De Lima, Peru (via fax) – Um batalhão de jornalistas, radialistas, repórteres de televisão, fotógrafos, torcedores e curiosos compareceu ao Aeroporto Jorge Chavez, de Lima, no início desta semana, para dar as boas-vindas ao brasileiro que chegava. Seu nome: Hamilton de Souza, o Careca, jogador do Atlético Mineiro, que acaba de ser contratado pelo time mais popular do Peru, o Alianza Lima.
Recebido como herói e salvador da Pátria, Careca enfrentou os jornalistas como quem vai para o paredão de fuzilamento. Beijou a camisa do seu novo clube, vestiu-a e foi ovacionado. Um pequeno grupo de brasileiros que chegava no mesmo voo divertiu-se com a dificuldade do jogador de entender e se fazer entender.
- Ele conhece tanto a língua de Cervantes como nós conhecemos física nuclear – escreveu carinhosamente o comentarista do Deporte Total, um encarte do jornal El Comercio, brincando assim com as trapalhadas comunicativas do craque.
O mesmo jornal traz uma entrevista com Henry Perales, dirigente do “La Loretana”, outro clube que participa da Copa Peru, mas que está sediado em Loreto, região amazônica. Guardadas as proporções é como se fosse o Nacional de Manaus, participando no Campeonato Brasileiro ao lado do Vasco da Gama, o maior time do mundo. Perguntado como pretendia enfrentar grandes equipes como Cristal e Alianza Lima, o cartola respondeu:
- Já temos uma lista de possíveis craques que vamos contratar, tanto locais como estrangeiros, especialmente os brasileiros. Não serão grandes nomes do Rio e de São Paulo, mas de algum lugar mais próximo como Manaus, que abriga excelentes jogadores. Já tivemos experiências de sucesso com “feras” de Manaus como Waldir e Celane.
Quem diria! A nossa Manaus, celeiro de craques! Tudo é possível.
Os índios e o tenor
Duas outras notícias sobre o Brasil ecoaram na imprensa peruana, nesta semana, ambos dando destaque à Amazônia no noticiário internacional. Uma delas se refere à questão indígena, que sensibiliza bastante a opinião pública de um país, onde a questão étnica e de identidade coletiva está sempre na ordem do dia. Existe uma preocupação com as novas regras de demarcação das terras indígenas definidas pelo ministro da Justiça Nelson Jobim que contraria os direitos indígenas. A presença de 1.500 garimpeiros em território Yanomami foi denunciada em chamada de primeira página.
A outra notícia enviada pelas agências internacionais aborda o que se considera como um grande escândalo: o pagamento de mais de 800 mil dólares ao tenor espanhol José Carreras, por uma única apresentação no Teatro Amazonas. Desde a semana passada, o jornal mais tradicional do Peru e de maior tiragem – El Comercio – vem acompanhando o caso criticamente.
Uma ampla matéria contextualizou a questão, recuperando os antecedentes. Informou que Júlio Iglesias recebeu um cachê astronômico que nenhum país europeu pagaria e que agora Carreras receberia o dobro. Só não nos chamou de otários, porque deu destaque para a reação interna, a mobilização e o protesto de várias entidades de oposição, reproduzindo declarações do ex-vereador Praciano contra o absurdo do cachê, cujos detalhes serão abordados, com outro estilo, na coluna Taquiprati da próxima segunda feira. O pagamento ao tenor, que ainda está ecoando pelos Andes, daria para o La Loretana contratar quantos craques como Waldir e Celane? Quanto para o Careca?