.Conta, leitor, nos cinco dedos da tua mão, os fatos que abalaram o cenário político nacional nesta semana. Dedo mindinho: o fantasma do Dossiê Cayman; Seu-vizinho: a CPI da grilagem de terras; Maior-de-todos: um anel de valor incalculável; Cata-piolho: um intrigante exame de Papa Nicolau; Fura-bolo: o assassinato de uma cafetina. Cadê a eleição que estava aqui? O gato comeu.
Foi isso mesmo: o gato comeu. Esta coluna organizou uma eleição, convidando os seus (e) leitores a votar nos piores políticos locais para governarem os territórios federais do Rio Negro, Solimões e Juruá, que serão desmembrados do Amazonas. Desta forma, os novos governadores seriam deportados com suas respectivas famílias e nos veríamos livres deles. Lamentavelmente, não deu certo.
Os leitores, é verdade, compareceram às urnas, votando por e-mail. No entanto, impressionados com o noticiário da semana, criaram novos territórios e descarregaram uma enxurrada de votos em candidatos, cujos nomes sequer constavam nas cédulas eleitorais, por serem forasteiros. Um gringo simpático da Filadélfia, que mora em Manaus, justificou:
- "Ninguém quer ver o Amazonas invadido pelos 'carpet baggers'.
Que diabo é isso? Na sua declaração de voto, o gringo não explicou. Corri, então aos dicionários e descobri que 'carpet baggers' eram os nortistas corruptos que, no final da guerra civil americana, no século passado, deixaram sua terra natal e foram ocupar o lugar dos sulistas mortos, usando a política para enriquecer ilicitamente. Hoje, significa aventureiro político, sem escrúpulos. (Aprende, leitor: Taqui Pra Ti também é cultura.)
O PRECO DO ANEL
O gringo tem razão. Não basta dar um pontapé na bunda dos comedores locais de salsicha, porque eles vão embora, mas chegam outros, de fora. Esses últimos também precisam ser combatidos. Por isso, os leitores criaram o Território Federal de Cucuí, elegendo para governá-lo o atual presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB/PA - Cruzes!), que, aqui prá nós, é a cara cuspida e escarrada do 'carpet bagger'.
O senador paraense pegou a onda e, surfando na crista da pororoca, foi o mais votado nas eleições promovidas por esta coluna. Alguns leitores escreveram ofensas impublicáveis contra ele, irritados com a sua declaração de bens, sobretudo com o item "jóias", onde ele confirma que o que tem vale R$0,14. É isso mesmo: Jáder diz para o Imposto de Renda que o valor de suas jóias é catorze centavos de real.
"Me diga, onde é que, por esse preço, alguém compra uma bijuteria vagabunda" indaga uma leitora aflita. Decidi fazer uma pesquisa de mercado para responder essa pergunta. A jóia mais barata que encontrei, que aliás uso com muito orgulho, é um anel de caroço de tucumã feito pelos índios. O seu preço na loja da FUNAI, no Rio, é R$1,00. Na cidade de Maués, R$0,50 e lá, na aldeia dos Sateré-Mawé, no Andirá, R$0,28.
Longe de mim querer inocentar Jáder, mas imagino o que pode ter acontecido. O senador paraense, num cruzeiro turístico com madame Barbalho, visitou a aldeia Sateré-Mawé. Ela:
- "Benhê, compra uma jóia pra mim, compra".
Ele achou muito caro um anel de tucumã por R$0,28. Pediu abatimento. Apresentou, então, sua carteira de estudante, evidentemente falsificada e, já que estudante paga meia, ele comprou o anel por R$0,14.
Não sei se a aflita leitora ficou convencida. De qualquer forma, é mais fácil acreditar na minha versão do que na declaração de bens do próprio Jáder Barbalho. Por que o senador faz uma coisa dessa com a gente, hein? "Ele quer dá a impressão de exatidão" - escreve o jornalista Fritz Utzeri, no JB, acrescentando que tanto primarismo acaba agredindo a nossa inteligência. Será que o IPTU do Jáder é menor do que o do Amazonino?
O DOSSIÊ JACARÉ
Quem também agride a cabocada baré é Gilberto Miranda, o nome mais votado para governar o Território do Envira. Filho de um tintureiro pobre do interior de São Paulo era um pé rapado até 1975, quando tornou-se professor de natação do Collor e do Luiz Estevão. Nadou, nadou e não morreu na praia. Tornou-se "porteiro de luxo" da Zona Franca, vendeu favores e incentivos fiscais e hoje seu patrimônio vale mais de 500 milhões de dólares. Mirandinha, exemplo acabado de 'carpet bagger', não tem bem de raiz na região, nunca adquiriu aqui sequer um anel de tucumã, mas comprou duas vezes a vaga de suplente de senador pelo Amazonas. Nesta semana, foi acusado de haver divulgado os papéis falsos do Dossiê Cayman - que em suas mãos se transformou em Dossiê Jacaré-tinga - para desestabilizar o mercado e, com outros especuladores, lucrar 200 milhões de dólares.
O terceiro acontecimento que interferiu na eleição promovida por esta coluna foi a CPI da grilagem de terras, contribuindo para que dois nomes fossem bem votados para governador do Território de Lábrea: o megagrileiro Falb Saraiva de Farias, que se tornou dono de dois munícipios e o juiz Daniel Ferreira da Silva, que indeferiu todos os pedidos do INCRA para o cancelamento de títulos irregulares de terras.
A eleição para Lábrea vai ter segundo turno. Os leitores, indecisos, estão esperando as conclusões da CPI e os resultados das duas ações que correm no STJ contra o juiz Daniel: uma delas acusa-o de participação na venda de alvarás de solturas para narcotraficantes. Daniel, cujo sigilo bancário acaba de ser quebrado, possui curriculum invejável. Um leitor escreveu: "Daniel, Daniel, quando morrer não vai pro céu". Rimou, né?
DONA COLÓ
Os leitores elegeram para governar o Território Livre de Urucurituba o ex-senador Luiz Estevão, acusado do desvio de R$196,7 milhões das obras superfaturadas do TRT de São Paulo. Nos dois primeiros dias da semana, ele vinha empatando com seu cúmplice, o juiz Lalau. No entanto, seu nome disparou na frente, quando os procuradores da República realizaram um exame de Papa Nicolau e decretaram a sua prisão. A página do Taquiprati na Internet ficou engarrafada com tanta correspondência.
Os leitores confessaram que votaram em Luiz Estevão porque o viram, no jornal televisivo, sentado numa cadeira no pátio da carceragem da Polícia Federal em São Paulo, tomando sol e lendo o livro de Leonardo Boff - Tempo de Transcendência - que aborda o papel do ser humano dentro de um projeto de vida infinita. Uma leitora jura que está rezando para que Luiz Estevão seja governador de Urucurituba por tempo infinito, nunca mais saindo de lá.
Estimulada por seus leitores, a coluna lança o seu concurso semanal: dê o nome de um político amazonense que você gostaria de ver detrás das grades, indique o livro que você gostaria que ele lesse na prisão e justifique. Cartas podem ser enviadas para a homepage do Taquiprati. Guardamos sigilo.
Finalmente, a morte de dona Coló, ocorrida na última quarta-feira, influenciou o voto de muitos leitores que escolheram Adma Guerreiro (PRTB/BA - Credo!) como governadora do Território Federal de Eirunepé. Adma, como todos sabem, é a esposa do candidato a governador da Bahia, Félix Guerreiro (Antônio Fagundes) e assassinou, diante de milhões de telespectadores, dona Coló, a cafetina de Porto dos Milagres.
Não concordo com os leitores. Que Deus me perdoe, mas na morte da dona Coló, sou cúmplice da assassina, ajudei Adma (Cássia Kiss) a envenenar dona Coló (Glória Menezes). Pode ser falta de caridade, mas confesso que não estava mais suportando a Glória Menezes, com aquele turbante ridículo e com os lábios grudando, como se sua boca tivesse comido abiu. A mulher não sabe nem morrer! Quando se estrebuchava, envenenada, parecia que estava pegando santo. Um horror! Já vai tarde! Eu, hein, Rosa!
P.S - Muitos leitores dispersaram seus votos. De qualquer forma, merecem registros. Entre outros foram votados para governar territórios federais nomes que sequer havíamos imaginado: Egberto Batista, um tal de Lizón (vamos investigar quem é), os diretores da SUFRAMA que ganham mais de 15 mil reais por mês, Pauderney Avelino, o Galo Carijó, o Cabo Pereira (que prometeu em 60 dias construir uma praça no conjunto Beija Flor 1 e nada fez até hoje), o xerife Wallace Souza, Zé Mello Merenda, o reitor da UA Walmirzinho e até mesmo o meu querido amigo Moisés Nobre Leão, nomeado por Vossa Pai-d'eguança para substituir Varcily Queiroz na direção da UTAM. Robério Braga, Euler Ribeiro e Lupércio Ramos também não foram esquecidos.