CRÔNICAS

Um Silva, uma Silva

Em: 16 de Agosto de 2009 Visualizações: 8726
Um Silva, uma Silva

Depois de um Silva, só uma Silva: Marina Presidente!

De onde veio Silva, o sobrenome mais popular do Brasil? Um lingüista da PUC de São Paulo, Flávio di Giorgio, explica que os portugueses que atravessavam o Atlântico, quando aqui chegavam, acrescentavam um novo nome. Caso permanecessem no litoral, incorporavam o Costa. Se fossem para o interior, o Silva, que em latim designa a selva, a floresta, o bosque. Às vezes, eles se casavam e fundiam os nomes – Costa e Silva - como os avós do marechal, que foi ditador do Brasil entre1967 e 1969.

Mas o sobrenome adotado pelo colonizador migrou rapidamente para os setores deserdados. Os negros escravizados vindos da África eram batizados com os nomes de seus donos. Foi ai que a família Silva cresceu e se expandiu. É conhecido o caso de rica fazendeira, acusada de bruxaria e de pacto com o capiroto, chamada Valéria da Silva. Procedente do Minho, onde tinha um solar, ela veio para Campos dos Goitacazes. Aqui, teve mais de trezentos escravos, todos eles vivinhos da Silva. Povoaram o Norte Fluminense com um montão de silvas. Até hoje, suas descendentes se orgulham de ser fluminense.

Os índios, também, quando saiam da floresta para serem aldeados, no momento do batismo recebiam o nome Silva. Hoje, por exemplo, existem muitos Silva em todas as aldeias Guarani. Dessa forma, o Brasil foi pouco a pouco se tornando um país dos Silva, o sobrenome mais multiétnico que temos. São descendentes de portugueses, mas sobretudo de negros e índios, em geral, gente humilde, trabalhadora e batalhadora.

Foi daí que surgiu no cenário político brasileiro, no final dos anos 1970, um Silva, nordestino, metalúrgico na região do ABC, em São Paulo, que se destacou nas lutas sindicais e reavivou nossas esperanças. Dotado de rara inteligência, embora sem escolaridade, dava bolo em desembargador. Líder sindical, lutou contra a ditadura e se tornou referência para todos aqueles que sonhavam com um país democrático, generoso, justo. Naquela época, quem acreditava que ele poderia ser presidente do Brasil?

Hoje, ainda está por ser feita uma avaliação desapaixonada do Governo Lula da Silva, com seus altos e baixos, seus avanços – que foram muitos, e seus recuos – que não foram poucos, suas alianças espúrias com os filhotes da ditadura, sustentando Sarney, pactuando com Collor, beijando a mão de Jader Barbalho, estabelecendo relações promíscuas com Renan, Severino Cavalcanti e – meu Deus do céu! – com seu ‘líder’ Romero Jucá. Confiando em seu taco e sem seu faro político, Lula abraçou nossos adversários e bancou tudo aquilo que abominamos.

Depois de um Silva metalúrgico na presidência, durante dois mandatos, surge agora a candidatura de uma Silva seringueira, saída da floresta: a senadora Marina Silva. Ela hoje representa o compromisso histórico que foi abandonado pelos atuais ocupantes do poder. Querendo ou não, Lula da Silva vai transferir votos pra Marina da Silva, porque a legítima herdeira daquele Lula da Silva, em quem votamos, é Marina da Silva, em quem vamos votar. O legado daquilo que Lula tinha de melhor pertence a ela, capaz de ressuscitar a utopia perdida, e não a Dilma Roussef. 

A Dilma vai ficar com o espólio daquele Lula que sustenta Sarney et caterva, cuja família ela tentou proteger – todo o Brasil sabe que Dilma pediu mesmo à Lina, ex-secretaria da Receita Federal, que livrasse a cara de Fernando Sarney.  Votei em Lula todas as vezes em que foi candidato, perdendo ou ganhando. Fundei o PT, fui presidente do PT/Amazonas e participei da fundação do PT/Acre. É por isso, pelos compromissos históricos do PT, que voto em Marina. Tomara que ela aceite ser candidata!

Marina Presidente

A seringueira Marina da Silva, nascida no seringal Bagaço, no Acre, se graduou em História pela Universidade Federal do Acre. Tive o privilégio de ter sido seu professor, no Curso de Pós-Graduação em História Econômica e Social da Amazônia (lato sensu), organizado pela Universidade Federal do Acre (UFAC). Ministrei, em 1986, o módulo de História da Amazônia I e com ela aprendi algumas lições. Entre os alunos, além dela, o atual governador do Acre, Arnóbio Marques de Almeida Júnior, o Binho, ex-presidente do Centro Acadêmico de História.

Se não me equivoco, na época, Marina Silva coordenava a Central Única de Trabalhadores – CUT – do Acre, o único Estado em toda a Amazônia que tinha um bispo decente e corajoso, Dom Moacyr Grechi, responsável pela afirmação do compromisso social da igreja com os pobres e os deserdados.  

Em vista do exposto, peço licença para publicar aqui uma Carta Aberta à Senadora Marina Silva, assinada pelo Movimento Marina Presidente. Já foram criados núcleos de apoio em vários estados, mas falta o Amazonas. Essa coluna, publicada no Diário do Amazonas, em Manaus, todos os domingos, espera renovar as esperanças de alguns leitores e contribuir para a mobilização em torno da candidatura dela. Como escreveu Marcos Sá Correa, “Marina Silva é o que faltava nesta eleição para o Brasil escolher outro presidente. Seja quem for esse outro presidente”.

Carta aberta   

Cara Senadora Marina Silva,

O Movimento Marina Silva Presidente é uma rede social apartidária e não-institucional, formada atualmente por mais de 4.400 cidadãos e cidadãs, de todos os Estados brasileiros, diversas etnias, múltiplas crenças, perfis sociais e faixas etárias, que acreditam e querem participar da construção de uma Nação com ética, sustentabilidade e justiça socioambiental, e que, no atual cenário eleitoral, vislumbram na sua postura política, ideológica e nas suas ações um caminho possível para este avanço da sociedade brasileira frente à crise civilizatória pela qual passamos.

Manifestamos nossa grande alegria em acompanhar que também considera este um caminho possível, analisando a possibilidade de candidatar-se à Presidência do Brasil. Acreditamos em uma Candidatura Pedagógica, na qual a sociedade brasileira aberta às suas palavras, sua ética e seus valores construa, junto com você, este projeto de Nação.

Sem dúvida não há melhor oportunidade para que o Brasil seja orientado por uma Professora de História, uma Mulher Amazônida que leva consigo a outra História do Brasil, do Brasil em equilíbrio com suas riquezas naturais, do Brasil que luta pela autonomia e pelo uso sustentável de seu território, que não somente almeja seus objetivos de desenvolvimento, mas que o faz com responsabilidade e coerência, do Brasil que é o exemplo que o mundo precisa e não somente o seu quintal. E ao mesmo tempo uma mulher que já demonstrou a competência, a coragem e a visão estratégica para concretizar os avanços que o Poder Executivo brasileiro precisa neste momento.

Entendemos que grande parte dessa busca passa por uma transformação do atual modelo político e econômico que se mostra inadequado à atual condição das sociedades humanas que, a cada dia, percebem sua incompetência histórica de operar em consonância com os aspectos mais essenciais da vida no planeta, sem diálogo com as necessidades das gerações presentes e futuras, e com o sistema natural finito nas quais se inserem. Compreendemos também o processo de transição que a sua candidatura representa neste sentido, e estamos contigo.

Desse modo, pela sua trajetória de competência e integridade, declaramos nosso apoio às suas decisões. E que se elas levarem a sua candidatura, estaremos ao seu lado por um Brasil Sustentável. O Movimento cresce dia-a-dia, tem capilaridade, diversidade e principalmente, Vontade! A vontade que ao longo da história conquistou transformações que traçaram os rumos das sociedades.

Um grande abraço que lhe transmita a tranqüilidade para a melhor decisão!

Movimento Marina Silva Presidente (http://marinasilvapresidente.ning.com).

Comente esta crônica



Serviço integrado ao Gravatar.com para exibir sua foto (avatar).

Nenhum Comentário