“O primeiro homem que comparou a mulher a uma rosa era um poeta. O segundo, um imbecil”. Bernard Shaw
Quantas vezes uma cidade foi comparada a uma mulher? Centenas? Milhares? Em 1992, em plena campanha eleitoral, num comício no Alvorada II, Josué Filho foi apoteótico. No palanque, ao lado de José Dutra, Josué - mala-sem-alça e sem rodinha – comparou Manaus a uma “noivinha de véu e grinalda, que durante as eleições procura um noivo perfeito para se casar”. Explicou que o casamento só poderia acontecer, se o pretendente fosse amigo do sogro, no caso, o então governador do Estado Gilberto Mestrinho.
Na época, esta coluna lembrou a frase do escritor irlandês Bernard Shaw discutindo a originalidade. Josué – coitado – demonstrou que é político demais para fazer literatura e “literário” demais para fazer política. Simplório, ele acaba não fazendo nem uma coisa, nem outra. Ainda bem, pois quem ganha com isso é o Amazonas: uma flor de plástico a menos na Academia de Letras, um pinguim a menos sobre a geladeira da Assembleia Legislativa.
De qualquer forma, podemos brincar de noivinha e noivinho. De saída, é bom saber que quem está procurando se casar não é a noiva. É o noivo. Aliás, oito noivos sedentos, com os bolsos cheios de camisinhas e quase todos com as cabeças voltadas para a herança da mulher. O dote da noiva é polpudo. O casamento, com comunhão de bens. Talvez por isso os pretendentes ao matrimônio estejam escondendo o patrimônio. Na declaração de bens que fizeram, deixaram de fora muitas propriedades.
Quem será o noivo perfeito ou, melhor dito, o novo prefeito? Como votar corretamente? Muita gente acha que o candidato ideal é aquele que apresenta com credibilidade o melhor programa de governo e demonstra capacidade de executá-lo, em função de sua história de vida. Outros pensam que é aquele abençoado pelos astros.
É bom lembrar que quem tem grana pode pagar pela redação de um programa. História de vida? É como o uísque paraguaio ou o diploma do “Alferes” Ronaldo Tiradentes: fácil de falsificar. Quanto aos astros, eles estão em cima do muro, para eles “ninguém sairá perdendo” como revelou o astrólogo argentino Oscar Quiroga.
Por isso, numa contribuição à educação política dos (e) leitores, apresentamos o Teste Taquiprati, que deve revelar o perfil dos pretendentes. Desta forma, o eleitor fará a sua escolha consciente, sabendo a barra que a noivinha vai enfrentar nos próximos quatro anos, quando poderá então se divorciar ou continuar casada.
Os oito noivos acham que possuem as mesmas qualidades do cachorro do ministro do Trabalho, Antônio Magri: são “pessoas humanas”. Por isso, o teste centra seu foco sobre as qualidades humanas dos candidatos, medindo-as através da seguinte prova: coloca-se cada um deles para ver a telenovela “O Rei do Gado” e observa-se suas reações no momento da exibição de duas cenas: uma em preto-e-branco que aparece com frequência em flash-back na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Num campo de trigo, a italiana Gemma beija o pracinha brasileiro Bruno Berdinazzi, que vai morrer. Ao fundo, a voz tonitruante de Vicente Celestino arrebenta os tímpanos:
- Braziliaaaaano, io te voglio tanto bene...
A outra cena é no Brasil: o beijo da bela Luana Sem-Terra (Patrícia Pillar) no Bruno Mezenga (Antônio Fagundes). Confesso que cada vez que vejo uma das duas cenas, o meu lado chorão Dile-minha-filha explode. Conheço um médico de Manaus, filho de italianos, que nunca viu um episódio completo, porque as lágrimas não deixam. Trata-se, portanto, do teste ideal para medir o grau de emoção e sensibilidade dos candidato.
Aplicamos o teste. O resultado foi surpreendente.
Alfredo Nascimento (PPB – vixe, vixe) – Parece que telenovela é atividade excessivamente intelectual para a patente do Cabo Pereira. Ele olhou as cenas, riu e falou dos seus planos. Prometeu levar a noivinha até Veneza para passear no metrô de superfície, com catraias em forma de gôndolas singrando os igarapés. Jurou que construiria casas para seus parentes. Mentiu pra cacete. Sequer preocupou-se em namorá-la, porque acredita que ela será obrigada a casar com quem mandar Amazonino Mendes, o pai dela. Por isso, puxa o saco do futuro sogro, para quem descasca tucumãs, e obedece-o cegamente. Graça Pupunha, a ecológica, namorada de J. Eckner e de 10 mil funcionários demitidos, vaiaram o pai da noiva no Olímpico Clube, assim como seu vice Omar Aziz (PPB vixe vixe) que não fede nem cheira.
Na ocasião, o Cabo, embargado pela emoção disse: “Olha só como nos aplaudem”. Suspeitou-se de síndrome da “Anta Louca” ou do “Jegue Doido”. Submetido a exame antidoping, verificou-se alta concentração de tucupi no cérebro do Cabo Pereira. Ele andou tomando tacacá em excesso para fingir uma identidade amazônica que não possui. Seu organismo, então, rejeitou o jambu e sofreu um choque anafilático.
Gilberto Mestrinho (PMDB, vixe) – O Boto é um artista. O mestre da dissimulação. Olhou a cena da bela Luana e com um lenço limpou o que tanto poderia ser um cisco no olho como uma lágrima furtiva, dependendo do gosto do freguês. Pranto de emoção com a cena da TV? De tristeza por não ter casa própria? De inveja querendo o lugar do Bruno Mezenga? Ou de desgosto porque foi ele, o Boto, quem inventou Amazonino, o atual pai da noiva. Agora parece difícil desinventá-lo. De qualquer forma, pesquisas entre familiares confirmam: para não ser estuprada pelo Cabo, a noiva é capaz de ir até a porta da igreja, no segundo turno, com o Boto, tendo Lucimar Mamão como dama de honra e Pachequinho como pajem.
Evandro Carreira (PMN, vixe Maria) – Gente, a cena nem havia começado e o Maninho já estava debulhado em lágrimas. Chorou. Chorou e chorou. Chorou rios, cachoeiras e cascatas, formando uma imponente pororoca e um igarapé, onde ele colocou os meninos de rua para tomar banho, livrando-os assim de cheirar cola. Uns dizem, no entanto, que o motivo do choro foi arrependimento por haver seduzido outra noiva, menor de idade. Outros juram que ele chorou porque sua camionete Pick-Up, vendida ao Nonato Oliveira pelo valor declarado de 167 reais, foi paga com cheque. Com um cheque, gente! Do Nonato, gente! Merece mesmo um lencinho para enxugar suas lágrimas. No entanto, foi reprovado no teste, porque nem se lembrava mais da cena do beijo.
Nonato Oliveira (PDT, em aliança com o PT local) – Viu, compungido, a cena da TV. Consultou seu vice João Pedro Gonçalves da Costa: “Companheiro, choro ou rio”. João Pedro respondeu: - “Vamos consultar as bases, mas por favor, evite me chamar de companheiro”. As bases, insatisfeitas, porque a aliança feita pelo próprio Nonato não entra no dedo da nubente, estavam cantando “A Noiva” de Antonio Prieto:
.... Era outro o amo que ela queriiiiiaaaaaaaaaa!
Enquanto rolavam reuniões, assembleias e questões de ordem, a cena da novela acabou. Nonato perdeu o teste. Dificilmente subirá ao altar pelo corredor da igreja. A questão não é política, é teológica.
Serafim Corrêa (PSB coligado ao PCdoB - Quem viu Serafim assistir as cenas da telenovela, garante que seu pranto foi sentido e sincero. Ele estava mesmo comovido com a cena em que Gemma beija o pracinha brasileiro? Com a Luana nos braços do Mezenga? Ou inconformado porque a Noiva Manaus está embeiçada por ele, Serafim, mas o pai dela, a família, os vizinhos, não aprovam a união? Até um dos padrinhos duvida que seu afilhado suba mesmo ao altar. Se conseguir convencê-los - quem sabe? – arrisca ir até a porta da igreja, seguido por Vanessa como dama-de-honra e do Eronildo como pajem.
Cândido Honório – (PTdoB – o que que é isso?) – Filho de peixe, Candinho é. A genética não nega fogo. O seu pai, o saudoso e honrado Candoca, tinha uma grande qualidade: era um namorador contumaz. Que o digam os moradores de Coari, onde ele exerceu o cargo de juiz por muitos anos. Submetido ao teste, o primeiro pensamento de Candinho Jr. ao ver a Gemma e depois a Luana foi: “Nossa! Como elas são gostosinhas!!!” Imaginou-se, então, no lugar do Antônio Fagundes e depois fazendo um omelete com a Gemma. Mas devido à sua formação religiosa, controlou seus pensamentos, esquecendo-se, no entanto, de chorar. Nem sequer arrepiou os cabelos do braço. Reprovado no teste.
Danizio Valente (PRTB – what is this?) – O coronel recusou se submeter ao teste, porque odeia “O Rei do Gado”. Sua novela preferida é “Antônio Alves, Taxista”. Ele aprende muito com a filosofia do Tony, personagem vivido por Fábio Jr. Seria capaz de fazer mal a moça para se casar na Polícia?
Irineia Vieira (PSTU) – Como a direção nacional do Partido em São Paulo condena manipulações ideológicas da indústria cultural, a candidata não pingou uma mísera lágrima, apesar de se emocionar muito com a cena amorosa. Engoliu o choro, mas simpatizou com a bela Luana Sem-Terra. Não tem qualquer chance de casar com Manaus, porque não tem aliança. Honesta e combativa, seria uma excelente dama-de-honra ao lado da Vanessa Grazziotin. Denunciou este teste por explorar tema romântico pequeno-burguês em vez de aproveitar a discussão sobre os sem-terra, que é politicamente mais correta.
P.S. – Minha total solidariedade aos colegas repórteres de vários jornais que foram brutalmente espancados sábado no Vivaldão durante o jogo Vasco e Flamengo. Meu repúdio à atuação da polícia estimulada pelo discurso nazifascista do Secretário de Segurança Klinger Costa. Esse espanca diariamente a noivinha Manaus.