- “Não se ofenda, professor, mas eu quero saber se o senhor bebeu, hoje, antes de vir para a universidade?”. A pergunta me foi feita dentro da sala, por uma aluna, chamada Luíza, depois que eu anunciei, convicto, o tema da aula: uma reflexão CONTRA a leitura. Perplexa...
.Excelentíssimo Senhor Presidente da ALE-AM Belarmino Lins Saudações Escrevo essa carta, mas não repare os senões, para dizer que me sinto culpado por haver debochado de sua autopropalada ascendência germânica. Pensava que era pura invenção sua. Mas nessa semana, pesq...
O costureiro Clodovil Hernandez – Clô para os íntimos e Clodô para os críticos – tricotou e bordou na entrevista que deu à revista Flash, na semana passada, dizendo que o presidente Lula “não poderia ser nem sequer vereador, porque é um analfabeto”. Indignada, a deputad...
.No momento em que escrevo, dezenas de índios continuavam ocupando a sede regional da Funai, em Manaus, há mais de vinte dias. Os índios querem a substituição do administrador local, considerado incompetente, a demarcação da terra dos Mura e a formulação de uma nova pol...
.Na Amazônia, nos últimos 400 anos, um conjunto de narrativas orais vem circulando de boca em boca, em Nheengatu – a Lingua Geral Amazônica – e às vezes em versões bilingües com o português, com maior ou menor vigor, dependendo do momento histórico ou da área geográfica...
. Todo povo necessita de literatura. Mesmo os povos denominados de ágrafos, sem escrita alfabética, produzem e consomem literatura oral e em outros tipos de registros como aqueles chamados de “narrativas gráficas” por Berta Ribeiro. No mundo andino, os “cuentos pintado...
.No dia 26 de abril de 1985, A Crítica publicou uma notícia chocante distribuída pela Agência Estado de São Paulo para todo o Brasil, sob o título "Famílias famintas comem raiz morta". Tenho o recorte diante de meus olhos. A noticia informa sobre a morte de uma criança ...
Os índios mapuches e os camponeses que vivem às margens de uma lagoa, ao sul do Chile, juram que, de vez em quando, aparecem boiando no espelho d’água cabeças negras, com cabelo pixaim. Dizem que as cabeças vão surgindo, uma depois da outra. Dizem que ficam de bubuia,...
O Jacamim andava ciscando no terreiro e, com seu bico irrequieto, beliscava um inseto aqui, uma minhoca ali, uma sementinha acolá. Sua sogra, que assistia a cena, viu que tudo nele era desproporcional e deselegante. Pescoço pelado, curvo e compriiiiido. Cabecinha minú...
- Atira! Atira! – lhe dizia o índio Parakanã, apontando a caça. O antropólogo Carlos Fausto, com a arma na mão, olhava na direção indicada e não via bulhufas. Só árvores. - Ali, ali, naquele galho – suplicava em voz baixa o índio, sinalizando o alvo com o dedo. - Onde?...
OS ELEITORES PREFULGENCIADOS Você se considera um (e) leitor prefulgenciado? Da resposta a esta pergunta depende os destinos da tua cidade. No próximo domingo, dia 28, quando ocorre o segundo turno das eleições municipais, mais de 31 milhões de eleitores voltam às urnas...
Estou em Florianópolis,convidado pela Universidade Federal de Santa Catarina para ministrar curso de Literatura Brasileira para 36 índios Guarani, Kaingang, Xokleng /Laklãnõ, alunos do curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica.À noite de quin...
Suspeito que o nome dele, embora dificil de ser pronunciado em português e em espanhol, um dia será conhecido dentro e fora da Colômbia. Bunchanawingūmū é um menino de 12 anos, nascido em 8 de março de 2002 na comunidade indígena de Jewrwa, na Sierra Nevada de Santa Mar...
A morte de um aluno jovem é, para o professor que a ele sobrevive, como a morte de um filho: uma inversão antinatural, uma cilada do destino, uma emboscada da história. Assim como existe pai órfão de seu filho, existe professor órfão de seu aluno. É o sentimento que com...
LAS TRECE ABUELAS INDÍGENAS Todas las abuelas tienen un perfume que solo los nietos pueden sentir. Mi abuela Marelisa tenía impregnado en la piel el aroma embriagador de tabaco y café que persiste en la memoria olfativa, aún hoy, 60 años después. Ella y su pipa, ella y...
“O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler". Mark Twain (1835-1910). O prazer. Não foi através dos olhos, mas dos ouvidos, que descobri no final dos anos 1950 o prazer da leitura. Aconteceu em Coari (AM), no Solimões. Lá,...
A universidade está mudando? Depois de Exu baixar na Uerj, foi a vez de Nhamandu desembarcar nessa sexta (9), em Niterói, para iluminar as salas da Universidade Federal Fluminense (UFF) com seus raios de luz e sua sabedoria. Os sábios guarani Karai Tataendy Oka (Augusti...
A maioria dos jornalistas brasileiros – eu entre eles – está mais apta a limpar bunda de elefante do que a explicar para seus leitores o que são neutrinos ou partículas super simétricas. Com os devidos descontos, foi o que aconteceu, em 1971, em Paris. Uma organização d...
Quem nos dá notícias da cidade fantasma de Velho Airão, berço da colonização portuguesa no Amazonas? Se dependesse do atual governador Wilson Lima, o primeiro povoado fundado às margens do rio Negro, no séc. XVII, distante 200 km de Manaus, abrigaria hoje uma adega para...
Minha escrita é pela oralidade. [...] Falar um livro, é assim que eu escrevo”. (Ailton Krenak. Discurso de posse na Academia Mineira de Letras. Março 2023) O primeiro escritor indígena eleito para uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), Ailton Krenak, obtev...
No mundo em frangalhos, a leitura “Nunca leio os livros que critico, para não me deixar influenciar pelo seu autor”. (Oscar Wilde - 1854-1900). Como a leitura pode ajudar a curar a humanidade doente? Já cometi aqui alguns artigos sobre o ato de ler, um deles “Contra...
“Só aceitei aprender a ler e escrever, porque encarei a alfabetização como se fosse um peixe com espinhas. Tirei as espinhas e escolhi o que queria”. (Ailton Krenak. 2004) Ele escolheu o que queria.Por isso, Ailton Krenak foi o primeiro escritor indígena eleito para a A...
O barco navega pelas águas barrentas do rio São Jorge, município de Chalán, em Sucre, Colômbia. Atraca em um barranco na aldeia Vereda los Comuneros. Lá, os moradores desembarcam a preciosa carga. Eram livros. São empilhados dentro de um andor no lugar do santo. Isso me...
O burburinho cessou. Fez-se um silêncio reverente quando Mãe Cici, vestida de branco, apoiada em uma bengala, mas caminhando com garbo, entrou pontualmente às 19h00 da quarta-feira (15/05) no auditório do Centro Cultural Vale do Maranhão (CCVM). Trazia seus 84 anos, sua...
“A oralidade é o barulho da vida que temos dentro do nosso corpo”. (Alcindo Moreira Wherá Tupã, 2015). Se o terceiro porquinho urbano construísse na cidade sua casa de tijolo e cimento, ela poderia ser derrubada pelo furacão e pelas chuvas como vimos nas recentes imag...