CRÔNICAS

Takiprati expõe atentado ao ministro da Justiça

Em: 04 de Março de 1997 Visualizações: 7617
Takiprati expõe atentado ao ministro da Justiça
Tira do guarda-roupa o paletó com cheiro de naftalina. Troca tua sandália por um sapato. Passa um pente nesse cabelo, porque hoje, às 17h00, tu, leitor, com certeza estarás entrando conosco no Gabinete do Ministério da Justiça, em Brasília, se for confirmada a audiência marcada pelo deputado federal Artur Virgílio Neto, com o ministro Milton Seligman, substituto de Nelson Jobim.  
Diversas entidades, sindicatos, partidos de oposição no Amazonas que te representam e algumas de suas lideranças nacionais foram convocados para este encontro, entre outros os deputados Marcelo Deda, Arlindo Chinaglia, Geraldo Pastana e o senador Jefferson Peres. Te apressa, ajeita o nó da gravata e vem com a gente. Não dá bandeira. Finge, como eu, que estás acostumado a bater papo com autoridades do primeiro escalão.
O que queres dizer ao ministro da Justiça? Anda, fala. Ele vai ouvir tudo aquilo que está entalado em tua garganta. Nós vamos contar-lhe que querem cassar, através da violência, o teu direito à informação. Que tentam impedir o debate e a circulação livre de ideias no Amazonas. Que jornalistas que criticam as autoridades estaduais são ameaçados e espancados. Que pretendem instalar o império do medo, intimidando os formadores de opinião. Que o modelo político proposto é o do terror e da impunidade.
Denunciaremos a escalada de fatos criminosos ocorridos recentemente no Amazonas, colocando em perigo a liberdade de imprensa. Informaremos sobre a agressão à jornalista Beth Azize, as ameaças a Paulo Figueiredo, as intimidações ao Jornal do Norte e o atentado contra este colunista. Descreveremos a reação firme da sociedade amazonense contra esses atos de banditismo.
O ministro da Justiça, consciente de que os governadores são os guardiães da lei e da ordem, pode muito bem perguntar:
- O governador do Amazonas sabe disso? Quais as providências que ele tomou?
Nós trocaremos entre nós, leitor, um olhar significativo. Mostraremos, então, ao ministro os jornais locais. Neles aparecem as declarações de Amazonino, classificando como “agressão” as críticas feitas a ele e a seus auxiliares e considerando como merecido “troco” a porrada anônima e covarde dada em jornalista. Antes mesmo das investigações, o governador concluiu apressadamente que vai ser difícil encontrar os mandantes do crime.
Pediremos ao ministro a aplicação da lei sobre os responsáveis, cujos nomes são conhecidos no caso das agressões a Beth Azize, Paulo Figueiredo e Jornal do Norte: os irmãos Ronaldo e Robson Tiradentes, pertencentes à organização do governador Amazonino Mendes.
QUEM MANDOU
No caso do atentado a este colunista, diremos que os mandantes anônimos ainda não foram identificados, mas que a investigação policial prossegue firme, sobretudo depois da cobrança feita por parlamentares amazonenses, que enviaram telegramas ao governador do Rio de Janeiro. A UERJ também acompanha as sindicâncias, como demonstra o seguinte documento, assinado pelo reitor e por inúmeros professores e servidores:
Ilmo. Sr. Delegado da 77º Delegacia de Polícia de Icarai - Niterói
A propósito do atentado sofrido pelo professor José Ribamar Bessa, no dia 19 de janeiro de 1997, na fila da Padaria Beira-Mar, em Icarai, nós, docentes e funcionários da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, prestamos às autoridades judiciais e policiais, as seguintes informações:
1. O professor em tela, estudioso pesquisador da questão indígena, é Coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas do Departamento de Extensão. Este Programa é um dos núcleos de maior relevância da UERJ, dado o seu ineditismo e graças ao permanente e dedicado trabalho do professor Bessa e sua equipe.
2. Desconhecemos qualquer fato que desabone a conduta do professor Bessa, pessoa tranqüila, amiga, solidária, cujo comportamento retrata o homem de bom caráter, com quem convivemos no trabalho cotidiano.
3. Neste sentido, estamos atentos ao desenrolar das investigações, esperando que a polícia de Niterói dê proteção de vida ao nosso professor e cidadão, cuja vida só nos orgulha como brasileiros, a fim de que as ameaças e a agressão covarde como a de que ele foi vítima possam ser esclarecida, e punidos os culpados.
Certos da eficiência dos profissionais da Justiça desse município, atenciosamente subscrevemo-nos”.
A BICA
Cerca de 400 pessoas, entre os quais inúmeros professores, alunos e ex-alunos da Universidade do Amazonas compareceram ao ato em defesa da liberdade de imprensa no Amazonas, organizado pela Banda Independente Confraria do Armando, no último dia 28, coincidindo com o aniversário do português Armando Soares, que este ano ganhou coloração política.
As baterias das escolas de samba Reino Unido da Liberdade e Vitória Régia executaram as últimas marchinhas da BICA, dando o toque carnavalesco e irreverente ao ato. Vários artistas apresentaram suas músicas, cantando a liberdade, entre os quais Lucinha Cabral, Neto, Macca, Guto Rodrigues, Júlio Recinos e Marcelo.
Em nome da BICA e de seus frequentadores, falou o jornalista Deocleciano Bentes de Souza, que é também dirigente sindical da categoria: “Querem calar os jornalistas para implantar a tirania no Amazonas”, protestou.
Presentes personalidades representativas de diferentes setores da sociedade amazonense: os jornalistas Orlando Farias e Carlos Martins, Manoel Lima, acompanhado por índios e membros do COIAB, Jersey Nazareno, Rosângela Alanis, Humberto Amorim, Carlos Lima; os médicos José Maria Santana, Rogélio Casado, Nelson Barbosa, Henrique Melo e Socorro Salazar; os advogados Alberto Simonetti Filho, Félix Valois, José Klein, Eduardo Tupinambá e Lino Chíxaro; os juízes Anselmo Chixaro, Jackson Andrade e Jomar Fernandes; o promotor Francisco Cruz; os artistas Simão Pessoa, Marcos Gomes, Arnaldo Garcez e Luiza Damasceno, entre muitos outros. 

P.S. Tira do guarda-roupa o paletó com cheiro de naftalina. Engraxa teu sapato. Passa um pente nesse cabelo e vai assistir, domingo, dia 9 de março, às 9h00, no Studio 5, a ordenação episcopal do bispo auxiliar de Manaus, Dom Jacson Damasceno Rodrigues. Neste mesmo dia, o novo bispo celebrará missa vespertina na igreja de Aparecida. Depois, haverá comes-e-bebes. Não esquece de provar do bolo de macaxeira. Vai estar uma delícia.
P.S. - Ver tambem - http://www.taquiprati.com.br/cronica/362-quem-mandou-amazonino-e-o-atentado-ao-taquiprati
http://www.taquiprati.com.br/cronica/364-carta-aos-donos-de-jornais-no-amazonas
http://www.taquiprati.com.br/cronica/361-o-convite-do-governador
 

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