Este analfabeto digital que vos fala, muito curioso, decidiu xeretar a performance do blog Takiprati, sem saber, porém, como usar o Google Analytics, por ser um analógico confesso, com limitações etárias, genéticas e epistemológicas. Por isso, recorreu ao mestre em Estatística pela Universidade Federal de Minas Gerais, Geraldo Lopes de Souza Júnior, que realizou uma pesquisa extenuante e minuciosa, com outra metodologia, e a dedicação e o amor de um sobrinho-filho.
Criado no ano 2.000 por Amaro Júnior, outro sobrinho-filho, o Takiprati registra uma lista de 1.709 títulos elencados de 1967 até fevereiro de 2025. No entanto, 258 textos impressos publicados em jornais, no período anterior ao ano de criação o blog, ainda não foram digitalizados, o que reduz o número de acessos a 1.451 textos.
O resultado traz duas notícias: uma boa e outra ruim. A boa é que em 25 anos, o blog foi visualizado por mais de 32 milhões de leitores. A ruim: o acesso despencou assustadoramente nos últimos anos, talvez porque seu autor esteja perdendo a voz e o tesão. Tesão para escrever, é claro, tá pensando o quê? De qualquer forma, tal bloqueio, que interfere na qualidade do texto, é percebido pelo leitor, que se pirulita.
Será que chegou a hora de pendurar as chuteiras? Ou ainda é tempo de sair em busca do leitor perdido, como fez Proust com o tempo? Acontece que o genial escritor francês tinha madeleines para ativar sua memória e o provinciano Taquiprati, coitado, só dispõe da lembrança das broas vendidas pelo Rubem Rola no bairro de Aparecida, que não passam de madeleines arrependidas.
Sem mais delongas, volto com você aos estúdios, Geraldinho, agradecendo seu generoso texto.
Análise de dados do site Taquiprati
Geraldo Lopes de Souza Júnior
Desde o ano 2000, o site Taquiprati tem sido um verdadeiro buffet livre de crônicas para os leitores famintos por histórias, reflexões, críticas e boas risadas. Com 1.451 crônicas no cardápio, ele já foi degustado 32.831.667 vezes! Para colocar isso em perspectiva: se cada visualização fosse um prato de comida, teríamos alimentado toda a região norte do país quase duas vezes.
Crônicas mais acessadas
As dez crônicas mais populares somam 4.320.328 visualizações, provando que, quando algo é bom, o povo corre para conferir. Mas não para por aí! Trinta e duas crônicas ultrapassaram, cada uma, a marca de cem mil visualizações, totalizando 8.355.059 leituras. Gosto de pensar que boa parte dessas leituras foi feita pelo Berinho, eterno secretário de cultura e por Amazonino Mendes, ex-governador, ex-prefeito e ex-senador pelo Amazonas.
A grande campeã de audiência, a crônica mais lida focada sobre a temática indígena, foi visualizada 678.855 vezes. Isso é quase um quarto da população de Manaus parando para dar aquela espiadinha. Mas os números não são homogêneos ao longo do tempo.
Entre 2000 e 2004, foram publicadas 77 crônicas que, somadas, receberam 828.636 visualizações – uma média de 61.956 por texto. Simples, direto e eficaz.
Já entre 2005 e 2009, a produtividade aumentou, e 263 crônicas foram ao ar, acumulando 3.108.695 visualizações. A média caiu um pouco para 59.129 por crônica, mas nada que abalasse o prestígio do site.
No período de 2010 a 2014, veio um verdadeiro boom: 262 crônicas, 18.832.694 visualizações, uma média de 358.236 leituras por texto! Foi a época de ouro, com direito a um campeão absoluto que foi lido, ou pelo menos acessado, 678.855 vezes.
De 2015 a 2020, o ritmo seguiu forte, mas com um leve declínio: 260 crônicas, 6.200.564 visualizações e uma média de 119.231 leituras por crônica. A mais lida teve 113.735 visualizações, um desempenho respeitável.
Queda de audiência
Entre 2020 e 2024, com 244 crônicas publicadas, as visualizações caíram para 1.829.286 no total, e a média por crônica desceu para 36.385. A mais lida nesse período alcançou 25.123 visualizações. Não tem como manter o ritmo sem Gilberto Mestrinho e seus asseclas, não é mesmo?
E por que essa queda na audiência?
É necessário esclarecer, em primeiro lugar, que se trata de uma tendência geral no país, o que nos leva a relativizar os prováveis erros do Taquiprati. Segundo a 6ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” realizada pelo Instituto IPEC entre abril e julho de 2024, o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores desde 2019, registrando 53% da população como não leitores, o menor número da série histórica iniciada em 2007.
No entanto, podemos fazer algumas especulações específicas sobre as causas da perda de leitores Taquiprati:
- O Google mudou os algoritmos e resolveu brincar de esconde-esconde com o site.
- Os leitores migraram para TikTok, Instagram e YouTube – porque agora a moda é consumir conteúdo em vídeo de 10 segundos.
- O site é pão-duro e sovina e não investe em anúncios e campanhas pagas para turbinar o acesso, o que significa que os leitores precisam chegar até ele da maneira mais antiga do mundo: procurando.
O lendário Geraldão, leitor fiel desde os primórdios, ficou velho, cego e deixou de clicar. Uma grande perda para as estatísticas.
Metodologia
Vale destacar que 337 crônicas escritas antes do ano 2000 foram republicadas e somam 2.025.192 visualizações, com uma média de 185.193 leituras cada. Algumas coisas só melhoram com o tempo – como vinho e boas crônicas.
Os números foram coletados com todo o rigor científico possível por meio de um algoritmo de web scraping desenvolvido pelo programador Henrique Brito. Ou seja, se os dados não mentem, a história continua – e o Taquiprati segue firme e forte, esperando que os leitores antigos voltem (ou que Geraldão recupere a visão).
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P.S. O Taquiprati agradece a: Geraldo Lopes de Souza Júnior, José Amaro Júnior, o programador Henrique Brito e o publicitário Mauro Freire de Souza - outro sobrinho-filho que publicou, em 2012, crônicas selecionadas no livro “Essa Manaus que se vai”, ampliando na época o número de leitores. Os agradecimentos se estendem a outros blogs reprodutores das crônicas com acessos não contabilizados, como Pátria Latina, Revista Xapuri, Blog do Sarafa, NaGávea do José Seráfico, entre outros.