CRÔNICAS

Donde estés, Benedetti... (versión en español)

Em: 24 de Maio de 2009 Visualizações: 11336
Donde estés, Benedetti...  (versión en español)

"Donde estés, si es que estás, si estás llegando, será una pena que no exista Dios.

Mas habrá otros claro que habrá otros dignos de recibirte,comandante”. 

Os versos acima – do poema ‘Consternados, Rabiosos’ - escrito para Che Guevara ainda sob o impacto de sua morte, em outubro de 1967, se volta agora, como um bumerangue, para homenagear seu autor, Mário Benedetti, falecido domingo passado, em Montevidéu, aos 88 anos.

Poeta, escritor, jornalista, militante político, o uruguaio Benedetti nos deixa 80 livros de poesia, romances, contos e ensaios, além de roteiros cinematográficos e um sem-número de artigos em jornais e revistas. Sua morte se chora até em Mangueira.

“Em Mangueira, quando morre um poeta, todos choram”, assegura outro poeta, Nelson Cavaquinho. Fico me perguntando: por que será que esse verso mexe tanto com a gente, cala tão fundo dentro de nós? Será que é porque ele evoca a nossa relação com quem é capaz de despertar em nós algo cuja existência sequer desconfiávamos? Alguém que sente, percebe e dá forma ao que sentimos?

Posto que a poesia, como o pão-nosso-de-cada-dia, é tão indispensável à vida, padeiros e poetas fazem uma falta danada quando se ausentam. A morte de quem manuseia o trigo e a palavra não decreta o fim da poesia e do pão, é verdade, mas nos deixa saudosos do sabor de ambos. Choramos, então, a nossa fome, o poema ausente.   

E aí o mundo, de repente, se converte numa imensa Estação Primeira. Mangueira é Paso de los Toros, onde ele nasceu, ou as ramblas de Montevidéu, onde viveu; é uma universidade qualquer no Rio de Janeiro ou um bistrô de Paris, às margens do Sena; uma biboca na beira de um lago chileno; uma comunidade campesina dos Andes; uma esquina de Buenos Aires ou um barranco de Barreirinha, no Amazonas; uma querência dos lhanos venezuelanos ou um bohío da Colômbia; o malecón de Havana ou uma alameda limenha. Tudo é Mangueira, todos os lugares em que o poeta foi pranteado.

O cangaceiro doce

Foi em Lima que conheci Mário Benedetti no exílio, em 1974, em circunstâncias insólitas, no meio de uma enorme confusão armada dentro de um hospital. O nosso poeta Thiago de Mello, que vivia exilado na Alemanha e estava de passagem pelo Peru, teve um piripaque no coração. Foi internado às pressas. Corri pra clínica. Lá, me deparei com um senhor de bigode de vassoura, um doce cangaceiro, cuja cara lembrava Miguel Arraes, e cujos gestos eram de Gianfrancesco Guarnieri. Ali, na maca, ofegante, o poeta amazonense nos apresentou.

Enquanto se realizavam os procedimentos de praxe para a internação, ficamos os três à espera do cardiologista. Apareceu, então, um médico e, ali mesmo, na portaria, colocou a aparelhagem de oxigênio no Thiago que passou a respirar mais aliviado. Instantes depois, uma enfermeira advertiu:

- “Doutor, foi um equívoco. Seu paciente não é esse, é o outro na sala ao lado. Esse daí é do doutor Fulano”.

Acreditem, juro que é verdade: o esculápio – tinha cara de esculápio - tentou retirar os aparelhos. Benedetti e eu ameaçamos sentar a porrada nele. Seguramos as pontas, até o doutor Fulano chegar.

O quarto do Thiago dava direito a acompanhante. Nós dois nos revezávamos, velando o amigo. A troca de turno era sempre um momento de conversa prazerosa. Numa madrugada, depois do show em uma peña, a cantora Chabuca Granda invadiu a Clínica Italiana com seus músicos. Quem tinha peito para barrá-la? O porteiro só faltou beijar os pés dela, deixando-a entrar.

Aí, em hora inapropriada, dentro do hospital, Chabuca fez serenata para Thiago. Derramou ‘lisuras’ e, com sua voz rouca e sensual, deu uma ‘canja’ para os doentes, cantando Fina Estampa’, naquela quase ‘mañanita alegre, con luz de luna y de sol’. No final, deu seu diagnóstico, olhando o amigo poeta, cujo coração estava sob cuidados médicos: 

- “Eso te pasa por tener un corazón muy grande”.

Eu tinha consciência do privilégio de conviver, naqueles intervalos, com aquele exilado uruguaio asmático, tímido, bom de papo, com senso de humor, que já era internacionalmente conhecido e que professava a crença “na vida e no amor, na ética e em todas essas coisas fora de moda”, como ele mesmo escreveu. O período do meu exílio no Peru coincidiu com o dele: de meados de 1973 até o final de 1976.

Agora, há dias, na última segunda feira, bem cedo, eu havia acabado de ler no jornal a noticia de sua morte, quando o telefone tocou. Era um interurbano de Thiago de Mello, recém-chegado da Europa.

– Você viu o que aconteceu com Benedetti? – perguntei.

Thiago ficou engasgado. Não sabia ainda da morte do seu querido amigo, para quem enviara um e-mail dias antes.

Depois disso, dezenas de artigos sobre o poeta uruguaio transitaram pela internet. Uns lembravam que ele combateu a ditadura, amargou a prisão e o exílio. Outros focaram sua obra “a serviço da raiva que lhe produziam as ditaduras”, como escreveu Juan Cruz:

“Morreu o poeta do compromisso, do amor e da alegria, o homem que iluminou com seus versos (de amor, de política, de terra, de ar) a vida de qualquer um. Era um homem insubornável, o mais comprometido de seu tempo. Sua morte deixa num silêncio melancólico sua época, seu exemplo e a raiz de seus versos”.

Seus poemas, que “oscilaram sempre entre um lirismo tocante e um compromisso social permanentemente reafirmado, como destacou José Carlos Ruy, muitas vezes conseguiram unir habilmente estas duas dimensões: a lírica e a social. Um exemplo é o poema ‘Consternados, Rabiosos’, dedicado a Che Guevara”.

Onde quer que estejas, se é que estás, se estás chegando, Benedetti, será uma pena que não exista Deus, uma pena, de qualquer forma haverá outros, claro que haverá outros, dignos de te receberem, poeta, porque como o comandante "estás muerto / estás vivo / estás cayendo /  estás nube / estás lluvia / estás estrella”.

Aquí no hay viejos, simplemente nos llegó la tarde ...

Mario Benedetti.

*¡Tercera edad!*
¡Qué linda frase! 
Aquí no hay viejos 
solo que llegó la tarde:
una tarde cargada de experiencia
experiencia para dar consejos. 

Aquí no hay viejos,
solo que llegó la tarde.

Viejo es el mar y se agiganta, 
viejo es el Sol y nos calienta,
vieja es la Luna y nos alumbra,
vieja es la Tierra y nos da vida,
viejo es el amor y nos alienta.

Aquí no hay viejos
solo nos llegó la tarde.

Somos seres llenos de saber 
graduados en la escuela 
de la vida y en el tiempo 
que nos dió postgrado.

Subimos al árbol de la vida 
cortamos de sus frutos lo mejor, 
son esos frutos nuestros hijos 
que cuidamos con paciencia, 
nos revierte esa paciencia con amor

Fueron niños, 
son hombres, 
serán viejos, 
la mañana vendrá 
y llegará la tarde 
y ellos también darán consejos.

Aquí no hay viejo 
solo llegó la tarde.

Joven: si en tu caminar 
encuentras seres de andar 
pausado de mirada serena y cariñosa 
de piel rugosa, de manos temblorosas,
no los ignores ayúdalos, 
protégelos ampáralos

Bríndales tu mano amiga 
tu cariño.
Toma en cuenta que un día también a tí... 
 " Te llegará la tarde"

P.S. - Benedetti talvez gostasse de ler um texto sobre sua morte compartilhando o espaço com a defesa da liberdade de expressão. Por isso, na versão impressa desse artigo – Adeus,Benedetti – publicada no Diário do Amazonas, reproduzimos na integra a moção de solidariedade do Conselho Universitário da Universidade Federal do Amazonas ao professor Gilson Monteiro que há duas semanas sofreu agressões físicas e ameaças de morte por parte de Amir e Mansur Aziz, irmãos do vice-governador Omar Aziz (vice, vice!) do PMN (vixe, vixe!). A nota repudia a agressão dos Irmãos Metralha:

“Não existem registros na história das Universidades de tamanho ato de barbárie, de covardia, de brutalidade e ameaças efetivadas a um professor na presença de seus alunos e em seu pleno exercício de cátedra”

Se os agressores não forem punidos, fica clara a cumplicidade do vice-governador Omar Aziz com seus irmãos.

 

DONDE ESTÉS, BENEDETTI...

Texto: José R. Bessa Freire. Tradução: Consuelo Alfaro Lagorio

Donde estés,

si es que estás

si estás llegando

será una pena

que no exista Dios.

Mas habrá otros

claro que habrá otros

dignos de recibirte,

comandante. 

Los versos citados – del poema ‘Consternados, Rabiosos’ - escrito para Che Guevara en el momento del impacto de su muerte, en octubre de 1967, se vuelven ahora como un bumerang, para rendir homenaje a su autor, Mario Benedetti, que falleció el domingo pasado, en Montevideo, a los 88 años.

Poeta, escritor, periodista, militante político, el uruguayo Benedetti nos deja 80 libros de poesía, novelas, cuentos y ensayos, además de guiones cinematográficos y un sin-número de artículos en periódicos y revistas. Su muerte se llora como en la Escuela de Samba Mangueira, la famosa Estação Primeira de Mangueira.

“Em Mangueira, quando morre um poeta, todos choram”, afirma un otro poeta, Nelson Cavaquinho. Me pregunto: ¿por qué será que ese verso nos conmueve tanto, nos toca tan profundamente? ¿Será que porque  evoca nuestra relación con quien tiene la capacidad de despertar en nosotros algo cuya existencia ni sospechábamos? ¿Alguien que adivina y da forma a lo que sentimos?

Puesto que la poesía, como el pan-nuestro-de-cada-día, es tan indispensable para la vida, panaderos y poetas hacen una falta enorme cuando se ausentan. Es verdad que la muerte de quien manipula el trigo y la palabra no decreta el fin de la poesía ni del pan, pero nos deja melancólicos, sintiendo falta del sabor de ambos. Lloramos con sed del poema ausente.

Entonces el mundo, de repente, se convierte en una inmensa Estação Primeira de Mangueira. Mangueira es Paso de los Toros, donde el poeta nació, o las ramblas de Montevideo, donde vivió; es una universidad cualquiera en Rio de Janeiro o un bistró de Paris, a  orillas del Sena; una taberna a la vera de un lago chileno; una comunidad campesina de los Andes; una esquina de Buenos Aires o un barranco de Barreirinha, en Amazonas; una querencia de los llanos venezolanos o un bohío de Colombia; el malecón de La Habana o una alameda limeña. Todo es Mangueira, todos los lugares en que se llora la muerte del poeta.

El cangaceiro dulce

Fue en Lima que conocí a Mario Benedetti en el exilio, 1974, en circunstancias insólitas, en medio de una enorme confusión armada dentro de un hospital. Nuestro poeta Thiago de Mello, que vivía exilado en Alemania y estaba de paso por el Perú, tuvo un chucaque al corazón. Tuvo que ser internado de urgencia. Corrí a la clínica. Allí, me deparé con un señor de bigote que parecia una escobilla, un dulce cangaceiro, cuya semblante se parecía al del legendario Miguel Arraes, y cuyos gestos a los del actor Gianfrancesco Guarnieri. Allí, en la camilla, jadeante, el poeta amazonense nos presentó.

Mientras se realizaban los procedimientos de costumbre para la internación, nos quedamos los tres esperando al cardiólogo. De pronto, apareció un médico y, allí mismo, en el corredor, le colocó un equipo con oxígeno a Thiago que comenzó  a respirar más aliviado. Instantes después, una enfermera advirtió:

- Doctor, fue un error. Su paciente no es ese, es el otro de la sala al lado. Ese de ahí es del doctor Fulano.

Parece mentira, pero juro que es verdad: el esculapio – tenía toda la pinta de un Asclepios - intentó retirar los aparatos. Benedetti y yo lo amenazamos. Aguantamos firme hasta que el doctor Fulano llegó.

El cuarto de Thiago daba derecho a acompañante. Los dos nos alternábamos, velando al amigo. El cambio de turno era siempre un momento de charla sabrosa. Una madrugada, después del show en una peña, la cantora Chabuca Granda invadió la Clínica Italiana con sus músicos. Que portero tendría coraje de  impedirla entrar…! El hombre casi le besa los pies y claro, la dejó pasar.

Así, en una hora inconveniente, en un hospital, Chabuca le dio una serenata a Thiago. Derramó ‘lisuras’ y, con su voz ronca y sensual, hizo extensiva la serenata a los enfermos, cantando Fina Estampa’,  en aquella casi ‘mañanita alegre, con luz de luna y de sol’. Al final, dio su diagnóstico, mirando al amigo poeta, que estaba bajo cuidados de un cardiólogo:

Eso te pasa por tener un corazón muy grande.

Yo estaba consciente del privilegio de convivir en aquellos intervalos, con aquel exilado uruguayo asmático, tímido, buen conversador, con sentido de humor, que ya era internacionalmente conocido y que profesaba la fe “en la vida y en el amor, en la ética y en todas esas cosas fuera de moda”, como él mismo escribió. El período de mi exilio en el Perú coincidió con el de él: de mediados de 1973 hasta el final de 1976.

Ahora, hace días, el último lunes, bien temprano, había acabado de leer en el periódico la noticia de su muerte, cuando el teléfono llamó. Era un interurbano de Thiago de Mello, recién-llegado de Europa.

– Viste lo que le pasó a Benedetti? – le pregunté a boca de jarro.

Thiago se atragantó. Todavía no se había enterado que su querido amigo había muerto, a quien enviara un e-mail días antes.

Después, decenas de artículos sobre el poeta uruguayo circularon por la internet. Unos recordaban que combatió la dictadura, sufrió prisión y  exilio. Otros abordaron su obra “al servicio de la rabia que le producían las dictaduras”, como escribió Juan Cruz:

“Murió el poeta del compromiso, del amor y de la alegría, el hombre que iluminó con sus versos (de amor, de política, de tierra, de aire) la vida de cualquier uno. Era un hombre insobornable, el más comprometido de su tiempo. Su muerte deja en un silencio melancólico su época, su ejemplo y la raíz de sus versos”.

Sus poemas, que “oscilaron siempre entre un lirismo tocante y un compromiso social permanentemente reafirmado", como destacó José Carlos Ruy, muchas veces consiguieron unir hábilmente estas dos dimensiones: la lírica y la social. Un ejemplo es el poema ‘Consternados, Rabiosos’, dedicado a Che Guevara”.

Donde quiera que estés, si es que estás, si estás llegando, Benedetti, será una pena que no exista Dios, una pena, de cualquier forma habrá otros, claro que habrá otros, dignos de recibirte, poeta, porque como el comandante "estás muerto / estás vivo / estás cayendo /  estás nube / estás lluvia / estás estrella”.

P.S. Um trecho dessa cronica foi incluido por Thiago de Mello na homenagem feita em Cuba ao poeta Mario Benedetti publicado na Revista Casa de las Américas (nº 256, julio-septiembre 2009 -pg. 27-28)

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