Observei que quase todos os comentaristas internacionais fumam cachimbo. Esse hábito parece que lhes confere uma autoridade incontestável para discorrer sobre assuntos planetários e até mesmo interplanetários. Decidi, então, adotá-lo, para poder escrever sobre Reagan, quando ele foi reeleito presidente dos Estados Unidos, em 1984. Cachimbando um tabaco holandês comprado na Zona Franca, escrevi a minha coluna semanal - "Reagan, o chiclete e a escada". Baixei o cacete nos gringos e denunciei o mar de corrupção, envolvendo altos funcionários da Casa Branca, inclusive o próprio secretário de Justiça, Edwin Meese.
Para minha surpresa, descobri no dia seguinte que a repercussão do artigo havia sido nula. Ninguém se comoveu, nem na Compensa, nem no bairro de Aparecida. O índice BOVAM - Bolsa Amazonense de Valores - não se alterou. O dólar permaneceu estável. Não fui o primeiro amazonense a ter essa decepção. Durante a segunda guerra mundial, Aristófanes Antony escrevia editoriais furibundos no velho Jornal do Comércio, advertindo: "Winston Churchill teria evitado o bombardeio alemão se tivesse levado em conta as observações que fizemos ontem aqui nessas páginas".
Apenas um leitor, amazonense, percebeu o que estava acontecendo. Numa carta muito sagaz, ele assegurava que meu artigo só não havia derrubado o presidente dos Estados Unidos, porque foi escrito em português e publicado em Manaus, com poucas possibilidades, portanto, de influenciar a opinião pública norteamericana. A carta, escrita em 1986, me aconselhava:
- Escreve sobre as presepadas do prefeito de Manaus, do candidato a governador, debocha do jingle "vejo girar as rodas do destino", fala sobre o crime do colarinho verde e a corrupção na Zona Franca. As urnas emprenhadas no Careiro e em Iranduba são mais importantes do que as primárias realizadas em Nebraska ou em Kansas.
O sábio leitor interrompeu minha promissora carreira de comentarista internacional. Abandonei o cachimbo e passei a abordar os temas locais. Cada vez que saio dos trilhos, os leitores reclamam: "Tem muita gente escrevendo sobre questões nacionais e internacionais, mas são poucos o que interpretam o sentimento popular sobre o que está acontecendo no Amazonas". Por isso, essa coluna, escrita por um caboquinho para outros caboquinhos tem essa cara provinciana.
É verdade que alguns leitores exageram na dose. É o caso de Jorge Santana que na semana passada me mandou duas cartas. Na primeira delas, me cobrava:
- Por que você não faz uma crônica sobre o Pissuí? O cara é um gênio.
Respondi:
- Desculpa, mas não sei quem é Pissuí.
Jorge não se deu por vencido e na segunda carta explicou:
- Pissuí é o atacante do ´Princesa do Solimões´, de Manacapuru, o lanterninha do campeonato estadual. Ele é um verdadeiro craque, derrotou o Nacional, o primeiro da tabela, fazendo três gols.
Sugeriu, inclusive, um título para a crônica: "Pissui, o Carrasco do Naça", dando como alternativa: "O Algoz do Naça".
A página do Taquiprati, na internet, registra 158 mensagens, enviadas nas últimas seis semanas, elogiando, esculhambando, exigindo, criticando, cobrando, comentando, dando dicas e, sobretudo, mandando informações. Não é possível atender todas as exigências do leitor, de qualquer forma deixei mesmo de fumar cachimbo e agora tomo guaraná em pó, fazendo um esforço para acompanhar não só a trajetória do Pissuí, mas a do Marcos Pezão do São Raimundo e a do Pintinho, contratado pelo Rio Negro. Hoje, com novo formato, a coluna reproduz algumas notas sugeridas pelos leitores. Fala, leitor"
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CACHORRÃO, AQUI É A ANINHA! Plenário da Assembléia Legislativa. Toca o celular. O deputado Liberman Bichara Moreno (PPS) atende. Uma voz erótico-ovariana, aveludada, deixa-o todo arrepiado: "Moreno, meu ´cachorrão´, no dia do teu aniversário, 5 de março, vou me dar de presente pra ti". Ele se retira para um canto, de costas para os colegas e, lambendo os beiços, murmura com voz ciciante - "Quem está falando?" A voz: - "É Ana". Arretadíssimo, Moreno encolhe a barriga, ajeita o colarinho: - "Ana Lúcia ou Ana Helena?". A voz sussurra: - "Aqui é a Ana...conda". O trote, encomendado por alguns deputados, permitiu que todos eles gozassem o "Cachorrão", cujos colegas da SEFAZ foram investigados pela Polícia Federal, na operação Anaconda (Leitores VT e MF).
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DE CARLI: THE RIGHT PLACE As penitenciárias vão ser mesmo terceirizadas. O leitor JS escreve, sugerindo que em vez de doar o Porto de Manaus à família De Carli, o Governo devia entregar ao Carlos Alberto De Carli a Unidade Prisional de Puraquequara. "Esta será uma forma de colocá-lo lá dentro, no seu devido lugar: the right man in the right place".
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E NO URUCU NÃO VAI NADA NÃO? O padre Francisco José foi estudar teologia em Roma, mas seu coração continua em Coari, onde nasceu e viveu. Enviou da Itália um texto, contando os horrores que testemunhou, durante a construção da primeira etapa do gasoduto - de Urucu a Coari. As máquinas abriram um corredor de 50 metros de largura, numa extensão de 280 km, de floresta tropical primária. Com o desmatamento, exterminaram micro-organismos e pequenas fontes, que abastecem os igarapés, lagos e rios; mataram muitos animais selvagens e peixes, enxotaram outros, reduzindo as principais fontes de alimentos dos ribeirinhos. "Essas perdas não têm preço e só quem vive naquele ambiente pode avaliar isso. Os donos do capital não moram lá". Ele teme, agora, as conseqüências ecológicas e sociais da segunda etapa Coari-Manaus, que vai atravessar mais de 400 km de floresta.
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A ÚLTIMA CRUZADA No texto intitulado "A Última Cruzada", padre Zezinho analisa o crescimento gerado, a partir de 1986, pelas jazidas de petróleo e gás natural na região do Urucu. "O lucro é de milhões, mas quem de fato se beneficia com isso? O que mais cresceu em Coari foi o índice de prostituição. A população ribeirinha, por cujas terras passarão os tubos do gasoduto, vai apenas pagar a conta, sem ter sequer a oportunidade de dar sua opinião ". O padre de Coari cita Leonardo Boff: "Andando por minha rua,contabilizei, em apenas 50 metros,58 besouros mortos.Como não reparamos nesses nossos irmãos mais pequenos, pisamos neles e nossos carros os massacram. São Francisco se os visse mortos, choraria de compaixão". São Francisco morreria do coração - diz Zezinho - se visse os ribeirinhos pisoteados pelo projeto Urucu.
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BRAGA BREGA BRIGA? "Será que dá pra você abrir um pequeno espaço na sua coluna para esse humilde professor? Na verdade, não é só para mim, é para todos os ´bóias-frias´ do magistério, que estão esperando o concurso para docente da UEA. Estou terminando meu mestrado e confesso minha frustração... Ah, se eu tivesse o sobrenome Braga. Olha, estou sinceramente revoltado com o Lourenço Braga, reitor não eleito. O Braga brega não briga pela UEA. Concurso que é bom, nada! Que universidade é essa? Os editais de seleção sempre saem com as inscrições findando em quatro dias Os professores submetem-se a contratos temporários, trabalham dois anos e vão embora, não investem na carreira. E assim, na carreira, novos professores e novos médicos são formados, sacrificando a qualidade. Se for preciso, publique meu nome e meu rg" (LCSC)
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A BRIGA DA CULTURA BREGA "Nesta época de carnaval, os cofres públicos ficam mais generosos, você não acha? A Secretaria Estadual de Cultura (SEC), em um ato 'desprendido', liberou uma verba de 60 mil reais para a realização da Banda da Difusora. Mas não apóia como devia o Festival de Música Universitária da UFAM, com 24 anos de história. Deu apenas 10 mil reais, suados, para o Festival Fronteira Norte de Rock, com 6 anos de história. A cultura na cidade é promovida por interesses obscuros. A iniciativa privada promove eventos para atender interesses escusos dos diretores. Creio que precisamos discutir mais o valor da cultura e a produção cultural no estado do Amazonas. Quem produz? Quem incentiva? Quem promove? Quanto é gasto? É isso aí. Se puder aproveitar algo e discutir publicamente este assunto, seria bom". (GT).
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PÃO MOLHADO A amazonense APFS e seu marido SRO que desfilaram pela Beija-Flor juram que viram o Pão Molhado - personagem desta coluna - no Sambódromo do Rio de Janeiro, instalado dentro do camarote da Brahma. "Impossível" - eu disse - lá só entram clientes muito ricos, celebridades e mulheres gostosas e ele é pobre, anônimo e macho pacas". Mostraram as fotos. Não havia dúvidas: era ele, de visual novo, com o cabelo partido ao meio, um brinquinho na orelha... Intrigado, telefonei. A Preta, sua mãe, confirmou e explicou. Acontece que os organizadores do camarote escalaram algumas pessoas, apelidados de "os bundas", cuja função era guardar os melhores lugares para os famosos que fossem chegando. O cunhado do tio de um deputado arrumou essa boca pro Pão Molhado.
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MEDICA VERDE "Sei que é mais importante dar um pau no De Carli, mas se houver espaço para uma pequena nota, gostaria de fazer uma denúncia. Há quinze dias, minha sobrinha, Maria Cecília, de 13 anos, sentiu uma dor forte no ouvido e foi atendida no Pronto Socorro da Unimed por uma médica nissei, cujo nome em japonês pode ser traduzido como "verde". Ela olhou, examinou o ouvido e diagnosticou: "Não tem nada. Não precisa de medicação. É dengo. Observe por 72 horas e depois veremos". A dor aumentou e no dia seguinte procuramos outra médica, que levou um susto: o ouvido da Cecília estava cheio de pus. Levantamos mais informações e descobrimos que esse não era o primeiro diagnóstico errado dessa médica. É bom advertir os seus leitores para terem cuidado com a médica verde. (CN)
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Meu caboco, fala no Pissuí, o carrasco do Naça!
1 Comentário(s)
José Carlos Libório
comentou:
23/02/2011
Como posso conseguir a crônica nº 532 (FALA NO PISSUÍ, MEU CABOCO!) de 07/03/2004? Eu conheci o Pissuí este ano quando nosso time, o CEPE Master, sagrou-se campeão do Peladão Master. Ele não sabia dessa crônica e como sou seu leitor antigo disse que conseguiria prá ele, mas ela não está disponível no site. Será que você pode me enviar por e-mail??
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