SEGUIDO DE VERSÃO EM FRANCÊS E EM OCCITANO
"Preservar a tradição não é conservar as cinzas, mas soprar
a brasa para garantir que o fogo continue iluminando (Jean Jaurés).
A primeira vez que ouvi falar na língua occitana foi em 1972 quando estava exilado em Paris. Uma amiga francesa, Paulette Delpont, me contou que era nessa língua que seu avô ensinava os mais jovens a fabricar aqueles foles antigos que servem para reavivar o fogo na lareira. O vovô morreu no Roussillon, sul da França, onde exercia seu oficio de artesão. Mas a língua d´oc resiste e ainda hoje há quem arrisque a vida por ela. Para defendê-la, o fundador do jornal occitano La Setmana, David Grosclaude, iniciou no final de maio greve de fome contra a política do estado francês que discrimina uma língua tão próxima ao português.
Reside justamente na afinidade das duas línguas, que são as "últimas flores do Lácio", o motivo do encanto que o occitano desperta em nós, falantes de português. Se o vovô do Roussillon me perguntasse:
- Que fas dins la vida? - Eu responderia: - Soi estudiant.
É que para falar occitano - eu brincava - basta suprimir a vogal final das palavras em português: degra(u), plan(o),catolic(o) sac(o), vent(o), pont(e) e por aí vai. Qualquer criança brasileira entende o chamado de mãe occitana: - mon filh - mesmo que não seja a "voz materna" no "rude e doloroso idioma" cantado por Camões.
Língua d´Oc
Afinal, que língua é essa, cujo falante tem de fechar a boca para reivindicar o direito de usá-la? O occitano, conhecido como provençal ou língua d´oc é uma língua neolatina falada na Occitânia, uma nação sem estado, no sul da França, que inclui territórios do Languedoc-Roussillon, Provença, Gasconha, Auvérnia, Limusine e Definado, além de alguns vales alpinos da Itália e o Vale do Aran, na Catalunha. Lá se encontram sítios arqueológicos e históricos, ruínas romanas, coliseus, aquedutos, anfiteatros, mosteiros, igrejas, abadias, além do patrimônio mais importante que documentou tudo a seu redor: a língua d´oc.
No século IX - garantem os estudiosos - surgem os primeiros documentos escritos em occitano com o objetivo de converter seus falantes ao catolicismo, qualquer semelhança com o que fizeram os missionários na América com os índios não é mera coincidência. Eram traduções do latim de hinos, poesias, contos religiosos, biografias de santos. Conserva-se ainda hoje o manuscrito com a versão feita no séc. XI do Evangelho de São João, além de peças de teatro e da poesia dos trovadores do sec. XII e da literatura jurídica, filológica e científica a partir dos séculos XIV e XV.
Mas o uso oficial do occitano parecia ter seus dias contados. Com a Revolução Francesa, o Abbé Grégoire, padre e político, traçou um mapa dos costumes e das línguas faladas na França, a partir de questionários aplicados em 1790, que confirmaram o que já constava na Enciclopédiapublicada alguns anos antes: o francês falado sobretudo em Paris era considerado língua estrangeira no interior, onde predominavam línguas vernaculares denominadas depreciativamente de patuá.
Definido pela Enciclopédia como "linguagem corrompida falada em quase todas as províncias", o patuá, na realidade, era "o nome dado às línguas dos povos vencidos" como mais tarde advertiria Jean Jaurés. Foi com esse discurso de intolerância em relação a essas línguas que o abade Grégoire fundamentou a elaboração do "Relatório sobre a necessidade e os meios de erradicar o patuá e universalizar o uso da língua francesa".
A compreensão de que as línguas constituem um dos alicerces de ordenamento social nas práticas administrativas do Estado justificou a imposição do idioma francês como um dos fundamentos ideológicos da unidade nacional com a consequente intransigência na repressão às demais línguas.
O selvagem da França
O projeto político defendido pelo abade Grégoire queria extinguir as línguas usadas no meio rural, incluindo aquelas faladas pelos escravos por cuja liberdade - é verdade - ele lutou, desde que os libertos falassem francês, que para ele era "a língua da liberdade". Como deputado na Constituinte, declarou que essa era a melhor forma de eliminar as superstições - assim ele chamava os conhecimentos tradicionais que circulavam oralmente em línguas vernáculas. Sua proposta de "criar um povo" e de "dissolver todos os cidadãos na massa nacional" passava pela universalização da língua francesa, estabelecendo a relação entre cidadania e a língua oficial. Essa foi a política de línguas do Estado francês.
Uma estátua do Abbé Grégoire foi inaugurada recentemente no coração de Montpellier em comemoração à libertação dos escravos durante a Revolução Francesa, o que é uma afronta equivalente a erguer um monumento aos bandeirantes ou uma estátua de Cabral dentro de uma aldeia indígena, conforme observação de Mathias Gibert, que discute o papel intolerante do abade no artigo Uma França Selvagem: sobre a 'colonização interna'.
O modelo político que interferiu no destino das línguas regionais é abordado pelo bispo de Burgos, Pedro Luis Blanco, na sua "Respuesta Pacífica de un Español a la carta sediciosa del francés Grégoire...", de 1798, numa polêmica na qual defende a monarquia e a Inquisição criticadas pelo abade, que considera supersticiosas certas práticas políticas e religiosas da Península Ibérica. - "Nos tratan como índios" - reclama o bispo, cujo protesto não é em defesa das línguas indígenas, mas contra o fato de ver atribuído aos espanhóis os mesmos juízos de valor que a Europa imputava aos índios. Desta forma, o bispo reconhece que as políticas coloniais da Espanha, por considerarem as línguas indígenas portadoras de heresias, buscaram extirpar junto com as idolatrias as línguas onde elas se abrigavam.
Antes de impor a língua espanhola, a administração colonial usou num primeiro momento as línguas gerais indígenas na catequese, o que significou a extinção de muitas outras línguas minoritárias. Depois, as constituintes das repúblicas latinoamericanas retomaram o modelo francês, associando a cidadania ao domínio da língua de Estado.
Efetivamente, na França, os povos de línguas minorizadas foram submetidos a um processo de "colonização interna", estudado pelo linguista e historiador Robert Lafont, professor da Universidade de Montpellier, especialista em literatura occitana. Para ele, as minorias que vivem em território controlado pelo estado francês foram colonizadas, seguindo o modelo do colonialismo externo. "O camponês francês é o selvagem do interior", para usar expressão de Michel de Certeau citada por Mathias Gibert.
Lenga d´amor
Apesar disso, a língua e a cultura da Occitânia conquistaram um lugar na literatura e no cinema.História de Adrien de Jean-Pierre Denis, que tive a sorte de ver em 1981, é todo falado na língua d´Oc e legendado em francês. Conta a história de um camponês no início do séc. XX, as migrações, o êxodo rural, a cidade, a greve dos ferroviários. A escolha da língua foi determinada - segundo o diretor - como forma de registrar que em 1905 ela era falada pelos camponeses no cotidiano do campo e dos povoados.
A trajetória da língua e da cultura occitana pode ser vista também no documentário Lenga d´amor (2013), todo ele falado em língua d´Oc, escrito e dirigido por Patrick Lavaud. Ele registra as narrativas orais, o conto, a criação literária, a toponímia, o bilinguismo e discute o papel do ensino da língua e de seu futuro, a partir de suas lembranças da infância na fazenda da família, na região do Périgord.
A Occitania, assim como o mundo indígena, resistiu ao colonialismo interno, que proibiu a escolarização das crianças na língua d´Oc. A língua foi enterrada, mas como uma semente renasceu. Hoje, as estimativas indicam a existência de 4 milhões de falantes, cujas conquistas de escola bilingue se encontram ameaçadas. Por isso, o conselheiro regional da Aquitânia, David Grosclaude, iniciou no dia 27 de maio uma greve de fome. Os jornais franceses de circulação nacional nada noticiaram, mas nas redes sociais milhares de pessoas manifestaram imediatamente seu apoio.
No dia 3 de junho a greve vitoriosa foi interrompida, com a assinatura de um documento pelos ministros da Educação e da Cultura, que garantiram a criação de uma Secretaria Pública da Língua Occitana e os recursos para seu funcionamento. Daqui, do Diário do Amazonas, saudamos o fole do vovô do Roussillon que continua assoprando as brasas da tradição, iluminando o falar occitano. A simpatia não é só dos falantes de português, mas também dos índios no Brasil. Línguas indígenas e língua d´Oc: le même combat!
P.S. Agradeço as valiosas indicações de Mathias Gibert no seu artigo "Une France sauvage: autour de la 'colonisation intérieure" e outras sugeridas em troca de e-mails.
Y A DES INDIENS EN FRANCE? LES OCCITANS
07/06/2015 - Diário do Amazonas - Manaus
José Ribamar Bessa Freire - Traduccion: Matiàs Gibert
"Entretenir la tradition, ce n´est pas conserver les cendres, mais souffler
sur les braises pour veiller à ce que le feu reste allumé" (Jean Jaurés).
La première fois que j'ai entendu parler de la langue occitane c'était à Paris en 1972, j'étais alors exilé. Une amie française, Paulette Delpont, me raconta que c'était dans cette langue que son grand-père enseignait aux plus jeunes comment fabriquer ces vieux soufflets de jadis qui servaient à raviver le feu dans l'âtre de la cheminée. Le grand-père mourut dans le Roussillon, au sud de la France, où il exerçait son métier d'artisan. Mais la langue d'oc résiste et aujourd'hui encore il y a des gens qui risquent leur vie pour elle. Pour la défendre, le fondateur du journal occitan La Setmana, David Grosclaude, a entamé fin mai une grève de la faim contre la politique de l'Etat français qui discrimine une langue pourtant si proche du portugais.
L'enchantement que cette langue fait naître en nous, nous qui parlons portugais, provient justement de l'affinité qui existe entre ces deux langues, qui sont « as últimas flores do Lácio » (« les dernières fleurs du Latium. ») Si le grand-père du Roussillon me demandait:
- Que fas dins la vida? - je répondais: - Soi estudiant.
C'est que pour parler occitan – plaisantais-je – il suffit de supprimer la voyelle finale des mots portugais : degra(u), plan(o),catolic(o) sac(o), vent(o), pont(e) et ainsi de suite. N'importe quel enfant brésilien comprend l'appel de la mère occitane: - mon filh - même s'il n'est pas l'expression de la "voz materna" (« voix maternelle ») et du "rude e doloroso idioma" (« rude et douloureux langage ») chanté par Camões.
Langue d´Oc
Finalement, qu'est-ce que cette langue, dont les locuteurs sont priés de se taire pour en revendiquer l'usage ? L'occitan, connu comme provençal ou langue d´oc est une langue neolatine parlée en Occitanie, une nation sans Etat, au sud de la France, incluant les territoires du Languedoc-Roussillon, de la Provence, de la Gascogne, de l' Auvergne, du Limousin et du Dauphiné, en plus de quelques vallées alpines de l'Italie et du Val d'Aran, en Catalogne. On y trouve des sites archéologiques et historiques, des ruines romaines, colisées, aqueducs, amphithéâtres, monastères, églises, abbayes, ainsi que le patrimoine le plus important qui documenta tout le reste autour de lui: la langue d'oc.
Au IXe s. – d'après les spécialistes - apparaissent les premiers documents écrits en occitan avec l'objectif de convertir ses locuteurs au catholicisme, toute ressemblance avec ce que firent les missionaires en Amérique en contact avec les indiens, n'est pas une simple coïncidence. Il s'agissaient de traductions, depuis le latin, d'hymnes, de poésies, de contes religieux, d'hagiographies. On conserve encore le manuscrit contenant la version faite au XIe s. de l'Evangile selon Saint Jean, sans compter les pièces de théâtre et la poésie des troubadours du XIIe s. ainsi que la littérature juridique, philologique et scientifique à partir des XIVe et XVe s.
Mais l'usage officiel de l'occitan semblait connaître des jours comptés. Avec la Revolution Française, l'Abbé Grégoire, prêtre et homme politique, a établi la carte des coutumes et des langues parlées en France, à partir de questionnaires envoyés en 1790, que confirmèrent ce que constatait déjà l'Encyclopédie, publiée quelques années auparavant: le français était surtout parlé à Paris et était considéré comme une langue étrangère dans le reste du pays, où régnaient les langues vernaculaires nommées péjorativement patois.
Défini par l'Encyclopédie comme un "langage corrompu parlé dans quasiment toutes les provinces", le patois, en réalité, n'est rien d'autre que « le nom donné aux langues des peuples vaincus » comme l'affirmera plus tard Jean Jaurès. Ce fut alors avec un discours d'intolérance au sujet de ces langues que l'abbé Grégoire élabora son « Rapport sur la nécessité et les moyens d'éradiquer les patois et d'universaliser l'usage de la langue française. »
La compréhension selon laquelle les langues constituent un des piliers de l'ordonnancement social des pratiques administratives de l'Etat justifia l'imposition de la langue française comme un des fondements idéologiques de l'unité nationale, avec l'intransigeance conséquente et la répression des langues restantes.
Le Sauvage de France
Le projet politique défendu par l'abbé Grégoire désirait mettre un terme à l'usage des langues parlées en milieu rural, y compris celles parlées par les esclaves, pour la liberté desquels – il est vrai – il s'est battu, du moment que ces hommes libres parlaient le français, langue qui à ses yeux représentait « la langue de la liberté. » Comme député de la Constituante, il déclara que cette dernière était la meilleure façon d'éliminer les superstitions – C'est ainsi qu'il appelait les savoirs traditionnels qui circulaient de manière orale avec ces langues vernaculaires. Sa proposition de « créer un peuple » et de « dissoudre tous les citoyens dans la masse nationale » devait passer par l'universalisation de la langue française, établissant une relation entre citoyenneté et langue officielle. Telle fut la politique de la langue de l’État Français.
Une statue de l'abbé Grégoire fut inaugurée récemment au coeur de Montpellier en commémoration de la libération des esclaves durant la Révolution Française, événement qui représente un affront équivalent à ériger un monument à la gloire des bandeirantes ou une statue de Cabral au centre d'un village indigène, selon la remarque que Mathias Gibert a faite, et qui discute cette intolérance de l'abbé, dans son article « Une France Sauvage: sur la Colonisation intérieure. »
Le modèle politique qui interféra dans le destin des langues régionales est abordé par l'évêque de Burgos, Pedro Luis Blanco, dans sa "Respuesta Pacífica de un Español a la carta sediciosa del francés Grégoire...", de 1798, au cours d'une polémique, où il défend la monarchie et l'Inquisition critiquées par l'abbé, qui considérait comme superstitieuses certaines pratiques politiques et religieuses de la Péninsule Ibérique. - "Nos tratan como índios" - se plaint l'évêque, dont la protestation ne vise pas la défense des langues indigènes, mais bien plutôt le fait de voir attribuer aux espagnols les mêmes jugements de valeur que ceux que l'Europe appliquait aux indiens. De cette manière, l'évêque reconnaît que les politiques coloniales de l'Espagne, pour considérer les langues indigènes comme porteuses d'hérésies, ont cherché à extirper d'un seul mouvement avec les idolâtries, les langues où celles-ci s'abritaient.
Avant d'imposer la langue espagnole, l'administration coloniale usa, dans un premier temps, des langues générales indigènes, pour la catéchèse, ce qui signa l'extinction de bien d'autres langues minoritaires. Depuis, les Constituantes des républiques latino-américaines reprirent le modèle français, associant la citoyenneté à la maîtrise de la langue de l'Etat.
Effectivement, en France, les peuples de langues minorisées furent soumis à un processus de "colonisation intérieure", étudié par le linguiste et historien Robert Lafont, professeur, en son temps, à l'Université de Montpellier et spécialiste de la littérature occitane. Selon lui, les minorités qui vivent sur le territoire contrôlé par l'Etat français connurent une colonisation, suivant le modèle du colonialisme externe. "Le paysan français est le sauvage de l'intérieur", pour user d'une expression de Michel de Certeau citée par Mathias Gibert.
Lenga d´amor
Malgré cela, la langue et la culture de l'Occitanie conquirent une place dans la littérature et le cinéma. Histoire d'Adrien de Jean-Pierre Denis, que j'ai eu la chance de voir en 1981, est tout entier parlé en langue d´oc et sous-titré en français. Il raconte l'histoire d'un paysan du début du XXe siècle, les migrations, l'exode rural, la ville, la grève des cheminots. Le choix de la langue fut - selon les mots du directeur – comme une façon d'insiter sur le fait qu'en 1905 cette langue était parlée par les paysans, au quotidien, dans les terroirs et les villages.
La trajectoire de la langue et de la culture occitane peut être vue également dans le documentaire lenga d´amor (2013),tout entier en langue d'oc, écrit et dirigé par Patrick Lavaud. Il recueille les récits oraux, le conte, la création littéraire, la toponymie, le bilinguisme, et discute du rôle de l'enseignement de la langue et de son avenir, à partir de ses souvenis d'enfance, qu'il passa dans sa ferme familiale, en Périgord.
L'Occitanie, ainsi que le monde indigène, résista au colonialisme intérieur, qui interdit la scolarisation des enfants en langue d´oc La langue fut enterrée, mais renaquit, comme une semence. Aujourd'hui, on estime qu'il y a 4 millions de locuteurs, et les conquêtes des écoles bilingues se trouvent menacées. C'est pour cela que le conseiller régional d'Aquitaine, David Grosclaude, commença le 27 mai une grève de la faim. Les journaux français à tirage national – n'en firent aucune mention, mais sur les réseaux sociaux, des milliers de personnes ont manifesté immédiatement leur soutien.
Le 3 juin la grève victorieuse fut interrompue, avec la signature d'un document par les ministres de l'Education et de la Culture, que assurèrent de la création d'un Office Public de la Langue Occitane ainsi que les moyens pour son fonctionnement. D'ici, depuis le Diário do Amazonas, nous saluons le soufflet du grand-père du Roussillon qui continue de souffler sur les braises de la tradition, ravivant le parler occitan. Notre sympathie n'est pas seulement celles de ceux qui parlent portugais, mais aussi celle des indiens du Brésil. Langues indigènes et langue d'oc: même combat*
P.S. Je remercie Mathias Gibert pour les indications qui se trouvent dans son article "Une France sauvage: autour de la 'colonisation intérieure" et d'autres suggestions faites par e-mèl.
*en français dans le texte
I A D'INDIANS EN FRANÇA? LOS OCCITANS
publicat lo 07/06/2015 - Diário do Amazonas, Manaus
José Ribamar Bessa Freire - Traduccion: Matiàs Gibert
"Preservar la tradicion es pas conservar las cendres, mas bufar sus
la brasa per garantir que lo fuòc contunhe de s'iluminar. (Joan Jaurés)
Lo primièr còp qu'ausiguèri parlar de la lenga occitana, èra en 1972 quand èri exilat a París. Una amiga francesa, Pauleta Delpont, me contèt qu'èra dins aquela lenga que lo sieu papet ensenhava als mai jovens cossí fabricar aqueles bufets ancians que servísson a reviudar lo fuòc dins la cheminièra. Lo papet moriguèt en Rossilhon, al sud de França, ont fasiá lo sieu ofíci d'artesan. Mas la lenga d'òc resistís e encara uèi n'i a qu'arriscan lor vida per ela. Per la defendre, lo fondator del jornal occitan La Setmana, Dàvid Grosclaude, inicièt a la fin del més de mai una cauma de la fam contra la politica de l'estat francés que discrimina aquela lenga tant vesina del portugués.
L'origina de l'encatament que l'occitan fa nàisser en nosautres, locutors de portugués, residís justament dins l'afinitat entre las doas lengas, que son las "últimas flores do Lácio" (« las darrièras flors del Latium »).
Se lo papet del Rossilhon me demandèsse:
- Que fas dins la vida?* - respondriái: - Soi estudiant*.
Es que per parlar occitan - disiái ieu per galejar - baste de suprimir la vocala finala de las paraulas portuguesas: degra(u), plan(o),catolic(o) sac(o), vent(o), pont(e) e mai la rèsta. Qualsevòl mainatge brasilièr compren la crida de la maire occitana: - mon filh* - e mai que siá pas la de la "voz materna" al "rude e doloroso idioma" cantat per Camões (1).
Lenga d´Òc
Finalament, qu'es aquela lenga, dont los locutors an de se calhar per revendicar lo drech de l'utilizar? L'occitan, conegut coma provençal o lenga d´òc es una lenga neolatina parlada en Occitània, una nacion sens estat, al sud de França, qu'incluís los territòris del Lengadòc-Rossilhon, Provença, Gasconha, Auvernha, Lemosin e Delfinat, en mai de qualquas valadas alpinas d'Itàlia e de la Val d'Aran, en Catalonha. Alai se trapa de sites arqueologics e istorics, ruínas romanas, coliseus, aquaductes, anfiteatres, monastèris, glèisas, abadiá, en mai del patrimòni lo mai important que documentèt tot al sieu entorn: la lenga d´òc.
Al sègle IX - asseguran los especialistas - apareisson los primièrs documents escrits en occitan amb la mira de convertir los locutors al catolicisme, tota semblança amb çò que faguèron los missionaris en America amb los indians es pas una simpla coincidéncia. Eran traduccions eissudas del latin, himnes, poesias, racontes religioses, biografias de sants. Se conserva encara uèi lo manuscrit amb la version facha al s. XI de l'Evangèli de San Joan, en mai de pèças de teatre e de la poesia dels trobadors del s. XII e de la literatura juridica, filologica e scientifica a partir dels s. XIV e XV.
Mas l'usatge oficial de l'occitan semblava aver sos jorns comptats. Amb la Revolucion Francesa, l'abbat Grégoire, prèire e òme politic, traçèt una carta de las costumas e de las lengas parladas en França, a partir de questionaris mandats en 1790, que confirmèron çò que ja constatava l'Enciclopedia publicada qualques ans mai lèu: lo francés, parlat sustot a París, èra vist coma una lenga estrangièra a l'interior del país, ont predominavan las lengas vernacularas nomenadas depreciativament patoès.
Definit per l'Enciclopedia coma « lengatge corromput parlat dins gaireben totas las províncias », lo patoès èra en realitat « lo nom donat a las lengas dels pòbles vençuts », coma mai tard assabentava Joan Jaurés. Foguèt amb aqueste discors d'intolerància en relacion a aquelas lengas que l'abbat Grégoire elaborèt son « Rappòrt sus la necessitat e los mejans d'eradicar lo patoès e d'universalizar l'usatge de la lenga francesa ».
La compreneson de que las lengas constiuisson un dels supòrts de l'ordonançament social de las praticas administrativas de l'estat justifiquèt l'imposicion de la lenga francesa coma un dels fondaments ideologics de l'unitat nacionala, amb l'intransigéncia consequenta, dins la repression de las lengas restantas.
Lo Selvatge de França
Lo projècte politic defendut per l'abbat Grégoire voliá atudar las lengas utilizadas en lo mond rural, e tanben las parladas pels esclaus - per la libertat dels quals, es verai , lutèt, del moment que los òmes libres parlèsson lo francés, lenga qu'èra segon el "la lenga de la libertat". Coma deputat en la Constituanta, declarèt qu'aquesta lenga èra la melhora forma d'eliminar las supersticions – es ental qu'apelava el las conèissenças tradicionalas que passavan oralament per las lengas vernacularas. La sieuna proposicion de "crear un pòble" e de "dissòlver totes los ciutadans dins la massa nacionala" passava per l'universalizacion de la lenga francesa, establissent una relacion entre ciutadania e lenga oficiala. Aquela foguèt la politica de las lengas de l'estat francés.
Una estatua de l'abbat Grégoire foguèt inaugurada, i a gaire, dins lo còr de Montpelhièr en comemoracion de la liberacion dels esclaus durant la Revolucion Francesa, çò qu'es pas qu'una escòrna equivalenta a erigir un monument als bandeirantes o una estatua de Cabral (2) al dintre d'un vilatge indigèna en Brasil, conformament çò qu'observa Matiàs Gibert, que discutís lo ròtle intolerant de l'abbat dins un article : « Una França Selvatge: subre la 'colonizacion intèrna' ».
Lo modèl politic qu'interferís dins lo destin de las lengas regionalas es mencionat per l'evesque de Burgos, Pedro Luis Blanco, dins sa "Respuesta Pacífica de un Español a la carta sediciosa del francés Grégoire...", datada de 1798, en una polemica ont defendís la monarquia e l'Inquisicion criticadas per l'abbat, que considera cèrtas praticas politicas e religiosas de la Peninsula Iberica coma supersticiosas - "Nos tratan como índios" - se planh l'evesque, dont la protestacion èra non pas en defensa de las lengas indigènas, mas ben puslèu contra lo fach d'aplicar als espanhols los mateisses judicis de valor que los que l'Europa formava suls indians. D'aquela forma, l'evesque reconeis que las politicas colonialas de l'Espanha, ja que consideran las lengas indigènas coma portairas d'eretgias, cercavan a extirpar amassa amb las idolatrias, las lengas ont s'abrigavan.
Abans d'impausar la lenga espanhola, l'administracion coloniala usèt las lengas generalas (3) indigènas pel catechisme, çò que signifiquèt l'extinccion de plan d'autras lengas minoritarias. Mai tard, las constituantas de las republicas latinoamericanas tornaran prene lo modèle francés, associant la ciutadania a la mestresa de la lenga de l'estat.
Efectivament, en França, los pòbles de lengas minorizadas foguèron somés a un procés de « colonizacion intèrna », estudiat pel lingüista e istorian Robèrt Lafont, que foguèt professor de l'Universitat de Montpelhièr, especialista de literatura occitana. Segon el, las minoritats que vivon sul territòri controlat per l'estat francés foguèron colonizadas, d'après lo modèl del colonialisme extèrn. "Lo paísan francés es lo selvatge de l'interior" per utilizar una expression de Michel de Certeau, citat per Matiàs Gibert dins l'article ja mencionat.
Lenga d´amor
Malgrat tot aquò, la lenga e la cultura d'Occitània conquistèron un luòc dins la literatura e lo cinema. Istòria d'Adrien de Joan-Pèir Denís, qu'aguèri l'astre de veire en 1981, es tot en lenga d´Òc e sostitolat en francés. Lo filme raconta l'istòria d'un paísan, a l'iníci del s. XX, las migracions, l'exòde rural, la ciutat, la cauma dels agents ferroviaris. La causida de la lenga foguèt determinada - segon lo director - coma un mejan de sinhalar qu'en 1905 èra parlada pels paísans dins la vida quotidiana de la campanha e dels vilatges.
La trajectòria de la lenga e de la cultura occitana pòt èsser vista tanben dins lo documentàri Lenga d'amor (2013), estant tot parlat en lenga d'òc, escrit e dirigit per Patric Lavaud, qu'enregistra la narracions oralas, los racontes, la creacion literaria, la toponimia, lo bilingüisme e discutís lo ròtle de l'ensenhament de la lenga e del sieu futur, a partir dels sovenirs de son infància en sa bòria de familha, dins la region de Peirigòrd.
Occitània, tot coma lo mond indigèna, resistiguèt al colonialisme intèrn, qu'enebiguèt l'escolarizacion dels mainatges en lenga d´òc. La lenga foguèt enterrada, mas renasquèt, coma una semen. Uèi, las estimacions indican l'existéncia de 4 milions de locutors, e las conquistas de l'escòla bilingüe se trapan amenaçadas. Es per aquò que lo conselhièr regional d'Aquitània, Dàvid Grosclaude, inicièt lo 27 de mai una cauma de la fam. Los jornals francés de divulgacion nacionala nada noticièron, mas dins las rets socialas, de milhièrs de personas manifestèron imediatament lor sosten.
Lo 3 junh la cauma victoriosa foguèt interrompuda, amb la signatura pels ministres de l'Educacion e de la Cultura, d'un document que garantís la creacion d'un Ofici Public de la Lenga Occitana e las ressorças per son fonccionament. D'aqui en Brasil, despuèi lo Diário do Amazonas, saludam lo bufet del papet de Rossilhon que contunha de bufar sus las brasas de las tradicion, iluminant lo parlar occitan. La nòstra simpatia non es pas sonque la dels locutors de portugués, mas tanben la dels indians de Brasil. Lengas indigènas e lenga d´Òc: même combat!**
P.S. Mercetgi Matiàs Gibert per sas preciosas indicacions dins son article "Une France sauvage: autour de la 'colonisation intérieure' » e d'autras sugestions, eissudas d'escambis per e-mèls.
(1) S'agis de referéncia a un poèma del brasilièr Olavo Bilac (1865-1918) (http://www.horizonte.unam.mx/brasil/bilac1.html) fasent el-mateis referéncia a Luiz Vaz de Camões (1524-1580) considerat coma lo mai grand poèta de lenga portuguesa.
(2) Los bandeirantes (o « abanderats ») fa referéncia als colons portugués que durant lo sègle XVI decidiguèron de penetrar dins los territoris interiors del Brasil a la recerca d'or e d'autres materials precioses. Son considerats coma responsables de la mòrts de fòrça natius indigènas. Pedro Álvares Cabral (1467 o 1468 – 1520) es considerat coma lo « descobridor del Brasil ». Lo 22 abrial de l'an 1500, lo batèus portugueses menats per el son arribats sus la còsta nord-est del Brasil.
(3) Una recension del trabalh del professor Bessa, foguèt facha sus Jornalet qualques ans fa: http://www.jornalet.com/nova/849/cronica-duna-mort-pas-encara-anoncada
* en oc. dins lo tèxt
** en francés dins lo tèxt