Parece que nos próximos capítulos da novela “Explode Coração”, a cigana Dara vai ler a mão e anunciar o futuro de Igor vivido por Ricardo Macchi. A roteirista Glória Perez, incomodada com as críticas e as gozações feitas ao personagem que é, digamos assim, intelectualmente limitado, registrará a profecia da cigana:
- Vejo você ganhar uma bolsa de estudos para fazer seu doutorado em antropologia na Universidade de Stanford, tornar-se um brilhante intelectual e ser contratado pela Universidade de Oxford como professor.
O personagem Igor, que parece ter comido caroço de tucumã, até agora é apresentado como um “retardadinho”. Ele pode até não ter o QI muito elevado, mas pelo menos tem o senso do ridículo. Por isso, ele não acreditará na previsão, que nada tem a ver com a sua trajetória de vida, com suas possibilidades e habilidades.
Isto é na telenovela. Na vida real, uma cigana de Brasília leu, há anos, a mão do senador Gilberto Miranda Batista, natural de São José do Rio Preto (SP), anunciando que um dia ele seria presidente da República. De pura gozação. Ao contrário de Igor, o professor de natação Gilberto Miranda desligou o desconfiômetro e acreditou. Ora, se um aventureiro com as qualidades morais e intelectuais de um Fernando Collor conseguiu chegar lá, por que não ele, Miranda? O raciocínio – convenhamos – não deixa de ter sua validez. Em alguns momentos da história, quanto mais desqualificado, maior a chance. O que Collor tinha que Miranda não tem?
Segundo informações publicadas nos jornais, Miranda elaborou uma estratégia para chegar à Presidência semelhante à que construiu para abocanhar uma vaga no Senado: sem nenhum voto, como suplente do outro Gilberto, o Mestrinho. Sarney – esse poço de virtudes – não conseguiu ser presidente da República pegando carona como vice de Tancredo? A cigana não informou em que momento Sarney – o Tancredo de Miranda – abriria a vaga para seu substituto, se por renúncia ou por morte.
Evidentemente, os comentaristas têm levado na galhofa essa pretensão de Gilberto Miranda. Mas ele próprio tem levado a sério. Quem o viu, na quarta-feira à noite, no Jornal Nacional, tentar justificar como conquistou rapidamente sua fortuna, não duvidará disso. Apesar das numerosas denúncias de corrupção, ele esclareceu:
- “Ganhei muito dinheiro, porque trabalho 18 horas por dia. Durmo apenas duas ou, no máximo, três horas por noite” – revelou o desperto e nada sonolento Gilberto Miranda, sem bocejar, provando que o trabalho é, efetivamente, gerador de capital. O país inteiro explodiu em enorme gargalhada.
O brigadeiro Marco Antônio Oliveira, coordenador do SIVAM, em depoimento no Senado, deu algumas pistas, mostrando em que consiste o trabalho de Gilberto Miranda. Pressão. Negócios escusos. O brigadeiro confirmou que Miranda pressionou até mesmo o presidente da República para que a empresa Raytheon, escolhida para executar o projeto, ficasse também responsável por tocar as obras civis avaliadas em R$ 110 milhões.
Caso a reivindicação de Miranda fosse atendida, a Raytheon escolheria as empreiteiras para fazer as obras na Amazônia. A chave para entender o comportamento mutável do senador Gilberto Miranda, n caso SIVAM, parece estar aí: nas empreiteira. Ele tentou ainda negar o relato do brigadeiro durante a sessão de depoimento, mas este último reagiu na hora:
- Senador, pior que uma meia verdade, só uma meia mentira.
Gorou o sonho acalentado por Gilberto Miranda de ser presidente da República para assim ampliar seus negócios. Parece que na vida real, como na telenovela, a cigana se enganou. Felizmente para todos nós. O Igor, como intelectual, seria um desastre.