Égua! Essa eu não entendi! Não entendi mesmo! Alô, alô, Amazonas! Alô, alô, Manaus! Por favor, alguém aí pode me explicar o que é que prefeito Amazonino Mendes (PTB, vixe, vixe!), conhecido como Big Black, e o governador Eduardo Braga (PMDB, vixe, vixe!) – o Dudu - foram fazer em Copenhague? Quem pagou a passagem deles? O que a cidade e o Estado ganharam com esse evento?
Olha só! A ONU convocou líderes mundiais de 193 países para participarem da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-15). Durante onze dias, delegações formadas por ministros, técnicos e ambientalistas discutiram o aquecimento global e seus efeitos devastadores: chuvas torrenciais, inundações, secas, tufões, furacões, derretimento de geleiras, elevação dos oceanos e todo tipo de desastre ambiental.
Aí, Big Black e Dudu Braga, convertidos subitamente em ambientalistas, viajaram para a Dinamarca. Por acaso, eles são líderes mundiais? Contribuíram para a luta em defesa do meio ambiente? O que é que eles entendem de clima? Como é que se intrujaram na Conferência?
Busquei respostas a essas intrigantes perguntas em jornais internacionais - New York Times, Washington Post, Le Monde, The Guardian e até no Folkebladet, diário da Dinamarca. Nenhum deles sequer registra o nome de Amazonino ou do Dudu. Consultei jornais brasileiros de circulação nacional: necas de pitibiribas!
Minto. Dudu pelo menos ainda aparece em foto da Agência Estado, com aquele risinho de puxa-saco, numa mesa ao redor de Lula, Dilma, Minc, e da governadora do Pará. É impressionante: as pessoas que tiram foto, ao lado de poderosos, ficam com cara de égua e com um sorriso subserviente, vocês repararam?
A presença do Big Black, no entanto, foi olimpicamente ignorada pela mídia. Será que ele foi mesmo a Copenhague? Vai ver, bacabeiro como é, inventou essa viagem pra poder ir pescar em algum lago de Urucurituba, enquanto seu vice, Carlos Souza, acusado de associação com traficantes, era preso no dia mesmo da abertura da Conferência. Pobre Manaus! O prefeito se pica e seu vice é preso!
Caboclitude negada
Depois de intensa busca, encontrei a única pista da passagem de Amazonino por Copenhague: uma foto publicada no portal da Prefeitura de Manaus. Ele aparece descaboclizado, vestido com terno azul, exibindo aquela elegância e refinamento que lhe é peculiar. Um cachecol xadrez, em torno do pescoço, não deixa dúvidas de que está nevando lá fora, e de que o Big Black tenta disfarçar sua caboclitude – como diria Álvaro Maia – concorrendo com os coletes multicoloridos do ministro Minc.
Comprovada a ida a Copenhague, dois mistérios persistem: quem é que o Big Black está representando e qual o seu cacife ambientalista. As respostas estão no press-release da Prefeitura. A legenda da foto não deixa por menos, apresentando-o como um grande estadista: “Prefeito Amazonino Mendes representa a América Latina e o Caribe na COP-15”.
É isso mesmo que você leu. O texto da Prefeitura de Manaus, cheio de prosopopéia, dá detalhes, informando que ele foi escolhido “por indicação da organização Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU)”. Enquanto Lula – coitado! - fala apenas em nome do Brasil, Big Black representa um continente inteiro e, de quebra, o Caribe. Seu olhar ‘sonhador’, na foto, não deixa qualquer dúvida. É mole?
A rainha Margareth II, no entanto, por não ler o Portal da Prefeitura, cometeu gafe. Não convidou Big Black e Dudu para o jantar oferecido aos líderes mundiais no Palácio Christiansborg. Os dois acabaram ficando de fora também de uma das sessões, porque a Organização da CP-15 expediu 45 mil credenciais, quando a capacidade do Bella Center – palco das reuniões – era para 15 mil pessoas.
Enquanto Lula fazia reunião bilateral com Obama, Big Black não conseguiu bilateralizar sequer com o Dudu, ambos realizando reuniões unilaterais, cada um consigo mesmo. Não adiantou o Big Black, que já era uma celebridade municipal, ser escolhido líder mundial pelo CGLU.
Aliás, que diabo é CGLU? Passagens e diárias do Big Black foram pagas pelo CGLU ou por nós, contribuintes? As requisições de combustível encontradas pela Polícia Federal em um posto de gasolina de Manaus interferiram na eleição do líder da América Latina e do Caribe? O que esse líder foi fazer, afinal, na Dinamarca?
Emissão de gases
Essa foi justamente a pergunta feita ao Big Black pelo Portal da Prefeitura de Manaus:
- Qual o seu papel em Copenhague?
Ele deu uma resposta que é uma pérola, um primor de raciocínio cartesiano. Vejam só:
- O meu papel é o da presença de quem está num grupo. De quem faz o esforço de ser ouvido pela primeira vez e está na luta para criar oportunidades e alcançar objetivos.
Grupo? Ele não explicita qual. O da motosserra? A que grupo pertence quem sempre pregou o desmatamento indiscriminado e, na campanha para governador, em 1986, trocou motosserras por votos, distribuindo mais de 2.000 delas para a cabocada do interior esquartejar a natureza? Hoje, quando se fala em motosserra, Amazonino é mais lembrado ainda do que o de Hidelbrando Pascoal, preso por serrar suas vítimas.
E o Dudu, a que grupo pertence? Na sua declaração de bens, feita por força da legislação na eleição de 2006, ele informa ao Tribunal Eleitoral um investimento agropecuário de cerca de mil cabeças de gado no estado do Acre. Agora, posa de ambientalista, ele que destruiu a floresta com pata de boi e de vaca.
Criar oportunidades e alcançar objetivos – diz Amazonino de forma estrategicamente vaga. Ora, nisso o governador Arruda, de Brasília, é exemplar. Ou seja, Amazonino não disse – com o perdão da palavra – porra nenhuma. Mas se revela de corpo e alma quando declara:
- Nosso objetivo é reivindicar os financiamentos na aplicação do REDD (Redução das Emissões de gases por Desmatamento e Degradação).
Ah, aí sim o Big Black velho de guerra mostra seu olfato para a grana. Com o cálculo de US$ 5 bilhões para combater o desmatamento, Big Black e Dudu se apresentam como dois curupiras vorazes, de olho na bufunfa que pode vir de fora.
Curupira? Big Black e Dudu não têm em suas histórias de vida nada, absolutamente nada, em defesa do meio ambiente. Não entendem bulhufas de ecologia. Acham que se combate o aquecimento global ligando ao mesmo tempo todos os ventiladores de Manaus. Seus parceiros juram que eles não são capazes de reduzir nem mesmo as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da sala onde jogam dominó, sobretudo depois de ingerir luftal ou comer baião de dois, jaraqui frito e muita cebola.
P.S. – Para a vovó Nakamura que colhe hoje mais um abacaxi no pomar de sua existência, toda a ternura da coluna.