CRÔNICAS

Curumim Poranga no Jornal do Norte

Em: 24 de Junho de 1996 Visualizações: 9682
Curumim Poranga no Jornal do Norte
1. De Parintins, um grito ecoou por toda a planície amazônica. A multidão urrava:
- Volta, Dani, volta!
Daniela Assayag, durante seis anos, arrasou como a cunhã-poranga do Caprichoso. No ano passado, bela e altaneira, ela  atravessou a arena do Bumbódromo, equilibrando-se na cabeça de uma “lagarta de fogo”, suspensa por um fio de aço sobre a figura de um cavalo. Agora, anunciou que não desfila mais. Inconformada, a galera azul-e-branca pediu, implorou, suplicou para que voltasse. Intransigente, Dani fêz bico doce. Então, rogaram-lhe uma praga:
- Desditosa Dani! Se não voltares, terminarás tua carreira como catirina do boi Bico Pelado, da periferia de Urucurituba, onde serás humilhada na hora do amola-faca!
2. O papai-aqui, autor dessas mal traçadas linhas, parou de escrever sua coluna n ’A Crítica, no final de abril, por uma embolação de motivos familiares e profissionais. Leitores telefonaram, enviaram fax, mandaram recado:
- Volta, Babá, volta!
A paparicação e as manifestações de carinho foram tantas que eu me senti o próprio curumim-poranga da imprensa baré. Pensei até em fazer bico doce, como a Dani ou o senador Jefferson Peres. Mas sou diabético e temo praga de leitor.
Aí, né, nesse meio tempo, o JORNAL DO NORTE  me entrevistou. Depois me fêz uma proposta profissionalmente interessante de valorizar a coluna Taqui Pra Ti, situá-la em página nobre, destacá-la, promovê-la em anúncios de tv, enfim coisa do nível “cinco estrelas”. Além disso, valorizava também o colunista, acenando com um reforço razoável para o leite das crianças.
A primeira reação - engraçado! - foi a mesma de alguns leitores: de desconfiança. Qual é, afinal, a desse novo jornal? Que liberdade teremos  para a irreverência, a crítica, a cobrança e a denúncia? Manifestei esta preocupação ao diretor de redação, Celso Barbosa, com quem fui conversar.  Ele meteu a mãe no meio:
 - Você tem toda liberdade. Só não pode esculhambar com a mãe do Girardi e com a minha mãe,  O resto, vale tudo,  brincou.  Aproveitei para negociar a entrada da dona Elisa no pacote das mães inesculhambáveis pelo jornal e pedi um tempo para pensar.
Enquanto estou pensando, vem, comigo, leitor (a), vamos verificar se temos mesmo liberdade. Alô, alô! Testando! Testando!
Começo, corajosamente, fazendo uma denúncia pesada, que nenhum jornal de Manaus ousou publicar. Sou macho. O que deve ser dito, eu digo. Sem medo. Comigo é assim. Escreveu não leu, o pau comeu. Cara feia não me assusta.  Por isso, acuso publicamente a tia Dedé e suas filhas por não terem ido ao casamento do Mauro e Priscila.
 - Éguate! Isso  é briguinha de família, denúncia vazia de quem não tem coragem de sair prá rua, comenta o leitor desavisado, que não soube apreciar este meu gesto de intrepidez, porque não conhece a fera. A tia Dedé, enfurecida, bota fogo pelas narinas, intimida até  secretário de comunicação, capitão e coronel.
No entanto, instigado, vou prá rua. Quem encontro no Beco da Bosta? O Paulo “Podrão”, filho do seu Geraldo “Papagaio”. Decido, então, desassombradamente, fazer aquilo que nenhum jornal fez até hoje: revelar porque apelidaram o Paulo de “Podrão”.
Todos os anos, na Semana Santa, os jovens da paróquia de Aparecida fazem  a encenação da Paixão. Numa dessas, o Paulo fez o papel do centurião romano. Na hora em que ia enfiar a lança no peito de Cristo, o Paulo, que estava com problemas gástricos, soltou uma sequência demorada de  gases tão fétidos, forçando Jesus - representado pelo Zé Vitamina -  a tirar a mão direita da cruz para apertar o nariz e falar fanhosamente antes do tempo:
- Pai, se é possível, afasta de mim esse cálice.
Daí a origem do apelido: “Podrão”, o que crucificou Cristo, quimicamente.
- É fácil o jornal aceitar denúncias paroquiais. Quero ver ir mais longe, empentelha o hipotético leitor.
Se é prá ir longe, então vamos. Dou logo um cacete no presidente russo Boris Ieltsin, denunciando-o como o maior pau-de-cana da paróquia de São Basílio? Dou. Chamo o presidente da França, Jacques Chirac, de lesão neoliberal? Chamo mesmo. Digo, em alto e bom som, que o general Pinochet é um assassino? Digo: assassino.  
- Não precisa ir tão longe. Volta para o Brasil, sinaliza o mesmo leitor.
Tá bem. Vamos, então, criticar o fisiologismo da aliança do PFL com o presidente Fernando Henrique, os bilhões de reais usados para tapar o buraco dos bancos, a sacanagem do ministro Jobim com os índios, a incapacidade do Jatene de encaminhar soluções para a saúde, o massacre dos sem-terra...
- Está quente! Chega mais  perto, diz o leitor.
Forçado por ti, leitor (a), atinjo, finalmente, o carnegão. Ouço o grito que está preso na tua garganta. Tu queres a defesa dos fracos, dos desvalidos, das viúvas, dos órfãos, dos desamparados, dos anônimos, dos lascados e dos sacaneados.
Para isso, é preciso  incomodar e fustigar os maledetos da política baré, combater o dragão da maldade, os ressarcidos da Câmara Municipal que continuam impunes, os fraudadores de eleição, os imorais do Tribulins, os corruptos, os falsificadores e os violadores dos diretos humanos. Nunca esse espaço foi usado para ataques pessoais ou baixarias que ferissem a honra de quem quer que seja. Mas não abrimos mão de questionar o comportamento público de quem está no poder.
O cabo Pereira, que aniquilou a saúde pública no Amazonas; o Klinger Costa, troglodita truculento, responsável pela violência e insegurança de cada dia; (aliás, quem pode me informar o que esses dois monoglotas - Klinger e Tiradentes - foram fazer na Coréia, pagos pelo contribuinte?); a Ceiça Lins, que agrediu covardemente a vereadora Vanessa; o próprio chefe do grupo, o Amazonino; enfim, todos esses personagens, sustentados pelos cofres públicos, continuarão sendo vigiados pela coluna Taqui Pra Ti.
- Vai poder criticar também o Gilbxxxx Mestrxxxx, quando ele pisar na bola? pergunta o leitor.
- O quê? 
- Nós queremos saber se vamos poder ler críticas ao GILBERTO MESTRINHO nesta  coluna? O Boto?  grita o leitor, quase furando os meus tímpanos.
- Não ouvi direito, eu disfarço.
- Por que todo viado é surdo? retruca o leitor.
- Ouvi sim, ouvi sim, me apresso em dizer. Acrescento: olha, leitor(a), essa mesma pergunta delicada, dona Elisa me fez e eu a repeti para o diretor-presidente do jornal,  Paulo Girardi, antes de aceitar escrever aqui. Ele foi bastante claro:
 - O Gilberto prá mim é como um pai. Eu, Paulo Girardi, devo a ele lealdade absoluta.  O JN, no entanto, é uma empresa,  comprometida com a informação. A lealdade que deve é aos seus leitores, e isso por uma razão até mesmo de ordem empresarial: nenhum jornal consegue sobreviver e, portanto, ser rentável, sem ter credibilidade. Isso aprendi aqui, na redação, com os próprios jornalistas.
Oba! Vamos torcer, leitor(a), para que o JN consiga enfrentar a pressão que certamente virá do Paulo “Podrão”, da tia Dedé, do Zé Vitamina e de todos aqueles que forem cobrados pela coluna. Omar Aziz, o ressarcido prevaricador, andou se gabando de ser o responsável por silenciar a coluna Taqui Pra Ti no mês de maio. A Teca, que é uma caboquinha implicante, sugeriu que o título da crônica de hoje fosse: “Omar Aziz, voltei”. Acato a sugestão para o final: “Omar Aziz e maledetos, voltei!”.

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1 Comentário(s)

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JB comentou:
10/01/2018
BOA ESSA EM BABA TO LENDO AGORA 23.15 BOA NOITE BABA
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