Seu nome é Tânia ou Vânia, não deu pra ouvir direito. Trabalha num salão de beleza em Pindamonhangaba. Um dia presenciou, involuntariamente, um breve diálogo entre Geraldo e Lu Ackmin. Jura que, na intimidade, eles se tratam mutuamente de Momoge ou, às vezes, abreviam para Mô. Simplesmente Mô. É. Pode ser. Acontece. Essas coisas acontecem. Mas também pode ser fofoca de cabeleireira que quer aparecer.
Não é crime chamar a pessoa amada de Momoge., mas pode ser ligeiramente ridículo. Por isso, decidi checar se Vânia (ou Tânia?) falou a verdade.
- Isso é tarefa pra um canalha voyeur – pensei.
Foi ai que escalei meu sobrinho fofoqueiro - o Pão Molhado - para acompanhar a visita de dona Lu a Manaus, na semana passada. Ele conseguiu vê-la, pessoalmente, a menos de três metros de distância, na Rua dos Barés, próximo ao mercadão Adolpho Lisboa.
O relatório confidencial do Pão Molhado (Pão Mô, para os íntimos) é conclusivo e irrefutável. Dona Lu, efetivamente, de perto, tem cara de Momoge. Por outro lado, a imagem de Geraldo no debate da Globo prova que ele tem pinta de Momoge. Não sei por que, mas que tem, tem. Quem, a não ser um Momoge, penteia os ralos cabelos daquela forma, com brilhantina? Só um Momoge fica em pé, assim, com os pés abertos como ponteiros de relógio marcando dez e dez, com cara de noves-fora-nada.
Com todo respeito, o Momoge é meio lesão, né não?
O telespectador, que ficou acordado até meia-noite de sexta-feira, foi dormir dividido, esquizofrenicamente, em dois brasis, sendo um a negação, o antípoda do outro: o Brasil do Lula, cor de rosa, e o Brasil tenebroso do Momoge. Você vai ver, nos próximos parágrafos, os detalhes do debate e vai ler o que dona Lu Alckmin ou dona Mariza Silva, disseram a seus respectivos cônjuges na madrugada do sábado. (Não foi pedido ao Pão Molhado, mas ele apurou que dona Mariza, a Galega, chama Lula de “Benhê” e, além disso, tem cara de “Benhê”).
O Caga-regras
O debate, transmitido para todo o Brasil, tentou inovar. Para formular as perguntas, em vez de jornalistas, o IBOPE selecionou, não sei com quais critérios, 80 eleitores indecisos de várias regiões do Brasil, representantes das mais diversas profissões: pequeno comerciante, cabeleireira, estilista, auxiliar de cobrança, trocador de ônibus, estudante, lavador de carro, gráfico, recepcionista de hotel e até desempregados.
A idéia é interessante porque, em princípio, restitui a fala para quem esteve sempre condenado ao silêncio: gente simples, humilde, de extração popular. Acontece que estava tudo roteirizado, como se fosse uma novela ou uma mini-série. Os perguntadores não podiam improvisar, falar o que lhes desse na telha. Eram obrigados a ler o que estava escrito num papel e que soava tão artificial como o cenário asséptico dos estúdios da TV Globo. Ficou um negócio meio falso, meio “arranjado”. Bonner ameaçou:
- Quem sair do script, terá seu microfone desligado.
E o William Bonner, gente? Parecia um sargentão dando ordens num quartel, censurando, limitando, cagando regras. O cara é muito chato! Não deixou o debate rolar. Controlou o tempo mi-li-me-tri-ca-men-te, de uma forma burra, cortando o candidato no meio de uma frase, não deixando sequer alguns segundos para ele concluir. “O seu tempo está esgotado, candidato”. Foi um debate engessado. O que custava deixar o cara concluir o pensamento e, depois, descontar o tempo no outro bloco?
O candidato apertava um botão e sorteava o perguntador. As perguntas, quase sempre foram inteligentes. A paraense Rutilene Martins queria saber qual a qualidade da escola onde sua filha de quatro anos vai estudar. Denise, comerciante de Curitiba, está preocupada com a aposentadoria e a Previdência Social. Os sogros de Adriene são hipertensos e por isso surge a pergunta sobre a política de saúde. A enchente invadiu a casa de Manuel, em Carapicuíba (SP), e ele quer saber as propostas dos candidatos na área de saneamento.
Em cada bloco eram sorteadas novas perguntas. A cabeleireira Cristiane está angustiada com o desemprego, e Jacilene, auxiliar de cobrança no Pará, está aflita com o desmatamento. A preocupação de Davison, estudante de Pernambuco, é com a violência; do cearense Alain com o transporte urbano e as passagens caras; do César Pereira, gaúcho, lavador de carro, com a corrupção; do baiano Marcos com os impostos. Já Cristiane Anacleto, recepcionista em Brasília, só pensa na casa própria e o paulista Jony, trabalhador gráfico, no 13◦ salário e na legislação trabalhista.
Menos, menos!
Como reagiram os candidatos? Bem, o Momoge, com seu estilo apocalíptico, disse que Lula sucateou escolas, abandonou hospitais, fez buracos nas estradas, abriu crise na agricultura, entupiu ralos de esgotos para causar inundações, aumentou impostos, teve orgasmos com o desemprego, desmatou a Amazônia (“doze vezes o estado do Acre”, berrava o Momoge), arrebentou a Previdência, sacaneou os aposentados, esculhambou a pequena empresa, estimulou a invasão dos chineses e impediu que brasileiros pobres adquirissem casa própria. O Brasil hoje é o penúltimo país do mundo em crescimento, atrás de nós só o Haiti. Todos os nossos problemas começaram com o Lula.
Ai, né, vem o Lula e diz exatamente o contrário. Durante cinco séculos, as elites ferraram o país. Nos últimos quatro anos, ele, Lula, começou a consertar tudo, seus problemas acabaram, organizações Ta-ba-ja-ra: a inflação cai, a economia avança, os pobres têm crédito nos bancos, o bolsa-família, novas universidades e coisa-e-tal e pererê-pão-duro.
Menos. Menos. A pergunta que eu gostaria de fazer pro Momoge e pro Benhê:
- Escuta aqui, não dá pra vocês fazerem um debate decente, reconhecendo – pelo menos uma vezinha – que o outro pode ter, parcialmente, razão em alguma coisa? É pedir muito? Será que o Lula não podia falar: “Suas críticas contra a corrupção, Momoge, são corretas”. Ou o Momoge reconhecer: “Puxa, Lula, seu Governo fez muito na área social”.
O debate soou mentiroso, porque a realidade não é aquela que foi descrita por nenhum dos dois. Ambos agrediram a nossa inteligência. Para Lula, antes dele tudo era porcaria. Com ele, ficou tudo divino, maravilhoso. Já o Momoge, é o contrário. O Brasil, durante 500 anos, foi uma jóia, nos últimos quatro virou merda. Nunca vi maniqueísmo tão primário.
Na madrugada do sábado, Geraldo vestiu seu pijama de seda listado, tomou um copo de leite e foi pra cama dormir. Orgulhoso, ouviu o seguinte comentário de dona Lu Alckmin:
- Momoge, a-do-rei sua fala na hora em que o Lula perguntou de onde havia saído o dinheiro para os projetos do Governo de São Paulo. Você arrebentou, Mô.
Já dona Mariza comentou com Lula:
- Benhê, eu acho que....(O Bonner interrompe: “Taquiprati, seu tempo está esgotado”).
P.S. – Seu Lula, você não está com essa bola toda não! A gente votou em você, porque o Momoge é muito, mas muito momoge. Aviso que a partir de amanhã a gente já começa a reclamar por reformas e por cumprimento de promessas.