.Quem mora em Manaus e sente, pelo menos de vez em quando, uma cosquinha cultural, tem agora a rara oportunidade para contemplar máscaras, pássaros, peixes, quelônios, insetos, sapos, cobras e outras imagens esculpidas por artistas ticuna com muita habilidade técnica e indiscutível refinamento. A arte indígena proporciona um intenso prazer e nos faz refletir sobre a vida,
Todos esses objetos de arte indígena podem ser vistos, desde ontem, no Museu Amazônico da UA, na rua Ramos Ferreira, 1036, na exposição “Esculturas Ticuna”, organizada em parceria com o Museu Magüta do Centro de Documentação e Pesquisa do Alto Solimões. Trata-se de uma homenagem da Universidade Federal do Amazonas à cultura ticuna, cujo museu foi premiado pelo ICOM – International Council of Museums e escolhido no Brasil como “Museu Símbolo de 1995”.
Por isso, uma parte da exposição apresenta o próprio Museu Magüta, com fotos e textos que contam toda a sua trajetória desde 1988, o tipo de público que o visita e o trabalho educativo desenvolvido junto às escolas de Benjamin Constant e Tabatinga, com o objetivo e tornar conhecida e respeitada a cultura ticuna pela população regional e, desta forma, promover relações saudáveis e harmoniosas dos indígenas com a sociedade envolvente.
A outra parte da exposição mostra as esculturas confeccionadas em muirapiranga – madeira de pouca porosidade que permite um acabamento refinado de cada peça, conforme informa no folder de apresentação a assessora do Magüta, Jussara Gruber. Apresenta ainda um conjunto de peças formado por bastões confeccionados em madeira leve – a balseira – e usados nos rituais de iniciação de moças e crianças, além de figuras esculpidas em caroços de tucumã ou de anajá, que servem para a fabricação de colares.
O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, no Rio de Janeiro, conhecido como Museu do Folclore e pelo menos uma instituição da Holanda, o Tropenmuseum de Amsterdam, já manifestaram a intenção de expor as esculturas, organizadas em exposição pelo tikuna Constantino Ramos Lopes, diretor o Museu Magüta, Jussara Gruber e Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, diretor do Museu Amazônico.
Segundo Jussara Gruber, o que pretende mostrar essa exposição é “uma arte que se mantém, apesar do longo tempo de contato dos Ticuna com a sociedade nacional, expressando uma grande capacidade de resistência desse povo indígena frente às imposições históricas e constituindo-se numa marca de afirmação de identidade étnica”.
Para ela, as esculturas ticuna traduzem a vitalidade e o caráter dinâmico da cultura, que se mantém e se transforma e cuja continuidade e equilíbrio decorrem das tensões entre tradição e inovação. O estilo contemporâneo da arte ticuna materializa essas tensões, enquanto revela formas e significados tradicionais, introduzindo paralelamente novas concepções estéticas, novas soluções práticas”.
Por isso, a assessora do Museu Maguta afirma que “ao abrir suas portas para os Ticuna, mais uma vez o Museu Amazônico cumpre um papel de grande significação para os povos indígenas do Amazonas: reconhecer o direito de acesso das minorias étnicas aos espaços culturais urbanos de prestígio junto à sociedade nacional, restaurando assim os valores necessários ao tratamento digno da questão indígena”.
Para nós, amazonenses – diz Geraldo Pinheiro – a grande contribuição do Museu Amazônico e do Museu Maguta, com essa exposição, é oferecer elementos para recompor a nossa própria identidade regional estilhaçada.