.Um manuscrito antigo, de quase dois mil anos, acaba de ser encontrado em uma gruta, em Urucurituba (AM), pelo historiador Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, chefe do Departamento de História da UFAM. Traz uma revelação sen-sa-cio-nal. Judas, em vez de se enforcar, fez coisa muito pior: mudou de mala e cuia para o Amazonas e aqui viveu o resto da vida.
O documento, com quinze páginas escritas em Nheengatu arcaico, foi submetido a vários exames pelo laboratório da Universidade do Porto, em Portugal: análises de tinta, de imagem multiespectral e de carbono 14, além das provas contextual e paleográfica.
O seu conteúdo contradiz “O Evangelho segundo Judas”, encontrado numa caverna no deserto do Egito, e divulgado recentemente pelo ‘Fantástico’, da TV Globo. Mas os especialistas lusos asseguram que sua autenticidade é indiscutível. A tinta preta foi feita com sumo de jenipapo. O ‘papel’ veio da periquiteira-da-mata, árvore da qual os índios extraem a entrecasca e fazem o tururi, também conhecido como líber.
O Palocci de Cristo
Recebemos esse manuscrito, graças à amizade com Geraldo Pinheiro. Foi ele quem nos enviou também a minuciosa análise feita pelo historiador Auxiliomar Ugarte, especialista em Nheengatu arcaico, provando que o documento contém uma biografia autorizada de Judas, desde o seu nascimento até a viagem ao Amazonas, onde morreu.
Juju – era esse seu apelido familiar – teve uma infância aparentemente sadia. Com seus colegas da Judéia, brincava de ´camoniboi´ e ´larga-estreita-estreitinha’ ou se divertia nadando no Mar Morto e no Lago de Tiberíades. No entanto, a mãe, Dona Sara Iscariotes, fez muitas cobranças em relação aos estudos, fiscalizando com rigor o seu boletim de notas.
A dedicação de dona Sara deu certo. Dos apóstolos de Cristo, quase todos pescadores e camponeses sem escolaridade, só Judas e Mateus tinham curso superior. Ambos estudaram economia na UNIPAL – Universidade da Palestina. Mas Mateus, cobrador de impostos, tirou notas baixas. Por isso, Judas foi escolhido para ser ministro da Fazenda.
Segundo o manuscrito, Judas era um homem da inteira confiança de Jesus. Era ele o encarregado da gestão econômica e financeira do grupo. Teve um desempenho brilhante. Sua competência permitiu que os doze apóstolos pudessem viajar pra cima e pra baixo, acompanhando Cristo. Ou o leitor está pensando que essas viagens eram de graça?
Era preciso muito dinheiro para pagar o constante deslocamento pela Galiléia, Samaria e Judéia. Tinha despesas com o aluguel dos burros, com as pousadas, com a alimentação e até com a distribuição de dinheiro entre os pobres. Guardadas as proporções, equivaliam a gastos feitos com jatinhos por Garotinho, Alkmin, Lula ou o Negão. De onde sai a grana?
Pra falar a verdade, Cristo e os onze apóstolos não estavam nem aí, não tinham a menor idéia das dívidas do grupo. Quem pagava as contas? Sobre essa questão, os quatro evangelistas são omissos e até o papa Bento XVI silencia, embora condene Judas como “imundo”. No entanto, o manuscrito de Urucurituba é claro: Judas, há muito tempo, havia entrado no cheque especial.
O manuscrito de Urucurituba
A gota d´água foi a última ceia, que custou exatamente trinta moedas de prata, sem os dez por cento do garçom. Todo mundo comeu, bebeu e se picou, mas a conta salgada foi apresentada a Judas, que era uma mistura de Palocci e Delúbio, sem mensalão.
Trinta moedas de prata era muita bufunfa. Equivalia a 120 dinares, ou seja, o preço normal de um escravo ou seis meses de salário de um trabalhador agrícola. Na Judéia, não havia Marcos Valério, nem Leão & Leão. Foi aí, no desespero, que Judas deu o beijo traiçoeiro em Jesus, identificando-o para os soldados romanos, no Jardim das Oliveiras.
Judas Iscariotes não ficou com um centavo desse dinheiro sujo. As trintas moedas foram todas usadas para pagar – digamos assim – as dívidas de campanha, como fariam dois mil anos depois os companheiros José Mentor, Professor Luizinho e o tucano Eduardo Azeredo, para não falar na galera do PFL (viche!) e PMDB (viche!).
Nunca passou pela cabeça de Judas que em conseqüência do seu gesto, Cristo seria torturado e crucificado. Por isso, ele sentiu muito remorso, quando viu os soldados colocarem uma coroa de espinhos em Jesus, levando-o para o Monte Calvário. A versão tradicional diz que, para se punir, Judas se enforcou.
O manuscrito de Urucurituba, no entanto, é contundente. Ele afirma que a morte não seria uma punição apropriada para um crime tão hediondo. A traição a uma personalidade tão importante como Jesus merecia um castigo muito pior. Por isso, para se auto-punir, Judas, em vez de se enforcar, decidiu viajar para o Amazonas. Aqui pagou caro pelos seus crimes.
O último capítulo que trata da vida de Judas no Amazonas ainda está sendo traduzido pelo historiador Auxiliomar Ugarte. O que podemos adiantar são algumas profecias feitas, anunciando a vinda do Judas amazonense no início do terceiro milênio. Os dois historiadores da UFAM não são responsáveis, é claro, pelo conteúdo da profecia.
Há duas versões do manuscrito de Urucurituba. Na primeira, Judas voltaria ao Amazonas na forma de um urbanóide, monoglota e careca, para cometer várias traições. Trairia, primeiro, sua identidade amazônica, inventando que é descendente de alemão. Depois, trairia seus companheiros de partido, com quem brigaria, chamando um de ‘índio’ e o outro de ‘ bicha’. Finalmente, trairia seus eleitores indígenas do Solimões, qualificando-os de preguiçosos. O Judas amazonense é racista e homofóbico. Não gosta de índio, nem de Preto.Na segunda versão, o Judas daqui a dez anos será um senador cadeirudo que vai pagar com traição a quem sempre lhe deu a mão.
P.S. – Funcionários do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas fizeram uma representação no Ministério Público Federal contra o presidente da instituição, desembargador Kid Mendes de Oliveira, questionando o processo de concurso interno de remoção do quadro de pessoal. A coluna está aguardando o pronunciamento do Ministério Público para opinar sobre o caso – que parece ser um verdadeiro “barco-recreio da alegria”.