CRÔNICAS

Cacique Babau: pensando em cortar orelhas

Em: 27 de Abril de 2014 Visualizações: 35975
Cacique Babau: pensando em cortar orelhas

 

Faltou um convidado para a canonização de Anchieta que teve missa festiva em Roma, quinta feira, 24, celebrada pelo papa Francisco. Estavam lá o vice presidente da República Michel Temer, os senadores Renan Calheiros (AL) e Ricardo Ferraço (ES) "figuras ilibadas" do PMDB (vixe, vixe), além de outros integrantes de uma gulosa comitiva com passagens e polpudas diárias pagas pelos cofres públicos. Quem tem boquinha, vai a Roma. Mas ficou vazia a cadeira do cacique Babau Tupinambá, convidado pela Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O fato está carregado de simbolismo.
O "apóstolo dos índios" foi canonizado sem a presença de um único representante daqueles que catequizou. Seria o primeiro milagre do novo santo se a igreja estivesse lotada de índios ou se Anchieta convertesse a cambada de medalhões (se você está indignado, coloque um "r" depois da primeira sílaba) ali presentes.

Quem acredita na fé dos medalhões, que atire a primeira pedra! Na última vez em que rezou o Pai-Nosso, Renan era coroinha da igreja Nossa Senhora das Graças, padroeira de Murici (AL), de olho no saquinho da coleta de espórtulas da missa. Por isso, ainda reza pela antiga cartilha: "perdoai as nossas dívidas assim como perdoamos os nossos devedores".
O papa ganhou a simpatia de milhões de brasileiros ao se pirulitar logo após a missa para não ter o desprazer de encontrar Renan et caterva, que beijaria sua mão e publicaria a foto. Ninguém, porém, expulsou esses vendilhões do templo. Ninguém perguntou: Cadê o Babau? Naquele momento, o cacique estava em Brasília, depondo na Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional, de onde saiu preso pela Polícia Federal, a quem se entregou. Na hora exata da prisão, distante dali, os medalhões, contritos, diziam "amém" na missa celebrada em português pelo papa. 
Cortador de orelhas
O cacique Babau Tupinambá, apesar de ter boca, não foi a Roma, lembrando episódios da ditadura militar, quando proibiram a saída de Daniel Matenho Cabixi, de Mario Juruna e dos índios Kayapó. Babau foi impedido de viajar por um juiz substituto da Vara Criminal da Justiça do município baiano de Una, que decretou sua prisão temporária. Diante disso, a Policia Federal suspendeu o passaporte que lhe havia concedido.
Qual o motivo da prisão? Impedir Babau, que luta pela recuperação do território Tupinambá, de entregar ao papa documentos denunciando a violação aos direitos indígenas no Brasil e de falar com jornalistas de vários países. Esse é o motivo real. Alegaram outro: ele estaria envolvido no assassinato do agricultor Juracy Santana, no dia 10 de fevereiro último, segundo depoimento de alguém que "tomou conhecimento que após morto, Juracy teria a orelha cortada, sendo que a dita orelha era para ser entregue ao Cacique Babau".

Juro que o juiz aceitou essa "prova" na falta de outra. Apenas dez dias se passaram entre a morte e o mandado de prisão, num inquérito viciado em que as testemunhas ouvidas foram pessoas denunciadas pelo próprio cacique, conforme nos relata Renato Santana, da Assessoria de Comunicação do CIMI - Conselho Indigenista Missionário. No inquérito e na decisão do juiz, não foi ouvido o outro lado.
O que um juiz que toma decisões sobre índios conhece sobre o tema? Com essa pergunta, iniciei o curso Consequências sociais das decisões judiciais - o direito dos povos indígenas, ministrado no ano passado na Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) para juízes em vitaliciamento. Na ocasião, recorri a documentos do Arquivo Nacional. Lá, no Fundo Polícia da Corte, existem livros com a relação de presos na primeira metade do século XIX. Num deles consta um índio que foi preso em 1831, por "estar numa atitude de quem estava pensando em roubar". 
O juiz de direito, que chefiava a polícia, era tão eficiente que lia até pensamento. É isso aí. O cacique Babau foi preso porque "estava pensando em cortar orelhas", segundo seus adversários. É muita mesquinharia. É uma ofensa à inteligência dos brasileiros. Podemos acusar o juiz de que "está pensando" que somos idiotas. Somos? Como é que 200 milhões de cidadãos aceitam, calados, tamanho escárnio? Morro de vergonha "de minha pátria, de minha pátria sem sapatos e sem meias, pátria minha tão pobrinha" como cantou Vinicius de Morais.
Kate e a mídia
Um cacique tupinambá é preso para evitar que viaje e represente os índios na canonização de um santo. A grande imprensa, nem seu souza. Não deu um pio. Nenhum registro. Só a Folha de São Paulo deu uma notinha escondida. Os jornalões futricam e futricam factóides. Dedicaram páginas e páginas à recente viagem do duque William, da Kate e do filho deles George à Austrália e Nova Zelandia, registraram até o arroto do pequeno príncipe. Com todo respeito à Kate, Babau é mais importante, não apenas para mim, mas para a história do Brasil, para a humanidade, embora não para certa imprensa. 
Por que a mídia dá enorme espaço para "assunto tão transcendental" como a  operação plástica nos pés - "uma febre nos Estados Unidos" - e ignora o cacique Babau quando ele se defende lá no Congresso Nacional, na presença da presidente da Funai, da procuradora da República e de parlamentares de vários partidos? A noticia fervilha nas redes sociais, mas é ignorada fora delas.

Babau criticou a morosidade na demarcação das terras indígenas e depois se entregou à Polícia. Permanecia preso em Brasília, sob custódia, aguardando transferência para um presídio em Ilhéus (BA), por determinação do juiz substituto Maurício Barra, o mesmo que expediu o mandado de prisão. Os fazendeiros, enfim, podem dormir tranquilos: suas orelhas não serão cortadas, o pensamento sobre isso está preso.
Só acredito que Anchieta não é santo de casa, se a presidente Dilma der um soco na mesa e gritar:
- "Senhores ruralistas, meu campo político é dos lascados, não permito que se rasgue a Constituição e se oprima os índios. A terra indígena Tupinambá, identificada em 2009, aguarda portaria do ministro da Justiça. Cardoso, assine a portaria".
Mas santo de casa não faz milagres. Os bandeirantes estão voltando. Desconfio que vem chumbo grosso por aí. Índios do mundo inteiro, uni-vos!
P.S.1 - Quando esse texto já havia sido escrito, recebi a notícia da morte em Brasília do linguista Aryon Rodrigues, 88 anos, o velório foi na sexta, 25. Aryon era um sábio, amigo dos índios. Escreveu seu primeiro artigo sobre a língua guarani quando tinha 16 anos e publicou no jornalzinho do Grêmio Estudantil. De lá para cá, não parou de pesquisar sobre as línguas indígenas. Ganhamos todos com ele, com sua vida, com sua luz. Ganharam os índios, ganhou a academia. Todos perdemos um pouco com sua despedida. Que descanse em paz, amado e homenageado por todos nós.
P.S. 2 - Desde 1999, a escolha para o cargo de diretor do INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia é feita baseada em avaliação criteriosa de um Comitê de Busca nomeado pelo ministro, cujos membros são expoentes das áreas de pesquisa e inovação no Brasil. Esse processo foi adotado para coibir ingerência político-partidária nas indicações. Agora, novamente o INPA está em momento de mudança, e já foi designado o Comitê de Busca, que deve ter autonomia para indicar ao ministro o(s) nome(s) que considerar mais adequado(s), sem pressão política de qualquer natureza. Alguns políticos já estão querendo nomear. Olho neles!

 

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27 Comentário(s)

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Ariosvaldo Gomes comentou:
04/05/2014
O líder indígena da Bahia Rosivaldo Ferreira da Silva, mais conhecido como Cacique Babau, foi liberado da prisão, em Brasília, na noite de sexta-feira (2), três dias depois de ter a liberdade concedida, em caráter liminar, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). De acordo com o advogado que representa o indígena da etnia Tupinambá, não foi possível uma saída imediata da prisão porque a defesa se esbarrou em “burocracias”. Os advogados também mantiveram a saída da prisão em sigilo durante parte do fim de semana para “preservar a segurança” de Babau. Mesmo com a liberdade, ele continua à disposição da Justiça.
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Marina Marcela Herrero (via FB) comentou:
29/04/2014
Cacique Babau será libertado! Decisão é do Ministro Sebastião Reis, do STJ. Viva! O Cacique Babau será colocado em liberdade, conforme decisão que pode ser vista registrada abaixo em imagem do saite do Superior Tribunal de Justiça. O Ministro Sebastião Reis concedeu Liminar em Habeas Corpus para revogar a fajuta e política decisão que decretou a prisão do Cacique Tupinambá. Legal!!! agora soltem os outros, os Tenharim, por exemplo
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Pedro Felgar Couteiro comentou:
29/04/2014
finalmente alguém explica alguma coisa sobre o caso concreto...
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Vanessa Rodrigues (via FB) comentou:
28/04/2014
fundamental do começo ao fim. Contundente e didático, como sempre.
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Maria Eva Canoé comentou:
28/04/2014
A colonização do Brasil nunca acabou apenas é executada de diversas formas... Se o governo e sua cambada de marginais acham que prendendo nossos lideres nos farão calar se enganaram redondamente , pois agora que nossas vozes unidas a de nossos aliados, amigos e companheiros de caminhada se tornou mais forme e firme!!
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APF Ver o Peso (via FB) comentou:
28/04/2014
É REVOLTANTE O NÚMERO DE IDIOTAS COLONIALISTAS QUE HOSTILIZAM INDÍGENAS, ANALFABETOS POLÍTICOS QUE IGNORAM A CONTRIBUIÇÃO DA NAÇÃO TUPINAMBÁ NA CONSTRUÇÃO DO BRASIL... Nessa marcha vamos acabar sendo obrigados a ir ao comitê de descolonização da ONU professor José Bessa
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APF Ver o Peso (via FB) comentou:
28/04/2014
É REVOLTANTE O NÚMERO DE IDIOTAS COLONIALISTAS QUE HOSTILIZAM INDÍGENAS, ANALFABETOS POLÍTICOS QUE IGNORAM A CONTRIBUIÇÃO DA NAÇÃO TUPINAMBÁ NA CONSTRUÇÃO DO BRASIL... Nessa marcha vamos acabar sendo obrigados a ir ao comitê de descolonização da ONU professor José Bessa
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Ellen Nicolau (via FB) comentou:
28/04/2014
Dentre as coisas que gosto muito é a vivacidade que as palavras ganham nas crônicas e mais ainda, da força política e social que elas aderem nas palavras do mestre José Bessa! Ansiosa para a mesa de amanhã no evento em Tupã!
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Olivia Maria Maia comentou:
27/04/2014
Marrapaiz!!! esse texto é um soco no estomago... O que ameniza um 'cadim' a revolta é ver gente com a coragem do tamanho da tua... Isso me dá ânimo.
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Juarez Silva (Manaus) comentou:
27/04/2014
Fico como sempre meio embasbacado com a precisão e pertinência dos textos, sem muito o que dizer, como diriam antigamente simplesmente SUPIMPA !
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Francisco Castro comentou:
27/04/2014
José Bessa, aceite minha vergonha solidária..
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Vânia Novoa Tadros comentou:
27/04/2014
Não sei porque tanto barulho para o Babau Tupinambá ir para a Missa celebrada pelo Papa Francisco. Não sempre se defendeu aqui que os índios devem seguir a religião de seus pais? Talvez por isso Babau nem tenha ligado para isso e resolveu se entregar para a polícia naquela data. Resposta ao Felipe: Eu dou vivas a Polícia Federal e todas as vaias aos petistas que estão no poder, são seus aliados e os que os defendem. Eles já desmoralizaram o Congresso Nacional, o STF, e cometeram falcatruas nacionais e internacionais. Só sobrou a Polícia Federal para defender o povo brasileiro de boas intenções.
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Vânia Novoa Tadros comentou:
27/04/2014
Não sei porque tanto barulho para o Babau Tupinambá ir para a Missa celebrada pelo Papa Francisco. Não sempre se defendeu aqui que os índios devem seguir a religião de seus pais? Talvez por isso Babau nem tenha ligado para isso e resolveu se entregar para a polícia naquela data. Resposta ao Felipe: Eu dou vivas a Polícia Federal e todas as vaias aos petistas que estão no poder, são seus aliados e os que os defendem. Eles já desmoralizaram o Congresso Nacional, o STF, e cometeram falcatruas nacionais e internacionais. Só sobrou a Polícia Federal para defender o povo brasileiro de boas intenções.
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Susana Grillo comentou:
27/04/2014
Bessa, tempos duríssimos... essa indignidade que fizeram com Babau e a despedida do Mestre Aryon que esteve entre os Tupinambá, se não falha a minha memória, em 2006, compartilhando sua sabedoria sobre línguas indígenas e língua Tupinambá. Foi uma visita inesquecível ! Que você continue dando cursos para nossos juristas que nada conhecem sobre os povos indígenas e agem de acordo com a matriz destruidora de outras vozes e culturas não alinhadas à hegemônica. Nosso apoio a Babau e nossa tristeza pela despedida do Mestre Aryon...
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Paulo Bezerra comentou:
27/04/2014
" Primeiro condenaram sem provas um político, como não gosto de políticos não me importei. Depois, condenaram sem provas um cacique indígena, como não sou índio, também não me importei. Amanhã quem será o próximo a ser condenado sem provas? E quando vierem me condenar sem provas, quem irá me defender ? " (Adaptação do poema de Martin Niemoller). Na AP-470 julgada no STF um réu foi condenado por corrupção passiva sem provas e como chefe de quadrilha, sendo que o próprio STF concluiu que não havia quadrilha e a ministra Rosa Weber declarou no julgamento da AP-470 que "mesmo sem provas contra o réu, ela o condenava por que assim a literatura jurídica lhe permitia". O relator Joaquim Barbosa condenou o réu, e seu voto foi acompanhado por mais quatro ministros, placar de 5 a 4, com base na tese do "domínio do fato" que fora aplicada unicamente no julgamento dos nazistas no Tribunal de Nuremberg. Segundo o relator, o réu por exercer a função de ministro da casa civil do governo Lula e sendo uma de suas atribuições manter contato com a base parlamentar do governo e tendo essa base recebido dinheiro do valerioduto, o réu teria o "domínio do fato", embora sem nenhuma prova que o condenasse ao crime de corrupção ou de chefe de quadrilha. Com exceção da OAB que emitiu nota de repúdio contra esse julgamento considerado de exceção, nenhuma organização da sociedade civil se manifestou contra esse julgamento. Nem CIMI, nem CNBB, nem ABI, nem UNE, nem CUT e nem partidos políticos. Ora, uma decisão como esta gera jurisprudência para inúmeros outros julgamentos. Por isso é que há de se perguntar. Quem será o próximo a ser condenado sem provas ou sob a teoria do "domínio do fato" ?. O cacique Babau está sendo condenado sem provas, só por que teria "pensado" em arrancar orelhas ? Se continuarmos silentes, logo mais estaremos proibidos até de pensar.
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Ana Paula Freire comentou:
26/04/2014
Embora o foco da coluna seja outro, gostaria de comentar o PS. Como servidora do INPA há 15 anos, acho importante esclarecer como se deu o processo de escolha via Comitê de Busca, que nada tem a ver com os tempos da Ditadura. Primeiro, o processo não é apenas para a indicação do diretor do INPA (embora tenha começado pelo INPA), é para todas as unidades de pesquisa do MCTI. Foi uma decisão do então ministro Bresser Pereira – incorporado pelas unidades via Regimento Interno –, para coibir a ingerência política (sobretudo de parlamentares) na escolha dos dirigentes, privilegiando o mérito (capacidade de gestão, produção científica, notabilidade etc.), daí porque o comitê é composto basicamente de "notáveis" da ciência brasileira, com algumas honrosas exceções. Esse processo foi instituído pelo MCTI em 1999, quando o médico amazonense Marcus Barros saiu vencedor de uma consulta interna do INPA, mas não foi nomeado sob o argumento do governo FHC de que a consulta não tinha, digamos, “validade oficial baseada em critérios técnico-científicos”. Mas a verdade é que a nomeação de Barros foi vetada por parlamentares amazonenses – ele era do PT e, portanto, oposição ao governo FHC – e o ministro Bresser se viu obrigado a buscar uma saída. Daí surgiu a ideia de instituir Comitê de Busca como padrão, como disse, para a todas as unidades do MCTI. O que Bresser e parte da bancada amazonense contrária à nomeação de Marcus Barros não esperavam era que o Comitê de Busca, do qual fazia parte o geneticista Warwick Kerr, também escolheria, POR UNANIMIDADE, o nome de Barros para dirigir o INPA, após exaustiva avaliação dos cientistas que apresentaram proposta ou foram “buscados”. O que fazer, então? Já não daria mais para falar de “falta de critérios”, afinal, o comitê de notáveis era idôneo e não cairia bem ignorá-lo, depois de todo o rebuliço para instituí-lo. O fato é que o tempo foi passando, Bresser deixou o cargo alguns meses depois, e coube ao sucessor, Ronaldo Sardenberg, a nomeação de Barros. Mas, de novo, a pressão externa foi contundente, desta vez encabeçada por dois caciques da política amazonense, o ex-senador Gilberto Mestrinho, à época presidente da Comissão de Orçamento, e o então líder do governo e hoje prefeito de Manaus, Arthur Neto. Eis que, para a surpresa e revolta da comunidade científica local e nacional, Sardenberg cedeu e "desnomeou" Barros (a Portaria já havia sido assinada por Bresser e estava em vias de publicação no D.O.U.), indicando para o cargo – em uma espécie de mandato tampão para esfriar os ânimos – Warwick Kerr. Muito querido da comunidade desde quando dirigiu o INPA, nos anos 70, Kerr foi aceito sem resistência e, nos dois anos seguintes, pavimentaria o caminho para Barros. A opção pelo geneticista acabou se revelando em uma cartada certeira do ministro, esmorecendo a luta para a nomeação de Marcos Barros naquele momento. Ademais, o INPA é um Instituto NACIONAL de pesquisas científicas. E, como disse um colega, sendo uma unidade de pesquisa vinculada juridicamente ao MCTI, é absolutamente procedente que a designação de seus dirigentes siga critérios que o Ministro entenda os mais adequados, os quais devem receber de todos os que servimos a instituição, o mais decidido apoio e respeito. Por fim, ainda citando o colega, vale registrar que, embora sediado na Amazônia, o INPA tem contado com a atuação decidida e enriquecedora de centenas de pesquisadores de várias partes do Brasil e do mundo – seja como servidores ou como parceiros – o que ensejou uma cultura interna que,mais do que origem geográfica, preza e reconhece o envolvimento competente dos que lhe estão associados. Nenhum problema, portanto, que alguém "de fora" seja escolhido diretor, de acordo com os critérios do MCTI validados pelo Comitê de Busca. Achar que apenas alguém do INPA ou da Amazônia é capaz de dirigir a instituição é uma visão muito limitada de ciência, eu acho. Um exemplo claro disso foi a escolha - POLÍTICA - de um servidor do INPA "amigo" de um ex-ministro, quando todos preferíamos Aziz Ab'Saber. Aziz dispensa comentários; o que eu quero ressaltar é que a comunidade interna ELEGEU Aziz, que era "de fora", e ele foi preterido por ingerência político-partidária. Isso sim é um absurdo. Desculpem a mensagem longa, mas não posso deixar de restabelecer os fatos diante de propagada desinformação sobre o processo no INPA. PS1: O trabalho com os peixes-boi é NOTÁVEL, ressalte-se. PS2: A ingerência a que se refere o Bessa é da senadora Vanessa Grazziotin, que enviou Ofício (No 75/214) ao ministro Clélio Diniz pedindo a nomeação de Antonio Manzi, que NÃO é da Amazônia (e nada contra ele, ao contrário; apenas estou reiterando que a xenofobia é ridícula e rasa).
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Florencio Almeida Vaz Filho (via FB) comentou:
26/04/2014
Não deixem de ler este artigo muito bom do nosso velho combatente José Bessa, amazônida, índios de sangue e coração, sempre cortante e direto na artéria.
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26/04/2014
São 514 anos da mais cruel ditadura! Contato de claudia dias tavares
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Giane comentou:
26/04/2014
Falta pouco para que o pensamento seja, de fato, controlado pelas tecnologias avançadas.. Babau, índio não pensa.. alguém deveria ter-lhe dito..
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Felipe comentou:
26/04/2014
Viva a Polícia Federal??? A mesma que prendeu o cacique Baubau? A mesma que realizou uma ação de repressão que culminou com a execução de Adenilson Kirixi Munduruku, na aldeia Teles Pires? A mesma polícia que que atuou de forma desastrada em uma reintegração de posse, causando a morte de Oziel Terena? Ah... eles estavam cumprindo ordens... Acho que o anti-petismo quando se rasga em elogios uma instituição como a Polícia Federal acaba por resvalar em algo muito pior.
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Roberto Monteiro de Oliveira comentou:
26/04/2014
Desde 1999, a escolha para o cargo de diretor do INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia é feita por um sistema usado pela ditadura militar para impor governadores, senadores e prefeitos biônicos. O diretor do INPA deve ser expoente nas áreas de pesquisa e inovação na Amazônia. Concordo que deva se evitar politicagem mas é exatamente o que o INPA precisa urgentemente construir um projeto político de ciência, tecnologia e inovação para a Amazônia, comprometido com os problemas enfrentados pelos segmentos sociais: caboclos trabalhadores rurais e extrativistas , pescadores, indígenas e quilombolas e outros mais. Até hoje as donas de casa não têm um ticador de jaraqui. Até hoje se coleta açaí na peconha. Não se tem ainda um descascador de tucumã, de pupunha e por aí vai...Os vendedores lá da Marquês de Santa Cruz já estão experimentando um descascador semiautomático de castanha. Precisamos de inovações tecnológicas amazônicas. Pelo visto vamos continuar dando de mamar ao peixe-boi por mais 60 anos. O diretor tem que sair dos quadros do INPA, tem que ter sensibilidade para os problemas enfrentados pela sociedade amazônica e ser eleito por voto direto e universal da comunidade. Que o próximo diretor lidere uma Conferência de Ciência Tecnologia e Inovação para a Amazônia.
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VANIA NOVOA TADROS comentou:
26/04/2014
É PRECISO NÃO ESQUECER QUE O LADRÃO RENAN CALHEIROS ESTÁ SEGURANDO A FORMAÇÃO DA CPI DA DILMA ( PT VIXI VIXI) SOBRE O ROUBO QUE DESTRUIU A PETROBRÁS E QUE AS DIÁRIAS E PASSAGENS DA COMITIVA DE ATEUS FOI AUTORIZADA PELO CORRUPTO GOVERNO FORMADO POR PETISTAS ( VIXI,VIXI) QUE AGORA SÃO ALIADOS DOS PEMEDEBISTAS SAFADOS FORMANDO O COMANDO VERMELHO PARLAMENTAR ( VIXI,VIXI,VIXI,VIXI). A POLICIA FEDERAL DEVE CONTINUAR SEU TRABALHO DE REVISTAR O GABINETE DA PRESIDENTE DO BRASIL QUE ESTÁ COMETENDO MUITOS ATOS ILÍCITOS. VIVA A POLÍCIA FEDERAL!!!!
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veronice comentou:
26/04/2014
Não mudou nada em 514 anos, somente o status do Brasil de colônia portuguesa\inglesa para colônia do G7\8, as vítimas são as mesmas.
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Ana Silva comentou:
26/04/2014
Êta Brasilzinho!! Quanta impunidade e escárnio. É lamentável e vergonhosa essa política de extermínio contra os índios que chega aos dias atuais, sem abalar a consciência dos seus algozes. Agradeço, Bessa, por tua voz de coragem e denuncia. Teus textos me animam e permitem imaginar um futuro outro nesse cenário de violência contra os índios. Liberdade ao cacique Babau e um adeus ao Aryon Rodrigues.
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Ruben Caixeta comentou:
26/04/2014
leitura incontornável para quem quer escapar da grande mídia, esta sempre anti-indígena!
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Regina comentou:
26/04/2014
Coloquei o "r" como recomendado (rs)
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Márcia comentou:
26/04/2014
Bom dia, Excelente texto professor. As vozes indígenas ganham vida quando cada leitor aprecia essa crônica! Concordo com o sr. ao dizer que tenho vergonha dessa patria! Abraços.
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