CRÔNICAS

Psicanálise no Amazonas: Galvão

Em: 25 de Agosto de 1995 Visualizações: 1899
Psicanálise no Amazonas: Galvão

Acaba de sair o número 5 do boletim de psicanálise intitulado “Causa Analítica”. Trata-se de um jornal tablóide de vinte páginas editado no Rio de Janeiro e escrito em duas línguas: português e castelhano, com correspondentes na França, Estados Unidos e Argentina. Seu representante em Manaus é o doutor Manoel Dias Galvão, professor da Universidade do Amazonas.

Esta edição de agosto traz, pelo menos, dois artigos dedicados a um tema atual e polêmico: o uso de drogas. O primeiro – Toxicomania, flagelo social é de autoria de Mary Ruth Gouveia, diretora responsável do jornal. O segundo é a transcrição de uma conferência do psicanalista Ricardo Eduardo Delfino, pronunciada há dois meses no auditório do CONEN – Conselho Nacional de Entorpecentes.

De interesse para o leitor amazonense, encontramos uma longa entrevista dada pelo doutor Manoel Dias Galvão, em que ele descreve e critica, com seu estilo contundente, o desenvolvimento da psicanálise no Amazonas, sua inserção social em Manaus e os projetos para o ensino da psicanálise na região.

Galvão começa atacando a picaretagem existente neste campo:

- A maioria das pessoas que se intitulam psicanalistas na cidade de Manaus não tem nenhuma formação nesse campo do saber. Muitos são aventureiros, colonizadores que tiram proveito da ignorância reinante, tanto dentro como fora do meio universitário. A esmagadora maioria não conhece sequer a obra de Freud.

Na opinião de Galvão, não é possível conceber a psicanálise sem discutir formas de inserção social. No entanto, no Amazonas, essa forma de abordar o modelo psicanalítico contradiz os seus princípios:

- Vivemos numa região onde a Psiquiatria é um império e os psiquiatras, que se interessam pela Psicanálise, fazem-no para difamá-la, uma vez que se limitam a papaguear Lacan e MD Magno, mas na prática usam medicamentos. Há grandes estudiosos de Lacan que tratam as fobias com antidepressivos. É Lacan devidamente amazonizado ou ama-zonado.

Depois de explicar que o seu grupo nasce comprometido com um trabalho que dispensa o uso de medicamentos – só o fazendo em condições muito especiais – Manoel Dias Galvão defende as terapias de grupo, porque é nelas que o paciente descobre a importância da palavra na cura.

- “É nelas que ficam sabendo que os medicamentos não curam e que muitas vezes encobrem e disfarçam os conflitos. Os pacientes aprendem a associar e a dar valor aos sonhos. Há um total desprezo pelos sonhos na nossa região. Por isso, tudo aqui é provisório. A psicanálise tudo tem a fazer neste recanto tropical”.

O entrevistado fala ainda dos projetos de pesquisa, envolvendo várias áreas interdisciplinares da Universidade do Amazonas e os esforços para a criação da primeira Escola da Causa Analítica na Amazônia, além de cursos de especialização. Finalmente, ele conclui, afirmando:

- O que eu posso dar para a minha região é um conhecimento ético da psicanálise. Não se se posso me expressa desse jeito: chega de sacanagem. É preciso que o amazonense fale. Acredito na psicanálise como um instrumento de cura de nosso assujeitamento, como aquilo que nos permite de fato existir.

É isso aí. Galvão nos faz refletir sobre a recuperação dos sonhos, que não é só tarefa da psicanálise, mas envolve outras instâncias do saber e do comportamento.

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