Olelê, olalá, olha o boi que te dá
No dia do professor, aos companheiros da APPAM e da ADUA
“Esse humilde escriba que vos fala” – como costumam dizer os candidatos no horário gratuito do TRE – e os “leitores que vos escutam”, cansados e já sem saco, decidiram tomar medidas drásticas e acabar de uma vez por todas com a Expedição Priquita (EXPRI), que encerrou suas operações em território francês numa tarde de outono do dia 15 de outubro, dia do “gigolô do ensino” e do “cafetão da educação”, segundo definição de uma perspicaz “otoridade” local, cujo candidato a governador tem nome que rima com cabotino.
Os expedicionários amazonenses tiveram, no entanto, tempo para percorrer nesta última etapa vários quilômetros no metrô de Paris, visitando:
- O Museu do Louvre e lá enfrentaram o problema da carne;
- O cemitério do Père Lachaise e ali encararam a fome do jacaré;
- A Sorbonne, em cujo auditório escutaram uma fábula de La Fontaine.
Boi abatido
Um professor, cujo dia hoje se comemora, pode pagar 70 paus pelo quilo da carne? Há quanto tempo você não entra em um açougue? Por que você se conforma em tomar o caldo chilro e babujento do Jaith Repolhão? A Expedição Priquita descobriu para os amazonenses carne com pedaços claros e outros escuros.
É. É isso mesmo! Foi numa operação audaciosa e folclórica da EXPRI, classificada pelo prestigioso jornal Le Monde como “mirrabolantique”. Foi assim. Os cientistas cabocos estavam visitando o Louvre, esquecidos de Manaus, da fome, da miséria, do desemprego, do lixo, dos sem-terra, dos manecos e botecos, das ofensas de “gigolô do ensino”, enfim das ¨rodas do destino” e de tudo o que rima com esse hino do jingle de um candidato cretino.
Voilà! No meio da visita ao Museu, eles entraram na sala dedicada ao maior pintor holandês do séc. XVII – Rembrandt – o mestre do claro-escuro, o senhor das luzes e das sombras. Lá se depararam com uma natureza-morta:
- Éraste, maninho, tu visse só! – exclamou um deles espantado, cutucando com o cotovelo o outro e apontando para o quadro representando uma cena noturna, com uma luz que parecia vinda de outro mundo, iluminando pontos focalizados de um “cadáver”.
O espanto, evidentemente, não era o resultado de um gozo estético. Os expedicionários priquitados estavam diante do célebre quadro “Le boeuf écorché”, pintado por Rembrandt em 1655, de um realismo chocante. Há muito tempo, não viam em açougue um boi esfolado, que se tornara algo perdido na memória. A última experiência com gado havia acontecido em Manaus com a exposição do Tucurui, o óleo sobre tela de Rita Loureiro no qual os bois aparecem com os olhos impressionantemente humanos. Ensaiaram, então, uma dancinha, para surpresa dos visitantes do Louvre, em homenagem aos duas baluartes da Aliança Democrática no Amazonas:
- Eu peguei no fraldão é da Lucimar Mamão, olelê olalalá, olha o boi que te dá.
- Eu peguei no mocotó é da Maria Carijó, olelê olalalá, olha o boi que te dá.
A carne do boi, no entanto, só fazia parte da mesa dos privilegiados de sempre. Há muito tempo, os 45.000 funcionários públicos do Amazonas e os professores não degustavam um bom churrasco. A situação vai se prolongar com a proposta indecorosa de 20% de reajuste salarial muito abaixo da inflação, baseado nos índices do custo de vida da CODEAMA – Comissão de Dados Enganosos do Amazonas. Um funcionário da SEPLAN, apelidado de “Pirulito”, enlouqueceu e não para de cantar:
- Eu sou um triste vaqueiro, amor, que ando a vaquejar, atrás da carne do boi, amor, que eu não posso comprar.
Caboco Suburucu
Os membros da EXPRI se dirigiram ao cemitério Père Lachaise, no norte de Paris. Diante da sepultura de Allan Kardec, o vereador Carretel Benevides explicava porque, além da carne, faltava também o peixe na mesa do amazonense: os jacarés haviam devorado todos os peixes dos rios – ele disse, citando o mestre Mestrinho: um único jacaré comia diariamente 75 kgs de peixe, ou cerca de 26.000 kgs por ano. O censo de 1970 mostrava a existência de uma população de 4.660.002 jacarés nos rios da Amazônia. Façam suas contas e entendam porque os peixes desapareceram.
Por isso, o nobre edil concluiu que seu patrão tinha razão: o jacaré deve ser exterminado. Ou o caboco suburucu, popa de lancha bandeira azul, acaba com o jacaré ou o jacaré acaba com o saboco suburucu.
A comitiva continuou sua caminhada pelo cemitério e parou diante de uma sepultura, em cuja lápide estava escrito: “Aqui jaz René Descartes (1596-1650).
- Quem é esse cara com nome de cabelereiro do bairro Alvorada? – perguntou Lucimar Mamão com curiosidade científica.
Descartes, que não aguentou ouvir tantas inverdades e besteiras sobre o jacaré, se mexeu no caixão e se levantou do seu sono secular de mais de três séculos. Seu espírito baixou em Lucimar e ela começou a gritar com a voz do autor do Discurso do Método:
- Monsieur Carretel, diga ao seu patrão que o raciocínio dele sobre o jacaré é um atentado terrorista contra a lógica.
O coveiro francês, que acompanhou a conversa, incorporou o espírito do Alexandre Montoril, ex-prefeito de Coari, apelou para a ignorância e explicou:
- Com esse mesmo raciocínio sobre o jacaré, teríamos também de exterminar o feijão e a cebola, porque cada vez que o gordo prefeito de Coari, meu antecessor, come feijão e cebola, acumula gases no tubo digestivo e pipoca flatulências sonoras e fétidas, o que é um inferno para quem com ele viaja no barco de recreio. Por causa disso vamos acabar com o feijão? - Indagou.
O último ato dos expedicionários da EXPRI em território francês foi ir a Sorbonne e lá assistir uma conferência sobre parábola de La Fontaine que acabou não dando em nada. Ufa! C´est fini. Ninguém estava aguentando mais.