CRÔNICAS

O Amazonas no Senado

Em: 01 de Dezembro de 1995 Visualizações: 1498
O Amazonas no Senado

A representação do Amazonas no Senado, com raras exceções, tem sido desastrosa nos último tempos. Jefferon Péres é uma dessas honrosas exceções. O próprio Bernardo Cabral – mesmo se temos críticas às suas posturas e ações políticas – é outra exceção.  Depois disso, o que é que obra?

Aventureiros inescrupulosos e oportunistas, sem qualquer tradição de luta, sem o menor conhecimento da Amazônia ou sem qualquer compromisso com os que aqui vivem, compram um mandato com o objetivo de usá-lo como uma alavanca para seus negócios, sem nenhuma preocupação com os interesses coletivos.  

Foi assim com o ex-senador Carlos Alberto De Carli (PMDB vixe vixe) , natural de Campinas (SP), que usou o mandato em benefício próprio, depois de se eleger num processo com suspeitas de fraudes. Ninguém duvida de que o Amazonas, o Senado e o Brasil estariam melhor servidos com Mário Frota. De Carli, que não se elegeria nem vereador de Urucurituba, afastou-se de cargos eletivos para obter outro, não eletivo, no governo terceiro-ciclista de Amazonino Mendes. Hoje é Secretário de Assuntos Internacionais no ex-secretário do Amazonas em Brasília, que usa para seus negócios.

Gilberto Miranda (PMDB vixe vixe) fez o caminho inverso. De representante do governo do Amazonas em São Paulo, passou a suplente de senador e, em seguida, a senador, sem nunca ter recebido pessoalmente um só voto do eleitor amazonense. Seu controvertido mandato tem gerado polêmicas e críticas da imprensa nacional e local.

Em sua coluna “Coisas da Política” publicada ontem no Jornal do Brasil e em vários jornais do país, entre os quais A Crítica, Dora Kramer aborda o controvertido caso do SIVAM – o Sistema de Vigilância da Amazônia destinado a controlar o espaço aéreo da região, informando que “o Planalto busca desmoralizar o facilmente desmoralizável Gilberto Miranda. Mais adiante complementa:

- Por conta de uma monumental e meteórica fortuna, Gilberto Miranda não é considerado um cidadão acima de qualquer suspeita. Por isso, não cabe ao governo nivelar-se no mesmo padrão.

O caso SIVAM está podre, é verdade, Quanto mais se mexe nele, mais fede. É capaz de salpicar de lama o até agora impoluto presidente FHC, se ele não tomar rapidamente um distanciamento do compromisso de defende-lo a qualquer custo. Aliás, o próprio Fernando Henrique lembrou a Gilberto Miranda uma conversa dos dois em 21 de dezembro de 1994, quando o senador defendeu o SIVAM com unhas, dentes e conta bancária, afirmando ser favorável à sua aprovação. Na semana passada, quando apresentou o seu parecer final, Miranda já havia mudado de ideia.

O que fez o senador Miranda mudar de ideia? Esta simples pergunta formulada pelo senador Suplicy (PT/ SP), criou a maior confusão no Senado. Nas gravações telefônicas, o dono da Líder e representante da empresa Raytheon, José Afonso Assumpção, afirmou ao embaixador Júlio César Gomes que Gilberto Miranda estaria atrapalhando o avanço do projeto SIVAM, “porque não tem mais ninguém que dê grana para ele”. O embaixador então indagou:

- Você perguntou quanto ele queria?

Quando aparece no noticiário nacional da mídia impressa ou eletrônica, Gilberto Miranda é apresentado sempre como “o representante do Amazonas”. Por esta razão, ele deve a todos nós, seus não-eleitores, uma explicação sobre a sua participação nessa história de troca de favores, suborno e corrupção.

- Muita gente levou dinheiro nisso e sei quanto foi – afirmou Miranda, conforme consta no depoimento de Assumpção no Senado. Taí, isso nós queremos saber: quem levou? Quanto foi?

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