CRÔNICAS

Somos todos Charlie. E Charlie é o quê, afinal?

Em: 18 de Janeiro de 2015 Visualizações: 63123
Somos todos Charlie. E Charlie é o quê, afinal?
Depois do assassinato de jornalistas do Charlie Hebdo, uma guerra discursiva explodiu na mídia e nas redes sociais com disparos de palavras que felizmente não matam um prato de feijão, só trucidam, às vezes, a sintaxe e a razão. De um lado, o exército "Eu-sou-Charlie" e, de outro, "Eu não-sou-Charlie", ambos comandados por insignes "generais".
Nesta guerra incruenta, a questão central, no entanto, não é to be or not to be, mas o que cada lado entende por Charlie. That is the question. A pergunta que o psicanalista Contardo Calligaris fez em sua coluna na Folha de SP é pertinente:
- Sou Charlie. E Charlie é o quê?
Charlie Hebdo é um jornal com charges "perigosas, criminosas e de péssimo gosto", responde a milícia anticharlista, comandada pelo teólogo Leonardo Boff, que postou artigo "Je ne suis pas Charlie", de autoria do jornalista Rafo Saldanha, mas atribuído inicialmente ao próprio Boff e depois ao padre Antonio Piber e cujo conteúdo foi de qualquer forma comentado e referendado pelos três.
Leitor assíduo e entusiasmado que fui por muitos anos do Charlie Hebdo, me autonomeio correspondente de guerra para enviar notícias do front de batalha e cobrir os ataques feitos pelos dois exércitos.
A santíssima trindade Boff-Piber-Saldanha, responsável pela difusão do citado artigo, embora criminalize as charges, lamenta o atentado que "poderia ter sido evitado", se logo "no primeiro excesso" a justiça francesa tivesse punido o jornal. Ou seja, os assassinatos aconteceram porque o Estado não impediu a publicação das charges "Mas isso é censura, alguém argumentará. E eu direi, sim, é censura", confirma o trio justificando que "nem toda censura é ruim".
Existe, portanto, a possibilidade de termos um Index Librorum Prohibitorum do bem - segundo a avaliação de quem já nele figurou. Essa noção de "censura boa" capaz de proteger vidas acabou dando munição aos atiradores de ralé situados nas trincheiras dos blogs e do facebook, que atacaram com rajadas de adjetivos desqualificativos o Charliezorum Hebdomadorum.
Humor cristão
Um sargento da tropa anticharlista, Jonathan Nemer, que se apresenta como "humorista cristão" - seja lá que diabo isso signifique - critica os desenhos da revista "que ridicularizam a fé de diversas religiões, incluindo o cristianismo". Alguns soldados rasos apoiados na declaração do Papa Francisco -"se xingar minha mãe, espere um soco" - denominaram as charges de "provocação irresponsável" e de "grave incompetência" dos cartunistas que "fizeram por merecer". Acusaram Charlie de "islamófobo especializado em blasfêmias".
Esses - digamos assim - argumentos, foram desmontados por Luís Fernando Veríssimo, Contardo Calligaris, Gregório Duvivier e Miguel do Rosário entre outros.
Para Veríssimo, a alegação de que "os cartunistas foram longe demais é o mesmo raciocínio de quem diz que mulher estuprada estava pedindo". Ele define "blasfêmia" como uma afronta ao sagrado. "Assim, a verdadeira discussão não é sobre o que as pessoas consideram blasfêmia, mas sobre o que consideram sagrado. Quem não crê em nenhum deus não pode, por definição, ser um blasfemo".
O mesmo tipo de armamento foi usado por Contardo Calligaris (Por que eu sou Charlie?) para rejeitar a acusação de islamofobia, ele prefere a classificação de cretinofobia.
- "Charlie Hebdo é uma publicação cretinofóbica, porque acha cretino qualquer um que adira a uma crença sem a capacidade de rir dela e de si mesmo enquanto crente. Por isso seria exato dizer que para Charlie Hebdo nada é sagrado. Nada é sagrado para todos, SALVO o princípio de que nada deve ser sagrado para todos. O que não é pouca coisa".
Para Gregório Duvivier, o que define o humor é justamente a brincadeira com o sagrado. Já que tudo é sagrado para alguém no mundo - a maconha, a vaca, a santa de madeira, o Daime, Jesus e Maomé - tudo merece respeito e falta de respeito.
Portanto, "os chargistas que mesmo ameaçados não baixaram o tom, não devem ser tratados como pivetes malcriados que fizeram por merecer, mas como artistas brilhantes que morreram pela nossa liberdade. Nosso dever é continuar lutando por ela, sem fazer concessões nem perder aquele ingrediente essencial: a falta de respeito pelo ódio".
É isso. O semanário Charlie Hebdo é um pequeno jornal alternativo francês que, no melhor espírito anárquico e irreverente de maio de 1968, sempre sacaneou o poder e as instituições que tem orçamento e hierarquia: estado, igrejas, mídia, bancos, academias, partidos políticos, forças armadas, polícia. Nem eles próprios escapam, riem de si mesmos. Wolinski declarou que depois de morto e incinerado, queria que suas cinzas fossem jogadas na privada de sua casa para que ele, de um lugar privilegiado, pudesse contemplar o fiofó da amada.  
Humor corrosivo
Pornográfico, desabusado e crítico, libertário e libertino, seu humor ácido e corrosivo, seu espírito satírico e gozador, seu atrevimento, sua insolência e agressividade, algumas vezes - confesso - me escandalizaram. Lembro de uma capa em que aparece Marine Le Pen, deputada racista de extrema-direita, de quatro, sendo enrabada. Na outra, se jura que todo racista tem pinto pequeno. Tive de esconder de minha mãe o exemplar que exibia na capa foto da gruta de Lourdes, na qual um soldado uniformizado debochava da Virgem Maria, que estaria menstruada. Passou dos limites. Será?
- Existe limite para o humor? - pergunta Duvivier, que imediatamente dá a resposta:
"O limite está no objeto do riso. Rir de quem está por baixo é covarde, rir de quem está por cima é corajoso. Deve-se rir do opressor, e não do oprimido".
Num belo artigo em que justifica "porque sou Charlie", Miguel do Rosário nos informa que "as artes francesas sempre se notabilizaram pelo escândalo, pelos excessos, pelo enfrentamento atrevido a toda forma de autoridade, no Estado, na Igreja, nas convenções sociais". No entanto, os "leigos" em cultura francesa classificam de xenofobia e islamofobia, as charges porque elas são agressivas. "Mas não é verdade - escreve Miguel - os desenhos de Charlie são herdeiros da tradição estética francesa voltada para a escatologia, o excesso, o escândalo".
Ele cita trechos de Rabelais, mas podia ampliar a longa lista com Voltaire, Marat, Sade e tantos outros, além da forte tradição anticlerical. Lembra ainda que na França não é crime blasfemar, zombar das religiões e de seus símbolos. Os excessos punidos por lei são a difamação contra pessoas, o racismo, o antissemitismo, a incitação à violência ou ao ódio, o que levou algumas vezes o próprio Charlie Hebdo a ser condenado pelos tribunais. O "normal" é quem se sentir ofendido recorrer ao tribunal e não ao soco, às bombas ou à censura. 
Portanto, quando alguém afirma "eu sou Charlie" não está necessariamente assinando embaixo de todas as charges. Está se solidarizando com jornalistas assassinados, está defendendo a liberdade de expressão em qualquer parte do mundo.
Charlie são os dois mil mortos nos últimos dias na Nigéria em atentados terroristas cometidos por extremistas. Charlie é Amarildo morto pela polícia carioca. Charlie são os milhares de membros da minoria tamil massacrados no Sri Lanka, os muçulmanos trucidados pelo Emirado Islâmico, os negros eliminados pela polícia dos Estados Unidos, os presos de Guantánamo, os palestinos, os judeus, os povos indígenas violentados pela invasão de suas terras, com seus líderes assassinados. 

Embora algumas charges do Charlie Hebdo tenham me escandalizado, não gostaria de viver numa sociedade em que elas fossem proibidas. Por isso, eu já fui Boff, quando ele, censurado e perseguido pelo Vaticano, constava no Index. Hoje, chuí Charlie. 

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56 Comentário(s)

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Fernando Jofili comentou:
23/01/2015
Leitura muito enriquecedora. Aborda o assunto de modo sensato, sem os extremismos boffianos e endossando a visão de figuras como Veríssimo. Curti. Parabens! Contato de Fernando Jofili
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Rodrigo Ludwig comentou:
23/01/2015
Professor, apreciei seu texto, bastante esclarecedor. Obrigado. Seguirei lendo sua produção. Um abraço.
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alvaro jr comentou:
23/01/2015
a liberdade exige, pra evitar q emerjam forças como o islã xrtm, equilibrio e vigilância, por mais q doa -e doem! seria exato dizer que para Charlie Hebdo nada é sagrado
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zezé comentou:
23/01/2015
Riba, esse é você, de novo e sempre.
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Artigo de Walter Altmann comentou:
22/01/2015
SOU CHARLIE? Se ser Charlie significa opor-se ao terror e ao uso da violência em qualquer assuntou, sou Charlie. Se é para se solidarizar com as vítimas e suas familias, sou Charlie. Mas se é para afirmar a superioridade da cultura ocidental, não sou Charlie. (leia o artigo no link abaixo) https://www.facebook.com/165178076914498/photos/a.244404765658495.51852.165178076914498/754614474637519/?type=1&theater
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Anne Marie comentou:
22/01/2015
Não entendi as alternativas apresentadas por Walter Altmann. Concordo em tudo com as condenações que faz, mas isso não é e nunca foi “Charlie”. Penso que talvez não conhece o jornal satírico Charlie Hebdo. Este nunca apresentou, muito pelo contrário, como “elevados valores ocidentais” certas visões e ações citadas: afirmar a superioridade da cultura ocidental, execrar a religião islâmica, defender os meios de comunicação que violam sensibilidades, ser a favor da “guerra ao terror do Bush”, da invasão do Iraque, do colonialismo e das suas atrocidades. Isso nunca poderia significar “eu sou Charlie”, "Ser Charlie" só tem um significado possível, aquele estampado nas primeiras frases do artigo: opor-se a terror e uso da violência, solidarizar-se com as vítimas a suas famílias, defender a liberdade de expressão e acima de tudo a democracia, a República num período em que estes valores estão sendo terrivelmente ameaçados, particularmente na Europe, e não unicamente (não principalmente) por uma religião. A tecnocracia europeia de Bruxelas está retirando dos povos e dos seus governos toda independência em nome da necessária obediência aos "mercados". Charlie opõe-se à submissão, como está estampado na página premonitória da edição que saiu no dia do atentado (antes do atentado). Um escritor francês, Michel Houellebecq imaginou uma França futura num romance intitulado "Submissão". O romance recebeu muitas críticas (inclusive críticas ferozes do Charlie) por se tratar de uma submissão ao Islam, mas para além desta escolha infeliz, o romance leva à reflexão em segundo grau sobre uma sociedade inteiramente submetida aos ditames do consumismo. Charlie hebdo sempre lutou contra toda forma de opressão, mesmo e sobretudo quando esta se esconde atrás do biombo "justificador" da religião. Mas se opõe, sim, à nova religião dos "mercados" todo-poderosos. Sempre se opôs, sim, com sátiras radicais, com escarnio à opressão, de onde fosse que ela viesse. Não posso fazer a pesquisa necessária para demonstrá-lo, mas é preciso, como dizem os franceses, “remettre les pendules à l´heure” (acertar os relógios).
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Hans Trein comentou:
22/01/2015
Caro Bessa, Gostei muito de sua reflexão ponderada. Também gostei do comentário de Anne Marie. Aliás, sua reflexão contribuiu muito, para que seus leitores e leitoras se envolvessem com suas respectivas reflexões. Li todas e gostei do espírito reinante. Sinto que a linha que separa o ser Charlie e o não ser Charlie, hoje em dia, é muito tênue. Às vezes a gente está de um lado, às vezes do outro. O nosso mundo é muito diverso, sobretudo quando pensamos em ocidente e oriente e suas respectivas histórias e culturas. Do ponto de vista ocidental - que também é o meu ponto de vista - aprendemos por séculos a prezar a liberdade com igualdade e fraternidade. O modernismo nos incentivou a dessacralizar tudo – o que, por sinal, também foi a base para o advento e o desenvolvimento do capitalismo voraz que agora começa a ameaçar a continuidade da vida na terra e que está assustando – pelo menos um pouco – até mesmo a elite de Davos. O pós-modernismo está nos confrontando com a realidade de que nem tudo é racionalmente explicável e há forças que escapam aos instrumentos científicos que foram elaborados durante a modernidade. Talvez estamos iniciando um ciclo de re-sacralização. E, para garantir que continue havendo vida sobre a terra, talvez seja importante dizermos claramente o que para nós é sagrado! Abaixo repasso a reflexão de um colega pastor da IECLB que também poderia fazer parte dos comentários ao seu texto. Um forte abraço gaúcho, Hans Alfred Trein
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Anne-Marie comentou:
22/01/2015
É isso mesmo Hans. Bem que as razões dos partidários do "Eu sou Charlie" e do "Eu não sou Charlie" poderiam ser, em grande parte, as mesmas! Bem que os verdadeiros opositores poderiam encontrar-se no Pegida, movimento alemão que combate o Islam e cujo chefe foi agora pego disfarçado de Hitler numa foto que saiu em redes sociais.
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jose comentou:
21/01/2015
Espetacular. Simplesmente.
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Vera Dodebei comentou:
20/01/2015
Parabéns, Bessa, principalmente por todas as excelentes citações. Não queremos censura nem bombas! Contato de Vera Dodebei
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20/01/2015
Caro Professor José Ribamar Bessa Freire, você foi brilhante nesse texto e eu continuo afirmando que SOU CHARLIE HEBDO. Durante milênios a humanidade assistiu calada e passiva o assassinato de milhões de pessoas inocentes, vítimas do fundamentalismo e dos interesses políticos econômicos de cristãos católicos e evangélicos (até o século passado protestantes), judeus e muçulmanos. Ou você aceitava os absurdos de cada um desses grupos ou as penas dos infernos eram nada comparadas ao inferno de vida que as pessoas passavam a ter a partir das denúncias. Não são os escritores, os críticos que ridicularizam as religiões, são elas mesmas que o fazem a partir de seus absurdos canônicos, litúrgicos, filosóficos e teológicos que são empurrados goela abaixo das pessoas que tem a infelicidade de nascer em lugares onde impera o fundamentalismo. Eu já fui cristão católicos, hoje sou animista graças a Deus. Meu povo e sua relação com o sagrado, haja vista que não nos enquadramos ao pé da letra na palavra religião, tem sido vitima constante do humor ácido de toda humanidade. Nem por isso matamos ninguém por ter feito uma caricatura de Oyá ou de Oxalá. Pelo contrário, nossos usos e costumes são troçados pelo bom e pelo mal humor impunemente desde que o Brasil foi assaltado pelos portugueses em 1500. Luto pela liberdade da liberdade desde que caiu a ficha assim que saí do seminário católico em 1986 e entrei para o telejornalismo. Não foi fácil abrir mão de conceitos enraizados ao longo de décadas de uma formação radical, como não foi e não está sendo fácil para eu me tornar de fato negro. Por sinal não basta ter a pele preta para ser preto/negro. Há muito neguinho se dizendo preto, mas conserva todos os vícios e costumes de brancos. É mais fácil usar paletó que abadá, ou seja, cumprir a regra imposta e não fazer nada que possa comprometer a ascensão profissional ou social. Assim é também no sacrossanto ofício de fazer comunicação de massa, de ser consciência de um povo, de uma geração. Muitos compreenderão, muitos jogarão pedras, outros repetirão magistralmente o ato de Pôncio Pilatos, se farão de "isentos" ainda que isso signifique a morte de inocentes. Entendo que o que está posto é a continuidade ou não da defesa da existência e da continuidade do fundamentalismo baseado no "respeito" ao religioso, ao pseudo sagrado/divino. Defende-se isso com unhas e dentes, como forma de dizer: não me toque, não me conteste, a verdade me pertence. No fundo uma defesa da condição narcísica individual e ou coletiva. Prefiro errar apoiando o prensamento crítico a ser considerado certo ao ser conivente com o fundamentalismo. No mais estou tomando a liberdade de usar trechos do seu texto em algumas de minhas postagens. Finalizo agradecendo pela brilhante reflexão que esse artigo nos impele a fazer. Um grande abraço. Contato de Alberto Jorge Silva
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Heliete comentou:
20/01/2015
Parabens pelo artigo. Comentário de Anne marie também é muito esclarecedor,
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Paulo comentou:
20/01/2015
Bom, na França, de humor satírico, muçulmanos são proibidos de rezar em espaço público. Podem ir presos. A Liberdade de Culto é um valor tão importante quanto a Liberdade de Expressão. Mas essa proibição não gerou comoção como a morte dos cartunistas. Nenhum era muçulmano, evidentemente.
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Ana Silva comentou:
19/01/2015
Adorei, de verdade, o teu texto. Realmente, o X da questão não está na criminalizaçao do Charlie e nem dos cartunistas. Obrigada pelo belo, instigante texto. Genial, merci Bessa.
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Ana Silva comentou:
19/01/2015
Adorei, de verdade, o teu texto. Realmente, o X da questão não está na criminalizaçao do Charlie e nem dos cartunistas. Obrigada pelo belo, instigante texto. Genial, merci Bessa.
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Leonardo Peixoto comentou:
19/01/2015
Obrigado, Bessa. Um texto interessante em meio a tanta informação desencontrada. Não gostei muito do penúltimo parágrafo, mas o texto me ajudou a entender muita coisa. Sobre os limites do humor, acho que o Gregório Duvivier finalmente conseguiu definir muito bem. Mais uma vez, obrigado pelo texto.
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André comentou:
19/01/2015
Você esqueceu de mencionar, ao final, que Charlie também somos nós cidadãos que fomos enganados pelo PT e hoje somos todos fuzilados com uma altíssima carga tributária e obrigados a assistir todos os dias à descoberta de escândalos e mais escândalos de corrupção.
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Ana Stanislaw comentou:
19/01/2015
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André comentou:
19/01/2015
Aqui (en frances) el analisis de un filosofo que fala do Islam muito profundamente https://dub126.mail.live.com/mail/ViewOfficePreview.aspx?messageid=mg5aAR_deb5BG6eAAhWtez7A2&folderid=flinbox&attindex=0&cp=-1&attdepth=0&n=59773700
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André comentou:
19/01/2015
Je n’achète pas Charlie Hebdo. Il crache dans la soupe des autres. Et ça, c’est pas du tout poli, surtout quand on le fait avec ses invités ou ses étrangers. Reste que les villages et les villes où on aimerait vivre en famille, entourés d’amis et de bons voisins, sont loin d’être à l’abri des polutions, définitivement policées et dépoluées, et loin de pouvoir se dire civilisées et sorties de l’état sauvage ou de l’obscurantisme. La sauvagerie n’est pas chez les autres. Elle est en chacun de nous et dès le moindre petit pouvoir, même chez le très jeune enfant qui se met à mordre sa petite sœur, pour le plaisir de la voir pleurer ou de lui voler sa sucette. La sauvagerie s’appelle aussi violence, elle opère depuis toujours au nom de beaux principes auxquels on feint de croire. Au nom de l’Évangile et des rois catholiques et pour toutes sortes d’autres raisons, les Espagnols et d’autres Européens ont envahi l’Amérique et décimé les Amérindiens ; leurs descendants continuent aujourd’hui d’envahir les territoires indigènes même délimités. Au nom du communisme, on a eu le stalinisme ; au nom de la nation, on a eu le nazisme ; au nom de l’Islam, on a eu le terrorrisme ; au nom de la liberté, on a eu Iroshima et Nagasaki, ou encore le napalm ou l’invasion de l’Irak.... La grand constante, c’est que la violence congénitale des hommes conduit, dès qu’elle trouve le plus petit espace, aux pires horreurs. Et que ce petit espace, elle le trouve toujours parce que nous refusons de regarder la racine même du mal : le refus de voir la violente, et quand on la voit, le refus d’agir en lui opposant immédiatement une non-violence. Je serai donc assez d’accord avec une réflexion d’Albert Einstein qui aurait dit que « le monde est dangereux à vivre, non pas tant à cause de ceux qui font le mal, mais à cause de ceux qui regardent et laissent faire ». Finalement, le monde est dangereux à cause de ceux qui ne voit pas les racines du mal, par ignorance ou parce qu’ils font l’autruche. C’est pourquoi je défendrai la liberté d’expressions de Charlie hebdo : bien qu’il crache dans la soupe des autres, il a le mérite de nous faire voir ce que nous ne voulons pas voir.
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Fellipe Soares comentou:
18/01/2015
Ola, professor. Permita-me discordar. Acredito que o Charlie Hebdo se perdeu nos excessos, principalmente nas charges contra o islã, pois seus seguidores são hoje na Europa, oprimidos. Muitas delas serviram pra extrema direita francesa e europeia. Não sou contra as críticas as religiões, até as acho necessárias, mas acredito que devem ser feitas objetivando alguma reflexão válida, e muitas das charges em minha opinião não continham isso, apenas com o intuito do escracho por si só.
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Ana comentou:
18/01/2015
Não deveria dizer nada, mas me deu vontade. O Charles Chaplin fazia humor da sua própria história de vida, muito sábio, fazia todos rirem da desgraça dele... Fazer humor com a vida dos outros anda muito perigoso. Todos os valores andam de cabeça pra baixo. Ninguém sabe mais em quem confiar. Por uma ultrapassagem de carro indevida, podemos ganhar um tiro... Tenho um amigo que quando vê alguém contando uma piada preconceituosa sai de perto sem que ninguém perceba, nunca riu de nenhuma. Soube de um fato, em que um professor desprezando uma aluna da América, uma peruana, numa universidade na Europa, ela para defender-se usou o seguinte argumento: "- Podemos ser inferiores aos senhores, mas nunca matamos o nosso Deus!" Fica aqui a questão da relatividade do que o outro pode fazer para defender o seu direito de expressão sem limites e o direito de defender o seu deus também sem limites. Logo, não sou um nem o outro. Voto pelo equilíbrio em ambos os casos.
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terezinha juraci comentou:
18/01/2015
Então meu amigo Bessa, embora, tenha achado excelente sua crônica,continuo não querendo ser Charlie, digo não , á violênciais, á discriminação, seja ela qual for. Como negra consciente e militante, desde o nascimento, uma negra em movimento, como dizem meus companheiros de luta anti-racista, depreciar, escarniar pessoas, credos religiosos, e o escambau para mim é desrespeito puro - VIVA o humor, VIVA a liberdade de expressão, SIM, mas responsável e respeitosa, seja na França ou em qualquer parte do mundo. Super abraço, Saudade de você!!!
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Ricardo Ribeiro (via FB) comentou:
18/01/2015
Acho que o Charlie ê a pimenta no furingo do outro . O outro só reclama quando sente a força dessa pimenta .. Mas isso não importa , tudo pelo humor , desde que não seja você o alvo .
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18/01/2015
José Bessa sempre praticando a parresía Contato de Leonard Costa (via FB)
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Susana Grillo comentou:
18/01/2015
Bessa, obrigada por dar uma clareada em tanta ideia confusa e contraditória. Concordo com você principalmente no ultimo parágrafo. Um grande abraço,
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Anne-Marie comentou:
18/01/2015
Belíssima reflexão, amigo Bessa. Você disse o ponto essencial: Charlie nunca zomba do oprimidos, somente dos poderosos o ou dos que, ainda que oprimidos, se achavam justificados pelo fato de aderir à opressão. Como diz o nosso Paulo Freire: "O oprimido é hospedeiro do opressor". É isso que Charlie escancarava (e escancarará) impiedosamente. É isso: "Charlie é o (nosso) Amarildo". Por força de um luto na minha familia, estava na França, minha terra natal, na semana em que tudo ocorreu. O que se viu foi, na minha opinião, um embate de sagrados. Nem todo sagrado é religioso. Os comunistas ateus que morreram aos milhares na Europa durante a Segunda Guerra Mundial na Resistência ao nazismo defendiam algo que lhes era sagrado. O que achei lindo, o que me emocionou até as lágrimas foi ver renascer o sagrado numa sociedade que parecia ter perdido toda esperança e todos os seus valores, numa sociedade onde o individualismo e o consumismo pareciam ter tomado conta de todos, onde política tornou-se um palavrão, onde mesmo religião não parecia significar mais nada (são pouquíssimos os praticantes, menos de 10% dos católicos). Segundo a expressão de um dos meus mestres, Dany-Robert Dufour, professor da universidade Paris 8, a morte dos Grandes Sujeitos (Deus, a Pátria, o socialismo, a República) parecia ter entregue sociedades inteiras à anomia e à fuga no consumo. De repente, sem que ninguém tivesse organizado nada, na noite mesma do atentado, centenas de milhares foram às ruas, chorando, acendendo velas, colocando flores no pé do monumentos à República. As crianças nas escolas escreviam poesias, desenhavam, improvisavam encenações. De repente, como de um vulcão que parece morto, surgiram lavas incandescentes, dia após dia, até as enormes manifestações do domingo. Estava na de Paris que de tão gigantesca teve 5 ou 6 percursos pelas maiores avenidas da cidade. É isso que significa "Eu sou Charlie", não assinaria embaixo de todas as charges mas concordo com você, defendo o direito à publicação daquelas de que não gosto, daquelas, até que poderiam me ofender se não entendesse que se trata de um "segundo grau". Defendo o direito sagrado ao riso, supremo subversivo. Lembrei imediatamente do Nome da Rosa, dos monges que morrem por terem lido a Poética de Aristóteles e do caráter indomável do riso humano. Não há nada mais subversivo do que o riso e é por isso que os dominadores de toda espécie querem calar o riso, querem matá-lo. Na França, naquela semana, o riso e o choro não eram opostos, eles se reforçavam um ao outro.
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Lori Altmann comentou:
20/01/2015
Muito vivo e tocante seu comentário!
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Marco comentou:
18/01/2015
Li o ulimo Charlie. Achei bem divertido, coerente e irreverente o número do Charlie, se recusam a compactuar com o mundo profano das celebridades institucionais e midiáticas
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Melissa comentou:
18/01/2015
Enfim um texto cabeça-aberta, sem rabo preso e sem pré-conceitos construídos pelas referências facebookianas. Parabéns pelo texto! Irei compartilhá-lo aos sete ventos com a devida referência.
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Jessica A. comentou:
18/01/2015
Adorei, José Bessa! Objetivo, esclarecedor e histórico-informativo, especialmente para quem sofre de confusão passional. Você (mais uma vez!) arrasou!!!
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ana lucia abrahim comentou:
18/01/2015
Querido Bessa, mais uma vez vc arrasou! Gostei muito da lucidez com que elencou os argumentos do que é ser charlie. Parabéns, e um abraço! Contato de ana lucia abrahim
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Fernando Carvalho (via FB) comentou:
18/01/2015
Acho de péssimo gosto algumas coisas publicadas no Charlie e não compraria o jornal. Mas é direito deles publicarem e desenharem o que quizerem. O limite é deles. Qualquer coisa fora disso é censura.
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Tadeu Veiga (via FB) comentou:
18/01/2015
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Fernando Carvalho (via FB) comentou:
18/01/2015
Tadeu, apenas com sua observação vi que o autor é de fora do eixo RJ x SP, o José Bessa que não conheço pessoalmente. Compartilhei este link da pagina do meu filho que mora em Paris e lá teve acesso ao texto. Isso mostra claramente que a informação bem escrita e o tema liberdade tem seguidores em todos os cantos do mundo, independente da localização da origem. Je suis José também.
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Marco comentou:
18/01/2015
Eu também sou Charlie e não os que o mataram (não sabemos comprovadamente quem foi) ou aqueles que gostariam de eliminá-los. Uma charge não merece processo, prisão nem assassinato. Merece outra charge. Sou cada vez menos bofe, fundamentalista do oportunismo. Como diziam os companheiros anarquistas na Guerra Civil espanhola, "el bien más preciado es la libertad \ hay que defenderla com fe y valor"." O resto é resto.
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Rodrigo Octavio Padilha (via nFB) comentou:
18/01/2015
Concordo com o que escreveu o Tony Bellotto Titã: "Mais do que nunca é preciso combater a intolerância. E não me venham por favor querer justificar em alguma instância os atentados acusando dissimuladamente os humoristas franceses de descaramento, arrogância e ousadia. Pensar assim é colaborar com o terror e a estupidez. Nada é tão sagrado que não mereça uma profanação ou uma sacanagem".
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Felipe Libório comentou:
18/01/2015
Acredito que o grande ponto não seja debochar ou blasfemar de religiões (isso é um direito de todos e está debaixo do direito de liberdade de expressão), mas a que interesses serve esse deboche. Ao contrário dos cristãos, racistas de direita e outros grupos ridicularizados pelo jornal, os muçulmanos são na França uma minoria marginalizada e perseguida, sofrendo mais ou menos o que os negros e índios sofrem aqui no Brasil. Faria sentido um jornal brasileiro debochar do infanticídio praticado por algumas tribos indígenas? E das oferendas de animais que ainda são realizadas por segmentos do Candomblé? A quem isso interessaria? Fazer uma sátira de aspectos do catolicismo vai apenas ofender os católicos, não vai reforçar estereótipos que justifiquem sua perseguição ou os tornem separados do restante da sociedade. Retratar muçulmanos da maneira como o Charlie Hebdo retratava faz exatamente isso, não à toa os xenófobos europeus estão surfando na onda de indignação contra os assassinatos.
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Anne-Marie comentou:
18/01/2015
O Charlie não faz escarnio dos muçulmanos e sim da prepotência dos que pretendem dominar através da religião. Milhares de muçulmanos desfilaram com o cartaz "Eu sou Charlie".
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Nilda Alves comentou:
17/01/2015
Caro amigo, maravilha, mais uma vez! Só faltou uma frase: se não fosse a França a terra deste tipo de literatura e desenho, não se entenderia a manifestação de domingo que reuniu velhinhas que nunca tinham ido a uma manifestação a crianças segurando lápis e cartazes dizendo "je suis Charlie" Ou seja: só assim se entende a festa de domingo em Paris em que até o sol esteve presente depois de dias de chuva. Grande abraço e já vai para muitos lugares (com a minha frase acrescentada) Nilda
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Christina Ferreira comentou:
17/01/2015
Se você pensar que Cristo escandalizou a todos na sua época, podemos entender o ódio por trás de todo esse movimento de negação à sátira e de promoção da censura. #JeSuisCharlie
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Soraya Lopes da Silva comentou:
17/01/2015
Concordo plenamente com o texto!
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Carolina Varella (via FB) comentou:
17/01/2015
Obrigada por esse texto, José Bessa! No fim da leitura respiro aliviada por não me sentir tão sozinha com minha opinião (apesar dessa opinião continuar sendo da minoria).
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Carolina Coelho Varella comentou:
17/01/2015
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Talita Magalhães (via FB) comentou:
17/01/2015
Sorri já na citação de Luís Fernando Veríssimo. Quis chorar excepcionalmente nos dois últimos parágrafos. Grata, mestre José Bessa. Chui Charlie, na mesma medida.
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M.deMelo Foucher comentou:
17/01/2015
Para os leitores de Bessa meu mano transmito um complemento a mais de informaçoes para entenderem essa França que eu e Bessa apreciamos a irreverência de seu humor. Nos cruzamos nos artigos...Mas o Bessa escreve satiras e na certa prendeu na França! http://correiodobrasil.com.br/destaque-do-dia/a-franca-de-voltaire-e-charlie/747694/
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Anne-Marie comentou:
18/01/2015
Ótima a referência citada! Queria acrescentar também outra do professor Antônio Ozai da Silva, escrita por ocasião da publicação de caricaturas de Mahomé por um jornal dinamarquês: http://www.espacoacademico.com.br/058/58ozai.htm
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Monica Melo (via FB) comentou:
17/01/2015
fico impressionada com a quantidade de opiniões que é possível sobre um fato. E fatos não dependem de opiniões...
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Rosa Godoy (via FB) comentou:
17/01/2015
Dependem,sim, minha cara. Para nós historiadores, acontecimentos não dependem deopiniões,são o que são, mas os fatos, eles são construídos pelasinterpretações dos acontecimentos.
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Simão Pessoa (via FB) comentou:
17/01/2015
Genial. Mestre José Bessa mostrando pela enésima vez porque é o melhor cronista do Bananão. Deliciem-se, pô!
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Juarez Silva (Manaus) comentou:
17/01/2015
A argumentação é embasada, mas continuo "Não sendo Charlie"... tradição francesa ou não, não visualizo a "escatologia charliesta" como "útil" a nada, nem ao riso, já que não muda minimamente as realidades que diz "combater" e nem tem graça alguma para quem se sente atingido, fazer piada sobre racistas e na sequência fazer charges racistas também além de paradoxal é pura hipocrisia, ao contrário do último parágrafo, não vejo Charlie nem Charliestas de fato se preocupando ou fazendo sequer referência aos citados, por falar em citação... adoraria ver uma charge sem graça com um chargista segurando o Charlie e dizendo "quero continuar ofendendo geral em nome do humor e liberdade de expressão !" enquanto o jornal (e o chargista são perfurados por balas) e ao lado um "grande pensador contemporâneo amazonense" dizendo " É ???, pois então morra... " .
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Waldir Landim comentou:
17/01/2015
Perfeita a sua leitura senhor Juarez.....
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Adriano Lopes (via FB) comentou:
17/01/2015
Artigo fantástico Professor! Parabéns...
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