“Os sete conselheiros do Tribunal de Contas dos Municípios iniciaram uma ofensiva para salvar o órgão de extinção” (A Crítica, 14/04/94).
Os sete conselheiros não me pediram conselhos. Mas mesmo assim eu os dou, com próclise e tudo. Pessoalmente, já participei de diferentes campanhas para preservar vários animais ameaçados de extinção, entre os quais o mico-leão dourado, o sagüi-de-coleira, a baleia azul ou a tartaruga marinha. Nesta hora dramática em que mais um espécime da nossa fauna política – o Tribulins – está condenado a desaparecer, ofereço essa rica experiência acumulada para tentar salvá-lo.
Dou sete conselhos, um para cada conselheiro, como colaboração para a campanha preservacionista:
1. Em primeiro lugar, vamos atualizar os nossos conceitos e o nosso vocabulário na área de marketing, trocando o termo ´ofensiva´ por ´campanha publicitária´ para não induzir o leitor a pensar que ofensiva é a tentativa de salvar o Tribulins com toda sua folha de pagamento, num país onde mendigos estão comendo carne humana podre proveniente de lixo hospitalar.
2. Precisamos de um slogan forte e convincente, estando descartadas as frases: “Salve o Tribulins” ou “Não deixe o Tribulins morrer” por terem sido usadas com o mico-leão e a baleia. Criar uma fase mais original como: “O TC é uma M...não puxe a descarga”, que poderá causar grade impacto sobre a opinião pública e contribuir para que o TCM – o Tribulins - fique boiando e flutuando por mais algum tempo.
3. Bolar um logotipo sugestivo, que dê uma idéia clara sobre a razão da existência do Tribulins: dois peitos fafazudos-de-belém saindo de dentro de um cabide de madeira. Agarrados nos peitos e pendurados no cabide, dois bonequinhos, simbolizando dois filhotes de Lins, mamando avidamente, vorazmente, com fomemente.
4. Organizada a campanha e escolhidos o slogan e o logotipo, entramos na etapa de divulgação e aqui vai o quarto conselho quanto à escolha dos veículos que transportarão as mensagens contra a extinção do Tribulins: camisetas, bottons, adesivos, chapéus, bonés, viseiras, fitas, canetas e brindes diversos.
5. Para o lançamento, os sete conselheiros darão uma entrevista coletiva aos jornais, rádios e canais de TV, todos eles vestidos com camisetas da campanha e bonés com a frase: “ O TC é uma M... não puxe a descarga”. Na entrevista, se mostrará a importância de salvar uma tribo amazônica em extinção: a tribo dos Lins e os sub-grupos dos Benoliel, Amed, Ribeiro, Lopes Paiva, Soares e outros demograficamente menores.
6. No lançamento da campanha, para o qual serão desconvidados os repórteres Ivânia Vieira e Sérgio Bártholo, será mostrado o ‘lado bom’ do TCM. Por exemplo, enquanto a Polícia do Amazonas decidiu recolher ao presídio público pessoas desempregadas, presas por vadiagem, o Tribulins é uma das instituições onde existem vadios empregados, isto é, não trabalham, é verdade, mas pelo menos mantém um vínculo empregatício e recebem salários. Desta forma, o Tribulins contribui decisivamente para diminuir o desemprego e a população carcerária.
7. Finalmente, a campanha mostrará que enquanto em todo o país cresce o número de menores de rua, o Tribulins resolveu apostar e confiar na criança, com desprendido sentimento cívico, abrindo suas portas para estágio remunerado de alunos do Maternal e do Jardim da Infância, abrigando em sua folha de pagamento 19 filhotes de Lins, Benoliel, Lopes Paiva e outros.
Dessa forma, com esses argumentos, a opinião pública vai entender perfeitamente o acordo firmado na Assembléia Legislativa entre o PPR (vixe, vixe!), o PFL (cinco vezes vixe-vixe!) e o próprio PMDB , também devidamente vixado, para impedir a criação de uma CPI destinada a investigar as falcatruas do Tribulins.
A população ficará tranqüila em saber que não existe CPI, mas em compensação foi criada uma comissão especial integrada por deputados impolutos como Lupércio (PPR), Gláucio (PFL), Luiz Fernando Nicolau-la-lau e Miquéias Fernandes (PMDB) para, no prazo de 60 dias, avaliarem a situação.
Esta Comissão impoluta e proba da Assembléia manterá ligação com outra comissão de alto nível, criada dentro do próprio TCM, presidida por Carlos Alberto Lopes Paiva e tendo como vice-presidente Nissim Jacob Benoliel, ambos totalmente imparciais e absolutamente isentos. Neles você pode confiar. O Carlos Alberto é o pai do Bruno Carlos Loureiro Paiva, aquele menino prodígio que, com 14 anos de idade, já era auditor assistente com gordo salário.
As duas comissões vão estudar porque os Lins são hegemônicos no TCM e porque existem, por exemplo, tão poucos Ribeiro lá dentro. O deputado Euler Ribeiro é conselheiro aposentado, seu irmão Afrânio, seu filho Eulerzinho, Esteves Ribeiro Filho, sua filha Gizella Maia Ribeiro, seu irmão José Menezes Ribeiro, seu genro Marco Aurélio Bolognese, sua secretária Maria D´Assumpção, e seu motorista José Pereira estão todos pendurados no Tribulins, num total de 9 pessoas contra 47 Lins de Albuquerque. Assim não vale. Essa é uma injustiça que precisa ser corrigida.
Realmente, trata-se de uma ofensiva publicitária. Muito ofensiva mesmo. Ofensiva em relação a todos nós, que trabalhamos; ofensiva em relação à nossa inteligência e ao nosso bolso de contribuinte e pagador de impostos. A entrevista dada pelo ex-presidente do TCM, José de Jesus Lins d Albuquerque para A Crítica na última sexta feira ilustra muito bem a ofensiva.
AC – O senhor não se sente constrangido com esse episódio?
José Lins – “Não há constrangimentos. Até porque o sistema predominante à época me permitia isso. A pergunta que quero fazer é a seguinte: quais as repartições públicas que fizeram concurso público nos últimos vinte anos? A maioria delas não utilizou o caminho legal. Eu espero que o TCM não se transforme no único corpo estranho deste país, tentando se adaptar à moralização e à legalidade”.
Quanta injustiça e discriminação, meu Deus! Como o leitor há de concordar, o Tribulins é o exemplo mais acabado da voracidade e do cinismo manauara, conseguindo superar os ressarcimentos da Câmara Municipal. O que se quer salvar não é um órgão em extinção, útil à sociedade. O que se pretende salvar são privilégios e mordomias que nos escandalizam e clamam a Deus por vingança. Somente quando essa tribo estiver extinta é que se poderá falar em decência no Amazonas. O resto – comissões de alto nível, pererê-pão-duro,etc – é tudo conversa fiada para enganar besta e fazer bois leso dormir.
Vamos inverter o slogan. O TCM é uma M... Puxe a descarga. Não vote nesses caras.