CRÔNICAS

Simón Bolívar nos sendeiros da música andina

Em: 14 de Julho de 2024 Visualizações: 3856
Simón Bolívar nos sendeiros da música andina

VERSIÓN EN ESPAÑOL ABAJO

Adiós pueblo de Ayacucho, perlaschallay. Ya me voy, ya me estoy yendo, perlaschallay. Ciertas malas voluntades, perlaschallay, hacen que yo me retire, perlaschallay. (Huayno. Autor Anônimo)

Simón Bolivar o Libertador, venezuelano e líder da independência de vários países hispano-americanos, viajava em junho de 1824 no seu cavalo Palomo por um sendeiro andino do Departamento de Ancash, Peru. No meio do caminho, se deparou com uma festa local: casais de indígenas com ponchos e saias coloridas cantavam em quéchua um wayno (ou huayno) sob o som talvez de um charango e bailavam graciosamente com lenços brancos girando no ar. Deslumbrado, perguntou:

- Que música tão linda é essa?

A resposta foi dada agora, dois séculos depois, por Ladislao Landa Vásquez no livro “Los Caminos de la Música”, que discute as mudanças ao longo do tempo dos gêneros do cancioneiro andino e dos instrumentos musicais. O Peru profundo emerge, quando o autor registra os vários estilos de wayno - “o gênero mais representativo do país” e destaca o charango - “o instrumento mais querido de indígenas e mestiços”, citando o escritor José Maria Arguedas, que sabe tudo.  

Quem sabe pouco sobre música andina é o Brasil. Nos anos 1970, alguns exilados brasileiros fomos ao Coliseu Nacional, em Lima, para um espetáculo folclórico de música e dança. Lá, um economista paulistano que fazia parte do grupo, com ouvido pobre e mente limitada. manifestou sentimento oposto ao do Bolívar. Ouviu um wayno cantado não lembro mais se pela Pastorita Huaracina ou pela Flor Pucarina e decretou peremptoriamente:  

- Isso não é música.

Seu etnocentrismo não permitiu, coitado, que apreciasse o som dos Andes. Mas a maioria dos brasileiros no exílio soubemos curti-lo, incluindo a antropóloga Berta Ribeiro, também exilada, que ficou escandalizada quando soube dessa história.  

Lendo Landa

Li o livro de Landa, interrompendo a leitura dezenas de vezes para escutar no You Tube cada música por ele citada. Antes de discorrer sobre o seu conteúdo, convém dizer quem é o autor, qual a sua ligação com o Brasil e como organizou sua pesquisa.

Doutor pela Universidade de Brasília (2001) e professor, desde 2017, da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA) em Foz do Iguaçu (PR), Landa nasceu em Coracora, distrito da Província de Parinacochas, Departamento de Ayacucho - berço do “charango laminado” e dos mais ardorosos charanguistas do Peru” como lembrou no séc. XIX Ricardo Palma, autor de Tradiciones Peruanas.

Desde os dez anos Landa toca guitarra – sua “língua materna em música”, mas logo se tornou “bilingue” com o charango como segunda língua, que hoje é o seu xodó. Com o irmão Andrés Landa e outros dois músicos, ele formou o grupo Yawarmayu, que durante 40 anos tocou em vários países, onde atuou também como solista. Tivemos o privilégio de ouvi-lo em um recital caseiro e informal durante o I Colóquio de Etnohistória e Memória na América Latina realizado no final de junho, em Foz do Iguaçu.

Será que o charango de Landa foi afinado pela Mãe D´Água nas cataratas do Iguaçu para onde ele foi dirigindo seu intrépido fusquinha? Reza a lenda andina que os músicos levam aos rios seus instrumentos musicais para serem afinados por sereias que habitam suas águas. Quem ouve os acordes harmoniosos de Landa, logo identifica no seu dó-ré-mi os dedos de um ser mitológico. Não seria exagerado dizer dele o que Arguedas escreve em seu romance Todas las sangres sobre o personagem inspirado no famoso charanguista Jaime Guardia:

- Os olhos saudáveis ​​​​do músico brilham, afogando em luz radiante tudo o que nele é vida. Dessa luz surgem as notas límpidas de cada corda, os dedos tocam com suavidade e energia insuperáveis. De que profundezas da terra e de qual fusão do homem andino com o europeu chegam essas notas em que, chorando, o universo noturno se reinventa?  

O charango

Pesquisador do Instituto Nacional de Cultura (INC), Ladislao Landa teve papel decisivo, em 2007, quando deu parecer conclusivo para declarar o charango patrimônio nacional do Peru. Acumulou experiências em encontros e festivais de charango, instrumento que aflora em todas as páginas do seu livro, especialmente na segunda parte, em que descreve a trajetória do charango por vários países andinos e destaca os tocadores e seus estilos.

No Brasil, o tatu peba só serviu para inspirar o cantor João do Vale na canção “Peba na pimenta”, que mistura forró com culinária. No Peru, o tatu peludo deu som ao charango, confeccionado tradicionalmente com sua carapaça e com as cordas de tripas de bode. Lá, seu casco produzia – imaginem - um som refinado. Acontece que este animal peludo conhecido como kirkinchu de puna entrou na lista das espécies em extinção e aí o charango passou a ser feito de madeira, com caixa acústica côncava.

- O luthier de cada região fabrica o charango a seu modo, em função de seus cantos e do tipo de afinação desejado. Escolhe e mede o tamanho, a caixa e o braço de forma diferente em cada lugar.  É por isso que o charango de Ayacucho, que só tem quatro cordas de tripa grossa, não serve para tocar o wayno de Collao, que exige o charango de 15 cordas de aço – diz Landa, citando Arguedas. 

Os caminhos da música percorrem a criação artística, a materialidade do charango, a criatividade e as variedades musicais, além das singularidades locais de estilos e técnicas de execuções e as formas como os músicos impregnaram suas culturas musicais com esse instrumento.

O requebro da mula

Embora não existam ainda estudos para determinar a origem exata do charango, ele é “uma peça historicamente andina que, em última instância, expressa uma adaptação de instrumentos musicais europeus à cultura dos povos de Abya Yala, similar ao que ocorreu com a apropriação pelo mundo indígena de outros instrumentos” – escreve Ladislao Landa.

Fácil de levar em viagens, o charango e os gêneros musicais que saiam de suas cordas, se espalharam por todo o Peru.

- No comercio que cobria do norte da Argentina até Lima circulavam mercadorias, instrumentos, música e dança. Nesta rota nasceram alguns gêneros musicais e danças cultivados até hoje, como a melancólica muliza, cujo nome seria herança do requebro ritmado das mulas, que transportavam em seus lombos diferentes produtos – informa Landa.

Foi dessa forma que o charango chegou a Parinacochas, terra de arrieiros, e ali adquiriu características próprias até chegar aos braços de Landa. Um capítulo do livro é dedicado à “identidade do charango parinacochano” e sua difusão nacional nos anos 1950, quando Jaime Guardia e a Lira Paucina gravaram para o selo Odeon grandes clássicos, entre outras, a canção Madrecita linda.  

Mas o autor registra também a presença de outros instrumentos na música andina: acordeon, guitarra, violino, harpa, o chinlili - cordofone de Ayacucho usado para tocar chimaychas, cujas letras costumam ser tristes - a tradicional quena, o pinkillo ou flauta, além de instrumentos de percussão como o bongó, o güiro, o cajón - este último presente no “wayno acrioulado”.

O wayno

O autor retoma o mapa das áreas musicais do país e agrupa o wayno e os demais gêneros por vertentes oriundas de diferentes espaços geográficos, cada um com suas tradições musicais, que ele denomina de “escolas”, enumerando as oito mais significativas: Cajarmaquina, Ancashina, Huanca, Cajatambina, Ayacuchana, Cusqueña, Arequipeña e Puneña. De raiz pré-hispânica, o wayno está para a identidade peruana como o samba para a brasileira, guardando as diferenças regionais.

Landa aborda músicas com raízes pré-colombianas, entre outras a valicha wayno do Cusco, o yaravi de Arequipa denominado de triste na região norte, o takirari de Puno, entre outros. Discute o processo de modificação do wayno na estrutura de suas melodias, especialmente em âmbito urbano como resultado das migrações da serra para a cidade de Lima.

A adequação ao mercado e à indústria cultural, a gravação de discos e a transmissão radiofônica trouxeram influências de outras músicas difundidas em Lima: a salsa do Caribe, a cumbia colombiana, o tango argentino, a rancheira e o bolero mexicano, o rock e – pasmem – até a música sertaneja e a bossa nova.

A minha geração – escreve Landa - testemunhou a ascensão deste quase gênero híbrido que poderia ser rotulado como wayno moderno-baladístico-bolerístico. Ele se refere ainda às tentativas de “rockear o andino” e considera que o wayno criollo estereotipado “perdeu o sabor andino”, não entrou na alma dos camponeses da serra e se limitou ao ambiente dos mestiços urbanos. Também o instrumento basicamente rural do mundo andino se modifica quando muda para a cidade:  

- Podemos dizer que, da mesma forma que muitas línguas foram extintas no mundo, segundo a Unesco, embora tenham deixado marcas na forma de falar de línguas dominantes, é possível que ocorra fenômeno similar com o charango ayacuchano e talvez peruano – escreve.

Mama Paulina

O livro traz breves biografias de cantoras, cantores e conjuntos musicais, que se tornaram ícones nacionais, como é o caso de Mama Paulina, que tocava charango, guitarra, acordeon e piano. Nascida na zona mineira de Pullo, apesar de cega, viajava de povoado em povoado, tocando em aniversários e festas até se mudar para Lima, onde morreu em 1968, depois de gravar discos de acetato e de participar de festivais e apresentações em coliseus. “Sua imagem impregnou a memória oral de Parinacochas” – diz Landa.

O pesquisador entrevistou músicos e cantores, transcritos como apêndice do livro. Cruzou os dados com os das fitas cassetes gravadas por camponeses e com centenas de discos de acetato e de vinil do arquivo do Centro Peruano de Estudos Sociais (CEPES), cujo acervo possui mais de 600 discos, o que lhe permitiu fazer uma breve história do disco no Peru, estudar as formas melódicas, as letras e mensagens nelas contidas, bem como identificar as influências internacionais e o fenômeno musical urbano de origem provinciana.

Esses discos fazem parte da coleção do programa radiofônico Tierra Fecunda (Ruru Allpa), transmitido na década de 1980 em língua quéchua. Deste acervo fazem parte três tipos de discos: música tradicional, música ritual e a gravada apenas com fins comerciais. As limitações desse material – diz Landa - residem no fato de que muitos discos não trazem datas de gravação, nem informações sobre os instrumentos usados e muito menos os nomes de músicos que executam os instrumentos.

Ele pesquisou ainda nos arquivos da Escuela Nacional Superior de Folklore José Maria Arguedas, que registrou 6.050 intérpretes e 500 grupos musicais. O resultado foi “um texto cheio de esperança, de carinho, de requinte e reflexão, mas sobretudo de Música e deve ser lido, comentado, escutado, cantado e bailado por quem, como o autor, crê que através da Música se pode conhecer a sociedade peruana atual”, como afirma Carlos Leyva no prefácio.

Traz elementos para discutir o lugar da canção peruana na música universal. Em verdade, em verdade vos digo:  a leitura do livro nos mostra que a música peruana é tão rica, diversificada e saborosa como a sua culinária. Quem morrer sem conhecê-la, não saberá o que perdeu por nunca ter fruído música “tan chusca¨, na expressão de Bolívar ao se referir à sua beleza, usando um termo venezuelano da época. Por isso, o wayno de Ancash foi rebatizado como “la chuscada”.

Referência:

Ladislao Landa Vásquez. Los Caminos de la Música. Géneros populares andinos en la segunda mitad del siglo XX. Lima – Foz do Iguaçu. Y. Carlesse. 2022. 277 pgs.

SIMÓN BOLÍVAR POR LOS SENDEROS DE LA MÚSICA ANDINA

Texto: José R. Bessa Freire. Tradução: Consuelo Alfaro Lagorio

Adiós pueblo de Ayacucho, perlaschallay. Ya me voy, ya me estoy yendo, perlaschallay. Ciertas malas voluntades, perlaschallay, hacen que yo me retire, perlaschallay. (Huayno. Autor Anônimo)

Simón Bolívar el Libertador, venezolano y líder de la independencia de varios países hispanoamericanos, viajó en junio de 1824 en el lomo de su caballo Palomo por un sendero andino en el Departamento de Ancash, Perú. A mitad de camino, se topó con una fiesta local: parejas indígenas con ponchos y faldas de colores cantaban un wayno (o huayno) en quechua al son tal vez de un charango y bailaban elegantemente dando vueltas con pañuelos blancos. Deslumbrado, preguntó:

- ¿Qué música es esa tan chusca?

La respuesta ahora la da, dos siglos después, Ladislao Landa Vásquez en el libro “Los Caminos de la Música”, que analiza los cambios a lo largo del tiempo en los géneros del cancionero y los instrumentos musicales andinos. Surge el Perú profundo, cuando el autor registra los diversos estilos del wayno - “el género más representativo del país” y destaca el charango - “el instrumento más querido de los indígenas y mestizos”, citando al escritor José María Arguedas, que todo lo sabe.

El que poco sabe de música andina es Brasil. En la década de 1970, algunos brasileños exiliados acudieron al Coliseo Nacional, en Lima, para un espectáculo de música y danza folclórica. Allí, un economista paulista que formaba parte del grupo, con audición y mente limitadas, expresó un sentimiento opuesto al de Bolívar. Escuchó un wayno cantado, no recuerdo si de Pastorita Huaracina o de Flor Pucarina y decretó perentoriamente: 

- Esto no es música.

Su etnocentrismo no le permitió al infeliz apreciar el sonido de los Andes. Pero la mayoría de los brasileños en el exilio lo disfrutaron, incluida la antropóloga Berta Ribeiro, también exiliada, que se escandalizó al enterarse de esta historia.

Leyendo a Landa

Leí el libro de Landa, interrumpiendo la lectura decenas de veces para escuchar en YouTube cada canción que mencionaba. Antes de discutir su contenido, vale la pena mencionar quién es el autor, cuál es su vínculo con Brasil y cómo organizó su investigación.

Doctor por la Universidad de Brasilia (2001) y profesor, desde 2017, de la Universidad Federal de Integración Latinoamericana (UNILA) en Foz do Iguaçu (Paraná), Landa nació en Coracora, distrito de la Provincia de Parinacochas, Departamento de Ayacucho - cuna del “charango laminado” y de los “más furiosos charanguistas del Perú”, como recordaba en el siglo XIX Ricardo Palma, autor de Tradiciones Peruanas.

Desde los diez años, Landa toca la guitarra, su “lengua materna en la música”, pero pronto se volvió “bilingüe” con el charango como segunda lengua, que ahora es su favorita. Con su hermano Andrés Landa y otros dos músicos formó el grupo Yawarmayu, que durante 40 años tocó en varios países, donde también se presentó como solista. Tuvimos el privilegio de escucharlo en un recital informal durante el I Coloquio sobre Etnohistoria y Memoria en América Latina realizado a finales de junio, en Foz do Iguaçu.

¿Será que el charango de Landa fue afinado por Mãe D'Água en las Cataratas del Iguazú? Cuenta la leyenda andina que los músicos llevan sus instrumentos musicales a los ríos para ser afinados por las sirenas que habitan en sus aguas. Cualquiera que escuche los armoniosos acordes de Landa identificará inmediatamente los dedos de un ser mitológico en su do-re-mí. No sería exagerado decir de él lo que escribe Arguedas en su novela Todas las sangres sobre el personaje inspirado en el célebre charanguista Jaime Guardia:

- Los ojos radiantes del músico brillan, ahogando en dichosa luz todo lo que es vida en él. De esa luz brotan las notas límpidas de cada cuerda, de los dedos tañen con suavidad y energía no superables. ¿Desde qué honduras de la tierra y del hombre andino y europeo confundidos surgen esas notas en que el universo nocturno se recreaba, llorando? 

El charango

El investigador del Instituto Nacional de Cultura (INC), Ladislao Landa tuvo un papel decisivo en 2007, cuando emitió un dictamen contundente para declarar el charango patrimonio nacional del Perú. Acumuló experiencia en encuentros y festivales de charango, instrumento que aparece en cada página de su libro, especialmente en la segunda parte, en la que describe la trayectoria del charango por varios países andinos y destaca a los intérpretes y sus estilos.

En Brasil, el peba armadillo sólo sirvió para inspirar al cantante João do Vale en la canción “Peba en el ají”, que combina forró con cocina. Pero en el Perú, el armadillo peludo dio sonido al charango, elaborado tradicionalmente con su caparazón y cuerdas de tripa de chivo. Allí, su caparazón producía –imagínense– un sonido refinado. Resulta que este peludo conocido como kirkinchu de puna entró en la lista de especies en peligro de extinción y luego el charango pasó a ser de madera, con una caja de resonancia cóncava.

- El luthier de cada región fabrica el charango a su manera, dependiendo del pueblo y del tipo de afinación deseada. Elige y mide el tamaño, la caja y el cuello de forma diferente en cada lugar.  Por eso el charango de Ayacucho, que sólo tiene cuatro cuerdas de tripa gruesa, no sirve para tocar el wayno de Collao, que requiere un charango de 15 cuerdas de acero –dice Landa citando a Arguedas.

Los caminos de la música discurren por la creación artística, la materialidad del charango, la creatividad y las variedades musicales, así como por las singularidades locales de estilos y técnicas interpretativas y las formas como los músicos han impregnado sus culturas musicales con este instrumento.

El baile de la mula

Aunque aún no existen estudios que determinen el origen exacto del charango, se trata de “una pieza históricamente andina que, en definitiva, expresa una adaptación de los instrumentos musicales europeos a la cultura del pueblo de Abya Yala, similar a lo ocurrido con la apropiación por el mundo autóctono de otros instrumentos” – escribe Ladislao Landa.

Fácil de llevar en los viajes, el charango y los géneros musicales que surgían de sus cuerdas se extendieron por todo el Perú.

- En el comercio que cubría el norte argentino hasta Lima circulaban mercancías, instrumentos, música y danza. En esta ruta nacieron algunos géneros musicales y bailes aún hoy cultivados, como la melancólica muliza, cuyo nombre sería heredado del movimiento rítmico de las mulas, que cargaban diferentes productos – dice Landa.

Fue así como el charango llegó a Parinacochas, tierra de arrieros, y allí adquirió características propias hasta llegar a los brazos de Landa. Un capítulo del libro está dedicado a la “identidad del charango parinacochano” y su difusión nacional en la década de 1950, cuando Jaime Guardia y la Lira Paucina grabaron grandes clásicos para el sello Odeón, entre otros, la canción Madrecita linda. 

Pero el autor también registra la presencia de otros instrumentos en la música andina: el acordeón, la guitarra, el violín, el arpa, el chinlili que es el cordófono de Ayacucho utilizado para tocar las chimaychas, cuyas letras tienden a ser tristes -, la tradicional quena, el pinkillo o flauta, además de instrumentos de percusión como el bongó, el güiro, el cajón - este último presente en el wayno acriollado.

El Wayno

El autor retoma el mapa de las zonas y agrupaciones musicales del país y clasifica el wayno y otros géneros por vertientes originadas en diferentes espacios geográficos, cada una con sus propias tradiciones musicales, a las que denomina “escuelas”, enumerando las ocho más significativas: Cajarmaquina, Ancashina, Huanca, Cajatambina, Ayacuchana, Cusqueña, Arequipeña y Puneña. De raíces prehispánicas, el wayno es para la identidad peruana lo que la samba para la brasileña, preservando las diferencias regionales.

Landa presenta músicas de raíces precolombinas, entre otras la valicha – wayno del Cusco, el yaravi de Arequipa llamado triste en la región norte, el takirari de Puno, entre otras. Analiza el proceso de modificación del wayno en la estructura de sus melodías, especialmente en las zonas urbanas como resultado de las migraciones desde la sierra hacia la ciudad de Lima.

La adaptación al mercado y a la industria cultural, la grabación de discos y la radiodifusión trajeron influencias de otras músicas muy difundidas en Lima: la salsa caribeña, la cumbia colombiana, el tango argentino, la ranchera y el bolero mexicano, el rock y –sorprendentemente– la bossa nova y la “música sertaneja”.                         

- Mi generación – escribe Landa – fue testigo del surgimiento de este género casi híbrido que podría calificarse de moderno, wayno moderno baladístico-bolerístico. También se refiere a los intentos de “rockear lo andino” y considera que el estereotipo wayno criollo “ha perdido su sabor andino”, no ha entrado en el alma de los campesinos serranos y se ha limitado al entorno de los mestizos urbanos. El instrumento básicamente rural del mundo andino también cambia cuando se traslada a la ciudad: 

- Podemos decir que, de la misma manera que muchas lenguas se extinguieron en el mundo, según la UNESCO, aunque dejaron huellas en la forma de hablar de las lenguas dominantes, es posible que un fenómeno similar ocurra con el charango ayacuchano y tal vez peruano – escribe.

Mamá Paulina

El libro contiene breves biografías de cantantes y grupos musicales, que se convirtieron en íconos nacionales, como Mamá Paulina, que tocaba charango, guitarra, acordeón y piano. Nacida en la zona minera de Pullo, a pesar de ser ciega, viajó de pueblo en pueblo tocando en cumpleaños y fiestas hasta trasladarse a Lima, donde murió en 1968, después de grabar discos de acetato y participar en festivales y presentaciones en coliseos. “Su imagen impregnó la memoria oral de Parinacochas” – dice Landa.

Las entrevistas a músicos y cantantes hechas por el investigador fueron editadas como apéndice al libro. Él cruzó los datos con cintas de casete grabadas por campesinos y con cientos de discos de acetato y vinilo del archivo del Centro Peruano de Estudios Sociales (CEPES), cuyo acervo cuenta con más de 600 discos, lo que le permitió crear una breve historia del disco en el Perú, estudiar las formas melódicas, letras y mensajes contenidos en el mismo, así como identificar influencias internacionales y el fenómeno musical urbano de origen campesino.

Estos discos forman parte de la colección del programa radial Tierra Fecunda (Ruru Allpa), transmitido en la década de 1980 en lengua quechua. Esta colección incluye tres tipos de discos: música tradicional, música ritual y música grabada únicamente con fines comerciales. Las limitaciones de este material – dice Landa – radican en que muchos discos no contienen fechas de grabación, ni información sobre los instrumentos utilizados, y mucho menos los nombres de los músicos que los tocan.

También investigó los archivos de la Escuela Nacional Superior de Folklore José María Arguedas, que registraron 6.050 intérpretes y 500 grupos musicales. El resultado fue “un texto lleno de esperanza, cariño, delicadeza y reflexión, pero sobre todo de Música y debe ser leído, comentado, escuchado, cantado y bailado por quienes, como el autor, creen que a través de la Música se puede conocer la sociedad peruana actual”, como afirma Carlos Leyva en el prefacio.

Aporta elementos para discutir el lugar de la canción peruana en la música universal. De verdad, de verdad os digo: la lectura del libro nos demuestra que la música peruana es tan rica, diversa y sabrosa como su gastronomía. El que muera sin conocerla no sabrá lo que se perdió al no haber disfrutado de música “tan chusca”, en expresión de Bolívar al referirse a su belleza, usando un término venezolano de la época. Por ello, el wayno de Ancash pasó a llamarse “la chuscada”.

Referéncia

Ladislao Landa Vásquez. Los Caminos de la Música. Géneros populares andinos en la segunda mitad del siglo XX. Lima – Foz do Iguaçu. Y. Carlesse. 2022. 277 pgs.

 

 

 

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10 Comentário(s)

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Ailton Krenak comentou:
26/07/2024
Bessa, abraço de saudade textos maravilhosos mestre ! Sempre admirado por tua evocação das memórias saltando de tempo e lugares tão diversos e até contraditórios, forte abraço
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Juliana Gonzalez comentou:
19/07/2024
Que resenha linda!! Agora vou ter que procurar o livro e ler (rs) Obrigada!!
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Guillermo David comentou:
18/07/2024
Qué hermoso texto, querido. Feliz cumpleaños.
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Romina Fernandez comentou:
18/07/2024
Ladislao foi meu orientador na graduação: um ser humano e docente fora de serie
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Ramon Cayumilln Mapuche comentou:
17/07/2024
Excelente articulo sobre la música tradicional del Perú, sus instrumentos y como se va transformando en el tiempo al ser incorporado a contextos mas urbanos.. Saludos peñi Jose Bessa. desde Wall Mapu
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Zezé Weiss comentou:
15/07/2024
Publicado na versão impressa e online da revista Xapuri. https://xapuri.info/wp-content/uploads/2024/07/revista-117.pdf
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José Alcimar de Oliveira comentou:
15/07/2024
Parabéns pela afinada crônica, companheiro Ribamar Bessa, inspirada nos bons ares da música andina.
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José Antonio Romero comentou:
14/07/2024
Adorei essa crônica! Gostei muito da referência a Simón Bolívar contrastada com a percepção do economista anónimo paulistano.
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Pablo Freitas comentou:
14/07/2024
Prof, Bessa e suas crônicas como poucas de hoje em dia. Sobre Simón Bolívar, informo que seu xará e tutor Simón Rodrigues finalmente teve livro publicado no Brasil com a imagem dos beijoqueiros da artye rupestre da Serra da Capivara.
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Valter Xeu comentou:
14/07/2024
Publicado em PATRIA LATINA - https://patrialatina.com.br/simon-bolivar-nos-sendeiros-da-musica-andina/
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