CRÔNICAS

Omar, o novo e Belão, o probo

Em: 27 de Julho de 2008 Visualizações: 8068
Omar, o novo e Belão, o probo

Omar ou Belão: eis a questão. Nem Shakespeare com o seu “to be or not to be” enfrentou dilema tão difícil como o meu. Estou indeciso, leitor (a) amigo (a). Passei a semana dando aulas para professores indígenas e fiquei sem acesso à internet.  Depois de vários dias sem ler jornal, acabo de abrir meus e-mails. Várias pessoas me escrevem comentando notícias sobre Belarmino Lins, o Belão, presidente da Assembléia Legislativa (ALELINS), e Omar Aziz, candidato a prefeito de Manaus.

O Big Beautiful

O que faço? Que tema escolho pra nossa conversa de hoje? Bem, vou expor os fatos e você, leitor (a), decide. Começo com o BBB – o Belão Big Beautiful. Alguém me conta que depois das denúncias de nepotismo publicadas por este Diário, BBB resolveu ser honesto e demitiu sua mulher Luciana Maria e seu filho Alfredo dos cargos comissionados pelos quais – segundo a denúncia - ganhavam sem trabalhar.

Raciocina comigo: é uma injustiça demitir, sem justa causa, alguém que está ralando. Se Belão exonerou sua própria mulher e seu próprio filho, é porque reconhece que ambos estavam mesmo ganhando sem trabalhar e que se tratava, portanto, de uma falcatrua. A demissão equivale a uma declaração pública: “Eu errei”. Esse gesto é grandioso. Eu e tu, leitor (a), também erramos. Por isso, tolerantes, devemos dar a oportunidade para Belão corrigir – digamos assim – suas cagadas e seus vacilos.

Mas continua raciocinando comigo: quando demitiu sua mulher e seu filho, Belão confessou implicitamente que ambos mamavam indevidamente nos cofres públicos, o que ocorreu durante vários anos. Ora, se o pagamento foi indevido, não é o caso de devolver ao erário a bufunfa que ambos embolsaram de forma ilegal? Com certeza, o Big Beautiful, que não é ladrão, vai devolver cada centavo pago, essa é a única forma de fazer uma ‘mea culpa’ de verdade e de ser perdoado do seu pecado de gula.  

Qualquer mãe dá conselhos de graça aos seus filhos. Esperamos que a conselheira de Belão, que é paga para isso, o oriente corretamente. Trata-se de um bom começo para construir sua nova imagem de probidade e de colocar em funcionamento a operação “Meu Deus, como é difícil ser honesto”.  Lembramos que falta ainda demitir os 31 parentes contratados irregularmente, com a devolução da respectiva grana.

Essa grana está fazendo falta para a saúde, a cultura, a educação, para projetos que melhorem a vida da população. Segundo o Diário, a família Lins abiscoita anualmente R$1,2 milhão em cargos comissionados, noves fora os gastos com passagens para viagens de lazer, que, em apenas seis meses, somaram R$ 138 mil.

Uma leitora, indignada, me escreve que o escritor Márcio Souza, consagrado e premiado internacionalmente, não pode apresentar sua peça no Festival de Teatro de Manizales, na Colômbia, para o qual foi convidado, porque não tem como pagar a passagem dos 16 atores. Mas os Lins têm. Por isso, ela sugere uma troca de nome: Márcio Souza de Albuquerque Lins. Assim, ele teria todas as passagens para nos representar no exterior.

O Cão do Luso 

A leitora Regina Esther, pelas razões que passamos a expor, acha que o tema da conversa de hoje devia ser o Omar Aziz, eterno vice de qualquer coisa, agora candidato a prefeito de Manaus, apoiado pelo governador Eduardo Braga e pelo ministro Alfredo Nascimento, o conhecido Cabo Pereira.

Ela conta que teve de botar algodão nos seus ouvidos, porque no lugar onde mora, na Zona Leste, os carros de som de Omar exageram na dose, tocando sem cessar um jingle horrível, uma música de mau-gosto, uma letra sem pé-nem-cabeça, feita à imagem e semelhança do candidato.

“Não dá para viver sem lazer”, diz a letra do jingle, que parece se referir às viagens de Eduardo Braga e Belão. O mais extraordinário, porém, é panfleto colorido assinado pelo Cabo Pereira, no qual ele reconhece, indiretamente, o envolvimento do seu candidato com as obras-fantasmas do Alto Solimões e com a compra de terrenos superfaturados: “Omar tem trabalhado de forma ativa e em parceria com Eduardo Braga” – confessa.

O panfleto, distribuído aos milhares, termina mostrando que o Cabo Pereira tem senso de humor: “Omar é o novo, o jovem, o moderno com experiência”. Quaquaraquaquá.

Omar, o novo?  Quaquaraquaquá, me poupe, Cabo Pereira! Apresentar Omar como novo e moderno equivale a dizer que Belão é probo. Me poupe, Cabo Pereira!

Esses chavões desgastados, essa incapacidade de falar coisa com coisa foi criticada por um observador agudo, irônico, que assistiu e comentou o debate com Omar Aziz no Programa Roda Viva da TV Cultura, na última quarta-feira. Seu autor, Ismael Benigno, é conhecido da coluna. Ele comentou o debate em seu blog, que me foi remetido pela repórter Tambaqui. Trata-se de um texto primoroso, inteligente, instigante, que coloca o dedo na ferida e dá prazer de ler.

Ele assistiu apenas os dois últimos blocos do programa, o suficiente para perceber que Omar Aziz não tem, MESMO, vida política própria. É um Celso Pitta à moda amazonense, sem as algemas e prisões. “Enquanto Celso tem apenas um pai, Omar tem três. O último, Eduardo, é o rei da vez e, portanto, merece mais destaque nas faladas do candidato do que o próprio candidato”.

Com muita propriedade, Ismael diz que ainda nem começou a fase quente da campanha e o discurso do Omar já está acabado. Comenta a irritação do Cão do Luso com as perguntas pertinentes e corajosas de Walmir Lima, deste Diário e de André Alves, de A Crítica.  Uma delas foi sobre corrupção: “No Governo Eduardo Braga não há corrupção. Sim, Omar disse isso”, escreve Ismael Benigno.

 “Omar ainda vai responder, desse jeito amador mesmo, muitas vezes, sobre o que seus ex-chefes fizeram (ele tem muitos) e ele próprio fez. O que vai ficar, contudo, é a cara de paisagem, exatamente no final da entrevista, depois de defender-se das acusações de exploração sexual de menores e de safadeza (com o perdão do português correto) no trato de sua aposentadoria. O “flagra” da PF, aliás, pode ser o motivo de tão milionária campanha. Depois de perder seus R$ 22 mil pelas vias belônicas (aquelas segundo as quais não é preciso qualquer desgaste para se conseguir uma teta), Omar foi obrigado a tentar sobreviver botando a cara a tapa, se candidatando”.

A entrevista de Omar mostrou seu despreparo e desinformação. Ele sentiu que mijou fora do caco. Sua cara-de-égua, no final do programa, mostrou isso. Entre Belão e Omar, eu devia mesmo era ter reproduzido aqui nesse espaço o texto integral do Ismael Benigno. É imperdível. Procura, leitor (a), correndinho o blog do Ismael.

P.S. – Saio ‘al mare’ no iate Lord Curupira, de propriedade de um querido amigo que aniversariou ontem. Quem comanda o barco é o Almirante Tinga.

 

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