CRÔNICAS

Os ovos do Melo: o Omelete

Em: 17 de Dezembro de 1996 Visualizações: 9551
Os ovos do Melo: o Omelete

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Segundo o humorista Stanislaw Ponte Preta, que adorava um bom bife a cavalo, “não há comida que não possa  ser melhorada com o acompanhamento de um ovo frito ou  uma farofa de ovo”. Presença obrigatória em muitas sobremesas - tortas, bolos, quindins, ambrosia, chuvisco, papo de anjo - o ovo é, de longe, considerado como o alimento mais completo, não apenas pela sua variedade gastronômica, mas pelo seu alto valor nutritivo. 
Por essa razão, o governo federal decidiu incluí-lo no cardápio da merenda escolar em todo o Brasil. A Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) liberou uma nota preta para os governos estaduais comprarem gêneros alimentícios, entre os quais, o ovo. No  Amazonas,  centenas de milhares de ovos foram comprados, mas desapareceram. Agora, todo mundo se pergunta: cadê os ovos da merenda escolar?
O deputado Luis Fernando Nicolau (PSDB) começou a procurá-los desde o ano passado. Não os encontrou. Desconfiado, denunciou, então, o desvio dos ovos, juntamente com duas mil toneladas da merenda escolar, no valor de R$ 6 milhões, o equivalente a 215 caminhões entupigaitados de alimento. Acusou diretamente o governador Amazonino e seu secretário de educação, José Melo, como responsáveis pelo desfalque. Um escândalo!!! (com direito a vários pontos de exclamação).
O Tribunal de Contas da União (TCU) acolheu a denúncia do deputado e decidiu procurar os ovos. Durante várias semanas, seus auditores examinaram toda a papelada da SEDUC - notas de empenho, notas fiscais - e comprovaram que os ovos foram efetivamente comprados. Mas não eram ovos normais. A poedeira foi, certamente, a galinha dos ovos de ouro. Daí porque a SEDUC pagou por eles um preço muito superior aos valores do mercado.

Ovo no da galinha
Os fiscais do TCU imaginaram que ovos superfaturados devem ser hipernutritivos. Foram, então, visitar as escolas do Amazonas, na hora do recreio, para verificar se a molecada estava ficando mesmo taluda, comendo alimento tão caro. Chegando lá, constataram que as crianças subnutridas não tinham o que merendar e estavam morrendo de fome.
Onde estavam, então, esses benditos ovos superfaturados? Será que, chocados, viraram pintos? Já que as empresas fornecedoras eram os fiéis depositários das mercadorias, os fiscais do TCU fizeram uma visita de surpresa aos seus depósitos, procurando ovos ou - vá lá que seja - pintos. Chocados ficaram eles, porque lá também nada encontraram.
- Vai ver, os ovos não foram entregues, porque o pagamento ainda não foi efetuado - pensaram os auditores do TCU. Examinaram mais papéis e descobriram, estarrecidos, que muitos alimentos, incluindo ovos e suco concentrado que nunca chegaram aos estudantes, foram pagos  antecipadamente,  numa evidência de que os fornecedores da SEDUC nunca correram riscos, quando contaram com o ovo - digamos assim, com elegância - no útero da galinha.
Depois de todas essas investigações, o TCU concluiu que o superfaturamento na compra de alimentos com recursos do governo federal ocorreu nas administrações do ex-secretário de Educação Manoel Veríssimo e na do atual, José Melo. Portanto, os dois sabem onde estão os ovos da merenda escolar.  
Numa entrevista aos jornais, Zé Melo foi logo tirando o loló da seringa. Confessou haver comprado suco regional de uma empresa local. Quanto aos ovos, culpou o seu antecessor:
-  “Nunca comprei um ovo sequer nesta administração. Este gênero não consta da pauta de merenda escolar da secretaria” - disse. Acrescentou que quem comprou ovos foi a administração passada do Manoel Veríssimo. Informou que sobraram algumas formas de ovos estocadas no galpão da SEDUC, que não dispõe de câmaras frigoríficas para armazenar produtos perecíveis, sugerindo desta maneira que os ovos podem ter gorado, apodrecido.
Os esclarecimentos de Melo, como os seus ovos, não são visíveis a olho nu. Não convenceram o TCU. Na semana passada, o Tribunal se reuniu em sessão extraordinária, acompanhada pelos ouvidos atentos de Sérgio Bártholo, competente repórter da Sucursal de A Crítica, em Brasília.  No seu voto, o ministro relator do processo, Paulo Afonso Martins de Oliveira disse que “as justificativas apresentadas pelos responsáveis não foram consideradas procedentes”, porque “não coincidem com os fatos apurados pela equipe nem com a documentação analisada”.
Qui vole un oeuf
Ao contrário do ovo de Colombo, que conseguiu ficar ereto, em posição vertical, os ovos do Melo e do Veríssimo não ficam em pé. Não se sustentam. Por isso, o TCU citou os dois para que apresentem defesa consistente e digam, afinal, onde estão os ovos da merenda escolar. Do contrário, serão obrigados a devolver aos cofres da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) a grana usada para compra de gêneros alimentícios - ovos e suco concentrado - que não foram distribuídos à rede escolar ou que foram superfaturados.
A merenda escolar, no Amazonas, não alimenta os estudantes, mas enriquece muita gente. Para alguns, tem sido uma galinha de ovos de ouro. O deputado Luiz Fernando Nicolau acertou-lhe o primeiro tiro, de raspão. Ela cacarejou. Agora, bendito seja o TCU e o ministro Paulo Martins de Oliveira que torceram seu pescoço. Dessa forma, quem sabe, as crianças poderão de hoje em diante comer ovos e galinha ao molho pardo. 
Sente-se, no ar, cheiro de ovo podre. Os franceses têm um provérbio que diz: “Qui vole un oeuf, vole un boeuf”. Ou seja, quem rouba um ovo, rouba um boi, assalta um banco, faz o diabo. O que acontece com aquele que rouba comida da boca de crianças carentes e subnutridas? Em nota oficial, José Melo de Oliveira garante, com a maior cara-de-pau:
- “Tenho plena certeza que (...) os verdadeiros culpados serão responsabilizados”.
Você tem a mesma certeza, leitor (a)? Quanto aos ovos invisíveis, superfaturados, pagos antecipadamente, parece que viraram omelete. Se isto realmente aconteceu, acabamos de descobrir involuntariamente, por caminhos tortuosos, a origem da palavra omelete, a sua verdadeira raiz.  Etimologicamente, omelete significa fritada de ovos batidos pelo Melo. O Melo, no caso, é o José, secretário de Educação, aquele que faz omelete sem quebrar os ovos. E “batidos”, aqui, pode estar sendo usado no sentido de “surrupiados”, se for mesmo confirmada a grave denúncia sobre o desvio da merenda escolar.
P.S. 1 - As jararacas continuam de greve, mas a “Estepe de Jararaca”, uma quase-irmã, tem alimentado esta coluna com informações quentíssimas, com a mesma generosidade com que vem ajudando o Natal dos Pobres da Paróquia de Aparecida.
 
 
 

 

 

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1 Comentário(s)

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Fabricio Menezes (Diario on line) comentou:
26/07/2010
Rapaz..esta do ZE MELO eu não sabia. O que dirá agora que ele vai ser VICE-ATIVO do governo se o OMAR ganhar…
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