Na pia batismal recebeu o nome de Antônio Nascimento Cordeiro. Mas era conhecido como Tonico nas ruas enlameadas de Feijó, no Acre, onde vivia recolhendo bagana de cigarro para dar suas tragadinhas. De família pobre, nunca vestiu uma roupa nova em toda sua infância. Todo o seu guarda-roupa, incluindo a “roupa-de-ver-Deus” usada aos domingos, era herança recebida do Ananias, filho de sua madrinha, que morreu afogado nas águas do rio Envira. No entanto, como o defunto era muito menor, Tonico passou a andar sempre com camisas curtinhas, e com as calças batendo no meio da canela.
A infância do Cordeirinho foi toda atormentada pelos moleques das ruas de Feijó, que mangavam da sua camisa com-medo-de-peido e da calça pega-marreca. Não precisa ser nenhum Freud de igarapé para concluir que esse fato traumatizou o rapaz, marcando profundamente sua alma, suas pulsões, seus desejos de consumo, seus sonhos. De onde ele tirou essa necessidade de ostentar riquezas, comum a todos os novos ricos? De onde veio essa mania de vestir roupas novas, fumar charutos cubanos, beber uísque escocês, usar relógios de ouro, dirigir carros importados, morar em mansão hollywoodiana?
Elementar, minha cara Graça Malheiros! Sem esse retrato psicológico, nenhum Sherlock Holmes baré conseguirá arrancar confissões e obter informações sobre as mutretas e as fraudes organizadas pelo Cordeirinho. Mas esse retrato só ficará completo se destacarmos outro aspecto da personalidade do dito cujo: a subserviência. Cordeirinho tratava todas as primeiras damas como “madrinha”, particularmente dona Maria Emília, em quem via a figura da mãe do Ananias, capaz de ajudá-lo. Além disso, chamava de “meu patrão” qualquer pessoa montada no que ele denominava de ´babita´. Eis aí o Cordeiro do Acre que acumulou os pecados imundos.
Aconselho a superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Maria das Graças Malheiros, a convocar os meus amigos doutores Rogelio Casado e Manuel Dias Galvão para uma assessoria ´pisicanalítica´, na hora de interrogar Cordeirinho. Só eles poderão explicar as reais motivações desse cidadão folclórico, que parece ter inspirado o personagem vivido por José Wilker na novela “Senhora do Destino”, até mesmo na forma de falar.
É isso aí. Cordeirinho não existe: é personagem de telenovela. Resta saber como é que ele pulou da telinha para a vida real, vindo a cair logo em Manaus. A ´pisicanálise´, no entanto, é insuficiente para encontrar as explicações. É preciso mergulhar na história.
Corrupção histórica
A história mostra que um antepassado espiritual de Cordeirinho fez o seu primeiro negócio em 1669, quando molhou a mão do capitão Francisco da Mota Falcão, convencendo-o a contratá-lo para construir um forte num outeiro a três léguas do encontro das águas. “Meu patrãozinho, minha empresa a Malocaplan Construções Ltda., que acaba de ser criada, pode construir a fortaleza, toda de pedra”. Aí, ele fraudou a licitação, ergueu o Forte de São José da Barra do Rio Negro, todo feito de barro, como Adão, e não de pedra, como previsto na licitação. A primeira grande chuva acabou com o forte. Por isso, hoje não existe mais qualquer vestígio dele.
Esse tipo de fraude está bastante enraizado na história do Amazonas. Antes do golpe militar de 1964, um governador recebeu do Governo Federal uma grana preta para a construção da estrada Manaus-Caracarai, um trecho que ligaria a capital do Amazonas à Boa Vista. Chamou, então, o Cordeirinho-da-época e ordenou:
- Registra no cartório uma empresa de construção.
O registro foi feito às pressas, a licitação foi aberta. Apresentaram-se grandes construtoras do sul do país, mas quem foi que ganhou? Adivinhou quem respondeu: a empresa fantasma do Cordeirinho-da-época.
Os jornais consideraram a licitação um escândalo e denunciaram a fraude, argumentando que a Construtora Cordeirinho-da-época não tinha qualquer experiência na abertura de estradas. Por ordem do governador, o Cordeirinho-da-época encheu um caminhão com boias-frias, terçados e machados na mão, chamou os jornalistas e se dirigiu até o Parque Dez, limite da cidade, onde começava a floresta. Chegando lá, começaram a desmatar em direção a Flores, no rumo norte. No dia seguinte, manchete nos jornais, com fotos expressivas: “Começa a construção da Manaus-Caracarai”.
Dias depois de iniciados os trabalhos, os peões encontraram o primeiro igarapé. Perguntaram:
- Seu Cordeirinho, o que a gente faz? Constrói uma ponte?
Ele respondeu:
- Necas de pitibiribas. Ponte é muito caro. Contorna!
Os trabalhadores foram contornando, contornando, contornando. Contornaram o igarapé que tinha quase a forma de um oito. Ai o golpe militar de 1964 suspendeu a construção da estrada. O novo governador do Estado, Arthur Reis, descobriu que se avançasse mais dois quilômetros pela floresta adentro, a estrada voltava para um outro ponto de Manaus.
A estrada ficou conhecida como Manaus-Manaus, tornando internacionalmente célebre nossa capital, a única cidade do mundo que tinha uma estrada que saía dela e voltava pra ela mesma. Com o crescimento da cidade, completaram os dois quilômetros e uniram à estrada do V-8, uma espécie de boulevard péripherique da Paris dos Trópicos.
É nesse contexto psicológico e histórico que o deputado Antônio Cordeiro – o Cordeirinho – construiu sua fortuna. Modesto corretor de imóveis, ele organizou e chefiou uma quadrilha, parte dela formada por altos funcionários públicos, ex-secretários de Estado (Fazenda e Saúde), colunáveis, movimentando R$ 500 milhões provenientes de fraudes em processos de licitação. Parece que sua construtora Tetoplan foi criada expressamente com o objetivo de abocanhar o dinheiro de obras públicas do governo do Amazonas. Um leitor escreveu comentando:
- Se só a turma do Cordeirinho roubou 500 milhões em quatro anos, imagina quando prenderem a turma do Lobo e apurarem o que foi roubado nos últimos 22 anos?
Quem é o Lobo? Os leitores podem escrever cartas para a redação desse jornal, dando o nome e o sobrenome dele.
P.S. 1 – Alguns deputados, acovardados, estão pedindo pelo amor de Deus que o Cordeirinho renuncie ao mandato. Como é que alguém que passou a infância usando camisa com medo de peido, vai renunciar a um mandato que lhe confere im(p)unidade para crimes que lhe permitem viver em mansão de luxo, fumando charutos cubanos e dirigindo carros importados? Outros deputados, como o Berlamino Lins e o José Melo Merenda se recusam a assinar requerimento instaurando uma CPI para cassar o Cordeirinho. O Zé Melo Merenda saiu-se com essa pérola: “Sou contra porque nunca vi uma CPI dar resultados efetivos”. Tá todo mundo, agora, de olho no presidente da Assembleia Legislativa, Lino Chixaro, pra ver o que ele vai fazer.
P.S. 2 - Lula, em 592 dias de governo, não conseguiu homologar, com uma simples assinatura, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol. .
Hanno preso Cordeiro (1). Dové il Lupo?
Sulla fonte battesimale ha ricevuto il nome di Antonio Nascimento Cordeiro. Ma nelle vie fangose di Feijò, in Acre, dove viveva raccogliendo cicche di sigarette era conosciuto come Tonìco. Di famiglia povera non ha mai indossato vestiti nuovi in tutta la sua infanzia. Il suo intero guardaroba, incluso il "vestito-per-vedere-Dio" usato nelle domenica era eredità di Ananias, il figlio della sua matrigna, morto annegato nel fiume Envira. Ma, siccome era molto più piccolo del fratellastro, Tonìco girava sempre con magliette cortissime e pantaloni che arrivavano sopra la caviglia.
L'infanzia di Tonìco fu sempre tormentata dai monelli delle vie di Feijò che lo prendevano in giro per le sue camicie "con-paura-di-scorreggia" e i suoi pantaloni "pega-marreca" (2). Non è necessario nessuno Freud di igarapè (3) per concludere che questo fatto traumatizzò il ragazzo, segnando profondamente la sua anima, le sue pulsioni, i suoi desideri di consumo, i suoi sogni. Da dove è venuta questa necessità di ostentare ricchezza così comune ai nuovi ricchi? Da dove proviene questa mania dei vestiti nuovi, di fumare sigari cubani, bere whisky scozzese, usare orologi d'oro, guidare macchine importate, abitare ville hollywoodiane?
Elementare mia cara Graça Malheiros. Senza questo ritratto psicologico nessun Sherlock Holmes baré riuscirà ad ottenere confessioni e informazioni sulle mutretas e frodi organizzate da Cordeirinho. Però questo ritratto sarà compiuto solamente se sottolineeremo un altro aspetto della personalità del sopraccitato: il servilismo. Cordeirinho trattava tutte le first lady come "matrigne", in modo particolare la signora Maria Emilia (4), dove vedeva la figura della madre di Ananias, capace di aiutarlo. Inoltre chiamava di "mio capo" qualsiasi persona piena di quello che lui chiamava "babita" (5). Ecco il Cordeiro dell'Acre che ha accumulato gli immondi peccati.
Consiglio la sovrintendete della Polizia Federale di Amazonas, Maria Graças Malheiros di convocare i miei amici dottori Rogelio Casado e Manuel Dias Galvao per una consulenza psicanalitica al momento di interrogare Cordeirinho. Soltanto loro potranno spiegare le reali ragioni di questo cittadino folklorico che sembra aver ispirato il personaggio vissuto per José Wilker nella soap "Signora del Destino".
Ed è questo. Cordeirinho non esiste: è un personaggio di novella. Rimane da sapere come lui sia saltato dal monitor alla vita reale, cadendo proprio a Manaus. La psicanalisi in ogni modo non è in grado di trovare tutte le spiegazioni. E' necessario tuffarsi nella Storia.
La storia ci mostra che un antenato spirituale di Cordeirinho fece il proprio primo affare nel 1669, “bagnando la mano” (pagando una tangente - ndt) al capitano Francisco da Mota Falcao, convincendolo ad assumerlo per la costruzione di un forte distante tre leghe dell'incontro delle acque. " Mio padroncino, la mia azienda, la Malocaplan Costruzioni SRL, appena creata, può costruire la fortezza, interamente di pietra". Così lui ha commesso una truffa sull'appalto erigendo il Forte de Sao José do Rio Negro (6), interamente fatto di argilla, come Adamo, senza pietre come previsto dal capitolato. La prima grande pioggia ha distrutto la fortezza. E' per questo che oggi non vi è nessun vestigio della costruzione.
Questo tipo di frode è profondamente radicata nella storia dello stato di Amazonas. Prima del colpo militare del 1964, un governatore ha ricevuto parecchi soldi dal governo centrale per la costruzione della strada Manaus - Caracarai (7), un tratto che legherebbe la capitale di Amazonas a Boa Vista. Chiamò il Codeirinho-di-allora e gli ha ordinato: "Crea una ditta di costruzione". La creazione fu fatta in fretta, la gara di appalto aperta. Si sono presentate grandi aziende di costruzione del sud del Brasile, però, chi ha vinto la gara? L'azienda fantasma del Cordeirinho-di-allora.
I giornali considerarono l'appalto uno scandalo e denunciarono la frode, argomentando che l'azienda del Cordeirinho-di-allora non aveva nessuna esperienza nella costruzione di strade. Per ordine del governatore il Cordeirinho-di-allora riempì un camion di boias - frias (8) con il macete in mano, chiamò la stampa e si diresse verso il Parque 10 (9), il limite di allora della città e dove iniziava la foresta. Arrivando lì hanno iniziato a disboscare. Il giorno seguente sui quotidiani, con tanto di fotografie: “Inizia la costruzione della Manaus-Caracaraì".
Giorni dopo l'inizio dell'opera i lavoratori trovarono il primo igarapé. Chiesero: "- Cosa facciamo signor Cordeirinho? Un ponte?” Lui rispose: "neanche per sogno. Un ponte è troppo caro. Contorna!" I lavoratori proseguirono contornando, contornando, contornando. Contornarono l'igarapé che aveva praticamente la forma di un otto. Così il governo militare sospese la costruzione della strada. Il nuovo governatore dello stato di Amazonas, Arthur Reis, scoprì che se fossero avanzati altri due chilometri nella foresta la strada sarebbe tornata a Manaus, in un altro punto.
La strada rimase conosciuta come Manaus - Manaus, facendo diventare celebre la nostra capitale, l'unica città al mondo con una strada che usciva e tornava a se stessa. Con la crescita della città hanno terminato i due chilometri che mancavano e crearono la strada del V-8, una specie di Boulevard peripherique della Parigi dei Tropici. E' in questo contesto psicologico e storico che il deputato Antonio Cordeiro - il Cordeirinho - ha costruito la sua ricchezza. Modesto agente immobiliare lui organizzò e capeggiò una banda, in parte costituita da alti impiegati pubblici, ex - assessori regionali (Economia e Sanità), vip, movimentando 500 milioni di Reais (10) in gare di appalto illecite. A quanto pare l’impresa di costruzione Tetoplan fu creata con lo scopo di aggiudicarsi i soldi delle opere pubbliche del governo dello stato di Amazonas. Un lettore mi ha scritto commentando:
"Se solo il gruppo di Cordeirinho ha messo in tasca 500 milioni in quattro anni immagina quando ha preso il gruppo del Lupo se scopriranno quello che fu rubato negli ultimi 22 anni?".
Ma chi è il Lupo? I lettori potranno scrivere alla redazione del giornale indicando nome e cognome.
Traduzione e Note di Astrid:
1) - Cognome che significa Agnello, dunque, Cordeirinho significa Agnellino.
2) - mezza calza
3) - rami del fiume Rio Amazonas
4) - l'ex - moglie di uno dei padrini politici di Manaus
5) - grana
6) - costruzione che ha dato origine alla città di Manaus
7) - città dello stato di Roraima
8) - lett. gamella fredda: lavoratori intineranti
9) - quartiere di Manaus
10) - all'attuale cambio circa 104 milioni di dollari, però a metà degli anni 90 corrispondeva a circa 500 milioni di dollari
- Taqui pra ti è una rubrica giornalistica settimanale pubblicata sul giornale di Manaus "Diario do Amazonas"
-Il consigliere comunale Antonio Cordeiro è stato coinvolto nell'inchiesta federale sugli appalti pubblici illeciti. Lui ha costruito la sua ricchezza durante gli svariati mandati di Amazonino Mendes (in vent'anni si è alternato al potere come sindaco, governatore, senatore, ecc.). Recentemente Amazonino Mendes ha perso le elezioni comunali e la setimana scorsa a Cordeirinho è stato revocato dal Consiglio Comunale il suo mandato di Consigliere. Inoltre è stato interdetto ai pubblici uffici per otto anni.
Nota: http://www.taquiprati.com.br/ Pubblicazione su Liblab autorizzata da Ribamar Bessa