CRÔNICAS

Epidemia derruba vereadores de Manaus: os ressarcidos

Em: 26 de Novembro de 1991 Visualizações: 1889
Epidemia derruba vereadores de Manaus: os ressarcidos

Esta é a Câmara de Vereadores mais representativa de toda a história de Manaus. Como a população manauara enfrenta todo tipo de doença – parasitoses, cólera e até malária, que é hoje uma doença urbana – os vereadores decidiram adoecer em bloco, levando a representatividade da população às últimas consequências.

A opção preferencial pelas doenças atingiu não apenas 15 dos 21 vereadores, mas se estendeu ainda aos seus familiares: mulher, filhos, sogras, primos, sobrinhos, cunhados e xerimbabos, incluindo filhos das empregadas domésticas usados como dependentes para abater no Imposto de Renda.

Em nove meses de gestação – de janeiro a setembro de 1991 – mais de 222 milhões de cruzeiros foram pagos pela Câmara Municipal para que os nobres edis e seus 156 dependentes e funcionários pudessem se curar. Esta soma corrigida hoje daria mais de Cr$ 1.000.000.000,00(um bilhão de cruzeiros).

O vereador Omar Aziz vivia atacado por fortes sensações de empachamento gástrico, motivadas pela grande quantidade de quibe cru que devorava diariamente. Os sintomas eram eructação excessiva e flatulência sonora. Entre uma sessão e outra da Câmara, Omar Aziz defendia o senador Amazonino Mendes, pipocando gases fétidos, que desbaratavam toda a bancada da oposição.

O presidente da Câmara, César Bonfim, não hesitou. Preencheu um cheque de Cr$ 1.942.000,00 (o equivalente hoje a dez milhões de cruzeiros) em nome de Omar Aziz, que com certeza não é parente da Beth, ou se é, não foi educado com os mesmos princípios morais. A deputada bem que poderia publicar uma nota oficial, esclarecendo que os quibes feitos por sua mãe são sadios e não provocam gases.

O vereador João Leonel Feitosa vivia espirrando. Um dia, só numa sessão, ele deu dez espirros seguidos. O nosso César Bonfim calculou o valor de cada espirro em um milhão de cruzeiros e deu ao Leonel um cheque no valor de Cr$ 1.950.000,00, o que corrigindo hoje representa também mais de dez milhões de cruzeiros. Daí, o próprio César Bonfim contraiu a alergia do Leonel e deu vinte espirros, o suficiente para ele mesmo fazer um cheque em seu próprio nome no valor de Cr$ 3.800.000,00 (o equivalente hoje a quase 20 milhões de cruzeiros), baseado no princípio evangélico: Dai a César o que é de César e a Leonel o que é do Feitosa.

As doenças continuavam se alastrando pela Câmara, desafiando o talento de um Oswaldo Cruz e o gênio de um Carlos Chagas.

Antônio Carioca não podia exercer suas funções em decorrência de uma enxaqueca. A cabeça lhe doía enormemente. Consultou o Bonfim, que verificou na tabela: na época, uma enxaqueca de vereador manauaras estava valendo 5 milhões de cruzeiros. Se o vereador fosse carioca, acrescentava mais um terço. Era. César Bonfim fez um cheque de Cr$ 7,823.000,00 em nome do vereador Antônio Carioca (o que, corrigido, atinge hoje quase 40 milhões de cruzeiros.

A enxaqueca do Antônio contaminou toda a família Carioca pelo mosquito “Bichitus Nepoticus”. Aí, a Maria E. Menezes Carioca abocanhou a polpuda soma de Cr$ 4.352.000,00 (quase 20 milhões hoje) e a Glória Maria Carioca abiscoitou Cr$ 1.000.000,00 (quase 5 milhas hoje). Não se tem notícias sobre se a dor de cabeça passou com toda essa grana. Ou se aumentou agora, que foi denunciada a mutreta.

 Uma funcionária da Comissão de Constituição e Justiça, cujo apelido é Tequinha, entrou no plenário gritando:

- Geeeeente! O Robério Braga está com dor de dente e é de tanto tanto comer doce quente. Segue o exemplo da cotia.

Bastou essa informação para que o presidente da Câmara, César Bonfim, mandasse o vereador Robério extrair o dente do siso. A extração até que foi barata, mas a anestesia custou aos cofres públicos a soma de R$ 7.142.787,55 (hoje o equivalente a mais de 35 milhões de cruzeiros).

Robério, flagrado com a mão na cumbuca pelas denúncias do vereador Praciano e, para não pensarem que tirou o rio do seu nome, disse contraditoriamente que aquela grana “era toda legal” (?), mas afirmou que “se fosse ilegal” (?), ele estava disposto a devolver pelo menos uma parcela (talvez os 55 centavos).

Um estudo nosológico da Câmara de Vereadores de Manaus (CMM) mostra que as piras do pirento Voltaire Ypiranga Benevides valem hoje cerca de Cr$ 1.000.000,00, as coceiras do Alexis também Ypiranga e também Benevides atingem quase Cr$ 1.500.000,00, tudo isso sob a proteção do guarda-chuva do mano Carrel Benevides.

O vereador Moacir Marques Filho deve ter sido atendido na UTI, com tomógrafo computadorizado e todos aquelas gerinbgonças tecnológicas, porque gastou quase Cr$ 50.000.000,00 em valores atuais com uma doença até hoje não identificada. No frigir dos ovos, o presidente da CMM, César Bonfim, primeiro combatente pela saúde da edilhada, justificou:

- “Eu faria tudo novamente se fosse para ajudar a salvar vidas”.

Será que ele acredita mesmo que “salvou vidas”. Tudo bem, se vidas foram salvas, foi com o dinheiro do contribuinte (e não do César). Todos os vereadores ressarcidos estão vendendo saúde. Vendendo mesmo.

Leitor (a), por favor, tira uma caneta e anota esses cinco nomes daqueles vereadores que, durante nove meses cometeram a façanha de não ficar doente nem um só dia e que denunciaram a mutreta:

Jefferson Peres

Serafim Corrêa

Vanessa Grazziotin

João Pedro

Francisco Praciano

Eles são sadios e saudáveis e com seu exemplo de dignidade e honestidade estão apontando o caminho para a constituição de uma Câmara livre de doenças. Não vote em “doente”. Vote em candidato sadio.

Alguém: o povo

O presidente da CMM, César Bonfim, está mais enrolado do que maçaroca de empinar papagaio com cerol. Um dia antes do atentado ao vereador Praciano, César Bonfim declarou:

- O vereador Francisco Praciano está a serviço de alguém. Como ele é cearense, não conhece o sofrimento do povo dos bairros Compensas, Tancredo Neves e Armando Mendes”.

César acha que os vereadores estão sempre a serviço de alguém e não do povo. O seu texto parece até aqueles telegramas no ar da Voz Quermesse de Aparecida: “Alguém oferece para alguém a música...” Virou mania agora esse chauvinismo de igarapé, que confere legitimidade apenas ao amazonense, que se opõe a qualquer outra identidade regional.

César, aqui pra nós, a gente prefere a Câmara entupida de arigós e cabras da peste, como o Praciano, do que ter 21 amazonenses como Vossa Excelência.

Generosidade

O César Bonfim está preocupado em salvar vidas não do povo dizimado pela cólera e a malária, mas salvar “a boa vida” dos edis. Ele é muito generoso com o dinheiro do contribuinte.

Demissões

As demissões em massa no Distrito Industrial aumentaram enormemente as estatísticas dos desempregados na Zona Franca de Manaus. O SINE/AM revela que a queda na oferta de empregos no setor industrial foi de 61,93% em outubro, comparado com o mês anterior. No índice geral a redução do número de vagas, incluindo os setores de comércio, serviço e construção civil foi de 39,88%. Podem trancar a casa com ferrolho e grade, porque o índice de assaltos e de violência subirá na mesma proporção.

Quinze

Quinze tiros atingiram a residência do vereador Francisco Praciano, a quem desde logo hipotecamos integral solidariedade. Quinze tiros! Quinze também foram os vereadores denunciados por Praciano, que mamaram nos cofres públicos. Mas isso é pura coincidência. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Parece.

Salário

Os parlamentares da classe média – que são a maioria no Congresso Nacional -começaram a sentir a crise econômica na pelo, ou melhor, no bolso. Pelo menos é o que parece. Já se pode ver algumas negociações na tentativa de passar consórcios de carros, cruzados novos bloqueados com deságio de 30%, quadro de arte e até joias de família. É a crise. Eles recebem líquido mensalmente cerca de 2 milhões de cruzeiros e acham que o dinheiro não vai dar. Agora, imagina só a dona Margareth da Silva, professora no Piauí, que recebe por mês Cr$ 1.250,00 cruzeiros e para receber o seu salário gasta Cr$ 1.000,00 só com transporte.

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