Quem são os manifestantes que decidiram fazer piquenique bem embaixo da janela do quarto de dormir do presidente FHC? A imprensa os chama impropriamente de agricultores, o que dá a falsa ideia de serem trabalhadores rurais ou lavradores. Na realidade, são grandes “produtores” de grãos, distanciados dos problemas cotidianos do mundo do trabalho. Quem afirma é o próprio presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Francisco Urbano:
- São grandes empresários aqueles que muitas vezes matam um trabalhador, porque ele reclama o 13º salário, aqueles que até exploram trabalho escravo (conforme frequentes denúncias). Não vamos nos juntar com esse povo – disse ontem ao Jornal do Brasil o presidente da Contag.
Esses empresários representam politicamente o setor mais atrasado, conservador e cavernário do País, ligados à UDR e à bancada ruralista do Congresso Nacional, apesar das contradições conjunturais com essa última. Com métodos usados tradicionalmente pelos movimentos sociais, eles decidiram se organizar para exigir do Governo aquilo que eles mesmos jamais concedem aos seus trabalhadores: o pagamento de dívidas.
Eles devem ao Banco do Brasil e não querem pagar. São uns caloteiros espertalhões, querendo que o conjunto da população brasileira pague por uma dívidas contraída por eles,
É dívida alta, dinheiro grosso, grana firma. Segundo o Banco do Brasil, foram aplicados 16,9 bilhões de reais no crédito rural, sendo que quase um terço, ou sejam 4,5 bilhões de reais fazem parte já do calote dado. O quadro da situação do crédito rural do banco mostra que 82% do calote foi aplicados pelos grandes e médios produtores. Os miniprodutores representam apenas 0,78% do total da dívida vencida.
Ontem, os piquiniqueiros entregaram documento no Palácio do Planalto ao presidente em exercício Marco Maciel, reivindicando, além do calote, a suspensão das ações judiciais movidas pelo Banco do Brasil contra os caloteiros. É muita cara de pau.
Esses empresários incompetentes, acostumados a mamar nas tetas do Estado, são os primeiros a exigir a privatização das empresas estatais, posando de moderninhos. Quando vemos pelos canais de televisão a quantidade de máquinas pesadas, o custo de seu deslocamento pelas estradas do Brasil, os churrascos que alimentam os participantes do convescote do calote, podemos imaginar como e para onde estão sendo canalizados os recursos emprestados pelo Banco do Brasil.