Descubro, estarrecido, que hoje, dia de eleição, estou impedido de escrever sobre a luta que se trava nas urnas para escolher o prefeito de Manaus. Tenho minhas limitações. Se conto o meu drama, o (e) leitor vai entender e me desculpar. Sou suspeito para falar sobre os seis personagens da novela eleitoral, em função do meu envolvimento de amor-ódio com cada um deles.
É melhor me autocensurar e escolher outro tema. Se eu comentasse o embate eleitoral, cometeria injustiças e já começaria dividindo os candidatos em três núcleos noveleiros: o núcleo dos pequenos, o núcleo dos viáveis e competentes e o núcleo dos malvados.
Os pequenos
Quer ver como não sou objetivo? O núcleo dos pequenos, eu chamaria de núcleo dos bons, talvez porque dele faça parte meu querido irmão, Ricardo Bessa (PSOL), com quem estou unido por profundos laços afetivos, mas de cujas práticas políticas frequentemente discordo, e o Luiz Navarro (PCB), da minha família ideológica, um primo político, digamos, com quem você briga, mas com quem se identifica. Além disso, esses dois são candidatos por partidos encrenqueiros – no bom sentido – que gostam de empentelhar e que não têm o rabo preso.
O que eu diria se fosse comentar o fato de que eles não decolam e sequer pontuam nas pesquisas? Douraria a pílula. Diria que só são pequenos e fracos, porque escolheram conscientemente ficar do lado dos fracos e dos pequenos. Como os fracos são fracos e os pequenos são pequenos, eles assumem a dimensão daqueles por quem se propõem a lutar. Não é pecado ser fraco e pequeno. Pecado é ser corrupto.
Meu irmão, é certo, parece mais com o Belão, “o alemão”, do que comigo. Mas a semelhança é só física. Ele e Navarro são dois sujeitos corretos, até onde sabemos, o que – diria a oposição – não é ainda uma grande virtude, porque os dois nunca ficaram com a chave do cofre na mão. É. Pode ser. Torço para que nunca fiquem. A oposição faz intrigas que às vezes nos obrigam a pensar. De qualquer forma, não existe qualquer acusação de que algum dos dois tenha prevaricado, mas o afeto e a cumplicidade ideológica mostram que não tenho independência suficiente para julgá-los.
Os viáveis
Não posso também avaliar o núcleo dos viáveis e competentes: Praciano (PT) e Serafim (PSB). As razões são muito simples: admiro os dois. Alguns leitores vão encher minha caixa de correspondência com e-mails malcriados. Há anos, um cunhado querido quase me dá porrada, porque confessei minha admiração pelo Arthur Virgilio, de quem freqüentemente discordo no plano nacional. Não quero convencer ninguém de que estou certo. Apenas, sou sincero e abro o jogo para saberem de onde falo. Por que essa admiração? Ela é sincera e desinteressada. Eu me explico.
O velho Praça, se sentindo injustiçado em um debate televisivo, explodiu e ameaçou dar porrada em meu irmão. Se fizesse isso, eu – que não sou de briga - juro que ia a Manaus só pra dar uma porrada no Praça. Seria uma reação instantânea, como quem recolhe o braço diante de um pequeno choque elétrico. Depois da porrada, talvez, lhe desse um grande abraço solidário, por aquilo que ele representou na história dessa cidade.
Não conheço o Praciano pessoalmente. Quando fui presidente do PT no Amazonas, ele não fazia parte da nossa curriola. Nunca o vi. Mas por questão de honestidade e justiça, não posso esquecer a sua luta quase solitária contra os ressarcidos na Câmara de Vereadores e sua permanente vigilância contra a corrupção. Ele, Vanessa Graziottin e Jefferson Peres foram os três mosquiteiros da probidade. Dizem que ele gosta de tomar uma cachacinha, que nem eu e o juiz Auzier. E daí? A gente não dirige mesmo! Isso nunca interferiu na qualidade do nosso trabalho (só no nosso fígado).
O Serafim, acompanho desde a época da ditadura militar, quando voltei a Manaus, em 1969, e fui repórter de A Crítica. Embora ele não fizesse parte da linha de frente, nos deu bastante munição no combate pela democracia e pela liberdade. O Serafim, como prefeito, constitui a prova de que nem tudo está perdido, de que é possível se meter em política e assumir o poder sem se sujar, sem se corromper. Ele tem a chave do cofre na mão e nem os seus inimigos mais acirrados levantaram qualquer suspeita contra ele, não conseguiram sequer inventar um escândalo em quatro anos de governo.
Não basta ser honesto, é preciso saber administrar. Não cabe aqui relatar as realizações do Serafim. Apenas mencionar que com todas as mazelas pelas quais passam as grandes cidades, com o caos urbano e o crescimento desordenado, Manaus hoje é uma cidade menos maltratada. Além disso, ele se preocupou com os índios urbanos e com os deficientes físicos antes condenados a serem eternamente deficientes cívicos. O PSB, partido de Arraes, merece a nossa simpatia. Tenho isenção para julgá-lo?
Os malvados
Não, não tenho. Não sou independente, nem neutro. Desconfia do que eu escrevo, (e) leitor. Estou comprometido pelo lugar de onde falo. Por isso, não opino nessa eleição. Não posso opinar. Tenho travado um combate incansável contra o núcleo dos malvados, como o Romildo Rosa (Milton Gonçalves) e o Dodi (Murilo Benício), responsáveis na novela A Favorita por práticas que raiam ao gangsterismo. E nesse combate, a gente acumula raiva.
Como falar do Negão, se tenho mais de 50 artigos nessa coluna, combatendo os seus desmandos como prefeito e como governador? Está tudo dito lá, basta acessar o site taquiprati. Tantos escândalos, tantas tramóias, quantas armações! Tudo o que eu escrever sobre o Negão, não vale nada, considerando a raiva visceral que tenho, não dele como pessoa, mas da indecência que ele simboliza, responsável pela poluição de um campo tão belo como a política, destinada a gerir a coisa pública.
O Omar Aziz? Que Santa Etelvina nos proteja desse filho de uma relação política incestuosa do Negão com o Dudu Braga, tendo o Cabo Pereira como padrinho. Ele é aquilo que as mães apontam como um mau exemplo para a juventude. Desde a época em que era vereador e em que foi pivô do escândalo dos ressarcimentos, ele só faz política pra se dar bem e levar vantagem. Omar? Qua-qua-ra-quá! É uma piada. Seria motivo de riso, se não fosse trágico. Parece até o Léo (Jackson Antunes), que se diz arrependido por dar porrada na Catarina (Lilia Cabral). Quem acredita nele?
A raiva me cega, não consigo ver qualidades no Negão e no Omar. Bem que eu te preveni, (e) leitor. Por isso é que não escrevo sobre a novela eleitoral. Não voto em Manaus, nem vou te dizer em que votaria, renunciando qualquer possibilidade de influenciar raros (e) leitores, com minha visão parcial. Faço apenas um apelo: na hora de votar, pensa no teu filho, no teu neto, e na cidade que sonhas para eles.
P.S. 1 – Nenhum candidato assumiu plenamente a luta pela questão ambiental. O movimento ambientalista está duzentos anos à frente de todos eles, que não tiveram a coragem de assumir a defesa daqueles que lutam pelo verde e pela vida.
P.S. 2 – No momento em que você estiver lendo a coluna, depois de votar em Niterói, estarei atravessando o Atlântico. Fui convidado para dar conferência em universidade européia. Os custos correm por conta dos organizadores do evento, sem qualquer gasto para o governo brasileiro. Isso me deixa um tanto quanto “metidinho” e “insuportável”, dizem alguns amigos.De lá, enviarei a próxima coluna.