CRÔNICAS

O INPA, a pesquisa e os candidatos a prefeito

Em: 01 de Agosto de 2004 Visualizações: 7844
O INPA, a pesquisa e os candidatos a prefeito
Não sei se o repórter Tambaqui Garcia – o TAGAR – tem algum parentesco com o saudoso cronista social Nonato Garcia, cuja coluna - “NOGAR: TUDO VÊ, TUDO INFORMA” - animou a frivolidade de Manaus durante mais de três décadas. O certo é que o Tagar resolveu imitar o Nogar. Há quinze dias, ele viu um candidato a prefeito - o nome dele é Amazonino Mendes - entrar no Hotel Tropical para fazer uma palestra no XXIII Congresso Nacional da Maçonaria Simbólica. Correu atrás, sentou na primeira fila, viu tudo, anotou tudo, e tudo informou.
O que foi que o repórter Tambaqui viu e ouviu? Segundo ele, o candidato a prefeito – como era de se esperar – puxou o saco dos maçons, falou muita besteira (balançando a cabeça), disse que ia fazer e acontecer, e lá no meio do discurso, sem mais nem menos, resolveu esculhambar o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), num discurso digno de ser registrado por outro repórter aparentado com o TAGAR e com o NOGAR, o Carlos Garcia:
“O INPA é uma instituição que ainda não mostrou a que veio. As parcerias com outros países facilitam a remessa ilegal de espécies de nossa fauna e de nossa flora, contribuindo para a biopirataria”.
Lendo as anotações do repórter Tambaqui, lembrei que no 50º Congresso Internacional de Americanistas, realizado na Polônia, no ano 2000, fui apresentado ao reitor da Universidade de Varsóvia, Piotr Weglenski. Quando soube que eu era do Amazonas, ele exclamou sorridente: “Teatro Amazonas! INPA!”. O polaco nunca tinha ouvido o nome do governador do Amazonas, não sabia de que buraco ele havia saído, era capaz de confundir Eirunepé com dar no pé, mas conhecia e respeitava o INPA e o associava ao Amazonas. Falou Amazônia, pensou INPA.
Identidade esfaqueada
Com cinquenta anos de vida, o INPA é, hoje, o maior instituto de biologia tropical do mundo, criando uma forma própria de olhar a Amazônia. Quem ignora isso, esfaqueia a própria identidade e não merece dirigir uma cidade como a nossa. Quero ver se no dia 18 de agosto, quando os candidatos a prefeito vão ao INPA para debater a questão ambiental em Manaus, o mencionado candidato vai ter coragem de repetir aos cientistas aquilo que falou para os maçons. O repórter Tambaqui estará na terceira fila, anotando tudo, tentando saber por que um candidato manifesta desprezo pela instituição, enquanto organismos nacionais e internacionais respeitam e reconhecem a sua importância.
Essa importância foi conquistada com muito trabalho, com a produção de muitos conhecimentos. Depois de investir recursos na pesquisa básica, o INPA se dedicou à pesquisa aplicada, procurando saber como aproveitar os produtos amazônicos como o buriti, o camu-camu, o cupuaçu, a pupunha, entre outros. Com isso, obteve muitos prêmios, entre os quais o prêmio Fucapi de Tecnologia.
Um dos prêmios foi obtido com a pesquisa sobre o buriti. Isso mesmo, o buriti! Coordenado pelo pesquisador Jadir Rocha, o projeto “Aproveitamento do pecíolo do buriti para a utilização na construção civil” descobriu que não precisa derrubar palmeiras de buriti para manufaturar placas. Propôs ainda a valorização dessa palmeira, que cresce no charco, fazendo o plantio da espécie nessas áreas que são de baixo valor comercial, promovendo a geração de empregos tanto para mão-de-obra qualificada - engenheiros agrônomos, engenheiros florestais, botânicos, etc.- quanto para as populações que vivem nas proximidades.
Outro prêmio foi conquistado pela pesquisa “Aproveitamento Tecnológico do camu-camu para a Elaboração de Geleia Convencional e com Xilitol contendo alto teor de vitamina C”, realizado pela Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos (CPTA). A vantagem é que pessoas que não podem ou não querem consumir açúcar podem consumi-lo. Um terceiro prêmio foi dado ao projeto "Produto Fitoterápico Dermo dilapiol”, cujos resultados comprovaram, em estudos laboratoriais, a eficácia do dermo dilapiol contra fungos de pele, chamado dermatófitos.
Ganhou prêmio também um trabalho sobre a pupunha, realizado pela Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos (CPTA) – “Pupunha Desidratada e Inovação da Tecnologia para Aplicabilidade, Melhoria da Funcionalidade e Aceitabilidade na Amazônia”. A autora da pesquisa, Dra. Jerusa de Souza Andrade, empregou a tecnologia de remoção da água para conservação e agregação de valor na pupunha. Em outros anos, os projetos vencedores haviam feito experimentos, cujos resultados deram na farinha de pupunha, no macarrão de pupunha, em móveis confeccionados da pupunheira com o que era desprezado.
TAGAR, NOGAR E CARLOS GARCIA
Outros projetos, embora não premiados, merecem ser mencionados: o secador solar de madeira (já patenteado); a confecção de móveis rústicos com aproveitamento de galhos; a fabricação de instrumentos musicais com a estirpe da pupunheira; a confecção de pequenos objetos de madeira, como bandejas, porta-copas, porta-revistas etc.
Tem, ainda, a casa de madeira, que é um protótipo de casa popular a baixo custo. Ela não interessa a nenhum governante porque as empreiteiras perderiam fortunas e aí – quem financiaria as campanhas eleitorais? Tem o biocompósito de madeira com cimento, que serve para revestimentos de pisos, paredes e forros, tudo a baixo custo. Tem a sopa de piranha, tem o beneficiamento do couro de peixe (que é jogado fora), originando objetos como bolsas, sapatos, carteiras etc.
O INPA é um instituto de pesquisa e não uma empresa industrial. Ele gera o conhecimento e pode transferi-lo a qualquer momento, mas cabe aos empresários e aos políticos o aproveitamento desses conhecimentos. Por exemplo, vários pesquisadores do INPA estudaram exclusivamente as palmeiras amazônicas, mas na hora de ajardinar a cidade de Manaus, o prefeito da cidade decidiu plantar palmeiras imperiais, muito bonitas, mas muito caras, sem jamais ter consultado os pesquisadores sobre a viabilidade das palmeiras amazônicas. Quanto custou cada palmeira imperial?
Por isso a cidade e os eleitores devem acompanhar muito de perto o debate entre os candidatos a prefeito para saber como eles pretendem se relacionar com uma instituição que conhece a Amazônia, e que sabe o que ainda falta conhecer. Os repórteres Tambaqui Garcia (TAGAR) e Nonato Garcia (NOGAR) - se vivo fosse -  bem que gostariam de fazer a cobertura, mas quem vai ficar de olho neles é o Carlos Garcia.

P.S. -  Em 578 dias de governo, o presidente Lula não homologou a Terra Indigena Raposa Serra do Sol, conforme disse em campanha que faria..

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