CRÔNICAS

Chamem Lucas: o lobo do Lula e o Tchubi-Tchubi

Em: 24 de Julho de 2005 Visualizações: 8442
Chamem Lucas: o lobo do Lula e o Tchubi-Tchubi
- Alô! É da casa do Lucas Lobo? O quê? Ele está tomando banho? Tá bom, eu espero. Diga que quem está telefonando é o pai do Palmito...
Considerando que esse banho vai durar ainda alguns minutos, temos tempo suficiente, leitor (a), para que te apresente os personagens dessa história. Palmito é codinome de guerra do nosso herói, que na realidade, se chama Miguel e tem 3 anos. Mora no Parque das Laranjeiras, em Manaus, numa casa com um pequeno jardim. O seu corpo está coberto de feridas e cicatrizes, que ele exibe como troféus conquistados nos duros combates travados com Lucas Lobo, seu inimigo mortal, contra quem exercita seu ódio cotidiano.
O ódio teve seu começo numa festa de São João. O motivo: a Teté. Acontece que na quadrilha junina, o par constante de Palmito, com quem sempre dançava, era Esther, uma moreninha cor de jambo, de graciosas trancinhas. Foi aí que o vilão Lucas Lobo, um louro-bosta desengonçado, se engraçou dela, conjugou o verbo ficar no presente do indicativo, conquistando-a, e passou a usar um anel que alguns idiotas, iludidos pela aparência, pensam que é de tucumã, mas que na verdade é de kryptonita pura.
Se aquilo não é kryptonita, como então explicar a súbita fraqueza do nosso herói, que amarelou em recente briga com o vilão ocorrida no recreio, longe dos olhos das tias, em que levou o maior sabacu de sua vida? Ficou com o corpo todo esfulepado, cheio de arranhões e feridas, o que lhe fez desconfiar – e nós compartilhamos tal desconfiança - que foi vítima da agressão covarde de um sindicato de vilões, comandado, é certo, por Lucas Lobo, mas do qual fazem parte outros vilões notórios como Lex Luthor e os três carecas: Coringa, doutor Silvana e Marcos Valério.
O tchubi-tchubi
Os vilões se aliaram – é triste admitir – com o próprio pai do Palmito. Enquanto passava mertiolate nos arranhões, no dedo machucado e na orelha mordida do filho, ele deu-lhe uma senhora `mijada`: que aquilo não era forma de se comportar, que onde já se viu brigar todo dia na escolinha, que as tias se queixaram da sua conduta anti-social, que se continuasse assim não o levaria mais ao parquinho. O nosso herói, confiante por estar longe da kryptonita, berrou:
- Quero que tu morra! Mooorre!.
O pai, carrancudo e solene:
- Repete, Miguel Freire de Souza, repete!.
Ele não se intimidou. Dessa vez, usou letras maiúsculas e ainda pingou vários pontos de exclamação:
- “MOOOORRE!!!!!!”.
Vamos e venhamos, que outra coisa merece, senão a morte, quem com vilões se alia?
Com os olhos fixos no nosso herói, em silêncio, o pai, publicitário de profissão, fez aquela encenação: pegou o celular e discou aleatoriamente vários números. Ficou esperando o vilão, que agorinha saiu do banheiro e veio atender ao telefone. Êpa! Vamos quebrar o sigilo telefônico deles.
- Oi, Lucas, tudo bem! Olha só, queria te dizer que para o Palmito, eu morri. Então, estou te telefonando para saber se de hoje em diante você quer ser meu filho.
Palmito, até então altaneiro, ficou com as pernas bambas. Empalideceu. Sua pele leitosa - daí o apelido - ficou transparente. Tratava-se de uma traição imperdoável, de um conluio indecente entre o próprio pai e o inimigo figadal, que lhe havia roubado Teté com suas trancinhas e havia lhe sentado a porrada. Escandalizado, ouviu o seu genitor sussurrar com intimidade:
- Lucas, você quer ser meu filho? Prometo te acordar sempre com um cheiro no cangote, te fazer cosquinha com meu nariz na tua barriga, te fazer cafuné e te levar ao parquinho.
Nessas alturas, o nosso herói, que tudo observava e escutava, já fazia biquinho, fechando os olhos, de onde rolaram duas grossas lágrimas. Mas o pai não se comoveu. Desfechou o golpe final, sem misericórdia:
- Lucas, você deixa quando eu chegar do trabalho, todo dia, antes de te pegar no colo, dizer: quem é o tchubi-tchubi do papai? Ahn? Você deixa, Luquinhas? Posso dizer agorinha? Então tá. Luquinhas, você é o tchubi-tchubi do papai.
Foi demais pro nosso herói. Entregou os pontos com um grito de fera ferida:
- “Nãããão. Tchubi-tchubi nããão!”
O grito subiu pelas Laranjeiras, percorreu todo o Parque Dez, deu a volta na Rua do Comércio, passou em frente ao Mindú e entrou no condomínio Arvoredo, onde mora a avó paterna do herói, que ficou indignada com tanta maldade.
– Mauro Roberto, você é muito malino, não devia ter feito isso com o bichinho.
– Mãezinha, estava no limite. Era matar ou morrer. Quem atirasse primeiro, ganhava. Era ele ou eu.
O Lobo do Lula
Eis o que eu queria dizer: a história do Lucas Lobo é exemplar. Traz uma lição para o povo brasileiro, que entrou numa canoa furada com esse negócio – negócio mesmo - do mensalão, organizado até onde sabemos por Delúbio, Silvinho Land Rover e o Careca, evidenciando que tanto o PT como o Lula se aproximaram perigosamente de trambiqueiros e até mesmo de corruptos de carteirinha, que usam anel de korruptonyta, aquela substância amolecedora do caráter e debilitadora da alma.
Desde o início foi feita aliança com Sarney, cujas trapalhadas o PT combateu no passado. Depois, Lula cortejou a tropa de choque collorida e namorou os malufistas: deu cheque em branco (sem fundos) para o Bob Jefferson, se arreganhou todo para o Renan Calheiros, nomeou Romero Jucá – aquele do frangogate - para a Previdência, reverenciou Severino Cavalcanti. Agora, demite Olívio Dutra (PT/RS) do Ministério das Cidades para nomear em seu lugar – que vergonha! – o collorido Márcio Fortes, sobre quem pesam denúncias sérias. Por quê? Olívio não trabalhou bem? Márcio Fortes é mais competente, é melhor para o Brasil? Necas de pitibiribas. É cambalacho de votos mesmo.
O golpe fatal foi dado na quarta-feira. Num gesto carregado de simbolismo, o presidente da República Luis Ignácio Lula da Silva desceu do alto de suas tamancas para visitar o convalescente deputado Ricardo Fiúza (ex-PFL, atual PP – vixe! vixe!), em sua casa particular, em Recife. Foi confortá-lo. O Fiuzão, para quem não se lembra mais, é aquele notório vilão envolvido em corrupção na CPI do orçamento, que foi advogado do Collor na Câmara de Deputados, fazendo parte de sua tropa de choque. É dose!
Lula diz que não nasceu ainda quem lhe possa dar lições de ética. É uma pena, porque se for verdade, ele vai morrer sem ter aprendido que ninguém está acima do bem e do mal e que a intimidade com a korruptonyta contamina e enfraquece até mesmo o Super-Homem. Por isso, aliás, Lula anda amarelando. Talvez seja a hora de chamar o Lobo. Enquanto o lobo não vem, quem sabe o número do telefone do FHC ou do Serra? Precisamos dizer a eles e ao IBOPE que Lula, em quem sempre votamos e de quem gostamos, não é mais o nosso “tchubi-tchubi”, para ver se dessa forma o presidente se assusta e entra nos eixos. É ele ou nós. Será que dá certo? Com o Palmito funcionou.
P.S. 1. - O curso de Gestores Indígenas, realizado em Manaus sob a coordenação de Alexandre Goulart, do PDPI, concluiu uma experiência pedagógica singular, formando uma turma de 30 índios da Amazônia. Pequenos fatos como esse, renovam a nossa esperança no Brasil.
P.S. 2 - Nessa sexta-feira, Andréas Valentin inaugurou com sucesso exposição de fotos do boi de Parintins no Tribunal de Contas do Rio de Janeiro e autografou seu belo livro: ‘Contrários: a celebração da rivalidade dos Bois-Bumbás de Parintins`. Fui lá, me empolguei tanto que até fiz discurso.

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