CRÔNICAS

Expedição Priquita (II) Sanches queridinho vem cá

Em: 08 de Outubro de 1986 Visualizações: 2042
Expedição Priquita (II) Sanches queridinho vem cá

Cientistas amazonenses organizaram a “Expedição Priquita” – uma viagem de pesquisa à França – com o objetivo de dar o troco à expedição feita por Jacques Cousteau à Amazônia, cujos resultados estão sendo redivulgados todas as terças-feiras pela TV Globo para todo o Brasil.

Os pesquisadores amazonenses, infelizmente, não tiveram a mesma formação rigorosa do “Baixinho”, aluno de Ciências no 1º grau do Colégio Ida Nelson. Na recente Feira de Ciências coordenada pela profª Miriam, o “Baixinho” deu um show descrevendo os hábitos do boto e do peixe boi de forma mais completa que o Cousteau.

Baseada na metodologia de Cousteau, a Expedição Priquita também se dividiu em três partes: a primeira equipe ficou responsável de entrar na França pela Suíça, procurando as nascentes do rio Sena nos planaltos da Bourgogne. A segunda, vindo do Norte, entrou pelo corredor da Bélgica, e se encontrou com a primeira justamente na confluência dos rios Marne e Sena, já praticamente dentro de Paris. O terceiro grupo fez uma “ferradura” em volta da França: Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra, entrando pelo Canal da Mancha, onde se juntou às duas primeiras equipes em pleno estuário do Sena, na comuna Le Havre, na Normandia.

Os cientistas cabocos fizeram seu trabalho de campo em Paris para estudar, com metodologia antropológica, os hábitos e costumes dos franceses em Pigalle e nas boutiques do Faubourg Saint-Honoré.

As três equipes estavam atormentadas por uma série de dúvidas e questões: Qual o tamanho exato do rio Sena? As suas águas se misturam com a do Marne? No rio Sena tem pororoca, tem piracema? O leito do Sena é compartilhado por Paris? Essas e outras perguntas atormentavam o cérebro dos integrantes da “Expedição Priquita”.

As informações científicas produzidas pela Expedição Priquita mantiveram sempre o mesmo nível e a mesma consistência daquelas fornecidas por Cousteau sobre a Amazônia, ressaltando tudo aquilo que é pitoresco, exótico e insólito. Pode a França da Priquita, como a Amazônia de Cousteau, alimentar o planeta? A COSAPA – Companhia de Saneamento de Paris -  produz água enlameada como a COSAMA em Manaus? O diretor da COSAPA usa o dinheiro da empresa para favorecer alguma candidata política?  Qual foi o impacto do “Projeto Meu Filho” sobre a tecnologia educacional francesa?

As perguntas continuam: Se as eleições do Amazonas fossem hoje e se os franceses pudessem votar, em quem votariam? Como repercutiu em Paris o debate entre os candidatos a governador do Amazonas? A Batalha do Igarapé de Manaus é ensinada de forma correta nas escolas francesas da mesma forma que nós estudamos no Brasil a Batalha de Waterloo? A famosa espécie em extinção – Chiqueiroz – sobrevive ainda na Europa? A Torre Eiffel é mais alta do que o IAPTEC? Na França tem “colarinho verde”? Se tem, as pessoas envolvidas em crimes de corrupção continuam ocupando cargos de confiança?

O chefe

Os pesquisadores só começaram a respostas estas perguntas, após a escolha do “Cousteau amazonense”, isto é, o chefe da Expedição Priquita. Muitos pretendentes ao cargo apareceram com cartãozinho de políticos e empresários que recomendavam seus respectivos candidatos, Infelizmente, prevaleceu o bom senso e o escolhido foi o emérito cientista caboco João (JO) Felix (FE) Toledo (TO) Pires  (PI) de Carvalho (CA), ex-secretário municipal de educação, inventor de uma geringonça chamada “Projeto Meu Filho”, atualmente exercendo as funções de pachequinho da Casa Civil do Governo do Estado.

Este emérito cientista, de renome municipal, cavaleiro da Ordem de Santa Etelvina, foi o indicado considerando às etelvinices por ele formuladas durante o programa de TV “Nosso Encontro”. De forma sistemática e insistente, a jornalista Baby apertou o entrevistado com perguntas pertinentes. Ele acabou confessando tudo: quem cometeu o “Projeto Meu Filho” foi ele, o próprio JOFETOPICA. Denunciou o seu cúmplice, o candidato oficial a governador, aquele que foi contra a CPI do lixo, porque o presidente desta Comissão, o relator, o vice, o relator – “ são todos meus inimigos”, tudo isso fazendo boquinha de boca- de-bilha e contando seus desafetos nos cinco dedos da mão.

Evidentemente

Com uma boina vermelha semelhante à usada por Jacques Cousteau, Jofetopica, evidentemente, começou a Expedição Priquita buscando informações, evidentemente, sobre o impacto do Projeto Meu Filho na tecnologia educativa da França.

Jofetopica é tão apaixonado pelo advérbio “evidentemente”, quanto Amazonino Mendes o é pela expressão “de formas que”. O ex-secretário não consegue articular duas frases seguidas sem usar o “evidentemente” umas dez vezes. Evidentemente, a impressão que a gente tem, quando o ouve falar, é a de que, quando xinga alguém mandando para a PQP, manda para a PQ evidentemente P.

Os cientistas amazonenses evidentemente ficaram estarrecidos quando constataram que 100% dos franceses ignoram completamente o “Projeto Meu Filho” e ainda não assimilaram a tecnologia de ponta desenvolvida por ele.

No entanto, quando foram notificados sobre os detalhes deste grandioso projeto – traduzido lá evidentemente com “Projet Mon Peti Pivette”, a francesada ficou evidentemente estarrecida e se indagava de qual cérebro havia saído esta proposta evidentemente maravilhosa e original de colocar uma tenda no meio da praça, distribuir material escolar com a propaganda política impressa e denominar essa coisa de Projeto e ainda de lambuja aproveitar, evidentemente, o trabalho grátis na limpeza das praças. Os franceses lamentaram o desperdício do dinheiro gasto na França com a educação, tudo por desconhecerem, evidentemente, a solução barata do Projeto Meu Filho.

Mais maravilhada ainda ficou a francesa ao descobrir, estupefacta, que o mencionado projeto aboliu qualquer tipo de privilégio, favoritismo, clientelismo ou mordomias, tão característicos da vida política regional quanto o tacacá e o pirarucu. A prova disso: o governador do Estado e seu ex-secretário municipal juraram publicamente que se sentem orgulhosos do Projeto Meu Filho por ele ser altamente revolucionário. Ora, se esses dois homens fossem corruptos, os primeiros alunos matriculados numa tenda dessa seriam os seus próprios filhos. Mas não, ambos não apenas se privaram de usar essa moderna tecnologia educacional em proveito dos seus respectivos rebentos, como deixaram de fora os filhos de todos os amigos e parentes, numa clara determinação de que seguem o princípio invertido:

- Mateus, evidentemente, primeiro os teus, depois os meus. Evidentemente.

Darcy Ribeiro chamou Agnaldo Timóteo de “essa coisa”. Os franceses também denominaram o Projeto Meu Filho de cette chose là, destacando que uma coisa dessa só podia ocorrer mesmo no Amazonas. Quer dizer, aqui não apenas se é capaz de elaborar um projeto poliomielítico como esse, mas ainda se tem a audácia e o tope de apresentar esse troço como modelo. É muito escárnio, não é não, leitora? Eles pensam que nós somos lesos. Evidentemente.

Pororoca

Enquanto a terceira equipe, chefiada pelo próprio Jofetopica, tentava, evidentemente, fazer propaganda, sem sucesso, do Projeto Meu Filho nas ruas de Paris, a primeira equipe descobria porque o rio Sena não tem pororoca.

O rio Sena lança 510 m3 de água por segundo no Canal da Mancha, onde desemboca num estuário de 10 km de comprimento. Segundo o geógrafo do INPA Phellipe Nalé, isto é suficiente para produzir uma pororoca. Não uma porrorrocona ou uma porrorrocaça, mas pelo menos uma porrorroquinha ou uma porrorroquita. No entanto, inexiste o fenômeno da pororoca na França.

Tal ausência se deve não ao fato de o Canal da Mancha fugir do pau e evitar a briga com o rio, mas a fatores exclusivamente linguísticos, porque a palavra pororoca é impronunciável na língua francesa. Caso existisse o fenômeno, para nomeá-lo todos os franceses padeceriam de edema nas cordas vocais devido à dificuldade de pronunciar porrorrocá ou mesmo porrorroquinha.

Ora, sem as palavras para designar os fenômenos, eles não existem. Da mesma forma que, tendo a palavra, mesmo que o fenômeno não exista materialmente, ele passa a existir. Se você chama, por exemplo, de “Projeto Mãe-Amiga” a distribuição demagógica de dois cueiros, duas chupetas e uma mamadeira para as parturientes pobres, essa geringonça passa a existir. Para isso é que o verbo se fez carne e habitou entre nós.

Samba Crioula

A equipe de cientistas amazonenses, no momento em que navegava pelo rio Sena,cantava canções típicas de Manaus do período da borracha, tais como: Frère Jacques, dormez-vous ou então Alouette, gentille Alouette ou ainda “Au Clair de la lune, mon ami Pierrot”.

De repente, um gruito:

- Olha lá, uma espécie em extinção!

Todos olham para a rive gauche do rio Sena, na altura da ilha de Saint-Louis. Um ser vivo, vivíssimo, se contorce nas margens do Sena, pula, geme, torce as mãos, move os braços, dobra os joelhos, curva-se sobre o seu próprio peso. O comandante Jofetopica deu ordem de parar o barco Silas Moisés ( O Calypso da Expedição Priquita) e todos entram no ônibus anfíbio denominado Manecau, que parte em direção à margem do rio.

Na medida em que o Manecau se aproximava, os cientistas arriscavam o seu palpita para classificar a espécie em extinção que se contorcia. Será o Chikeiroz Tribunalis Contis Municipis? – indagavam uns. Pode ser o Carlos Albertus Larapius, exclamavam outros.

Quando ancoraram, os membros da expedição Priquita descobriram tratar-se de uma espécie realmente em extinção, muito similar àquela encontrada no Amazonas durante o programa eleitoral do TRE. A expressão corporal se assemelhava muito a do Jacó Figueiredo, candidato ao senado pelo PDS (vixe vixe). Quando o Jacó fala, gesticula e se entorta todo como as crianças na brincadeira de roda “ Samba crioula, que veio da Bahia”. Você vê quando ele  “pega a criança e joga na bacia”.

Pois é, o Jacó Samba-Crioula é excelente vendedor de imóveis e por isso mesmo não consegue vender a sua própria imagem na TV, porque é demasiado móvel. Cada vez que ele fala, perde pontos nas pesquisas de opinião. Já está com 0.2%. Se continua falando até o 15 de novembro, vai receber votos contra e vai ficar devendo votos ao eleitor amazonense.

Quanto à expedição Priquita, ela quase é desmantelada, ameaçada de perder um de seus melhores integrantes, justamente o pediatra da equipe. Quando os cientistas amazonenses desciam a Rue Itamarracá no bairro de Pigalle, uma francesa, com a voz carregada de sensualidade, murmurou: “Sanches, mon chéri, viens ici”.

Meu amigo Sanches atenderá ao comovente apelo? Para onde o levarão? O que acontecerá com a Expedição Priquita. Lances emocionantes desse próximo capítulo, leia na próxima semana “Expedição Priquita, c´est fini”. Confira ainda esta revelação bomba: Jacques Cousteau não existe!!!! Aquele senhor que apareceu na Globo de boina vermelha e nariz aquilino é um ator global maquiado ou é a sogra do Vavá disfarçada?

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