro. Seu autor, mesmo já adoentado, concedeu entrevista a um grupo de estudantes de jornalismo encarregado de pesquisar a economia extrativista. Depois, recebeu o mesmo grupo outra vez para avaliar o trabalho. Com uma caneta-tinteiro, Djalma Batista escreveu uma cartinha de próprio punho sobre uma folha de papel almaço. Sua caligrafia firme parece mais com letra de professor, que quer se fazer compreender, do que com letra ilegível de médico.

A quase-veneração por Djalma Batista e tudo o que ele simbolizava nos fez guardar o manuscrito cuidadosamente por quase vinte anos. Agora, que se comemora os seus 80 anos de nascimento, parece oportuno publicá-lo. Eis aqui:

“Andei inspirado quando dediquei “O Complexo da Amazônia” aos estudantes e professores das universidades da região, onde está se formando a liderança que se constitui, aceleradamente, a sua elite dirigente e em quem deve repousar todo o processo de desenvolvimento.

Bem haja o prof. Bessa, do Curso de Comunicação Social, que distribuiu a seus alunos a tarefa de conhecer e interpretar a Amazônia. Atendi, com desvanecimento, a entrevista que me foi dado manter com o grupo encarregado de estudar a Amazônia extrativista, que me formulou perguntas inteligentes e procurou, nas fontes modestas dos meus conhecimentos, complementação e dados para o seu trabalho.

Li este trabalho que representa uma verdadeira monografia, com a maior alegria e proveito. E venho louvar o esforço de seus integrantes, de anotarem, gravarem e ajuntarem os seus próprios raciocínios ao assunto da entrevista e ao que leram.

Marquei, no texto, alguns pontos a esclarecer. Há outros que precisam de maior desenvolvimento. Pergunto, porém: quem sabe tudo sobre a Amazônia? Que trabalho é completo, tratando do assunto?

O grupo me declarou honestamente, que se iniciara em amazonologia quando da explicação do professor. E era todo de amazonenses, e particularmente bem dotados (fizeram-me cada pergunta!). Espero que agora, esteja motivado para prosseguir no estudo. Foi por isto que envelheci debruçado sobre a Amazônia...

O Curso de Comunicação, a que a classe pertence, é particularmente indicado para formar bons conhecedores e divulgadores da terra e do homem amazônico, que têm sido tão incompreendidos e mal informados em todo o Brasil e até mesmo em Manaus.

Sinto-me feliz de ter sido o motivo do trabalho em apreciação, dizendo que valeu a pena ter escrito “O Complexo da Amazônia.

Djalma Batista

Cientista sério, profissional responsável, modelo de integridade e de comportamento ético, homem bom, de caráter. Depois de 17 anos de sua partida, continua fazendo uma falta danada a sua figura – tão querida – de homem público. Saudades do doutor Djalma Batista, e santa inveja daqueles que tiveram o prazer de conviver mais estreitamente com ele. Com um por cento do cachê pago pelo governador Amazonino Mendes  a José Carreras para cantar no Teatro Amazonas, poder-se-ia fazer outra edição do seu livro”.   

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