Como foi possível crescer assustadoramente a população de focas e ursos polares em Nhamundakistão? Somente a História, que é a ciência do homem no tempo, pode responder a tal pergunta.
A Amazônia, ocupada pelos povos indígenas durante milênios, foi disputada no tapa por portugueses, holandeses, franceses, ingleses e espanhóis ao longo do século XVII. Os portugas, que venceram o conflito armado, abocanharam a maior parte, mas os demais estados nacionais europeus abiscoitaram, cada um, um pedaço de terra nas guianas e na Amazônia de fala espanhola, onde permanecem até hoje.
Em 1750, sobe ao trono português o rei D. José I. Seu ministro, o todo poderoso marquês de Pombal, ficou horrorizado, porque na Amazônia lusa daquela época, os índios, que não falavam o português, ainda constituíam a maioria da população. Pombal decidiu portugalizar a região. Transformou as aldeias indígenas, dirigidas pelos missionários, em vilas e povoados, ordenando que trocassem os nomes nativos por denominações portuguesas.
Desta forma, Trocano virou Borba; Mariuá passou a se chamar Barcelos; Tefé, Vila de Ega; Coari foi batizada com o nome de Alvéolos e Itacoatiara mudou para Serpa. Os índios foram também denominados com nomes cristãos: Suniá virou Lupércio, Maíra foi chamada de Petty e o bar Dessana trocou para Bar do Armando. Foi nessa época que dona Maria chegou, chegou com a mandioca, para fazer a farinha, farinha de tapioca. E para remexer, para remexer, para remexer, mexer, mexer, dessa mistura toda nasceu uma nação cabocal, formada por nós, amazonenses, e cobiçada pelo mundo inteiro.
Agora, nesse ano de 1991, uma CPI nos alerta para o perigo da internacionalização da Amazônia. Quais são as potências que querem se apoderar de nossas riquezas? Os norte-americanos, os japoneses e os europeus não são, porque eles já estão aqui dentro, com suas empresas que exploram minérios e funcionam com suas indústrias instaladas, especialmente na Zona Franca de Manaus. Quem está de fora? Quem? Quem?
Urukaratskaya
A CPI da Amazônia e os militares hiper-nacionalistas suspeitam que são os russos os que querem ocupar a Amazônia, porque eles nunca conseguiram se instalar por aqui. Já começaram, sub-repticiamente, imitando o marquês de Pombal, e trocando os nomes das cidades e das pessoas, russificando-as, conforme denúncias do deputado Atilasiev Linsky, confirmada pelo seu cupincha, o senador Russonino Mendesky, ex-governador do Estado.
A deputada Bethyuska Azizarova desconfiou da história. Ela acha que a CPI é uma enorme bobagem, que Mendev e Linsky estão querendo se promover e desviar a atenção da população. Azizarova diz que a dominação efetiva das multinacionais, que são isentas de impostos, é a principal responsável pela fome, malária, cólera e doenças que dizimam a população dos Kabokoves.
A Assembléia Legislativa do Amazonas, transformada em Soviet Supremo, se reuniu para discutir o problema. O comissário Eronildov Bezerravitch discursou, afirmando que o povo passa fome porque a troika, composta por Russonino Mendesky, Eulerovitch Ribeirov e Luizenko Fernandov Nicolaiev havia se apoderado dos rublos e kopeques dos cofres públicos.
Os kabokoves já não comem mais caviar feito de ova de tambaqui. O vinho de buritichenko, misturado com vodka, começa a escassear na mesa do pobre. A crise de abastecimento se agrava e até mesmo os supermercados fecham suas portas e decretam falência. As cuias de borchtch – o novo nome do tacacá – estão vazias.
Apavorada com as denúncias, a deputada Bethyuska Suelyev (não confundir com a outra, a inteligente Azazirova) esclareceu que a culpa de tudo isso era a superpopulação de jacarés, ursos e focas no Nhamundakistão. Jamilliev Seffairensky concordou, afirmando que em Manakapurukistão e em Urukaratskaya os ursos e jacarés estavam comendo os kabokoves a dentadas.
-São mais de 2.000.000 de ursos e jacarés – gritaram em coro os deputados Glauciev Gonçalviesky e Jersonief Teixeratzin, propondo que se abrisse a temporada de caça às duas espécies para exportar suas peles ao primeiro mundo.
Dona Elizarova, do Beco da Bostenka, comentou com sua vizinha Leonorov Tamancova: - Que vergonha! Esses deputados usam a estatística como o bêbado usa um poste de luz: como apoio para não cair e não como iluminação.
NOTA$
Didi Catitão – O país atravessa grande crise, o povo está com fome. Os jornais falam de mortes por desnutrição, malária, cólera, heptatite B. Mas nem tudo vai assim tão mal, pelo menos para o senador Carlos Alberto Di Carli, o Didi Catitão. Segundo o Jornal do Brasil, do Rio, Di Carli agora é visto exibindo suas habilidades automobilísticas em um Mercedes esporte, conversível, vermelho, no valor de R$ 190 mil dólares. A gente quer ver se na época da eleição ele vai pedir voto na Compensa, no Mauazinho e no Coroado, a bordo do seu carrão.
Maneco Ratinho – O ex-prefeito Manoel Ribeiro foi condenado pelo Tribunal de Contas do Estado a devolver um bilhão de cruzeiros (conta só os zeros, leitor: Cr$ 1.000.000.000,00) aos cofres públicos pelas mutretas praticadas no exercício de 1986. O Maneco, na maior cara de pau, respondeui: tou duro, devo não nego, pago quando puder. Por isso, o procurador-geral do município, Lino Chíxaro, botou quente. O caso vai rolar na Justiça. “Além do Manoel Ribeiro, réu principal por crime de peculato, existem as empreiteiras contratadas por eles, envolvidas na mutretagem”, disse Lino Chíxaro, revoltado porque o caso pode demorar ainda pelo menos três anos.
Ivo Choskota – Tudo bem! Perto do Maneco, os Cr$ 20.000.000, 00 (vinte milhões) que o reitor Octávio Mourão deve devolver aos cofres da Universidade Federal do Amazonas é gorjeta que o Didi Catitão dá para o lavador do seu carro importado. Neste caso, o Tribunal de Contas determinou que “os responsáveis são Octavio Hamilton Botelho Mourão (reitor) e outros”. O TCU não disse quem são esses “outros”. Será que entre eles está o seguidor do mafioso Tomazzo Buschetta, conhecido na Universidade como Ivo Choskotta?
Eulero-lero – O ex-deputado José Fernandes jura sobre a Bíblia protestante que o deputado federal Euler Ribeiro é “a figura mais brilhante da nossa representação em Brasília”. Ele diz que Euler “é persistente, cavador e uma estrela ascendente nos céus do Planalto Central”. Cavador, a gente sabe que é, por causa dos buracos que ele deixou na Secretaria de Saúde. Mas “estrela ascendente”? Eu, hein, Zé!
Demóstenes de Eirunepé - O senador Amazonino Mendes está cada dia mais atrevido. O Demóstenes de Eirunepé chegou ontem em Manaus botando a maior banca, dizendo que é ele quem vai indicar o candidato a prefeito nas próximas eleições. O nome indicado por ele é o do Lupércio. Se o governador Gilberto Mestrinho rejeitar, Amazonino jura que se apresenta como candidato.