Tribumelo. Quem sabe que diabo é tribumelo! Sai perguntando por ai:
- Você sabe o que é tribumelo?.
Consultei advogados e juízes, ginecologistas e obstetras, urologistas e mastologistas, filósofos e etnólogos, astrólogos e cartomantes. Ninguém conhece. Procurei em enciclopédias, bibliotecas e arquivos. Nada. Pesquisei na internet. Necas de pitibiribas!
Até mesmo São Google, que dá conta de tudo o que acontece no mundo, jamais ouviu tal palavra. Insisti, clicando em ‘pesquisa avançada’. Aí, o Google, embasbacado e confuso, tentou me enrolar:
- Você quis dizer Tribunal.
Égua! Eu não! O que eu quis dizer foi isso mesmo: tribumelo, palavra sonora que rima com caramelo verde-amarelo. Esse Google sempre disfarça sua ignorância, dizendo que a gente digitou errado.
Decepcionado, interroguei, então, Cirilo Anunciação, comandante do Diário do Amazonas, já que esse foi o único jornal que registrou a palavra. Ele foi sincero:
– Rapaz, eu não sei não, mas vou perguntar ao papai. O velho sabe tudo da vida e do mundo.
Consultou o Batará:
- Bença, pai. O que é tribumelo?.
Batará, misterioso e enigmático, abençoou:
- Meu filho, dinheiro não agüenta desaforo. Ninguém pode comer como pinto e defecar como pato. Só o pai do samba pode matar a charada.
Pingo pingando
Quem é o pai do samba? É o jongo, um ritmo ancestral trazido da África pelos negros bantos. Segui a indicação. Procurei o jongo. Foi por isso que ontem subi as ladeiras do Morro da Serrinha, em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, onde Tia Maria, uma negona linda, de quase 80 anos, comanda os cantos e danças do jongo, cantando ‘pontos’, carregados de poesia e sabedoria. O ‘ponto’ é improvisado numa linguagem que troca o sentido das palavras. É preciso ‘desatar o ponto’, isto é, decifrá-lo.
- Tia Maria, o que significa tribumelo?
Com grande agilidade mental, ela cantou em linguagem cifrada um ‘ponto’ improvisado pela Vovó Maria Joana Rezadeira:
- Pingo pingo está pingando, melo mello está mamando, mango mango está mangando.
Vendo que eu continuava atônito, aconselhou generosamente:
- Você só desata esse ‘ponto’ se usar a chave do tribulins para abrir a porta do tribumelo.
Corri para o Google. Digitei com ansiedade: “Tribulins”. Apareceram 109 entradas, uma delas de uma revista americana de neurotoxicologia, ensinando, em linguagem tão enigmática quanto os ‘pontos’ do jongo, que ‘tribulin’, no singular, é o nome dado a uma família de substâncias endógenas não pepitídicas que inibem a monoaminoxidase e a ligação benzoaepínica. É largamente distribuída em sistemas mamários.
Fiquei abestalhado, por desconhecer o significado de ‘pepitídica’, ‘monoaminoxidase’ e ‘benzoaepínica’. Concentrei-me, então, na única coisa que entendi: o “sistema mamário”. Ou seja, ‘tribulins’ é algo que deve estar relacionado com ‘mamar’. Isso me permitirá ‘desatar o nó desse ponto’ – pensei. Parti em busca do sistema mamário do tribulins. E aí encontrei vasta literatura em blogs e jornais (Ver Taquiprati, O Malfazejo, Blog do Holanda, Maskate e até Notícias da Bahia).
Melo mamando
Tribulins, na realidade, é o nome do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) do Amazonas, que ganhou esse nome em 1994, quando dois excelentes repórteres – Sérgio Bártholo e Ivânia Vieira – publicaram a lista com a folha de pagamentos da instituição. Eles descobriram que a família Lins Albuquerque – comandada pelos irmãos Metralha Átila Lins (PMDB – viche, viche!), Belão Lins (PMDB – berk, berk!) e José Lins – era a dona do Tribunal.
A lista provava que 47 Lins mamavam, sem concurso, nas tetas do TCM: cunhados, genros, sogros e sogras, sobrinhos, tios, primos, irmãs, empregadas domésticas e todos os xerimbabos, incluindo até o comandante da lancha particular de um conselheiro aposentado, o noivo da filha de um outro, todos ganhando polpudos salários, sem trabalhar. Um escárnio. Até crianças apareciam como procuradores e auditores, com salários estratosféricos, mostrando que desde bebezinho um Lins já é treinado para mamar nos cofres públicos.
Foi por isso que o deputado estadual Sebastião Nunes (PT) decidiu, em 1994, fazer uma mastectomia, extirpando as tetas onde os Lins sugavam as energias e o trabalho dos amazonenses. A Constituição Federal de 1988 já havia proibido a criação de novos TCMs, mantendo apenas os que já existiam, como o do Amazonas. Sebastião Nunes apresentou uma emenda à Constituição Estadual, propondo a extinção do Tribulins. Diante do escândalo e da indignação da sociedade local, a emenda foi aprovada. O Tribulins foi extinto.
Mango mangando
Agora, o Diário do Amazonas noticia que o governador Eduardo Braga (PMDB – berk, viche!) – o Dudu emedalhado – mandou realizar estudos para ressuscitar o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), alegando que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) não está dando conta dos milhares de processos lá acumulados. Trata-se, na realidade, de proporcionar sinecuras para os seus cupinchas.
Desta vez, o ex-Tribulins vai abrigar um montão de Melo e de Mello, embora não sejam aparentados entre si. O conselheiro principal será José Melo de Oliveira, atual Secretário do Governo do Estado, ex-dedoduro da Assessoria Especial de Segurança e Informação (AESI) da Universidade Federal do Amazonas. A diretora presidente do Detran, Mônica Melo Disque-Pileque, e Mário Melo, chefe da Representação do Amazonas em Brasília, são os outros dois nomes cotados para o Tribumelo.
Ora, como a Constituição Federal vigente proíbe a criação de novos TCMs, a constitucionalidade da proposta está sendo questionada. “Recriá-lo seria um imenso retrocesso”, declarou o vice-presidente da Associação dos Magistrados do Amazonas, Cássio Borges. O deputado federal Francisco Praciano (PT/AM) requereu regime de urgência no trâmite da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de Luiza Erundina (PSB/SP) para extinguir todos os tribulins e tribumelos do Brasil.
Fica, portanto, ‘desatado o ponto’. “Mamãe, eu quero tribumelo” significa “mamãe, eu quero mamar”. Pingo pingo está pingando é o ponteiro do relógio andando, ou seja, o tempo passou. Mas Melo Mello está mamando quer dizer que eles, os Melo Mello, querem defecar como pato e, para isso, recriam a mamata para deixarem de comer como pinto. Mango mango está mangando somos nós, a quem debochar é a alternativa para manifestar o ‘orgulho de ser amazonense’, conforme apregoado em propaganda milionária do governo estadual, espalhada por toda a cidade de Manaus.