CRÔNICAS

Os bundões na História Social da Bunda

Em: 12 de Agosto de 2012 Visualizações: 37571
Os bundões na História Social da Bunda
Cara de bundão. É, essa foi a cara do advogado Marthius Lobato, quando foi questionado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa sobre a defesa do ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, que supostamente teria desviado recursos públicos para o empresário Marcos Valério. O ministro fez três indagações. Juro que pela cara do advogado, pensei que ele ia dizer: "Uso o meu direito constitucional de ficar calado".

Quando ia começar a escrever sobre os bundões, li na internet que a editora portuguesa Terramar vai lançar uma segunda edição do Breve História das Nádegas, escrito pelo historiador francês Jean-Luc Henning. Decidi, então, esperando o perdão dos leitores, recuperar com alguns retoques uma resenha que fiz, em 1995, da edição original deste livro intitulado Brève Histoire des fesses.  
Como é que alguém pode interessar-se - cientificamente, é claro - por essa parte da anatomia humana e pesquisar seriamente durante anos sobre o tema? Resolvi ler o livro - afinal, o que abunda não prejudica - para conferir o interesse acadêmico do autor.
O eminente bundólogo francês, Jean-Luc, parte de uma constatação original: "entre as 193 espécies de primatas, somente a espécie humana possui nádegas hemisféricas, carnudas, globosas e salientes sobre as quais pode sentar-se". O que chegou mais perto do homem foi o babuíno, aquele macacão de bunda vermelha exposta.
Você já havia pensado nisso, leitor (a) ? Não é surpreendente? O homem é o único animal que tem bumbum, incluindo na espécie "homo" - é claro - a mulher, graças a Deus. A bunda é, pois, um fenômeno exclusivamente humano, mais humano - imagine só! - que o próprio coração, órgão compartilhado com outros animais.
Entusiasmado - digamos assim - com a humanidade da bunda, o historiador francês prosseguiu sua pesquisa para saber desde quando o homem a carrega. "Desde que o homem é homem"- ele responde. "As nádegas datam da mais alta Antiguidade. Elas aparecem quando o homem adquire a possibilidade de ficar em pé, em posição ereta, apoiado nas patas traseiras, permanecendo nesta posição".
Confesso que isso nunca me havia passado pela cabeça. Por falar em cabeça, o bundólogo Jean-Luc faz uma revelação-bomba tão impressionante que se você estiver em pé, leitor (a) recomendo aproveitar a sua condição humana e sentar-se sobre o traseiro para não cair.
Ele afirma que "as nádegas do homem são responsáveis, em certa medida, pela origem das funções pensantes do cérebro. As nádegas, ao encontrarem definitivamente o seu lugar, permitiram ao mesmo tempo que a cabeça encontrasse o seu". Em outras palavras, sem bunda - quem diria, hein! - não haveria pensamento. Por isso é que O Pensador, do Rodin, está sentado. A lógica cartesiana baseada no "Penso, logo existo", foi antecedida por "Sento, logo penso". Acho bom a gente trocar e, em vez de  "papo cabeça", começar a falar de "papo bunda".
Ela - a bunda - tornou-se tão importante, que acabou pagando por crimes que não cometeu. Um problema nas vias respiratórias, exigindo uma injeção: onde é que a agulha vai furar? Uma operação plástica necessitando de enxerto: de onde se vai retirar o tecido? Quem recebe palmadas por erros cometidos pela cabeça e pelo coração?
Aliás, o autor do livro apresenta exemplos abundantes - desculpem o infame trocadilho ou a redundância - de como a Revolução Francesa puniu os seus opositores: ou a guilhotina cortava-lhes a cabeça ou chicotadas públicas dilaceravam-lhes o bumbum.
Sempre injustiçada, a bunda, vestida com um adjetivo, transforma-se em ofensa: "bunda mole", "bundão", "bundalelê", "bunda suja". O bundólogo Jean-Luc considera revoltante esse tipo de discriminação contra o seu objeto de estudo. Por essa razão, em seu livro, ele faz uma seleção literária de escritores e poetas que cantaram as virtudes do traseiro: Rabelais, Sade, Verlaine, Proust, Joyce e tantos outros.
No Brasil, o maior poeta de todos, Carlos Drummond de Andrade, canta os meneios das "duas luas gêmeas" num belíssimo poema:
"A bunda, que engraçada./ Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai / pela frente do corpo.
A bunda basta-se. Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos, ainda lhes falta muito que estudar".
Manuel Bandeira versejou sobre "as alvas formas de sereias, de braços nus e nádegas redondas". Cesário Verde mostrou-se maravilhado diante do sacolejo das "ancas opulentas" da amante e Jorge Amado partiu para a ignorância em Dona Flor: "Era uma bunda e tanto, das de tanajura".
Alguns leitores, é verdade, já leram antes esse texto, com ligeiras modificações. Não faz mal. Afinal, o que abunda, não prejudica. Vale a pena conferir a bíblia da bunda, reeditada pela editora portuguesa Terramar.
 P.S - Com ilustração do parceirinho Fernando Assaz Atroz.

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19 Comentário(s)

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Israel Ferreira comentou:
14/03/2013
"Já vi Bíblia de todo jeito, mas esta é sui generis: BÍBLIA DA BUNDA (coisa da lavra abundante e criativa do Mestre José Bessa):
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carlos krebs (Blog da Amazonia) comentou:
14/08/2012
Prezado, o 'babuíno' de bunda colorida é o mandri
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Vânia Novoa Tadros comentou:
13/08/2012
FUGIU DE COMENTAR O JULGAMENTO DO MENSALÃO, BABÃ?
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Roberli Ribeiro Guimarães (portalrogerioferreira.ning.com) comentou:
13/08/2012
Muito bom!!! Em tempos em que abunda informações e se explora abundantemente o corpo, nada como uma boa leitura para movimentar o pensamento...
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Eduardo Eloi V Silva (Blog Amazonia) comentou:
12/08/2012
Fora a introdução, que lembra o mensalão, aliás, parece que não esquece esse assunto, é uma sede idiota de condenação prévia das pessoas envolvidas, quando muitos ladrões estão soltos por aí, posando de arauto da decência e da honestidade. O restante do artigo é interessante.
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DONIZETI APARECIDO DE ALMEIDA (Blog Amazonia) comentou:
12/08/2012
E o pessoal do mensalão são morais e decentes???ou tambbem merecem cadeia.???
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Felipe Guedes Fernandes (Blog Amazonia) comentou:
12/08/2012
Pela resenha é fácil constatar que o livro NÂO merece ser comprado.
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Maria Cecília Fantinato (portalrogerioferreira.ning.com) comentou:
12/08/2012
Eu adorei, está realmente engraçadíssima e muito oportuna!
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Ana Stanislaw comentou:
12/08/2012
Maravilhosa!!! Obrigada, é bom começar a semana rindo e rindo a la Bessa!! rs
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Eláisa comentou:
12/08/2012
Dou minha bunda a palmadas se essa crônica não foi por falta de assunto... Mas improvisou bem. Agora, tem uma coisa que me intriga: por quê as pessoas têm mania de pedir desculpas quando fazem trocadilhos?
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José R. Bessa comentou:
12/08/2012
Elaisa, pode ir dando tua bunda à palmatória. Falta de assunto? Absolutamente não. O assunto abunda.O que não abunda é tempo. Na semana que passou, participei de um congresso internacional na UFF, de uma oficina num congresso em Itaborai, nesta semana que inicia tenho duas bancas, uma na Pós da UNIRIO na segunda (380 pgs para ler), outra na Pós da UFF na quarta-feira (320pgs pra ler), orientações de 3 doutorandos e de 2 mestrandos, correção de trabalhos no curso que dei no semestre passado na pós, ufa! Assunto abundante, mas falta de tempo para abordá-lo. Yours, sincerely.
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Marilza De Melo Foucher comentou:
12/08/2012
Bessa demais para uma bela crônica. Os domingos de Paris têm que ter um pouco de Bessa, ele me oferece a gostosura da saudade e do bom humor.
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Israel Ferreira Dos Santos comentou:
11/08/2012
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Ricardo Ribeiro comentou:
11/08/2012
Muito bom. Hormônios Bessa
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Ad Vale comentou:
11/08/2012
Criatividade à Bessa/ Mais uma deliciosa cronica. kkkkkkkkk
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Ad Vale comentou:
11/08/2012
Mais uma deliciosa crônica
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Ricardo Ribeiro comentou:
11/08/2012
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Ellias Nillo comentou:
11/08/2012
Um pouco fora da cronica do nobre professor,mas vendo a foto do Sabino de joelho e seu texto da biblia e a bunda,não resisti e criei o sábinás,a mistura de sabino com satanas..
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