CRÔNICAS

As ruas de Manaus

Em: 04 de Agosto de 1996 Visualizações: 5161
As ruas de Manaus

“No beco do ‘Pau-não-cessa’ / há muito que o pau cessou

 já nem se lembra a polícia / do tempo que o visitou”.  

(Luiz Bacellar – Frauta de Barro, 1963)

Uma lei municipal acaba de mudar o nome de mais de 3.700 ruas de Manaus, que eram denominadas com nomes de pessoas vivas, letras, números, palavras esdrúxulas ou denominações repetidas.

No bairro de Aparecida, há muito tempo o legislador já havia trocado nomes estranhos. O Beco da Bosta mudou para Rua Carolina das Neves, em memória da proprietária de alguns barracos, de nacionalidade portuguesa, já falecida. Lá no Beco Pau-Não-Cessa, onde as brigas há muito deixaram de existir, como canta o nosso bardo maior, o seu Bento montou uma fábrica de cachaça e surgiu a denominação mais apropriada de Beco da Indústria.

Alguns becos tiveram um up-grade. O Beco da Dica, que desagua na Rua Leonardo Malcher,  foi elevado à categoria de Rua, mas continua sendo da Dica. Lá você não encontra nenhuma “sugestão”. Dica aqui não é “dica”, mas apelido de alguma Raimunda caridosa que, como qualquer Raimunda, segundo o dito popular, é sempre boa de coração.

Outro que subiu de categoria foi o Beco do Normando, no bairro adversário dos Bucheiros, agora Rua Normando. Duas alterações interessantes foram feitas: o Beco São Francisco atinge o status de Travessa Francisco Beleléu, suponho que em homenagem ao grande craque de futebol que nos alegrou na década de 50 com seus gols; a Rua Vista Alegre fica conhecida a partir de agora pelo merecido nome de Rua Kid Queiroz, ainda que seria mais justo chamá-la de Pedro-Paulo-Kid, os três irmãos sempre unidos do São Raimundo, que moravam em três casas gêmeas voltadas para o igarapé.

Em São Jorge, a Liberdade deixa de ser uma rua para constituir-se em travessa. A Rua da Mucura passa a ser Estrela Dalva e a Rua Pico das Águas vira Rua Joana Galante, esperando-se que o juiz Lafayette não processe o autor da mudança, como já o fez com o jornalista Mário Adolpho que se fez gozação com a Casa da Mãe Joana em que se transformou o Poder Judiciário.

Em Flores, a pornográfica Avenida Penetração I e II transforma-se em Av. Edmundo Soares. A Passagem São Geraldo, no bairro do mesmo nome, perdeu denominação tão singela e ganhou em troca o nome raro de Beco Jarlece Zaranza, em homenagem a uma professora.

Engana-se, no entanto, quem achar que mudar o nome de rua significa mudança de sua situação. Nenhum filme será rodado no ex-Beco Japurá só porque trocou para Beco Gary Cooper. A ciência não vai florescer da noite para o dia no antigo Beco Ipixuna porque agora é Beco Francis Bacon. E o famoso Buraco do Pinto não terá sua cavidade aterrada, nem se transformará num galinheiro, por deixar de ser buraco e passar a ser Beco dos Pintos no plural.

Não é só nome de rua que não deve repetir. Homônimos deviam ser proibidos para evitar confusão. Tem o nosso Arlindo Porto, que compartilha o nome com o ministro da Agricultura. José Dutra, o nosso “how dou you do Dutra”, divide o nome de batismo com um senador petista do Nordeste. Tem um xará do PC Farias loteando Manaus e há quem jure existir em Salvador, na Baixa do Sapateiro, um negão alfaiate chamado Expedito Theodoro, o colunável de Manaus.  

A mudança de nomes originou um rolo enorme para os Correios e para o Poder Judiciário, que não conseguiu notificar ou intimar pessoas e instituições registradas nos autos em endereços antigos.

P.S. - Lei 343/96 | Lei nº 343, de 12 de junho de 1996 assinada pelo prefeito Eduardo Braga define nova denominação dos logradouros públicos da cidade de Manaus, dispõe sobre sua identificação, e dá outras providências. Define ainda o que é beco, travessa, rua, avenida, Alameda, estrada e rodovia.

IPVA – IMPOSTO DO ALFREDO

Ela é proprietária de um carro Tipo, ano 1994. Devia pagar de IPVA a cota única de R$ 550,90, mais o seguro e outras taxas, totalizando R$ 645,72. Não pagou. Quando procurou o Detran para regularizar a situação, descobriu horrorizada que a cota única havia pulado para R$723,28, mais o seguro e outras taxas num total de R$ 828,23. Na virada do mês, houve aumento de 31%. Indignada, ela me envia por fax cópias dos comprovantes. “Isso é agiotagem da grossa. É um roubo. Tenho a sensação de que estou, sem querer, financiando a campanha do Alfrado Nascimento”. Pior que tá. Voce sabe o que significa IPVA? Imposto Para a Vitória do Alfredo. O fax termina com a pergunta: “Algum candidato de oposição vai fazer alguma coisa contra esse roubo?”Sei lá, maninha. Pergunta deles. De qualquer forma conta com minha solidariedade.

PILULINHAS

  • Em verdade em verdade vos digo, alguns políticos barés são tão bacabeiros, que não temem sequer se expor ao ridículo. Deslumbrados, desovam notinhas nas colunas dos jornais para anunciar uma intimidade – que não possuem – com a alta cúpula de Brasília, fingindo que são bem articulados politicamente. Eles pensam que nós, leitores, somos burros. Será que alguém alfabetizado e bem informado se deixa impressionar por esse alpinismo provinciano? Qual o discurso decisivo que fizeram?

O Euler Ribeiro a-do-ra corredor de ministério. É psicológico. Várias vezes quase foi nomeado ministro da saúde. O cargo é federal, mas a candidatura de Eules só apareceu na imprensa local. Nenhum outro jornal fora de Manaus – NENHUM – tocou no seu nome. Pauderney Avelino é outro que jura bater longos papos com o FHC. O presidente lhe faz confidência”

- “O Nando me disse: olha, Pau, estou pensando...”.

Já o Atila Tribulins Nunes não troca nada por uma recepção em embaixada. Vejam o que eles disseram à imprensa local na semana que passou:

  • Pauderney – “Em conversa com o presidente Fernando Henrique, ele me garantiu ontem que manterá os benefícios fiscais da Zona Franca até o ano 2013”.

Foi mesmo, Pau? O Nando te disse isso, rapaz! Não me diga! Jura! Puxa vida! Que alívio! Muita gente não conseguia dormir preocupada com os destinos da Zona Franca. Agora, todo mundo ficou tranquilo porque – reparem bem! – não foi para qualquer um que o presidente garantiu. Foi para o Pauderney. A Zona Franca está salva. É certo que o leitor desconfiando pode argumentar: E daí, Paumandado? O Zagallo também garantiu que traria a medalha de ouro. Quem nos garante que em 2013 o FHC ainda estará vivo? E se estiver, que condições terá para assumir qualquer compromisso? Ainda mais com o ilustro Pauderney.

  • Euler Ribeiro – O ministro Adib Jatene me elogiou por haver votado a favor da CPMF: o ofício que ele mandou está aqui” – repetia Euler com as mãos trêmulas segurando um papel.

Nossa mãe! Euler anda tão carente depois que traiu o PMDB e foi para o PFL – afinal a diferença é só de sigla – que deu tanta importância à porcaria de um ofício. Andou com ele no bolso do paletó, exibindo para todos os jornais de Manaus com a maior alegria, parecia pinto no lixo. Para o Euler, receber um ofício do ministro Jatene é a suprema gló-ó-ó-ó-ria. Achava, tadinho, que era uma correspondência pessoal dirigida apenas a ele. Tratava-se de um ofício circular enviado a todos os deputados que votaram a favor do novo imposto.

  • Átila Lins – O embaixador inglês Keith Haskell me garantiu que com a instalação da Samsung na Zona Franca, a Escola Inglesa vai funcionar em Manaus. Além dos filhos de diretores e altos funcionários da empresa, qualquer um poderá se inscrever na escola”.

Conversa fiada! Lero-lero! “Qualquer um” está morrendo de fome, não tem grana nem para manter o filho em escola pública, quanto mais para pagar escola tão cara. Só mesmo o dono de um Tribulins, que pode dar emprego bem reumerado para todas as crianças da família, tem condições de bancar as mensalidades.

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