CRÔNICAS

O Testamento do Judas (2004)

Em: 11 de Abril de 2004 Visualizações: 14013
O Testamento do Judas (2004)

.O "serra-velho", que acontecia no sábado de Aleluia, no bairro de Aparecida, era assim: de madrugada, os jovens se reuniam na frente da casa onde residiam as figuras mais idosas. Levavam serrotes, pedaços de pau e latas, com os quais faziam uma barulheira infernal. Aí cantavam:

- As caveiras do outro mundo, vieram lhe avisaaaaar, por nosso intermédio, que deste ano o senhor não vai mais passaaaar .
Depois, gritavam cruelmente:
- Encomende a alma a Deus, que seu corpo já não vale nada.
Alguns velhos levavam na gozação e até apareciam na janela para um dedo de prosa. Mas outros se irritavam e, como dona Maria Rosa, jogavam o conteúdo de um penico sobre as 'aves agourentas'.
 
 
1. Todo ano a mesma coisa
muda o mundo, pra mim nada.
Chega sábado de Aleluia
e me enchem de porrada.
2. Mas antes de me ferrarem
e morrer mais uma vez,
eis aqui o inventário
do que deixo pra vocês.
3. Pro Bushinho terrorista
no dia em que for julgado
deixo uma grade de ferro
pra ele ver o sol-quadrado.
4. Ao puxa-saco de gringo,
ao babaca Tony Blair,
deixo as pragas do Egito
e a maldição de Maomé.
5. Ainda bem que o Aznar, 
já perdeu a eleição,
e para lhe atazanar 
aqui fica esta lição.
6. Ao Saddam Houssein eu deixo
um buraco de tatu,
e a única arma química:
gases fétidos do Urucu.
7. Pro Lula não devo nada
pois já tudo recebeu,
e o que tinha de ganhar
Foi o FHC quem deu.
8. Mas já que perdeu o rumo,
só merece que eu lhe dê,
(para ver se não esquece)
o Programa do PT.
9. Pro Zé Dirceu, bicho brabo,
que berra que nem cabrita,
eu deixo um videocassete
só pra ele passar a fita.
10. Pro Paloffi Língua Plesa,
fe é fufeffo o que ele fez
eu deixo um falário mínimo
pra ver fe atraveffa o mês.
11. Ao Flamarion eu deixo,
uma flecha macuxi,
pra matar seus gafanhotos, 
que merecem CPI.
12. Para o Arthur, belicoso,
e tucano turbinado,
dou um Lula de pelúcia
para dormir abraçado.
13. E o Boto Navegador,
não morde mais, meu irmão?
dou-lhe minha dentadura,
ou a da Lucimar Mamão.
14. Pro Jefferson, senador
pela ética pautado,
eu contrato um Dom Quixote,
para dar o seu recado.
15. E pro ex-governador
(conheço bem seu perfil)
deixo um controle remoto
que muda voto de edil
16. Eu deixo para o Eduardo,
um Corcel setenta e três.
Só assim o motorista
vai custar menos por mês.
17. Pro Pereira, cabo velho,
se pegar uma demissão
deixo a vaga de caseiro
num dos sítios do Negão
18. Para o Omar, viciado em vice
(só a vice se candidata),
por tanta vicissitude
deixo uma medalha de prata.
19. Eu deixo para o Berinho
´escritor´ de almanaque,
um pacote de viagem
só de ida, lá pro Iraque.
20. Pro Aluisio, aquele mesmo
que foi passado pra trás,
eu dou outro sobrenome,
pois já tem Braga demais.
21. Pro Paulo Jacob eu deixo, 
pra poder puxar sem medo,
a maçaneta da porta
do WC do Alfredo.
22. Pro prefeito Carijó,
depois de tanta titica,
deixo um pau de galinheiro
e o que ele significa.
23. Pros nobres vereadores
que viraram pro outro lado,
deixo um lugar no poleiro
e um pneu recauchutado
24. Pro caladão do Lupércio,
deixo algo descomunal!
só pra ver se abre a boca
no Congresso Nacional.
25. E o guerreiro Marcus Barros?
Sumiu no Ibama, é incrível!
Dou pó de pirlimpimpim
pra ver se fica visível.
26. Deixo pro homem do ex-presso,
cupincha Pedro Carvalho:
um posto de azulzinho
lá na casa do...do...Dudu.
27. Pro De Carli, da Capemi
e etcétera, só mutreta,
eu deixo um porto de lenha
com contrato de gaveta.
28. Para a Vanessa eu deixo,
o meu voto declarado,
se você pensa como eu,
não pode ficar parado.
29. Agora eu volto pro inferno
onde espero conformado
o fim de outra Quaresma
pra de novo ser malhado,
pra raiva de Dona Edina
e prazer do Pão Molhado.

Do fundo da cuia
Judas e seus testamentos
O companheiro Judas escreveu dois testamentos para essa coluna. Um, em 1987, ficou inédito, porque na época o jornal não ousou publicá-lo. Vivaldo Frota era o vice-governador. Roberto Cohen era o superintendente da Suframa, mergulhada no desvio de dinheiro através de importações fictícias, que ficou conhecido como "o crime do colarinho verde": O delegado Gominho, da Polícia Federal, tentava identificar os corruptos. O De Carli, como sempre, aprontado mutretas no escândalo da CAPEMI. O irmão Roque atacava a escola pública. O Judiciário, como sempre, devagar, desvinculado dos anseios da população. Beth Azize era a candidata das oposições. O testamento refletiu tudo isso. Selecionamos algumas quadras para relembrar.
1. Vivaldo Frota a ti deixo, 
neste claro mês de abril, 
para curar as hemorroidas, 
tubinhos de Cola Mil
2. Ao Roberto Cohen deixo, 
o meu verde colarinho,
pra apertar o seu pescoço 
deixo também o Gominho.
3. Ao Di Carli nada dou, 
pois ele já tudo tem: 
fazendas, senado, capemi, 
só falta vergonha, hein!
4. Aos juízes, magistrados,
ante tanta parcimônia, 
deixo para meditarem
um saco cheio de vergonha!
5. Pro Lucena senador, 
vendaval de pororoca, 
biritarum litrum lego
lá na Boca do Imboca.
6. Ao dr. Frank Abrahim, 
Ex-PDS de fama, 
eu deixo como presente
as amebas da COLAMA
7. Meu talão de cheques fica, 
adivinhe para quem? 
Para o Nonato Oliveira, 
mas será que fundo tem?
8. Meu amigo Osires Silva, 
tenho um presente pra tu, 
as multis lá do Distrito 
e o petróleo do Urucu.
9. Ao irmão Roque La Salle, 
homem de tanta usura, 
deixo a escola pública 
como sua sepultura.
10. À Beth, turca dos quibes, 
com toda admiração, 
deixo-lhe este recado: 
Bota quente no timão,
(que eu acabo me transformando, 
no teu Lucimar Mamão).

A versão de 2001
No ano 2001 repercutiam ainda uma série de fatos: o cabo Pereira servilmente levando tucumã para o breakfast do patrão; declarações do Lupércio, presidente da Assembléia, lançando sua candidatura a governador; o Zé Melo Merenda, acusado por um colega, de desviar a merenda escolar; a briga entre a Sesau e o Tropical para determinar quem era o responsável pelo descontrole da malária. A luta contra a corrupção estava encarnada no procurador Lauria. Judas viu isso tudo e muito mais. Fez o seu testamento, cuja íntegra, da mesma forma que a versão de 1987, está no site www.taquiprati,com.br . Alguns versos também foram aqui selecionados.
1. Pro Cabo Pereira, nada,
nem tucumã, nem pupunha.
Da sua puxa-sacada,
Eduardo é testemunha.
Não chega nem a anspeçada,
é mais ruim do que eu supunha.
Deixo só uma indagação:
E o IPTU do patrão?
2. Canário que muito canta
costuma borrar o ninho.
O Lupércio - que garganta!
Quer o lugar do Nininho.
Deixo-lhe um crânio de anta,
que encaixa bem direitinho
em seu pescoço, ora pois,
por serdes vós o que sois.
3. Ao Cabral, uma barba azul,
Ao Silas, uma gorjeta,
Pro Peres, um pitbull,
Pra Vanessa, uma escopeta.
Ao Nicolau de Istambul
pra mamar, uma teta.
E para o Mário (Qual Mário?)
Se é o Frota, aquele armário.
4. Deixo ao Zé Melo Merenda
uma banca de tacacá,
um bar, um ponto de venda,
pra ele gerenciar.
Pro Daniel, pra revenda,
estou deixando um alvará.
Mas tire xerox, pois
pode precisar depois.
5. E agora que lembrei disto,
para um tal de Carijó
que quando eu entreguei Cristo,
três vezes cantou em dó,
deixo um rap que é só isto:
"Co-co-co-co-co-ri-có
Ninguém sabe, ninguém viu
o IPTU que sumiu".
6. Pro Berinho Marmelada,
deixo pronta a portaria,
nomeando a cupinchada,
o sobrinho, a prima, a tia,
o compadre e a cunhada
pra prestar assessoria.
Nem é preciso ter vaga,
pra isto está a Turisbraga
7. Nem toda notícia é boa:
é dengue, é pneumonia.
Nem todo pau dá canoa:
alguns dão blenorragia.
Nem toda barata voa:
mas o mosquito assovia. 
Fica o "Aedes" com a Sesau
e o "Aegypti" com o Tropical
8. Pro Lauria, o procurador,
deixo um binóculo potente,
que tenha retrovisor,
pra não olhar só pra frente
ao processar com rigor
os que estão roubando a gente.
Mão-de-pilão, como dói!
Já andaram por Niterói.

O FORNO DO PÃO MOLHADO
O Pão Molhado foi convidado pela Charuffe Nasser pra comer uma tartarugada, com selo de procedência, evidentemente. Antes de servir o primeiro prato, Charuffe sentenciou:
- Traidor foi o Alfredo. O Carijó é gente boa, gente fina, o Taquiprati não devia criticá-lo.
Pão Molhado, porta-voz da coluna, contra-argumentou: "Domingo de manhã, a fila no Café Arte, da dona Márcia Carijó, dá várias voltas, tem caboquinho que nem gosta do sanduíche de X-Tucumã, mas vai lá só pra puxar-saco.Alguém tem que criticar".
Depois do segundo prato, já inebriado com o delicioso sarapatel, Pão Molhado relativizou: "É verdade que o Carijó PODE fazer uma boa administração". No terceiro prato, ele vacilou, e já foi mudando o "PODE" pelo "VAI". Aí, leitor, na sobremesa de cupuaçu, se rendeu. definitivamente aos argumentos de peso da culinária de sua anfitriã.
No Velho Testamento, acho que foi Esaú que vendeu sua primogenitura pro seu irmão Jacob em troca de um prato de lentilhas. Não sei não, leitor, mas o grilo falante chamado "Pão Molhado", a consciência crítica dessa coluna, curvou-se diante de uma tartarugada. Vamos perdoá-lo: o espírito é forte, a carne é fraca e a tartaruga estava escandalosamente deliciosa. Esperamos seu pronto restabelecimento, para podermos outra vez confiar em sua opinião. 

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