CRÔNICAS

O Testamento de Judas na pandemia

Em: 02 de Abril de 2021 Visualizações: 5944
O Testamento de Judas na pandemia

“Eu sei que alguém descobre / Falhas no meu testamento”.

Joaquim Apolinário. Testamento do Judas.  1886. (*)

 

Neste sábado de aleluia, Judas Iscariotes, ministro das Finanças do Inferno, visitou países de cinco continentes, entre eles a America First e o Brasil abaixo de tudo. Aqui viu bonecos de pano com a cara do genocida pendurados em postes das cidades. Fugiu ao se deparar com 330 mil mortos pelo coronavirus. Passou antes por Manaus. No bairro de Aparecida, sofreu a tradicional malhação e se vingou deixando seu testamento em versos psicografado pelo irreverente e desabusado Edilson, o Gaguinho, gênio da poesia popular. Tirem as crianças da sala. Ei-lo aqui. 

1 

Sou Judas Iscariotes / Neguei máscara, vacina.

Dei cloroquina pra Cristo / Olhem só a minha sina.

2

Por isso sou malhado / com porrada na cacunda

No sábado de Aleluia vou / moer vidro com a bunda.

3

Mas antes de me ferrarem / e de me enforcar outra vez

          Eis aqui o inventário /  do que eu lego pra vocês.

4

               Ao Trump bundão eu deixo  / o túmulo do faraó

          E a espada do centurião / pra enfiar no fiofó.

5

Ao mentiroso Jair Messias / Burro como uma mula 

Pra atormentar sua vida / deixo o discurso do Lula.

6

Deixo o exemplo do Temer / ao vice Mourão Mourão

Catuca por baixo que ELE cai / com impeachment e lockdown.

7

Deixo ao Dudu, o 03 / a embaixada em Mianmar

Pra ele fritar hamburger / no Burger King de lá

8

A Carlucho, o 02 da fake news / que escorrega no quiabo

Deixo a máscara que não usa / para enfiar no seu rabo.

9

As trintas moedas repasso / ao 01 da Rachadinha

Mansão, chocolate, iate / Queiroz deu sua lavadinha

10

Ao ministério do Zero Zero / escolhido no capricho

As ratazanas do Centrão / jogo na lata do lixo.

11

Lego armas, vacina não./ à familícia e ao gado

Tudo pau de amarrar égua / com o orifício corrugado

12

O Posto Ipiranga vazio / que nem pastel do Beiçola

Paulo Guedes nega tudo / e põe no PIB meia sola.

13

Ernesto Araújo, seu pária / Que merda de chanceler!

Te deixo spray de Israel / Ninguém te ama nem te quer.

14

Ao obediente Pazzuelo / Lego o mapa do Amapá

O Zé Gotinha com fuzil / no dia D na hora H.

15

Para o Marcelo Quidroga / que não sabe o que quer!

Deixo a vachina da China / pra ele virar jacaré.

16

A corda que me enforquei / e a tripa cagaiteira

Lego ambas pra Damares / se pendurar na goiabeira.

17

Ao “imprecionante” Weintraub / de Kafta um grande fã

Deixo cannabis no campus / e as balbúrdias do Satã.

18

Ao ministro Milton Ribeiro, / da palmatória defensor.

De pedagogo oprimido  / a "paudagogo" opressor.

19

Nem tudo que reluz é Moro / mas cai tudo que balança

Ao “conje” suspeito eu deixo / a Edith Piá de herança

 

20

Ao incendiário da Amazônia / ao Salles abridor de porteira

Deixo o fogo do inferno / Pra ele arder na caldeira

 

 

21

Ao general Heleno de Troia / Que gosta de um tititi

Deixo toda a lambança / Cometida no Haiti.

22

À senadora Kátia Abreu / Que ficou no ora veja

A mão que te  afaga / É a mema que te apedreja.

23

Tou certo ou tou errado? / Para a Regina Porcina,

Que foi sem nunca ter sido / Deixo um trono na latrina.

24

Lego a Amargo dos Palmares / Pra aprender a ser gente,

Um pixaim de pentelho / Na careca reluzente.

25

Ao garantista Kássio Nunes / Que pensa que a lei destrincha

Deixo-lhe o Gilmar Mendes / Pra chamar ele na chincha.

26

Ao Procurador Augusto Aras / Deixo-lhe muitas gavetas

Que nunca serão abertas / Pra esconder do Bozo as tretas

27

Palloci minh’alma gêmea / Teu destino é como o meu

Pra tirar o loló da seringa, / Traíste mais do que eu.

28

Ao bode libidinoso / Metido num trumbico

Defendo a Isa Penna / Até o Cury fazer bico

29

Para  Wilson Lima governador / Lego a operação sangria,

Com dinheiro da saúde,/ Não se faz patifaria.

30

De mãos dadas com o povo? / Ventiladores de hospital

Comprados em adega de vinho / É coveiro em funeral.

31

Lá onde perdi as botas / Ao mulato inzoneiro

Lego o nojo desses pulhas / E a crença no brasileiro.

32

Agora eu volto pro inferno / lá tá melhor do que aqui

Neste fim de Quaresma / Deixo-vos o Taquiprati.

 

P.S. – Agradeço sugestões da Teca, Fabico, Celeste e Elisa Souto e a inspiração do Edilson, filho da Pequenina e Marcolino.

 

(*) O potiguar Joaquim Apolinário de Medeiros (1852-1919) fez um testamento do Judas em 1886, preservado na memória da mãe do Câmara Cascudo, que transmitiu oralmente os versos para seu filho. Trechos foram publicados por ele em “Vaqueiros e Cantadores”. Rio. Ediouro. 200 (pgs 65-66)

 

 

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13 Comentário(s)

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Fernando Soares Campos comentou:
05/04/2021
Publicado no PRAVDA - https://port.pravda.ru/sociedade/cultura/05-04-2021/52587-pandemia_cronica-0/?fbclid=IwAR1AiTQ-AiAMnczjzTUGzMbbCig7vUX2LbQjnNoG8sogrhBOLI3vfp1hyYk
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Abogado herencias Elche comentou:
18/07/2024
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Selma Kupski comentou:
04/04/2021
Ótima professor. Não poderia ser melhor esse testamento do Judas. Vamos malhar mais um pouco pra ver se ele inclui alguns governadores. Vc é gênio professor. Saudades. Grande abraço
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Dauá Puri comentou:
04/04/2021
Será que na época de Judas o desgoverno era o mesmo e o Pilatos o que faria com os encaminhamentos do ministério público?
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Larissa Mendonça comentou:
04/04/2021
Sim, vamos continuar protestando contra assediadores, sempre, sempre, até o Cury fazer bico.
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Lilian Tatainan comentou:
04/04/2021
Que pena que estou isolada, queria pegar um e meter a porrada nesse nazista genocida cabra da peste Parabéns pela crônica.
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Leopoldina Ribeiro Muniz comentou:
04/04/2021
Eta crônica arretada de Boa!!! Eu li tudo e não foi atoa!
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Aldisio Filgueiras comentou:
03/04/2021
Saí entregando, de canoa, de barranco em barranco; todo mundo recebeu como um manifesto pelo desapego às coisas ruins.
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Tadeu Veiga (via FB) comentou:
03/04/2021
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Harald Pinheiro (via FB) comentou:
03/04/2021
Adorei. O Testamento do Judas se reinventando sempre
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Celeste Correa comentou:
03/04/2021
O Taquiprati mais uma vez arrasou com essa malhação. Acho até que o Iscariotes se redimiu da sua lambança depois deste testamento fantástico. Quanto aos seus presenteados, aguardem! A história mostra que, para aqueles que não traem o povo e que sempre estiveram ao lado dos mais fracos, já houve ressurreição gloriosa após três dias e até após vinte e cinco  anos. Mas os traidores, todos  eles caíram no ostracismo e no lado obscuro da história, sem direito à ressurreição. É, Pai, é difícil perdoar-lhes, eles sabem bem o que fazem.
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Rodrigo Martins comentou:
03/04/2021
Professor essa crônica ficou SENSACIONAL, uma verdadeira obra de arte! Fantástico, falou tudo o que pensamos de uma forma leve e descontraída! Um abraço querido professor!
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Décio Adams comentou:
03/04/2021
Eita verso porreta. Melhor não poderia ser. Baixou o cacete para todo lado, distribuiu bordoada de montão. Eita verso do bom.
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