-Tuc-tuc, Tuc-tuc,Tuc-tuc!
Você ouviu leitor(a), essa batucada aí em cima, na primeira linha? Então, preste atenção! Ela vai soar outra vez, agorinha mesmo, aqui ao lado, mais forte, em negrito, logo depois dos dois pontos: Tuque-Tuque, Tuque-Tuque, Tuque! Eu não disse? Agora, você também ouviu.
Pois é! Que tipo de som é esse? Será a bateria da Escola de Samba da Aparecida, perturbando o sono da Dona Elisa? Ou é a banda do bar do Armando, a tradicional Bica, tocando a sua marchinha carnavalesca deste ano, intitulada "O Boto e o Jacaré".
Não. Dona Elisa pode dormir tranquila. Som de bateria é diferente. Esse tuque-tuque ritmado que, juntos, acabamos de ouvir, está mais para Adib Jatene do que para Joãozinho Trinta.
Ouça bem de novo e confira: tuc-tuc, tuc-tuc. São movimentos de sístole e diástole, contraindo e dilatando as fibras musculares de um coração. Agora, não temos mais dúvidas: é a batida de um coração, é uma doce ilusão, eh, ôh!
E de quem é esse coração que bate apressado e medroso? O que é que ele está sentindo? Diga lá, o que é, o que é meu irmão?
Que Gonzaguinha lá no céu me perdoe, mas o sopro do Criador não é. O leitor se pergunta: será o coração de algum vereador ressarcido preocupado porque terá de devolver aos cofres públicos o que de lá foi surrupiado? Ou o coração do deputado Euler Ribeiro, disparando iludido, minutos antes do anúncio do nome do novo ministro da Saúde? Quem sabe o tuque-tuque não é do Amazonino no momento de um encontro - casual- com o vice-prefeito Félix Valois ou com o Gregório Dias? Pode ser também algo mais prosaico: o coração (ele também tem) do senador De Carli depois de um exercício de judô ou ainda a taquicardia do Bernardo Cabral olhando a barriga da Zélia crescer com o seu vestido cada dia mais curto?
As tuas preocupações políticas me comovem, leitor. O teu cérebro sempre ligado à luta pelo poder é positivo. No entanto, lamento informar que estás redondamente equivocado. O coração que bate assim, em marcha acelerada, é o coração do Marcha-Lenta (com o perdão pelo trocadilho).
Marcha-Lenta é o apelido de Antônio Augusto de Oliveira, 44 anos, motorista do ônibus 144 da empresa cidade de Manaus. No último dia 5, ele invadiu, literalmente a redação de A CRITICA com o coração saindo pela boca, o tuc tuc abafando os ruídos das máquinas de escrever e ecoando por toda a rua Joaquim Sarmento. Foi esse tuc tuc despolitizado que ouvimos há pouco.
Repórteres atentos também ouviram a história que Marcha-Lenta tinha para contar. Ele acabara de presenciar um incêndio em duas casas na rua Onze, no Alvorada II. Viu quando um papagaio mergulhou corajosamente nas chamas para socorrer sua fêmea e também morreu fritinho da Silva, como se fosse um ministro de Collor. Ficou emocionado e por isso o seu coração estava tuque-tuqueando. Filosofou:
O amor existe também entre os animais. Isso é uma lição para os homens, um gesto que deve ser repetido no dia a dia de cada pessoa. Os bombeiros disseram que nunca viram algo parecido.
Longe de mim querer cortar o barato e matar poesia do Marcha Lenta. No entanto os meus informantes do Alvorada II nos deram a ficha dos Dois Papagaios e apresentaram outra versão da história, a qual, poder dever de ofício, repasso aos leitores. Vou logo avisando que nessa versão o gesto aparece como uma papagaiada e não como um ato amoroso de solidariedade.
Marianita, a fêmea, era uma avezinha de cabeça preta, abdome branco, pescoço alaranjado e pernas finas e tortas como toda papagaia que se preza. O macho era um belíssimo Anacar, raiado de azul e vermelho no peito, com pernas vermelhas brilhantes e longas e riscos amarelos na cabeça e na nuca.
Ambos viviam em uma das casas incendiadas na rua Onze. Amavam-se de verdade, embora possuíssem temperamentos diferentes. Marianita era uma bichinha inquieta, enxerida e brincalhona. O Anacá era sério, irritadiço e gostava de beber.
Isso mesmo, de beber! Era tarado em uma caipirinha. Não podia ver um copo, que se ouriçava mais do que o Capilé da dona Nega, enfiava o biquinho na caneca e sorvia com prazer a cachaça com limão. Fazia uma careta, gerava os olhinhos espertos e dava gritos estridentes, com seu sotaque de papagaio:
- Eta cachaça boa!
Quando tomava seus porres, o Anacá fazia canoras serenatas. Cantava de cor tudo o que ouvia no rádio. Na época da visita do Papa, ele atacava:
- "Abênção, João de Deus, nosso povo te saúda".
Em período eleitoral costumava entoar:
- "Vejo girar na rodas do desatino… Mas o fazia criticamente.
Não era como o papagaio lambe-botas do Sebastião Reis, treinado puxasacalmente lá em Parintins para repetir:
- "Gilberto, Gilberto". (Não é verdade, Benedito azedo? É, Sabazinho, É sim!)
No dia do incêndio, a turma da cachaça do bar da esquina ficou brincando com o Anacá, dando-lhe o maior porre da Paróquia, segundo uma vizinha fofoqueira da casa incendiada, dona Rose Cabral, que toma conta da vida de todo mundo, até dos papagaios.
O papagaio estava cantando: "Pensa em mim, chore por mim", quando o fogo começou a crescer. De porre, arrepiou o penacho e tentou sobrevoar a casa incendiada para ver o que estava acontecendo. Você já tentou voar quando está de porre, leitor?
Pois é. Deu no que deu. As labaredas chamuscaram as asas do Anacá, que rodopiou e caiu na fogueira, sem querer, num mergulho em forma de parafuso, no exato momento em que passava pelo local o nosso amigo.
Marcha-Lenta
O Marcha-Lenta não viu mais nada: só aquele mergulho que ele interpretou como amoroso e solidário.
O mais trágico é que Marianita, a fêmea, não morreu, segundo testemunho fidedigno da Cleísa, tão fuxiqueira como a mãe. Marianinha não chegou a ser atingida pelo fogo. Apenas desmaiou sufocada pela fumaça. Quando voltou a si e viu o corpo do Anacá carbonizado, Marianita pensou em suicidar-se. Olhou em volta, não viu nenhum Shakespeare baré e retrocedeu:
- Eu hein, Rosa! Taqui pra ti! Não sou Julieta de igarapé. Azar o do Romeu.
Moral da história: as verdadeiras tragédias só ocorrem quando existe por perto algum grande escritor para contá-las?
Temos um fato e pelo menos duas versões. A versão do Marcha Lenta, romântica, subjetiva, sonhadora, confiante no amor e na bondade humana, parece ser mais bonita, embora distante do real. A versão tricotada pelas duas fofoqueiras - mãe e filha - é mais pé-no-chão, mas é feia. Será que a verdade é sempre feia? A verdade é fedorenta, leitor? Ou fedorento é o nosso olhar sobre o mundo? (Nossa mãe! Hoje estamos “filosofando" mais do que o Marcha-Lenta). Escolha a versão que você quiser.
P.S - Correspondência para essa coluna: José R.. Bessa Freire. Caixa postal 105094 CEP- 21231 Niterói- RJ
DE Carli - Quem Viu alguma ação do Senador Carlos Alberto De Carli em favor do Amazonas? Qual o projeto que ele apresentou? Uma Emenda serve, uma emendinha? Quem conhece um discurso dele, uma simples frasezinha, discorrendo sobre qualquer tema no Senado? Ninguém. De Carli está sendo pago por nós, contribuintes, para cuidar dos seus negócios privados. Afinal o que ele está fazendo em Brasília?
A Coluna Número Um informou que De Carli está fazendo dietas com vitaminas compradas na Zona Franca. E aproveita para manter a sua forma física praticando três vezes por semana treinamentos de judô que é, como se sabe, um esporte altamente politizado. É duro constatar que esse cara (desculpa, leitor, mas é esse cara mesmo) está ocupando o lugar de um parlamentar como Mário Frota, de quem podemos divergir, mas não podemos desconhecer a combatividade e o espírito público. Pelo menos com o Mário a gente pode brigar e cobrar posições. E o de Carli: fazer o quê?
A RAPOSA -Meu Deus do céu! Como essa gente aposta na nossa falta de memória! Num dia, o deputado Euler Ribeiro estava disposto a rasgar sua carteirinha do PMDB para abocanhar o Ministério da Saúde. No outro, após a escolha do Adib Jatene, Euler fabricou nova versão:
- Ainda bem que o ministro não sou eu. Acabo ganhando com essa história, porque se eu fosse o ministro teria minha imagem desgastada.
Euler é uma raposa.
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