As notícias da semana são aterradoras. O procurador geral de Justiça do Amazonas, Vicente Cruz, contratou um pistoleiro por R$ 20 mil para assassinar seu colega Mauro Campbell. O presidente Bush gastou US$ 15 bilhões anuais extras para aumentar o número de soldados e matar mais iraquianos. Juízes de Recife e Belém foram flagrados vendendo liminares. Os bispos Estevam e Sônia Hernandez, da Igreja Renascer, foram presos em Miami com dólares escondidos, sugestivamente, dentro de uma bíblia.
Os crimes são hediondos. O cidadão, estarrecido, pergunta: como é que procuradores, juízes, bispos e até um presidente, que deviam dar bom exemplo, agem como bandidos e criminosos? Quem é mais monstruoso: Vicente Cruz-Credo, se é que mandou mesmo matar, ou Mauro Jingobell, se inventou essa história? Ou a bispa Sônia – a perua de Cristo – que usou a bíblia para lavar dinheiro? Ou o Bushinho, que quer aumentar a carnificina enviando pro Iraque mais 20 mil soldados?
A notícia mais aterradora, o crime mais hediondo, porém, não foi a profanação da lei e da fé. Foi a gravidez da Delzuite. Meu amigo ‘Pão Doce´, do Bairro do Céu, se queixa que colocaram chifre numa nação inteira e ninguém sabe quem foi: “Precisamos encontrar quem nos corneou. O resto é conversa fiada”. ´Pão Doce´ se sente traído e não sossega enquanto não encontrar o criminoso. Daí, a pergunta transcendental: afinal, quem papou a Delzuite?
Delzuite
A filha de um seringueiro na mini-série Amazônia, produzida pela TV Globo, vive assediada por gaviões e urubus, impressionados com a saúde da moça, que nem parece menina pobre. Quando ela sorri, mostrando dentes sem cárie, parece até a atriz Giovanna Antonelli. Quando toma banho de igarapé, com um vestidinho de chita colado no corpo, mostra todas as suas prendas, endoidecendo os homens. Ela ficou grávida e ninguém sabe quem é o pai. Vejamos quem são os principais suspeitos.
Coronel Firmino
O dono do seringal Santa Rita, no Acre. Querendo ser chique, pede assessoria ao Berinho que, ignorando o calor infernal da floresta, aconselha-o a se vestir sempre como se estivesse no inverno europeu: paletó, gravatinha borboleta, colete, cachecol, casaca e galochas. O coronel adora passear na charrete do Berinho, ao lado do Teatro Amazonas, puxada por aquele cavalo que só fala inglês. Andou fuzilando Delzuite, com seus olhos concupiscentes de bode velho. “Mais tarde, leva um copo de leite lá no meu quarto”, ordenou. Ninguém sabe se a ordem foi cumprida. Se foi, já era.
Tavinho
Filho do coronel Firmino, estudou em Paris e odeia seringal. Tem um álibi. Não pode ter engravidado Delzuite, porque – segundo os seringueiros – o rapaz “corre na floresta”, se é que me faço entender, ou para ser mais claro, o rapaz encaçapa um croquete, entuba uma brachola. No entanto, nessa última sexta-feira, o Brasil inteiro viu Tavinho nu, com sua bunda branquela, por cima da Delzuite. Sua responsabilidade, no caso, não deve ser descartada. Os seringueiros podem estar enganados.
Viriato, seringueiro, trabalhador, se apaixona por Delzuite, a quem propõe casamento, mas ela só está interessada é no filho do patrão, que lhe promete – imaginem só – levá-la para Manaus. De qualquer forma, Viriato foi visto algumas vezes no meio do mato com a moça. Embora exista a suspeita de que seja estéril, Viriato guarda sempre no bolso uma raspa do pó da gruta onde a Virgem Maria amamentou o menino Jesus, trazida de Jerusalém pelo ex-deputado Lupércio Ramos. Ele pode ser o pai da criança. Deu certo com Lupércio, que engravidou uma menor, pode dar certo com ele.
Vitorino, o capanga e homem de confiança do coronel Firmino, tentou papar Delzuite dentro da própria casa dela, na presença dos seus pais, numa noite em que lá se hospedou. Quando já estava quase dentro da rede da moça, o pai dela, Bastião, deu um chega pra lá no negão, mas o facínora é capaz de tudo e não desistiu de rondar o terreiro de Delzuite. Uma gravação telefônica, feita com autorização judicial, registrou a voz de Viriato gritando: “aborta, aborta, aborta”. Vamos esperar o menino nascer. Se for afro-descendente, o pai é Vitorino, sem dúvida alguma.
Luiz Galvez, diplomata e jornalista, mantêm coluna no “Commércio do Amazonas”. Tornou-se imperador do Acre. Tem um lema: “usou saia, não é padre nem escocês, crau”. Pedófilo, ele papou várias gatinhas entre as quais a cafetina Lola Fischer, com quem abriu um cabaré; a dona de casa Beatriz Bloch, que abandonou o marido; a dançarina Maria Alonso Torloni, com quem viajou ao Acre. Muito em breve vai ter um caso com Maria Ninfa Casé, a parteira do seringal, e entrará no mato com Delzuite, deixando escrito um sugestivo poema: “E indo ao mato colher flores, a flor que tinha perdeu”. Por causa desses versos, todo mundo suspeita dele.
Jorge, o único filho homem de Aristides Meira e Lalinha, é tão tarado que virou as páginas da vida, pulando da novela das oito para a míni-série. Ele já papou a empregada Sandra Winits, peitudona e siliconada; papou a lourinha Simone Fernandes; corneou o Dorival, coitado, com aquela pinta de leso e sofredor e deu encima da Telminha Massafera, que tem a cara das filhas da tia Dedé, não sei se a Lúcia, a Lena ou a Cacau ou as três juntas. Dizem que Jorge Lacerda vai papar as duas malas: a médica Helena Duarte e a artista Tonha Braga. Esse cara é capaz de tudo. Te cuida, Delzuite!
O Boto foi quem papou a Delzuite, segundo versão da própria, que aparece várias vezes brincando no rio com ele, semi-nua. Ela aprendeu o jeito correto de bater na água para atraí-lo e alimentá-lo, dando peixes diretamente na sua boca. Apesar da idade e de haver perdido o mandato de senador nas últimas eleições, Ele, o Boto, tem um currículo invejável de mulherengo que não deve ser desprezado. Não é carta fora do baralho.
Taquiprati também não é carta fora do baralho. Embora já em idade provecta, quase entrando nos sessentinha, com a patroa pegando no seu pé, o colunista pode muito bem ter engravidado Delzuite com a força do pensamento positivo.
P.S. O Batará editou, em 1987, na gráfica do Diário, o livro “Cem anos de Imprensa no Amazonas (1851-1951)”. Trata-se de um catálogo elaborado por alunos de jornalismo, com a revisão de estudantes de história da UFAM, coordenado por este que batuca essas mal traçadas linhas. Três pessoas mereceram os nossos agradecimentos: Mário Jorge Couto Lopes, que nos emprestou jornais antigos; Geraldo de Macedo Pinheiro, que abriu seus arquivos para nós, nos aconselhou e nos deu muitas pistas; finalmente, dona Tereza Nóvoa, que nos deu apoio, incentivo e infra-estrutura para concluir o trabalho. Na época, ela lia a coluna Taquiprati e puxava minha orelha quando via algum palavrão. Na semana passada, no dia 6 de janeiro, véspera do aniversário do jornal “Estrella do Amazonas”, editado por Silva Ramos em 1852, dona Tereza Nóvoa nos deixou, bela e serena, espanholíssima, em paz com os homens e com Deus. Se hoje não peguei mais pesado e nem usei cenas fortes foi em consideração a ela, a quem rendo minhas homenagens, me solidarizando com a família enlutada.
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