CRÔNICAS

Cláudia Raia e o bumbum do Ministro da Saúde

Em: 24 de Dezembro de 1991 Visualizações: 1194
Cláudia Raia e o bumbum do Ministro da Saúde

Eu digo, escrevo e assino embaixo: o bumbum do ministro da Saúde Alceni Guerra está mais valorizado hoje do que o da Cláudia Raia, exibido abundantemente no filme Quarup.

 O leitor, que viu o filme, considera-se insultado com tal afirmação e protesta: "Você está louco? Isto é uma calúnia, uma calúnia! Como admitir uma Total inversão de valores? Que país é este?

Digo e repito: o bumbum do ministro vale dez pneumonias de vereadores ressarcidos de Manaus, enquanto o da Cláudia Raia não equivale a uma simples gripe de um favelado. Os leitores podem espernear, que eu provo e comprovo.

Vejamos:  enquanto a atriz Cláudia Raia costuma repousar a sua região glútea numa cadeira simples, dessas que se adquirem qualquer movelaria do bairro da Compensa por dois tostões furados, o ministro senta numa poltrona commander, revestida em couro natural e com braços em alumínio polido, comprada com dinheiro do contribuinte pelo preço de Cr$ 2.000.000,00 (2 milhões e meio de cruzeiros).

 A valorização do bumbum, portanto, nada tem a ver com as suas qualidades anatômicas, mas com os cuidados a ele dispensados. Vamos e venhamos, o ministro zelou pelo seu, protegendo a retaguarda.

Exagerou, é verdade. Exorbitou, certamente. Abundou, sem dúvida. E a prova é, leitor, que se você fosse enfermeiro, não teria dúvidas onde aplicar uma injeção, se tivesse de escolher entre os músculos do ministro ou os da atriz. Mas não podemos negar: o ministro sobre valorizar sua poupança.

O relatório da auditoria do Ministério da Saúde mostra que cerca de Cr$ 250.000.000,00 (preço atualizado) foram gastos este ano só na compra de imóveis para o gabinete do ministro. Trata-se, é verdade, de uma soma inferior àquela gasta pelo César Bonfim na Câmara Municipal de Manaus (CMM), que preside. Mas o ministro estava cuidando apenas de sua saúde, enquanto o nosso Bonfim zelava pela própria saúde e a de mais de quinze vereadores. No primeiro caso, procurou-se assento somente para o bumbum ministerial. No outro. para dezesseis bundões.

Agora, o ministro está tentando tirar o seu da reta, melhor dito, da poltrona commander. Contagiado pelo espírito natalino do jingle bell, o ministro jura eterna inocência, fala de “falhas administrativas” e promete administrar corretamente o orçamento do seu Ministério que no ano de 1992 sobe para 30.000.000.000,00 (30 bilhões de dólares USA), ou seja, CR$ 30.000.000.000.000,00 (30 trilhões de cruzeiros), o que permite comprar milhares de helicópteros para combater o mosquito da malária e do dengue, o que é mais eficaz do que usar bicicleta para combater o vibrião do cólera, como hoje acontece.

No entanto, "na área de saúde o que há é uma briga de quadrilhas. No momento o produto do roubo vai para um bolso, no momento seguinte para outro”, segundo entrevista do arrependido Renan Calheiros, em entrevista a Isto É/Senhor desta semana, que está nas bancas.

Nós só saberemos da verdade nos próximos capítulos dessa emocionante novela. Por enquanto, você pode ver hoje à noite "O dono do mundo" onde outro médico, Filipe Barreto, protagonizado por Antônio Fagundes, está provando aos telespectadoras que não é um crápula, mas um injustiçado;  a Taís, interpretada por Letícia Sabatella, está conseguindo demonstrar que não é uma mulher-de-viração mas uma apaixonada inexperiente e a Olga (Fernanda Montenegro, a divina)  que não é uma cafetina ambiciosa e cínica, mas alguém com o pé na terra.

Por que o César Bonfim não aproveita o embalo do espírito natalino para seguir os exemplos dos médicos Alceni e Felipe Barreto, da Olga e da Taís? Por que os vereadores ressarcidos teimam em continuar com a grana que não lhes pertence? Quais foram os médicos que trataram da saúde dos edis, recebendo em troca generosa recompensa? Felipe Barreto? Alceni?

Liga pra mim

A juíza Alzira Waldelice, da 1ª Vara da Fazenda, transformou os quinze vereadores ressarcidos em réus, ao conceder liminar à ação popular impetrada por Pedro Missioneiro. Agora, a magistrada quer saber tim-tim por tim-tim quem mamou e o quanto mamou, solicitando por ofício tais informações ao César Bonfim, presidente da CMM.

Não pergunte dele não, meritíssima. Ele vai tentar enrolar. Já conseguiu protelar para fevereiro as respostas, alegando o recesso parlamentar. Bonfim era a última pessoa a quem devia ser feita a pergunta. Não ligue para ele. Para obter as informações que a senhora deseja, basta indagar a qualquer leitor dessa coluna, que terá nome, sobrenome, telefone e o endereço de cada um dos vereadores, bem como a quantidade apropriada.

 Aquecer

Atenção, senhores suplentes de vereadores, podem ir aquecendo e se preparar para decolar.  A CMM reabre em fevereiro e, se Justiça for feita, cabeças haverão de rolar. Preparem-se para assumir os cargos vagos. Aliás, se eu fosse editor de jornal, colocaria na pauta entrevistas com os suplentes para verificar o estado de saúde de cada um e saber o que pensam sobre os ressarcimentos médicos de seus colegas.

Notas

Salvador

A sentença já foi dada. Por determinação do Tribunal de Contas do Município, os vereadores terão que devolver aos cofres públicos parte de seu salário recebido indevidamente. Isto aconteceu na semana passada, não em Manaus, mas em Salvador, capital da Bahia.

Concurso

O advogado Félix Valois, falando na Semana de Luta pela Cidadania sobre a proposta de pena de morte apresentada pelo Deputado Amaral Neto, disse: "Se a pena de morte fosse instituída para crimes de colarinho branco, o Amazonas perderia dois de seus senadores. Carta para esta coluna, dando nomes aos bois, digo, aos dois. Quem acertar receberá do “Taqui Pra Ti”  uma passagem de motor para Eirunepé.

Esquimós

Deu no Jornal do Brasil. O governo do Canadá e os líderes dos esquimós fizeram um acordo na semana passada, criando uma grande reserva, 21 vezes maior do que o território Yanomami. Pelo acordo, os 17 mil esquimós da região terão seu próprio governo e serão os maiores proprietários de terras na América do Norte: uma extensão de 1976 milhões de quilômetros quadrados (os Yanomami terão 94.000 km2).

O ministro de Assuntos Nativos do Canadá, Thomas Siddon declarou que o acordo é muito bom para o país e para os esquimós. Nenhum político, proprietário de mineradoras ou agro negociantes ameaçou metralhar os esquimós ou os topógrafos. Ninguém no Canadá considerou exagero o tamanho do território esquimó. Primeiro mundo é outra coisa!

Yanomami

Deu em A Crítica.  O Congresso Nacional aprovou na terça-feira passada a verba de 2 bilhões de cruzeiros em crédito suplementar para demarcar a terra Yanomami, estipulando o prazo até maio do próximo ano. A Funai também já está enviando indigenistas e topógrafos para começar o levantamento das reservas indígenas do alto Solimões e do Rio Javari, onde vivem seis povos de recente contato e nove outras áreas ainda isoladas.

Políticos e autoridade derramaram besteiras na mídia. O coordenador das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Sabá Manchinery, distribuiu nota repudiando atitudes contrárias à demarcação:

- “Hoje o que se vê nos jornais e na TV são políticos irresponsáveis e analfabetos que, ao invés de se preocupar com a alimentação e a saúde do povo, tem uma postura imoral e sem vergonha para jogar o Estado contra as populações indígenas, visando atender seus próprios interesses. Porque não se preocupam com a empresa de mineração Manasa que possui 4.302.190 hectares? Ou com a Aplub que tem outros 2.245.622 ha?”

Tikuna

Texto enxuto, objetivo e lúcido de autoria do jornalista Orlando Farias foi publicado em A Crítica, sob o título: "Ticuna não merece extinção”, no qual fica claro que para defender os caboclos e os ribeirinhos não é preciso ameaçar os índios.

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