.1. Há dois mil anos me malham,
me tratam com violência.
Levando ferro sozinho,
ninguém vê a concorrência.
2. Mas vamos deixar pra lá
e seguir a tradição,
vou abrir o meu baú
com brindes de ocasião.
3. Pro Bush, meu companheiro,
o melhor que já encontrei,
cedo uma vaga na ponta
da corda em que me enforquei.
4. Pro Chavez, que entrou na briga,
do Uribe com o Rafael,
deixo o charuto apagado
do Coma Andante Fidel.
5. Mesmo com o Perú de fora,
no Equador é mais forte,
na fronteira da Colômbia,
só encontrei dor e morte.
6. Eu deixo pro rei da Espanha
e sua policia bundona
alguns dribles do Robinho
e do 10 do Barcelona.
7. Dou pro Lula um papagaio
colorido, muito lindo,
que com voz de Galvão Bueno
passa o tempo repetindo:
8. "Curupaco... convencido
na história desse país,
ninguém faz mais do que faço,
ninguém fez mais do que fiz."
9. Um cartão corporativo
pra Dilma tocar o PAC
pra comprar cimento e voto,
aplaudida pela claque
10. Pro ministro do Transportes,
dou, sem muito lero-lero,
pra comemorar seus feitos,
a placa: BR-zero.
11. Pro Dudu não deixo nada
por saber que ele não liga.
Ele tem um deus no bolso
e uns dez reis na barriga.
12. Deixo pro Arthur Virgílio
do Carmo Ribeiro Neto,
um saco de tolerância
pra deixar pro seu Bisneto.
13. Pro Sarafa, meu prefeito,
que até nem se saiu mal,
deixo a passagem de volta
pra Receita Federal.
14. Para o doutor Marcus Barros,
pro beijo da despedida,
passo uma procuração
com firma reconhecida.
15. Pro Mário do PDT,
aquela "frota" velhinha
pra ele ter o que fazer
e conferir linha por linha.
16. Separei para o Zé Melo,
a merenda do estudante,
pra alimentar sua rapina
um omelete gigante
17. Deixo para o Belão Leinz,
nosso führer de opereta,
um lote de deputados,
da bancada do capeta.
18. E deixo para o Negão.
meu ex-colega de ofício,
uns eleitores fantasmas,
porque reais, tá difícil.
19. Pro Sabino espancador,
eu boto fogo na lenha,
deixo o Código Penal
e a Lei Maria da Penha.
20. E o Pauderney, cadê ele?
Tenho um presente e um recado,
mas não consigo encontrá-lo
desde a surra pro Senado.
21. Pro Marcelo Serafim
uma injeção de humildade,
pra não inchar tanto assim,
ainda com tenra idade.
22. Não esqueci do Berinho,
meu afilhado nefando.
Pra puxar, eu deixo o saco
de quem estiver governando.
23. Pro vestibular da UFAM
que aprove ou não aprove,
deixo as provas deste ano,
pra aplicar em 2009.
24. Pra SEMOSBH ia dar uísque
ou um bom vinho importado,
mas acho que eles preferem
viaduto engarrafado.
25. Pra Mônica do DETRAN
que vive a contar lorotas,
deixo os buracos das ruas
onde eu perdi as botas.
26. Do doutor lá da Saúde
pela greve da SESAU,
exijo exame de fezes,
mas dou o material.
27. Pra moça lá da SEMED
Com o dilúvio já marcado
Deixo a Arca de Noé,
Com bicho pra todo lado.
28. Pra amenizar nosso clima
e refrescar de manhã,
deixo as mudas invisíveis
dos viveiros da UFAM.
29. Pra transportar o povão
e protegê-lo no inverno,
deixo uns expressos "zerinhos",
recauchutados no inferno.
30. Deixo ao povo de Tefé
o laudo do Dr. Caio:
aquele Bessa de lá
tem DNA paraguaio.
31. Pro povo de Tabatinga
não reclamar nunca mais,
deixo as obras da Pampulha
que ninguém verá jamais.
32. E que o povo de Coari
mande o Adail pra Manaus.
Sou mais barato e me vendo
apenas por trinta paus.
33. Pros senhores Promotores
deixo uma lente de aumento
pra ver se nessa eleição
vai correr algum por cento.
34. E pro povo do Amazonas,
regido pelo Dudu,
deixo apenas a esperança
de não mais tomar na rima.
P.S. Sábado de Aleluia era festejado no bairro de Aparecida, em Manaus, com a malhação do Judas e o Serra-Velho. Circulava o testamento do Judas, escrito pelo Edilson, filho da dona Pequenina e do Marcolino, que com seu talento de poeta popular, redigia cada estrofe sem um verso de pé-quebrado, apesar de sua gagueira. Eu e o marido da Rose, que é avô do João Ratão, de quem roubei uma vez mais a rima e a veia poética nordestina, dedicamos ao Edílson e à sua genialidade a versão 2008 desse testamento.