CRÔNICAS

Tadinho do Ézio Ferreira

Em: 16 de Novembro de 1993 Visualizações: 1607
Tadinho do Ézio Ferreira

.Tadinho do Ézio Ferreira, deputado federal (PFL-AM vixe vixe). Me deu uma peninha dele. Depois de ter votado contra o impeachment de Fernando Collor, em setembro de 1992, foi fuzilado pela CPI, acusado de pertencer à Máfia do Orçamento. Estava com uma cara tão amedrontada como cachorro em canoa no meio do rio diante de um banzeiro em plena tempestade.

Você viu, leitor (a)? A sessão da CPI do Orçamento foi transmitida integralmente, no Rio de Janeiro, pela TV Educativa. A cara do Ézio era de total solidão. Parecia um menor abandonado, em Benjamin Constant (AM) onde nasceu, pedindo à apresentadora de televisão, Silvia Popovic, que o pegasse no colo, o mimasse, colocando sua cabeça sobre os seus abundantes seios.

Cadê o Ézio das tartarugas, cadê? Cadê o Ézio autoconfiante, aquele que ofereceu uma banquete para o Collor? Onde estão os “amigos” que bebiam seu uísque comprado com verbas públicas e se fartavam comendo sarapatéis em opíparos banquetes? Cadê o ex-presidente do Fast Clube e do Rio Negro? Cadê o empresário bem sucedido na construção civil? Cadê? Tadinho dele!

Leitores mais radicais poderão até afirmar:

- Eu não tenho pena dele não. Em cinco anos, o Ézio movimentou 14 milhões de dólares, o equivalente hoje a mais de 5 bilhões de cruzeiros reais. Ele não teve pena de nós, quando recebeu dinheiro público das empreiteiras, desviando-o de obras sociais. É muito fácil ser generoso com os amigos usando verbas surrupiadas do erário.

Calma, leitor (a). Troca o teu ódio – que é um sentimento – pelo teu raciocínio. Tu estás parecendo aquele gago da telenovela “Fera Ferida”. Estou tentando apenas estabelecer uma diferença entre o pecado e o pecador, entre a corrupção e o corrupto. Contra a corrupção – essa chaga social responsável pela miséria e pela fome de milhões de brasileiros – não devemos ter a menor complacência. Mas os corruptos, coitados, podem ser olhados com outros olhos. Ou não?

Ainda mais o Ézio, um caboco do Alto Solimões, como nós, como eu, e tu, leitor (a). Afinal, ele come farinha, gosta de jaraqui, se amarra num tacacá, usa palito de dente para pescar o jambu e o camarão, é afável e cordial, Como todos nós, ele é devoto de Santa Etelvina. A única diferença é que ele tem dente de ouro e usa aqueles anelões de brilhante nos dedos e cordões de ouro enlaçando seu pescoço atarracado.

- Negativo! A grande diferença é a copnta bancária. Cinco bilhões de cruzeiros reais eu não movimentaria em toda a minha vida. Isso configura claramente um roubo aos cofres públicos – interrompe pela segunda vez o leitor intransigente.

Puxa vida, será possível que não vou conseguir escrever minha crônica semanal? Pô, leitor (a), me deixa pelo menos concluir o meu pensamento. Não estou defendendo o Ézio. Acho que ele deve ser cassado e todos aqueles que se locupletaram fraudulentamente. Confessar que estou com pena dele não significa sob hipótese alguma conivência com os seus atos.

Como não ter pena de alguém, entupido de dinheiro até o tucupi, que não consegue ter sequer um bom advogado para orientá-lo? Qualquer rábula pé-de-chinelo, de porta de xadrez, não deixaria o Ézio dar as mancadas que deu.

Ézio Ferreira não soube explicar porque recebeu 360 mil dólares da Construtora Castor do seu amigo de infância, Rui Cantanhede, em julho de 1990. Admitiu que deu grana para o José Carlos dos Santos, e família e pagou passagens aéreas para toda a família dele em viagem turística para Aruba. Reconheceu ainda que fraudou o Imposto de Renda. E quando apertaram mais com perguntas para os quais não tinha resposta, decidiu retirar o seu juramento.

- Você retira o juramento de dizer só a verdade? – perguntou o deputado Odacir Klein (PMDB/RS), que presidia a CPI do Orçamento.

Ézio ficou com uma cara de égua e respondeu:

- Retiro.

E aí confirmou que tudo o que tinha falado podia ser mentira.

Por um lado, isso é bom. É menos um candidato ao Senado, que iria derramar muita grana, comprar votos e talvez se reeleger. Por oito anos teríamos que aturá-lo como “nosso representante”. Mas, coitadinho do Ézio” Cadê os banquetes de tartaruga que ele dava fazendo alarde nas colunas sociais? Cadê?

É bem verdade que os banquetes do Ézio eram organizados não exatamente dentro da campanha do Betinho para acabar com a fome no Brasil, mas para alimentar um corja de vagabundos e assaltantes dos cofres públicos. Mesmo assim, tadinho dele!

Juro – e quero ver minha mãe mortinha no inferno se não for verdade – que nada tenho pessoalmente contra Ezio, Amazonino, vereadores ressarcidos, Gilberto Miranda e a família Lins, dona do Tribulins. Gostaria mesmo, do fundo do meu coração – quero que Santa Luzia me cegue se minto – que todos fossem felizes e até pudessem enriquecer com o fruto do próprio trabalho.

Os indivíduos, coitados, e até mesmo os corruptos, são pessoas como n[ós, com seus meus, suas angústias, seus sonhos. O que a gente não pode admitir é que realizem seus sonhos à custa do pesadelo e da miséria da população brasileira.

Por isso é que a gente deve ser implacável contra a corrupção. A cassação do Ézio, hoje inevitável, pode ser um bom sinal de que a população brasileira já não tolera mais esse tipo de prática política, de neguinho que se candidata apenas com um projeto pessoal, pensando em obter o máximo de vantagem, como fizeram os vereadores ressarcidos, sem qualquer preocupação pela coisa pública, pelo bem estar coletivo, conspurcando assim a atividade política, que devia ser generosa e prenhe de valores éticos e morais.

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