CRÔNICAS

A Batalha do Igarapé de Manaus

Em: 01 de Maio de 1985 Visualizações: 15871
A Batalha do Igarapé de Manaus
Numa prova de inteligência e sagacidade, os aviões de combate não foram utilizados para bombardear a primeira e a segunda ponte da Rua Sete de Setembro, com a finalidade de impedir que o "inimigo" alcançasse o seu objetivo: o Palácio Rio Negro. Apenas um discreto helicóptero sobrevoou o campo de combate para acompanhar o movimento das tropas de infantaria.
Mais sábio ainda foi não cometer o exagero de colocar os barcos de guerra, com suas canhoneiras, na entrada do igarapé de Manaus, como queriam os setores militarizados do governo, temerosos de que as catraias petistas - alugadas dos catraieiros desempregados pela ponte do Educandos - pudessem penetrar solertemente no Palácio, pelo porão, numa operação que seria a mais audaciosa da História do Amazonas depois que os cabanos tomaram a capital no século passado (evidentemente auxiliados por precursores de petistas disfarçados).
No pasarán
Nada de exageros. Tudo dentro do figurino. A operação foi discreta e sóbria. Contra o exército de professores, armado até os dentes com panfletos belicosos contendo reivindicações absurdas como o piso de três salários mínimos, bastou usar a inteligência e mobilizar apenas um pequeno efetivo de 3.500 homens da Polícia Militar. Esse efetivo, fortemente armado, conseguiu obstaculizar a chegada do material altamente explosivo dentro do Palácio: o documento reivindicatório dos professores.
Colocados estrategicamente em colunas sucessivas ao longo da primeira e segunda ponte, os efetivos da PM puderam afirmar depois, como o Exército sobre o rio Ebro na guerra civil espanhola: No pasarán!
Sem dúvida, o general Gilberto Mestrinho saiu vitorioso na famosa Batalha do Igarapé de Manaus, travada no dia 29 de abril de 1985, no trecho da Rua Sete de Setembro sobre a primeira e segunda ponte, sete dias após a morte de Tancredo Neves. Quando em todas as capitais do Brasil e até mesmo em Londres, Paris e Washington, o poder bobeava, abrindo a guarda e rezando pela alma de Tancredo (até Maluf comungou), Manaus constituía o único bastião da resistência na defesa da ordem. Todo o mundo errado; só nós no rumo certo, com Gilberto.
No entanto, se me permitem uma crítica - construtiva, é claro - com o objetivo de aperfeiçoar as próximas operações, poderia assinalar um grande erro cometido que não chegou a empanar o brilho do gênio militar. Esta crítica se baseia nas experiências de outras batalhas históricas sobre pontes de outros rios. É o caso da batalha do rio Marne, na 1ª Guerra Mundial, dirigida pelo marechal Joffre, comandante em chefe de todos os exércitos franceses.
O marechal Joffre concentrou o grosso de suas tropas ali onde o inimigo era mais forte e numeroso, seguindo um velho princípio que vem desde as guerras greco-persas, passando pelas púnicas e balcânicas, isto é, deve-se concentrar o fogo, onde o inimigo é mais forte e oferece maior perigo. Karl von Clausewitz, o grande teórico que refletiu sobre a guerra, concorda com esse ponto de vista.
Joffre de igarapé
Ora, tal princípio não foi obedecido na Batalha do Igarapé de Manaus. Enquanto o governador Mestrinho declarava à imprensa que o movimento dos professores era apenas o resultado de um minúsculo grupúsculo do PT, a secretária de Educação, Freida Bittencout denunciava, com razão, que as escolas de Manaus estavam sendo invadidas e depredadas por um grande número de marginais e maconheiros (sem filiação partidária, ainda bem!)
Logo, não se precisa ser um Dario, um Xerxes, um Julio César, um Alexandre Magno ou um Napoleão para perceber que as tropas armadas foram mal colocadas. Em vez de concentrar o grosso da tropa na Sete de Setembro, onde afinal de contas "havia apenas um pequenino grupúsculo desarmado de petistas, odiado pela população e repudiado nas últimas eleições", o general Mestrinho devia concentrar o grosso de suas tropas dentro das escolas, para enfrentar o grande exército de desempregados - às vezes armados - que as indústrias da Zona Franca não conseguiram absorver. Isto não ocorreu, desguarnecendo o flanco das escolas.
O que faltou, portanto, na Batalha do Igarapé de Manaus, foi coordenação e centralização das informações e das ações. Esta ausência acabou gerando uma enorme confusão.
O deputado Mário Frota, que apesar de apoiar o Governo, se solidarizou com os professores em cima da ponte (da segunda), jurou que não havia nenhum policial na rua, queria ver sua mãe mortinha no inferno se não fosse verdade. Quando saiu à rua, quase apanha da polícia, por acreditar piamente no secretário de Justiça.
O secretário de Justiça, Félix Valois, por seu lado, jurava de pés juntos que ele não havia dado ordens para as tropas bloquearem a ponte. O secretário de Segurança, idem, o que vem comprovar a avaliação de que faltou um comandante em chefe, um general, enfim um Joffre de igarapé na batalha baré.
Correspondente de guerra
Na ausência de um general, não sabemos nem a quem condecorar com a medalha da Batalha do Igarapé de Manaus. O próprio governador não sabia aquilo que a secretária de Educação já havia detectado, ou seja, que quem estava destruindo o sistema educacional do Amazonas não era aquele grupúsculo da Sete de Setembro, mas os marginais que invadiam e depredavam as escolas.
Como modesta sugestão, talvez fosse interessante que nas próximas batalhas todo o secretariado se reunisse para trocar informações e assumir coletivamente o comando das operações. Uma reunião, de vez em quando, não faz mal a ninguém.
Os correspondentes de guerra - os jornalistas presentes na Batalha do Igarapé de Manaus - compreenderam isto muito bem, quando o pau comeu na casa de Noca. Levaram porrada no lombo, foram espancados, mas cumpriram muito bem o dever de informar. Os canais de TV e os jornais deram um verdadeiro show de cobertura jornalística, cobriram de forma ampla todos os lances e fizeram perguntas inteligentes às "otoridades". Sinceramente, dá até orgulho de assumir o fato de ser jornalista amazonense.
Solicitamos apenas à Secretaria de Comunicação que, do ponto de vista ético, controle melhor a contra-informação para evitar vexames. Por exemplo, nenhum jornalista sabia que Arthur Neto, Mário Frota, Samuel Peixoto, Waldir Barros e Sebastião Reis - todos eles presentes e solidários ao movimento dos professores e antigos amigos da categoria - embora pertencendo oficialmente ao PMDB e ao PDS haviam se filiado clandestinamente ao PT. Só chegaram a esta conclusão, após a entrevista do governador Mestrinho, que identificou prontamente as hostes inimigas: quatro gatos pingados do PT.
A Batalha do Igarapé de Manaus foi vencida pelas tropas oficiais, que desta forma mereceram ganhar a medalha de Santa Etelvina. Que ela, Santa Etelvina, a padroeira da leseira manauara, nos proteja de outras batalhas como essa, maninha!
P.S. - Conheça também o plano dos comunistas petistas para se apoderarem da Universidade do Amazonas, conforme denúncia do sub-reitor de Assuntos Acadêmicos, Afonso Celso Nina. 
http://www.taquiprati.com.br/cronica/722-universidade-do-amazonas-pedir-papa-em-bar

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4 Comentário(s)

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Paulo Bezerra comentou:
17/09/2012
Neste 11 de setembro 2012 a companheira e professora Creuza Barbosa completou 70 anos e, em discurso de aniversário lembrou um pouco da nossa participação (professores do Benjamin Constant) nesta famosa batalha, que, com todo o respeito ao articulista, ainda tem muito coisa prá ser contada. Só prá citar uma: A Greve de fome na Igreja de São José Operário feita pelo Barbosão (falecido neste ano 2012), Chico Lemos, Socorro Batista e Ricardo Bessa, cujo médico que assistia aos grevistas era o Dr. Marcus Barros. Dizem as más línguas que junto com a água de coco e suco de laranja ministrado pelo cuidadoso médico, ia escondido por baixo dos panos alguns sanduíches tipo X-salada. Se foi verdade ou não, o certo é que o finado Barbosão e a querida companheira Socorro Batista saíram da greve de fome mais gordos do que entraram. Tai o Ricardo e o Geraldão que não me deixam mentir.
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Jandir Ipiranga Júnior comentou:
14/04/2011
Eu estava lá !!! Guardei por muito tempo a minha Medalha de Honra ao Mérito ... a marca de uma porrada de cacetete no ombro esquerdo. Hoje em dia, não existem mais marcas daquele dia de conflitos. Hoje em dia, três salários eu pago para a minha assistente de assuntos domésticos, com carteira assinada e todos os benefícios previstos na CLT.
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Falcão Vasconcellos comentou:
14/11/2010
Estavamos lá como soudados rasos, agitador Bessa. Era muita azucrinação e pentelhação "construtiva-destrutiva", néeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
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comentou:
07/10/2010