CRÔNICAS

Na quarentena: isolados sim, sozinhos nunca!

Em: 22 de Março de 2020 Visualizações: 11752
Na quarentena: isolados sim, sozinhos nunca!

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo (Drummond, 1940).

- Tem acetilcisteína 600 mg? – perguntei ao telefone. Tinha. A farmácia, porém, não fazia entrega domiciliar. Confinado há vários dias, sai de casa na segunda (16), morrendo de medo. Andei apenas três quadras. Nas ruas de Icaraí, em Niterói, parcialmente vazias, funcionava o comércio ambulante e algumas lojas. Diante de uma delas - Casa do Biscoito - fui abordado por um jovem negro, que aparentava uns 20 anos e mancava da perna. Tímido, mas digno, pediu em voz quase inaudível, que eu comprasse na loja uma caixa de caramelos para ele vender a retalho. Jeferson – esse é seu nome -  mora no Morro do Cavalão. Desejei-lhe sorte ao me despedir.

Jeferson não é um caso isolado. São milhões de brasileiros que sobrevivem na economia informal, moram em cubículos, muitas vezes sem acesso à água sequer para lavar as mãos, desnutridos, sem assistência médica, num país com profundas desigualdades sociais. Pertencem ao segmento mais frágil e vulnerável da população, afetado pela crise social e econômica agravada pelo coronavirus, agora transmitido de “forma comunitária” e também combatido da mesma forma. Por isso, a Polícia Municipal – hoje eu vi da minha janela - está aconselhando os transeuntes a voltarem para casa.

A quarentena produz um “efeito econômico significativamente negativo” – reconhece nota assinada por reitores das universidades do Rio de Janeiro. Afirma, porém, que “é imperativo suspender temporariamente ou diminuir a frequência das atividades de trabalho, ensino, lazer e entretenimento para proteger a vida e a saúde das pessoas”. Segundo a nota, “o distanciamento social é a principal medida para achatar a curva de propagação, pois reduz drasticamente o contato físico”. Os reitores colocam a rede de hospitais universitários à disposição dos contagiados, assim como “o conhecimento científico básico aplicado” produzido pelas instituições que dirigem.

Distanciamento social

O termo “distanciamento social” talvez não seja o mais apropriado.  Foi usado aqui para designar a necessária separação física que estamos vivendo, afastados de familiares e dos círculos de amizade. Sem encontros de avós com netos, de professores com alunos, os nossos afetos já não são adubados na interação presencial. Sinto falta do barulho álacre das crianças no recreio da escola quase em frente de casa, que gera vida, prazer, felicidade. O silêncio produz um zumbido ensurdecedor.  

No entanto, como escreveu o psicanalista Contardo Calligaris, esta é na história da humanidade “a primeira pandemia em época de televisão e de streaming e, sobretudo, a primeira em que dispomos da possibilidade ilimitada de nos comunicar com os amigos, parentes e amantes. Podemos estar isolados, mas nunca sozinhos”.

É verdade. Confinados, mas acompanhados de irm@s, sobrinh@s e prim@s, alun@s e orientand@s. Diariamente converso com minhas netas pelo WhatsApp. Vitória, 6 anos, quer saber se estou lavando as mãos de suas bonecas que ficaram em casa. Ana, 9 anos, me fala de suas leituras, dos papos mantidos com suas colegas pela internet e, contente, me mostra o quebra-cabeça gigantesco que montou. Maia, 3 anos, me conta em detalhe seu último sonho -  ela sempre relembra de forma minuciosa os seus sonhos - e pergunta da mãe: por que quando a gente abre o olho, o sonho vai embora?  

Talvez esse pesadelo vá embora, quando a gente abrir os olhos e se conscientizar do real distanciamento social, aquele existente entre classes sociais, cujas políticas públicas não apenas discriminam os mais frágeis, mas agora desprezam até evidências científicas, classificando de “fantasia” e de “gripezinha” a tragédia que vivemos. Os panelaços coletivos de protesto contra Bolsonaro e os aplausos aos médicos e funcionários da saúde ocorridos nesses últimos dias mostram que estamos pessoalmente isolados, mas politicamente não estamos sozinhos, embora ainda debilitados.

Sentimento do mundo

O sentimento de impotência aparece quando a gente pensa em grande parte da população brasileira, isolada e abandonada à própria sorte. Ou nas aldeias indígenas, cuja organização e forma de vida dificulta o isolamento. Foi o que aconteceu no período colonial, onde a varíola, o tifo, o sarampo causaram uma das maiores catástrofes demográficas da história da humanidade, ceifando milhões de vidas. Agora, já surgiu um caso suspeito de um Pataxó na aldeia Coroa Vermelha, sul da Bahia, que pode ter contraído o coronavirus no contato com turistas estrangeiros. Como sobreviver sem a venda de artesanato? – pergunta o guarani Miro Silva, ex-aluno nosso.

Quanto tempo vai durar a quarentena? Quantos sobreviveremos à pandemia? Ninguém sabe. Na Itália, na sexta (20), em um único dia o vírus matou 627 pessoas, sem extrema-unção, sepultados em condições precárias, num desfile fúnebre de caminhões militares. Um amigo meu, com quem converso diariamente, está com câncer na próstata, sem poder operá-lo em decorrência dos riscos existentes. Diante da propagação do vírus em velocidade crescente, somos invadidos por um sentimento de impotência, similar àquele registrado por Carlos Drummond em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Como ser solidário nessas circunstâncias?

- “Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo” – lamenta o poeta, que anuncia: “Quando me levantar, o céu / estará morto e saqueado, / eu mesmo estarei morto, / morto meu desejo, morto / o pântano sem acordes”.

O que pode fazer o Brasil pelos Jefersons, pelos indígenas, por cerca de 2 milhões de pessoas na fila para a aposentadoria, por aqueles que serão contaminados pelo coronavirus independente da classe social?  As respostas não foram dadas pelo ainda presidente Bolsonaro, mascarado, ao lado de ministros igualmente mascarados. Falou para o país como se estivesse se dirigindo à minoria de fanáticos no curralzinho do Alvorada, com uma retórica grotesca beirando a demência, sem a menor noção de que a sua fala institucional, como Chefe de Estado, faz parte de suas obrigações.

Limitado intelectualmente, manifesta seu rancor e agride a imprensa, o Congresso Nacional, o STF, o sistema democrático. Mente. Mente descaradamente. Mente sempre sem se preocupar com as evidências que destapam as mentiras. O país está à deriva.

Se Bolsonaro entrar nas barcas de Niterói, no metrô de São Paulo ou nos ônibus de Belo Horizonte em busca de aplausos, como prometeu por trás da máscara, certamente viajará, ele sim sozinho. Nós estamos isolados, mas nunca sozinhos. Isolado e sozinho parece cada vez mais o capitão. Como escreveu José Simão, “Bolsonaro testa negativo para presidente”.

P.S. Em decorrência de complicações da cirurgia bariátrica, faleceu Devair Fiorotti, 48 anos, autor de “Urihi, nossa terra, nossa floresta” e “Panton pia”, com 79 cantos Macuxi e Taurepang. Deixou mulher, quatro filhos e muitos amigos. Seu corpo foi velado com música e poesia nessa sexta (20) no malocão do Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima, da qual era professor. “Ele era um amigo generoso. Era um aliado dos índios. Tudo o que ele fez foi com paixão e poesia” – escreveu saudosa sua amiga Loretta Emiri. Quando Bolsonaro assinou o projeto de lei permitindo a mineração em terras indígenas, Devair indignado postou no facebook:

- A gente estuda pra caramba, vive com os indígenas pra tentar entender o que eles são e descobrir o que lhe causa males. Um ignorante desses, que nunca conviveu com ninguém nem se aprofundou no assunto, que se nega a ter especialistas a seu redor sobre o tema, assina uma merda dessas, expondo-os ainda mais, inclusive com a vulnerabilidade ambiental e de contato brusco.

Esse era o nosso Devair, que deixa muitas saudades.

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21 Comentário(s)

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Rodrigo Martins comentou:
25/03/2020
Boa noite professor Bessa, tudo bem? Realmente muito triste tudo isso. Estamos vivenciando um momento histórico e como personagens desse tempo infelizmente não sabemos mensurar todos os danos e como essa triste pandemia será contada no futuro pelos livros de história. Esperamos todos que com um final feliz o mais breve possível e isso ocorrerá. Essa pandemia passará, esse presidente passará e torçamos também que a grave desigualdade no nosso país passe também, não aguentamos mais.
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Jorge Magalhães de Mendonça comentou:
24/03/2020
Esta tem sido minha grande preocupação. Ontem, interfonei para o porteiro, lhe falei disto e lhe disse que posso ajudá-lo. Minha sensação de ser um PARASITA. Ótima reflexão!
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Maria Verônica Vieira Moreira comentou:
24/03/2020
A debilidade não permite abrir os olhos qto mais reagir. Sapos água amornando.
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Roberto Zwetsch comentou:
22/03/2020
Bessa, caro amigo, Muito boa e oportuna sua crônica de hoje. Mas por trás a gente fica com aquele sentimento terrível de impotência e medo com o tipo de autoridade que temos e que vai ter que administrar a crise e conduzir o processo de combate ao coronavírus. Na verdade, será um caminho para aprender como lidar com ele, pois como li hoje, outros virão e talvez alguns mais complicados ainda de se lidar por causa da nossa precária condição sanitária. Por aqui o quadro de catástrofe será gigantesco, penso eu. não tenho ilusões e também, como você, temos pelos mais pobres, moradores de rua, das favelas, dos cortiços, dos ambulantes, dos povos indígenas e quilombolas, e também do pessoal médico que se esforça à exaustão para minimizar a crise. Tempos muito difíceis. Se me permite, envio a você dois textos de reflexão "teológica" em que procuro algum fiapos de esperança. E um belo poema de um colega da Univ. Federal do Sergipe. Abraço saudoso (a distância pode, viu!)
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Serafim Corrêa comentou:
22/03/2020
Publicado no BLOG DO SARAFA https://www.blogdosarafa.com.br/na-quarentena-isolados-sim-sozinhos-nunca/
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Combate - Racismo Ambiental comentou:
22/03/2020
Publicado no Blog Combate - Raismo Ambiental. https://racismoambiental.net.br/2020/03/22/na-quarentena-isolados-sim-sozinhos-nunca-por-jose-ribamar-bessa-freire/
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Valter Xeu comentou:
22/03/2020
Publicado no blog Patria Latina http://www.patrialatina.com.br/na-quarentena-isolados-sim-sozinhos-nunca/
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HANS ALFRED TREIN comentou:
22/03/2020
Caro Bessa, em cima da pinta, como sempre! Muito bom te ler e sentir-me irmanado contigo. Por ora, receba o meu abraço virtual. Espero poder realizá-lo fisicamente de novo. Com estima, Hans
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Barbara Arisi (via FB) comentou:
22/03/2020
For my foreign friends, that want to read it, "The feeling of powerlessness appears when we think of a large part of the Brazilian population, isolated and abandoned to their own fate. Or in the indigenous villages, whose organization and way of life make isolation difficult. This is what happened in the colonial period, where smallpox, typhus and measles caused one of the greatest demographic disasters in human history, claiming millions of lives. Now, a suspicious case of a Pataxó has arisen in the village Coroa Vermelha, south of Bahia, which may have contracted the coronavirus in contact with foreign tourists. How to survive without the sale of handicrafts? - asks Guarani Miro Silva, our former student. How long will the quarantine last? How many will survive the pandemic? Nobody knows. In Italy, on Friday (20), in a single day the virus killed 627 people, without extreme unction, buried in precarious conditions, in a funeral parade of military trucks. A friend of mine, with whom I talk daily, has prostate cancer, without being able to operate due to the existing risks. Faced with the spreading of the virus at an increasing speed, we are invaded by a feeling of impotence, similar to that registered by Carlos Drummond in 1940, during World War II. How to be sympathetic under these circumstances? " "I have only two hands / and the feeling of the world" - laments the poet, who announces: "When I rise, the sky / will be dead and plundered, / I myself will be dead, / my desire dead, / the swamp without chords". What can Brazil do for the Jefersons, for the Indians, for about 2 million people in line for retirement, for those who will be contaminated by coronavirus regardless of social class? The answers were not given by the still-president Bolsonaro, in disguise, alongside equally masked ministers. He spoke to the country as if he were addressing the minority of fanatics in the dawn corral, with grotesque rhetoric bordering on dementia, without the least notion that his institutional speech, as Head of State, is part of his duties. Intellectually limited, he expresses his resentment and attacks the press, the National Congress, the STF, the democratic system. He is lying. He's a brazen liar. He always lies without worrying about the evidence that uncovers the lies. The country is adrift.
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Mauricio Negro comentou:
22/03/2020
Obrigado pela crônica, José Bessa.
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Barbara Arisi comentou:
22/03/2020
Que triste perder o autor de Urihi, nossa terra, nossa floresta. meus sentimentos para a familia e pra ti. obrigada pelo texto, abraços virtuais, sempre tão longe e tão perto.
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Ivone Andrade (via FB) comentou:
22/03/2020
Obrigada Babá por tamanha sensibilidade e lucidez. Chorei..
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Arlete Schubert (via FB) comentou:
22/03/2020
Nosso abraco e gratidao por tamanha sensibilidade e luz que joga em nossa realidade e tempos atordoados. ? Compartilho
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Beatriz F. Arantes comentou:
22/03/2020
Perfeito, professor! Isolados sim, sozinhos nunca!
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Astrid Lima comentou:
22/03/2020
Com pessoas como você eu nunca me sinto só. Obrigada por existir querido amigo.
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Cristina Vergnano comentou:
22/03/2020
Olá, Bessa! Bela crônica. Deixa manifestas as preocupações adicionais, nunca secundárias, que esta pandemia revolve e suscita. Também tenho escrito sobre o tema no meu blog, embora por caminhos distintos. E é muito bom ver como a multiplicidade de olhares (muito está sendo dito sobre nossa atual situação) ajuda a compor o mosaico social, econômico e humano do início deste século XXI, no Brasil e por todo o mundo. Isso, para além e complementarmente às ficções científicas distópicas e utópicas que sempre povoam e povoaram nossa literatura, filmografia, reflexões, sonhos e devaneios. É sempre um prazer lê-lo. Parabéns.
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Taquiprati comentou:
22/03/2020
Cristina Vergnano-Junger Atualmente é professora associada aposentada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde continua no corpo permanente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Letras, área de concentração "Estudos de Língua", especialidade "Linguística". Ela não deu o link, mas eu dou. Vale a pena a visita ao Blog, que tem uma variedade de reflexões muito interessantes https://www.tecendooverbo.com.br/blog/page/2/
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May Waddington comentou:
21/03/2020
"nossos afetos já não são adubados na interação presencial" mas são adubados pela fina sensibilidade que você, José Bessa, desfia nesse desabafo. Meus sentimentos pelo amigo ido, e minha gratidão. Quando tiver notícias sobre Coroa Vermelha aviso.
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Ana Silva comentou:
21/03/2020
Bessa, que cronica linda. Você define bem, com sensibilidade e poética, esses tempos de horror, medo, mas também esperanças e solidariedade. "Isolados sim, sozinhos nunca"! Lindo, lindo.
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Celeste Correa comentou:
21/03/2020
Mano, em tempos de coronavirus e de tantas questões complexas que nem estamos ainda conseguindo processar eu penso que é inutil comentar qualquer fala ( vômito) do Bolsonaro, que , além de totalmente irresponsável e despreparado, mostra que desconhece totalmente sentimentos como respeito, solidariedade e sentido de pertencimento, tão urgentes nesse momento. A quarentena é difícil pra caramba, querer e não poder abraçar os nossos afetos é doloroso e está produzindo um efeito negativo em vários setores, mas eu creio que ela tbm está nos possibilitando resgatar e/ ou fortalecer alguns desses sentimentos, e também nos faz refletir sobre esse real distanciamento social que a tua crônica enfatiza , aquele que torna uma boa parte das pessoas invisíveis e desprovidas dos mais elementares direitos. Esse distanciamento é cruel e o sentimento de impotência diante dele assusta e mata como o coronavirus. Mas, quando assistimos das nossas janelas os panelaços coletivos de protesto contra Bolsonaro e os aplausos aos médicos e funcionários da saúde, nos sentimos alimentados e fortalecidos para lutar contra esse vírus da indiferença. Nós estamos pessoalmente isolados, sim, Zé Bessa, mas politicamente percebemos que não estamos sozinhos. Nesse momento em que nao dá para ninguém segurar a mão de ninguém foi muito emocionante ver inúmeras mãos se entrelaçarem simbolicamente nas janelas em forma de aplausos aos profissionais da Saúde. Cada palma e cada piscar de luz mostrou que não estamos sozinhos, apesar da quarentena imposta pelo coronavirus.
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Maria comentou:
21/03/2020
Pois é, quarentena é privilégio de classe. A maioria da população tem que ganhar o pão de cada dia. E é ela que vai morrer nos hospitais superlotados. “Ficar em casa”, “lavar as mãos”, “manter distância de 1,5m”... são comandos que não fazem menor sentido pra quem tem que pegar transporte lotado, não tem saneamento básico e deixa os filhos com os avós.... Enfim, o de sempre, agora em dose letal. “Fora bolsonaro, assassino! Viva a saúde pública!”, gritarei daqui a pouco da minha janela pra poder acordar no dia seguinte com um mínimo de dignidade.
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